Publicado originalmente em inglês em 18 de outubro
de 2008
Empresas industriais e manufatureiras dos EUA e Europa estão
reduzindo drasticamente sua produção e demitindo
trabalhadores na medida em que a economia mundial paralisa. Demissões
e fechamento de fábricas, combinados com uma série
de boletins econômicos publicados recentemente, indicam
que as economias norte-americana e européia estão
em uma situação significativamente pior do que os
economistas pensaram anteriormente.
As montadoras dos USA, beirando a falência, intensificam
seus ataques aos empregos dos trabalhadores automobilísticos.
A General Motors anunciou na quinta-feira que demitirá
1.600 trabalhadores em três fábricas, uma em Delaware
e duas em Michigan (Pontiac e Detroit). Também anunciou
nessa semana que estava previamente planejando o fechamento de
fábricas em Janesville, Wisconsin, Grand Rapids, Michigan
e Moraine, Ohio.
A ex-gigante industrial reduziu sua força de trabalho
norte-americana quase pela metade desde 2000 e os trabalhadores
sindicalizados da empresa caíram de 133.000 para apenas
72.000. Mais demissões nos próximos meses são
esperadas.
A Chrysler e a GM têm realizado uma série de discussões
em tentativas desesperadas de superar a crise financeira. A Chrysler
está, inclusive, considerando uma fusão ou parceria
com a Renault-Nissan. Cerebus Capital Management, dono da Chrysler,
já eliminou 22.000 empregos desde o começo de 2007
e tem planos de corte de, no mínimo, mais 4.000 no próximo
ano, deixando a empresa automobilística com apenas 60.000
trabalhadores.
Qualquer fusão envolvendo a Chrysler ou a GM inevitavelmente
significaria o fim de mais dezenas de milhares de empregos. Gerald
Myers, ex- chefe executivo de uma empresa automobilística
e agora professor da Universidade de Michigan, falou ao Washington
Post sobre uma potencial fusão Chrysler-GM. Isso
seria um banho de sangue, declarou. A Chrysler seria
destruída em pequenos pedaços. A GM cuspiria as
coisas que ela não quer mais e pegaria as que quer.
Um boletim do Federal Reserve publicado na quinta-feira mostrou
que a produção industrial norte-americana caiu 2.8%
em setembro, o maior declínio desde dezembro de 1974 e,
substancialmente, mais elevado que o declínio de 0.8% esperado
pelos economistas. Para o terceiro semestre, como um todo, a produção
industrial caiu 6% se comparado com a do ano anterior.
Um boletim separado publicado pelo Philadelphia Federal Reserve
mostrou um declínio recorde na atividade manufatureira
na região da Philadelphia. O boletim seguiu o comunicado
do início dessa semana, com dados similares do Estado de
Nova Iorque.
Uma pesquisa publicada ontem pela Universidade de Michigan
mostrou que os gastos do consumidor norte-americano cairam mais
drasticamente nesse mês que em qualquer outro mês
desde registros de 1978.
O mercado imobiliário, outro indicador importante, continua
a cair. O Departamento de Comércio publicou dados ontem,
mostrando que a construção de novos imóveis
caiu cerca de 6.3% no mês passado, de longe mais alto que
os antecipados 1.6% de queda. A construção imobiliária
agora está em seu passo mais lento desde janeiro de 1991.
A contração (econômica) não se limita
aos EUA. Na Alemanha, a maior economia da Europa, o governo revisou
esta semana suas previsões para 2009 sobre o crescimento
dos PIB do país, de 1.2% para 0.2%. Na quarta-feira, um
dia antes, as estimativas oficiais foram publicadas, um boletim
conjunto emitido pelos quatro principais institutos econômicos
também previu uma taxa de crescimento de 0.2%, mas advertiram
que, em um cenário de catástrofe a economia
poderia diminuir em 0.8%. A pesquisa alertou que até 400.000
empregos alemães poderiam acabar em 2009.
