Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 7 de junho de 2007.
Pela terceira vez neste ano, a marinha dos Estados Unidos atacou
a Somália, localizada no Chifre da África. O Washington
Post entrevistou um oficial norte-americano, que preferiu
manter-se anônimo. Ele disse que a marinha de guerra norte-americana
havia lançado mísseis contra o porto de Baar Gaal
e nas áreas vizinhas de Puntland. Fontes locais afirmaram
que fazendas foram destruídas e topos de encostas aplanados
pelos ataques dos mísseis.
As autoridades de Puntland divulgaram a improvável informação
de que não houve mortes de civis, uma vez que a região
era inabitada. Segundo o relato, apenas militantes islâmicos
foram mortos. Entre eles havia oito militantes estrangeiros supostamente
originários da Grã-Bretanha, da Eritrea, da Suécia,
dos EUA e do Iêmen.
Os Estados Unidos realizaram pelo menos dois ataques aéreos
no sul da Somália no começo deste ano. Os ataques
devastaram cidades litorâneas e campos de pastagem na fronteira
com o Quênia. Os ataques foram justificados como parte de
uma busca de três suspeitos envolvidos nos ataques a bomba
às embaixadas norte-americanas no Quênia e na Tanzânia,
realizados em 1998. O mesmo oficial americano falou ao Washington
Post que o bombardeio naval ao norte foi uma outra tentativa
de matar um dos responsáveis pelos ataques às embaixadas.
O secretário da defesa norte-americano, Robert Gates,
se recusou a comentar o ocorrido. Essa foi possivelmente
uma operação de rotina, disse ele.
O departamento de defesa norte-americano afirmou: essa
é uma guerra internacional contra o terror, e os Estados
Unidos permanecem comprometidos em reduzir as possibilidades de
atuação dos terroristas onde e quando nós
os encontramos. A natureza de nossas operações,
bem como o sucesso dessas operações, é frequentemente
determinada pela nossa habilidade de trabalhar silenciosamente
com os nossos parceiros e aliados.
Essa nova frente dos Estados Unidos na guerra contra
o terror está passando despercebida pela mídia
internacional. Apesar de algumas notas breves, tem havido praticamente
uma total omissão quanto a estes eventos. Desde que os
Estados Unidos apoiou a invasão etíope na Somália,
em dezembro do ano passado, muito poucas notícias têm
sido publicadas sobre a região. Esta se tornou uma área
na onde as forças armadas norte-americanas podem operar
impunemente.
Um desconhecido número de militantes supostamente islâmicos
estão sendo mantidos em prisões secretas na Etiópia,
onde estão sendo interrogados pelo FBI e pela CIA. Pelo
menos dois cidadãos norte-americanos estão entre
eles. É provável que mulheres e crianças
também estejam entre os prisioneiros. A União Européia
iniciou uma investigação sobre crimes de guerra,
depois que denúncias de maus tratos e tortura começaram
a ser feitas por prisioneiros que foram mantidos em cativeiro.
A operação na região norte da Somália
segue o padrão da invasão etíope da Somália
e os ataques aéreos que foram realizados no sul. Forças
locais fornecem as tropas terrestres, que são dirigidas
por forças especiais norte-americanas, que mantém
comunicação com forças aéreas ou,
neste caso, com forças navais, que garantem poder de fogo
pesado quando necessário.
Este método de usar tropas locais foi desenvolvido no
Chifre da África, após as forças armadas
norte-americanas terem sido derrotadas e expulsas no incidente
da baixa do falcão negro, em 1993. Desde então,
o exército norte-americano tem evitado expor um grande
número de seus soldados ao perigo.
Com a formação de um novo comando militar norte-americano
especialmente voltado para a África, as táticas
desenvolvidas no Chifre da África deverão ser aplicadas
em todo o continente. Uma série de bases militares será
implantada em toda África. Estas bases servirão
como pontos de apoio para as operações das tropas
locais lideradas pelas forças especiais norte-americanas.
A nova tática representa um esforço no sentido
de manter um forte controle norte-americano sobre os recursos
da África, especialmente sobre o petróleo. Esta
é particularmente uma resposta à crescente influência
da China na África. Companhias chinesas estão desenvolvendo
e explorando campos de petróleo por todo o continente,
incluindo o Chifre da África.
Uma frota de navios norte-americanos e britânicos patrulha
permanentemente as águas do Chifre da África. Esta
região é uma das maiores travessias do mundo, que
permite acesso ao mar vermelho e ao Canal de Suez. Um relatório
de 2005, preparado por Donald Rumsfeld, advertia que a China estava
adotando uma aproximação por colar de pérolas,
para controlar as passagens marítimas da Ásia. Desde
o século XIX, o Chifre da África constitui um ponto
chave no domínio das águas ao redor da África.
Atualmente os EUA estão estabelecidos na antiga colônia
francesa de Djibouti. Eles não querem permitir que a China
dispute o controle dos pontos estratégicos para o mercado
mundial.
Puntland é uma área no nordeste da Somália
exatamente na extremidade do chifre. Líderes tribais decretaram
a independência em 1998 e, desde aquela época, buscaram
ajuda etíope. Abdullahi Yusuf Ahmed, atual presidente do
Governo Federal de Transição da Somália,
instalado em Mogadishu pelas forças etíopes, já
havia sido presidente de Puntland.
A invasão etíope derrubou União das Cortes
Islâmicas e instaurou o Governo Federal de Transição.
Há alguns meses, as tropas etíopes formaram um exército
de paz, a Força Africana da União, conhecida como
AMIS. Até agora apenas 1.000 soldados de Uganda chegaram
para compor o exército e os etíopes ainda estão
no local. Sem eles o governo pró-ocidente teria sido dominado.
O Governo Federal de Transição afirma ter derrotado
a União das Cortes Islâmicas na região sul
da Somália e ter expulsado para o norte os militantes islâmicos.
Mas a escalada dos ataques norte-americanos leva a crer que a
situação ainda é profundamente instável.
Na verdade, o Governo Federal de Transição tem
pouco controle sobre a capital, Mogadishu. O Primeiro Ministro,
Ali Mohammed Gedi, teve que ser resgatado da sua residência
oficial em Mogadishu por tropas de Uganda, depois de um atentado
à bomba ao seu carro no domingo, 3 de junho. Para garantir
a sua segurança, tem se sugerido que ele saia da capital,
uma vez que atualmente tem havido ataques diários com homens-bomba,
bombardeios nas estradas e tiroteios.