Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 5 de setembro de 2007.
O Sindicato dos Trabalhadores Ferroviários, Marítimos
e do Transporte (RMT - Rail, Maritime and Transport) suspendeu
a greve de cerca de 2.300 trabalhadores do setor de manutenção
do metrô de Londres. A greve, que havia sido planejada para
durar 72 horas, começou às 18h da segunda-feira
(03/09) e reivindicava direitos trabalhistas e aposentadoria,
depois da falência da companhia de manutenção
de ferrovias Metronet.
Não há detalhes em relação às
razões que levaram à suspensão da greve pouco
antes da meia noite da terça-feira (04/09). Mas não
há dúvidas que a ação do RMT prejudicou
os interesses dos seus filiados por meio de um acordo degenerado,
do qual só a burocracia sindical vai se beneficiar. Acima
de tudo, o sindicato deve estar ansioso por preservar a estabilidade
do governo do Partido Trabalhista sob as atuais condições,
nas quais milhões de trabalhadores estão procurando
se opor a cortes salariais e privatizações.
A cidade de Londres se tornou um caos por mais de 24 horas,
quando a greve fechou nove linhas de metrô e deixou duas
com serviço bastante reduzido. Os 3 milhões de usuários
do serviço tentaram chegar ao trabalho utilizando apenas
as três linhas remanescentes - a Northern, a Jubilee e a
Docklands Light Railway - ou de ônibus e táxi.
A greve dos metroviários ocorre em meio a lutas de trabalhadores
de outros setores, como os agentes penitenciários e os
carteiros, que permanecem não resolvidas e indicam uma
crescente oposição às tentativas do governo
de impor um limite de reajuste de 2% aos salários dos servidores
públicos.
A administradora nomeada pelo governo, Ernst & Young, foi
chamada após a divulgação da notícia
de que a Metronet tinha dívidas de 2 bilhões de
libras e que seu pedido de uma verba extra de 551 milhões
de libras tinha sido rejeitado pelo órgão regulador
da indústria. Em 1998, a companhia havia ganhado dois dos
três contratos do impopular programa de Parcerias Público-Privadas
(PPP) do governo do Partido Trabalhista, cuja vigência é
de 30 anos e o valor é de 17 bilhões de libras.
Com estes recursos seriam feitas manutenções e renovações
nos trilhos, nos túneis e na sinalização.
Os proprietários da Metronet - cinco corporações
internacionais - se recusaram a pôr um centavo além
das 350 milhões de libras acordadas nos termos do contrato.
Os trabalhadores do setor de manutenção se mobilizaram
na tentativa de garantir seus empregos, aposentadorias e condições
de trabalho. Mas sua greve foi cruelmente condenada pela administração
do Partido Trabalhista em Londres e pelo governo. O primeiro ministro,
Gordon Brown, considerou a greve completamente injustificada
e disse aos grevistas que voltassem ao trabalho, afirmando que
causam enorme transtorno para as pessoas de Londres e perturbam
os negócios.
O prefeito de Londres, Ken Livingstone, descreveu a greve como
bizarra e inexplicável. Ele afirmou
que os empregos e as condições de trabalho dos funcionários
estavam garantidos, acrescentando que deve ser a primeira
vez na história que um sindicato entra em greve quando
todos já atenderam suas reivindicações...
Não consigo explicar o que os levou a tomar esta atitude
hoje.
Um porta-voz da empresa de transportes de Londres (TfL -
Transport for London) disse: gostaríamos de dar
alguma esperança aos usuários do metrô de
que essa greve acabará logo, mas é difícil
ser otimista diante da persistente falta de resposta do RMT à
garantia categórica já dada pelo prefeito, pela
Transport for London, pela administradora e pela Metronet a respeito
dos empregos e aposentadorias.
A promessa do prefeito Livingstone já havia sido suficiente
para que dois dos três sindicatos envolvidos - Associação
de Pessoal Assalariado dos Transportes (TSSA - Transport Salaried
Staff Association) e UNITY - desistissem de participar da
greve três horas antes do horário marcado para começar.
O secretário geral da TSSA , Gerry Doherty, afirmou: estamos
satisfeitos com os empregos e transferências, e confiantes
de que conseguiremos resolver questões pendentes com relação
à aposentadoria. (...) Estamos particularmente ansiosos
para que a administradora e a Metronet assegurem que vão
manter todos os direitos dos nossos associados quando o contrato
da PPP for transferido.
Estamos satisfeitos com o fato de que o prefeito confirmou
que quer que o contrato volte a ser público e reconhecemos
que sua intervenção contribuiu para encontrar uma
solução para esse conflito.
Na realidade, a Ernst and Young havia se recusado anteriormente
a garantir tais reivindicações. O jornal Times
de 1º de agosto noticiou que a Ernst and Young informou
aos sindicatos que todos os acordos firmados anteriormente com
a Metronet perderam a validade a partir do momento em que a empresa
passou a ser administrada por ela.
No dia 3 de setembro, a administradora alegou que havia convencido
as direções dos dois sindicatos a abandonar a greve,
assegurando que atenderia a todos os seus interesses.
Mas as garantias de Livingstone e da Ernst and Young não
têm valor nenhum, porque elas se referem apenas ao período
no qual a Metronet está sob administração
da própria Ernst and Young e não após a sua
venda.