Um boletim publicado nessa semana pela European Automobile
Association descobriu que os registros para novos passageiros
de veículos na Europa caíram 8.2% mês passado
comparados ao ano passado. Dois grandes fabricantes de auto peças
na Alemanha anunciaram nessa semana significantes
demissões de trabalhadores temporários, e a gigante
automobilística alemã Daimler disse que fecharia
a sua Sterling Caminhões, fechando fábricas em Ohio,
Canadá e Oregon.
Outros países europeus também reavaliaram suas
taxas de crescimento esperadas. O Reuters publicou na quinta-feira:
A Itália cortou sua previsão de crescimento
para 2009 de 0.9 para 0.5 e o primeiro-ministro francês
François Fillon disse no começo dessa semana que
seu país poderia errar o alvo numa projeção
oficial para o crescimento de 1.0% no próximo ano.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que
a economia espanhola passará por uma severa recessão
no ano que vem, com -2% no crescimento do PIB. Uma sondagem trimestral
da Reuters, feita por 24 economistas, liberada nesta semana descobriu
que 23 deles acreditavam que a Inglaterra já estaria em
uma recessão; a previsão da média do crescimento
do PIB para 2009 foi de apenas 0.2%.
A Nissan anunciou nessa semana que cortaria 1.680 empregos
em sua fábrica em Barcelona, Espanha. O The Guardian noticiou
que a fabricante de carros espanhola pertencente a Volkswagen
planeja demitir temporariamente 4.700 trabalhadores em uma de
suas fábricas em Barcelona. Isso acompanha o anúncio
da empresa de que estaria reduzindo a produção anual
em 5% e demitindo no mínimo 750 trabalhadores. Também
na Espanha, a produtora de pneus Bridgestone está planejando
cortar 2.800 empregos de um total de 3.300 em duas fábricas.
Paul Betts, comentarista do Financial Times, publicou na quinta-feira:
Nenhum dia sequer passou durante essa semana sem alguma
grande empresa anunciar uma significante redução
dos seus planos anteriores de investimentos, as prateleiras de
uma importante aquisição ou todas as formas de corte
de custo e outras medidas de reestruturação.
O preço do petróleo ficou abaixo de $70 o barril
nessa semana, pela primeira vez em mais de um ano, refletindo
um abrandamento das taxas de produção e consumo
mundial. A extrema volatilidade, principalmente para baixo, sobre
os mercados bolsistas mundiais, apesar da série de resgates
financeiros anunciados nos EUA e Europa, reflete uma crescente
consciência de que a crise financeira é apenas uma
expressão das contradições mais profundas
do movimento da economia mundial.
Investidores estão reconhecendo que a crise financeira
não é o problema fundamental, dizia um artigo
publicado na quinta-feira no New York Times. Isso tem apenas
amplificado os males econômicos que agora estão intensificando:
desaparecimento de dinheiro, queda nos preços imobiliários
e gastos reduzidos. E não há alívio à
vista.
É agora amplamente reconhecido que nenhuma das medidas
de resgates financeiros econômicos prevenirão a propagação
da recessão. Os trilhões de dólares de dinheiro
público sendo concentrados no mundo bancário e instituições
financeiras estão destinadas a isolar a elite financeira
das conseqüências da crise pela qual eles mesmos são
os responsáveis.
Nenhum governo propôs um resgate de emergência
que visa resgatar a catástrofe que envolve a classe trabalhadora.
Não haverá resgate financeiro para milhões
de cidadãos ameaçados a perda de seus empregos,
poupanças ou imóveis.
Como a campanha presidencial norte-americana adentra suas duas
semanas finais em meio a intensificação da crise
econômica, o abismo entre o interesse dos dois principais
partidos e os interesses da maioria da população
se torna cada vez maior.
O candidato republicano John McCain ocupa-se simultaneamente
de denunciar demagogicamente a ganância e os excessos
de Wall Street e fazer promessas sobre a desregulamentação
das corporações e corte nos impostos das mesmas.
