Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia22 de janeiro de 2007 .
A burocracia da United Auto Workers (UAW), o Sindicato
dos Trabalhadores das empresas automobilísticas, se juntou
ao coro dos executivos da indústria automobilística,
analistas e repórteres que pedem aos metalúrgicos
americanos que aceitem a eliminação das suas tão
sofridas conquistas a fim de salvar a indústria
automobilística americana.
Com as negociações dos acordos trabalhistas para
os próximos anos com a General Motors, Ford e a Chrysler,
que estarão prontos para serem colocados em prática
nos próximos meses - o velho contrato expira em 14 de Setembro
- os dirigentes da UAW declararam publicamente que os trabalhadores
representados pelo sindicato devem esperar a redução
dos salários, o corte dos benefícios e uma piora
nas condições de trabalho. Durante muito tempo,
tudo isso era considerado intocável pelas companhias automobilísticas.
O Detroit News do dia 16 de janeiro publicou, como manchete
principal da capa, UAW: Esperem Sacrifício.
O artigo iniciava afirmando que a mensagem dos dirigentes
da UAW durante os preparativos das negociações de
contratos não é a linha dura do passado. Os líderes
dos trabalhadores falam aos operários sobre os sacrifícios
e sobre a necessidade de ajudar os fabricantes de automóveis
de Detroit a se tornarem competitivos novamente.
No mês passado, o jornal noticiou que o vice-presidente
da UAW, Cal Rapson, falou aos dirigentes dos sindicatos das fábricas
da GM de todo o país que a forma como nós
conduzimos as negociações no passado, quando a General
Motors obtinha altos lucros, deverá mudar a partir de agora.
De acordo com uma recente nota aos trabalhadores de Warren, Ohio,
Rapson comentou que se nós não mudássemos,
nós não sobreviveríamos no futuro.
James Kaster, o presidente da UAW - Local 1714, da GM de Lordstown,
Ohio, disse: se nós não produzirmos lucro,
nós não teremos uma fábrica para trabalhar.
Observando que os sindicatos locais têm um programa em andamento
para instruir os trabalhadores, fazendo-os compreender porque
eles devem se interessar pelo sucesso financeiro da GM,
Kaster afirmou que você não pode apenas dizer:
ei, nós faremos a coisa ao modo antigo. Estamos
vivendo uma grande mudança.
A situação não é diferente na Ford,
que perdeu 5,2 bilhões de dólares no ano passado.
Jim Stoufer, presidente da UAW - Local 249 da Ford localizada
nas proximidades de St. Louis, falou ao Detroit News que
esse ano está muito complicado. O bom senso nos diz
que este ano será duro. Nós teremos que colaborar
com a Ford e mantê-la competitiva.
Resumindo a posição da burocracia da UAW para
as negociações contratuais que estão por
vir, o vice-presidente do sindicato, Bob King, disse: nós
fizemos a escolha consciente de pôr de lado todas as adversidades.
A colaboração aberta com os chefes do setor automobilístico
não é algo novo para a burocracia da UAW. Há
muito tempo o sindicato abandonou quaisquer adversidades
e desde os anos de 1980 adotou oficialmente a política
corporativista da parceria trabalhador-administração.
Longe de lutar pela defesa dos empregos e pelas condições
de vida, a UAW tem insistido que os operários paguem pela
crise da indústria que não foi causada por eles,
mas é resultado da ação de executivos milionários
e de ricos investidores que sacrificaram a longa vida destas companhias
a fim de obterem os maiores lucros financeiros imediatos.
Nos últimos seis anos, entretanto, a indústria
automobilística americana, e em particular as duas indústrias
mais antigas do ramo - a GM e a Ford - tem sofrido pesados golpes
causados pela crescente competição desencadeada
pela crise de super-produção no mercado automobilístico
mundial e pela queda da taxa de lucro. A perspectiva deste ano
é que a participação dos Três Grandes
Produtores da indústria automobilística americana
no mercado do país caia abaixo dos 50%, perdendo espaço
para os produtores asiáticos, tais como a Toyota, que continuam
aumentando a produção e ampliando a sua participação
no mercado.
A resposta dos produtores de automóveis e da burocracia
da UAW tem sido um programa de cortes de empregos para reduzir
o tamanho das empresas e se adaptar a uma porção
do mercado muito menor. Desde o ano 2000, a GM, a Ford e a alemã
Chrysler cortaram ou anunciaram futuros cortes de 140.000 empregos,
o que representa cerca de um terço de toda a sua força
de trabalho nos EUA.
Sem qualquer expectativa de que a UAW fizesse qualquer coisa
para defender seus empregos, mais de 86.000 trabalhadores da GM,
Ford e do produtor de auto-peças Delphi já assinaram
acordos de demissão para deixarem a indústria.
Durante vários anos a burocracia da UAW baseou a defesa
de seus bônus e privilégios na manutenção
dos empregos - e no recebimento das contribuições
sindicais - de uma camada mais antiga de trabalhadores que permaneciam
nas fábricas. A nova estratégia do sindicato a partir
de agora é a colaboração com as indústrias
de automóvel no sentido de acabar com essa parcela de trabalhadores
que passaram a receber salários e benefícios mais
elevados e substituí-los por trabalhadores mais jovens
e mais facilmente exploráveis, que também terão
que pagar as contribuições ao sindicato.