Um comunicado à imprensa da Autoridade da Grande Londres(GLA - Greater London Authority), escrito por Alan
Bloom, o administrador adjunto de PPPs, e pelo presidente da Metronet,
Andrew Lezala, planejado para ser uma carta amigável
ao líder do RMT, Bob Crow, pontuava claramente:
Após discutir com o prefeito de Londres, podemos
confirmar que ambos concordamos que durante o período
da administração da Ernst and Young não
haverá demissões ou transferência de empregados
da Metronet. Acreditamos que vocês receberam uma garantia
do prefeito de que a TfL está estimulando o Conselho
das Administradoras de Fundos de Pensão a assegurar
quenenhum empregado perderá nenhum centavo
de seu direito à aposentadoria enquanto a Metronet estiver
sob administração externa. Uma recomendação
de um dos participantes do Conselho das Administradoras de Fundos
de Pensão, que representa os sindicatos, foi considerado
por todo o conselho na quarta-feira, 5 de setembro.
(grifos do autor)
Não há dúvidas de que a suspensão
da greve fará todas essas frases delicadas desaparecerem
no espaço.
Durante a greve foi divulgada no site do RMT uma queixa que
dizia que é chocante que a administradora pode decidir
todo tipo de coisa, inclusive quem vai assumir o contrato de PPP,
mas é incapaz de dar uma garantia inequívoca de
que os empregos das pessoas que vão de fato realizar as
melhorias do metrô estão seguros.
Disseram-nos que as administradoras dos fundos de pensão
serão estimuladas a assegurar que os empregados
não percam a pensão durante o período de
administração, mas nenhum estímulo
é capaz de garantir, e isso não é de forma
alguma um problema para as administradoras.
A declaração pedia que a pensão continuasse
a mesma no passado, presente e futuro e que a transferência
de trabalhadores para uma organização pública
era a única maneira de proteger empregos e aposentadorias.
No entanto, a experiência dos trabalhadores da parte do
metrô de Londres e de outras companhias que permanecem públicas
mostra que o caso não é bem esse.
A PPP foi o método pelo qual o governo Blair, com Gordon
Brown no comando do Ministério da Economia, promoveu a
privatização do metrô de Londres. Alegando
que o mercado e a eficiência corporativa representavam a
melhor maneira de financiar anos e anos de baixo investimento,
os trilhos, os túneis e a sinalização foram
entregues ao setor privado através da PPP. Mas os funcionários
das estações, que estão todos ainda empregados
pelo setor público, estão passando agora
por uma enorme reestruturação, por meio da qual
cerca de 40 bilheterias serão fechadas até abril
de 2008 e o uso de trabalhadores de meio-período vai aumentar.
Os sindicatos estão dividindo a enorme oposição
a esses ataques, fazendo acordos locais com pequenos grupos de
estações, com o objetivo de evitar que se desenvolva
uma movimentação que abranja toda a companhia. Ao
mesmo tempo, evitaram que houvesse qualquer ligação
com os trabalhadores da Metronet e semearam ilusões de
que pressionar o governo do partido trabalhista e a Autoridade
da Grande Londres para voltar a alguma forma estatal de administração
protegeria direitos empregatícios e aposentadorias.
Na tarde da terça (04/09), o RMT havia se organizado
para fazer pressão no Departamento de Transporte
o mesmo departamento do governo que foi negligente diante do fiasco
da Metronet para pedir que a manutenção do
metrô voltasse a ser pública, equiparando isso à
propriedade pública da rede de transportes.
O primeiro ministro havia deixado claro que esse movimento
não seria feito, declarando que, caso a Metronet
saia, outra empresa privada será encontrada para tomar
o seu lugar.
De sua parte, a TfL, sob a liderança do prefeito Livingstone,
se propôs a fazer uma oferta para o contrato de PPP. Essa
seria uma maneira pela qual o RMT poderia alegar que tinha concessões
garantidas, com base no fato de que a manutenção
estaria de novo em mãos públicas. Essa é
uma reivindicação endossada por grupos radicais
como o Partido Socialista dos Trabalhadores (Socialist Workers
Party), que em 28 de agosto publicou uma carta de Paul OBrien,
representante das linhas de metrô do RMT, e de Unjum Mirza,
um político da região de transportes de Londres
do RMT, afirmando que a campanha que os sindicatos lançaram
para tornar a Metronet pública novamente está tendo
um grande impacto. A Transport for London (TfL) do prefeito Ken
Livingstone disse que quer assumir a posse da Metronet em
caráter temporário.
OBrian e Mirza disseram, em nome do RMT: não
queremos controle público temporário - queremos
controle público permanente. Todos os contratos,
não só a Metronet, deveriam voltar a ser administrados
pelo setor público.
Ainda que a manutenção e outros serviços
fossem administrados diretamente pela GLA, o destino dos trabalhadores
do metrô ainda seria determinado pelos interesses das grandes
empresas. Os contratos só seriam assegurados enquanto oferecessem
exatamente o que os bancos e outros investidores querem. O transporte
público demanda um enorme volume de recursos, mas o capital
mundial só vai investir se tiver garantia de lucro. É
isso que leva à degradação das condições
de trabalho conquistadas durante décadas de lutas.
A pressa do RMT em suspender a greve deixa claro que a burocracia
sindical é totalmente contrária à única
maneira de defender empregos, aposentadorias e serviços
- uma luta política contra o governo e a GLA.
Os trabalhadores do setor de manutenção têm
que se voltar para trabalhadores de outros setores em Londres
e por todo o país, promovendo ações unificadas
contra os esforços do governo Gordon Brown em cortar salários
e privatizar serviços essenciais. Isso deve começar
com uma ofensiva unificada dos trabalhadores do transporte de
Londres, incluindo motoristas de ônibus, desafiando abertamente
a sabotagem da greve pelos dirigentes do sindicato. Essa luta
só pode ser organizada independentemente de toda a burocracia
sindical e do Partido Trabalhista, através da organização
da base da classe trabalhadora.