Ele se comprometeu a equilibrar o orçamento federal em
cinco anos, somente não explicou como isso será
feito, dado que a injeção de US$ 2,5 trilhões
em resgate feita pela gestão Bush já começa
a aumentar o déficit orçamentário para mais
de US$ 2 trilhões. McCain disse, entretanto, que imporia
um congelamento de um ano a todos os gastos não-militares
e reformaria os seguros sociais, como o Social Security, o Medicare,
e o Medicaid.
A agenda econômica do candidato democrata, Barack Obama,
defende cortes em várias taxas dos grandes negócios.
Sua concessão principal ao descontentamento popular é
o compromisso em acabar com o corte de impostos para pessoas que
ganham mais de US$ 250.000 por ano, realizado pela administração
Bush. Ao mesmo tempo, ele se compromete a analisar linha
por linha do orçamento federal, buscando eliminar
programas sociais e reduzir os gastos com os que sobrarem.
Os líderes do Congresso Democrático propõem
um novo pacote de US$ 150 bilhões para estimular a economia,
uma mera quantia se comparada com as necessidades das massas que
surgem com a crise.
Nem os políticos, nem a mídia dão uma
explicação séria sobre as raízes econômicas
da crise. Eles são incapazes, uma vez que a crise é
a expressão da falência do sistema capitalista que
defendem.
Os governos democratas e republicanos presidiram um desmanche
sistemático dos setores essenciais da indústria
básica nas últimas três décadas. Ao
mesmo tempo, a especulação financeira desenvolveu-se
como mecanismo chave pelo qual uma pequena elite gerava lucros
desvinculados do processo produtivo e da criação
de valor real. O crescimento do parasitismo financeiro, que tomou
um caráter cada vez mais criminoso, transferiu enormes
riquezas da classe trabalhadora para o 1% mais rico da população.
Um nível jamais visto de desigualdade social desenvolveu-se
enquanto a economia real
Nenhum pacote de incentivos ou qualquer outro paliativo
é capaz de resolver esta crise.
A única resposta só pode ser encontrada em um
programa socialista. Os grandes bancos e instituições
financeiras juntamente com as principais corporações
manufatureiras, de tecnologia, de comunicações,
transportes, saúde e farmacêuticas precisam
ser de propriedade coletiva e convertidos em empreendimentos públicos,
com completa indenização para pequenos acionários
e colocados sob o controle democrático da classe trabalhadora.
As fortunas acumuladas pelos CEOs e os especuladores financeiros
responsáveis pela crise devem ser confiscadas e transferidas
para um fundo público para compensar as vítimas
de práticas usurárias predatórias e de embargos
domiciliares. Um programa de frentes públicas de U$ 3 milhões
precisa ser lançado para reconstruir a infra-estrutura
decadente do país, providenciar moradia e escolas decentes,
assim como empregos bem remunerados e de período integral
para o número crescente de desempregados.
Tal programa deveria ser pago por um sistema tributário
progressivo que tira o peso das costas da classe trabalhadora,
desviando-o para os milionários e também através
do desmantelamento da máquina de guerra americana.
Essa perspectiva só pode ser realizada pela mobilização
independente da classe trabalhadora em luta conjunta com os trabalhadores
de todo o mundo, na direção do estabelecimento de
uma sociedade baseada nas necessidades sociais e não nos
lucros e na acumulação privada. Nos EUA, o primeiro
passo é a classe trabalhadora romper conscientemente com
o Partido Democrata e estabelecer seu próprio partido para
lutar por um governo operário.
Esse é o programa promovido pelo Socialist Equality
Party (Partido da Igualdade Socialista SEP, sigla em inglês).
Encorajamos todos os trabalhadores a apoiarem a campanha dos candidatos
a presidente e a vice, Jerry White e Bill Van Auken; a estudar
nosso programa e nossa história, tomar a decisão
de juntar-se ao SEP e ajudar-nos a construí-lo como o novo
partido de massas da classe trabalhadora.