As concessões que o sindicato já fez são
apenas meio caminho para mais ataques. Na Delphi a UAW aceitou
a redução dos salários de 27 para 14 dólares
por hora trabalhada, e em diversas plantas da Chrysler o sindicato
permitiu que a empresa contratasse trabalhadores temporários
- por 18 dólares por hora - que podem ser demitidos a qualquer
momento. Comenta-se que as companhias deverão fazer mais
cortes nos salários neste ano, incluindo a implantação
do compartilhamento nos lucros que significa que somente
haveria aumento nos salários se houvesse aumento nos lucros
e na produtividade.
O ano passado a UAW assinou um acordo que fez com que, pela
primeira vez, os aposentados da GM e da Ford passassem a pagar
uma parte significativa dos seus planos de saúde, enquanto
trabalhadores ativos eram forçados a auxiliar as companhias,
adiando o aumento dos salários para um futuro indeterminado.
Para impor tais concessões, que representam bilhões
de dólares, a UAW impediu que os trabalhadores aposentados
votassem sobre a retirada de seus benefícios. A UAW recorreu
ao tribunal para impedir que trabalhadores antigos os processassem
em defesa de seus direitos.
Mesmo antes do início das negociações
começarem já se espera que a UAW conceda a Chrysler
Corporation cortes similares nos benefícios médicos
para os aposentados e trabalhadores ativos.
O Detroit News divulgou que os diretores da GM
disseram que a sua intenção é reduzir em
5 bilhões de dólares anuais a despesa em assistência
médica e que o Presidente da companhia, Troy Clarke,
disse recentemente que a assistência médica dos aposentados
era assunto de interesse particular. Além disso, as companhias
deixaram claro que elas querem eliminar os chamados Bancos de
Trabalho, que compensam os trabalhadores demitidos pela quebra
do contrato enquanto eles permanecerem desempregados.
O presidente da UAW, Ronald Gettelfinger, demonstrou, em seu
depoimento na convenção constitucional da UAW realizada
em Las Vegas em junho do ano passado, que a intenção
do sindicato é de colaborar com os demais ataques contra
os metalúrgicos. Hoje é claro que nossos desafios
são diferentes de todos aqueles que já enfrentamos
no passado, devido principalmente à globalização,
disse ele, acrescentando que, gostando ou não, estes
desafios não são do tipo que podem ser descartados.
Eles exigem soluções de longo prazo - e nós
devemos nos envolver na busca de tais soluções.
Falando ao World Socialist Web Site (WSWS), um trabalhador
da Chrysler de Detroit descreveu as atuais condições
existentes nas fábricas: a companhia está
construindo uma grande obra de ampliação entre a
estamparia de Warren e a Warren Caminhões. Eles pretendem
trazer empresas de fora para operar dentro da fábrica,
empregando seus próprios trabalhadores que são pagos
com um salário muito mais baixo do que o nosso. Em Toledo
-Ohio, a fábrica da Jeep da Daimler Chrysler tem 11 empresas
separadas operando dentro da mesma fábrica.
Comenta-se que a Chrysler anunciará, em meados de fevereiro,
seu plano de reestruturação, que causará
a eliminação de centenas de empregos, reduzindo
o custo e o tempo necessários para produzir um veículo.
No mês passado a Chrysler anunciou a demissão de
250 trabalhadores na fábrica da Avenida Mack, em Detroit.
Nós estamos todos preocupados com o que acontecerá
no dia 14 de fevereiro, quando o plano de reestruturação
da companhia será anunciado. Pensamos que haverá
muitas demissões e ofertas de acordos, continuou
um trabalhador da Chrysler. O sindicato não faz nada.
O dirigente comprado recebe o salário de 12 horas por dia
para ficar sentado numa sala brincando com jogos de computador.
Muitos trabalhadores consideram que não há problema
que eles tragam trabalhadores por um salário mais baixo,
desde que eles mantenham os nossos salários como estão.
Eu digo a eles que não haverá mais iniciantes contratados
por um salário de 22 dólares por hora de trabalho
- será por 8 dólares por hora de trabalho. Nós
seremos os últimos trabalhadores metalúrgicos que
ganharão 30 dólares por hora.
Eles dizem que a indústria automobilística
está falindo porque nós ganhamos muito dinheiro
e temos muitos benefícios. Isto não é verdade.
Nós fazemos nosso trabalho e nós estamos trabalhando
mais duro do que nunca. Nós não tomamos decisões
sobre o que construir.
Na década de 1970 dezenas de milhares de pessoas
trabalhavam para essas companhias. Hoje nós somos menos
de 30% da força de trabalho desde que eu comecei a trabalhar
em meados da década de 1990. A Chrysler foi para a cidade
de Warren por causa dos abatimentos nos impostos, dizendo que
eles queriam gerar empregos. Ao contrário, eles eliminaram
dezenas de milhares de empregos.
Há pessoas lá roubando comida porque são
pobres. Em Detroit, crianças estão atrasadas nos
estudos por causa da falta de escolas. Aqueles que ainda estão
trabalhando estão sendo sobrecarregados. Eles não
recebem mais as horas-extras e muitos estão perdendo suas
casas. Os jornais não relatam isso, mas eu ouvi que pelos
menos três trabalhadores cometeram suicídio por estarem
desesperados - e eles estão nos dizendo que a economia
vai bem. Por que nós estamos gastando milhões no
Iraque enquanto temos estas condições em casa?
Todas as vezes que o sindicato assina um novo acordo
nós perdemos alguma coisa. Nós pagamos 65 dólares
de contribuição sindical por mês para a UAW
e não temos nenhuma representação.