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O exílio de Trotsky na Noruega

Publicado originalmente em inglês em nosso site no dia 13 de janeiro de 2009.

Em recente visita à Noruega, um colaborador alemão do CIQI visitou a casa onde Leon Trotsky se refugiou após ser expulso da União Soviética, em 1929. Nosso colaborador preparou o seguinte relato sobre o período de exílio de Trotsky na Noruega.

Em 1935, depois que as autoridades francesas recusarem o pedido de Trotsky para ficar no país por mais um ano, nenhum outro país europeu quis recebê-lo. Nesse momento, a França negociava uma aliança com Stálin para estabelecer um governo de frente popular, apoiado no Partido Comunista Francês.

Na Noruega, o Partido Trabalhista Social-Democrata tinha chegado ao poder. Tal partido se considerava a herança da ala esquerda da Segunda Internacional e esteve, por um tempo, dentro da Internacional Comunista, com a qual romperam em 1923.

Walter Held, um dos apoiadores de Trotsky que vivia em exílio na Noruega, entrou em contato com Olaf Scheflo, um dos líderes da social-democracia que simpatizava com Trotsky. Assim, acordou a proposta de que Trotsky poderia ficar temporariamente na Norguega.

Depois de alguns problemas causados pelos oficiais do governo que se opunham a sua estadia, Trotsky recebeu 6 meses de visto, vinculados a uma série de condições. Teve que prometer ao governo que não faria atividades políticas e que residiria a longa distância da capital, Oslo. Como escreveu Isaac Deutscher, Trotsky se comprometeu a não interferir na política cotidiana norueguesa. Mesmo assim, a todo o momento Trotsky continou sendo vigiado pelo governo, para garantirem que realmente não estava se envolvendo em atividades políticas.

Konrad Knudsen, um dos editores do jornal social-democrata Arbeiderblader, tentou em vão alugar uma casa para Trotsky e, finalmente, o convidou, juntamente com sua esposa, Natalia, para ficar em sua casa. Embora não concordasse politicamente com seu hóspede, sua família manteve boas relações com a de Trotsky, que fiz todo o possível para manter uma relação amigável. Depois de Trotsky se recuperar parcialmente de uma severa infecção, começou a trabalhar em A Revolução Traída, um de seus mais importantes livros, onde analisa a degeneração da União Soviética, o primeiro estado operário, que se transformava num regime burocrático.

Era o período em que se iniciavam os assassinatos e os expurgos na União Soviética. Não apenas toda a direção bolchevique foi liquidada, como também membros da inteligência do partido, militares, pessoas que trabalhavam no campo da cultura e muitos cidadão soviéticos comuns, que, na maioria dos casos, foram mandados para campos de concentração ou mesmo mortos. O principal acusado nos processos - a partir de provas falsificadas e vereditos inconsistentes - foi Leon Trotsky.

O visto de Trotsky não foi prorrogado e ele teve que deixar a Noruega depois que Stalin ameaçou o governo norueguês com um boicote comercial e outras sanções.

Em A Revolução Traída, Trotsky chega a conclusão de que só existem duas possibilidades para o futuro da União Soviética: ou a classe trabalhadora derruba a burocracia stalinista com uma política revolucionária e restaura a democracia soviética, ou a burocracia recompõe as relações de produção capitalista e se torna uma nova classe dominante. O prognóstico de Trotsky foi tragicamente confirmado e compreendido tardiamente no final da década de 80.

A casa em que Trotsky escreveu esse livro fica muito próxima da "European Route 16", que liga Oslo a Bergen, apenas 60 km ao norte de Oslo. Nessa pequena localidade, atualmente, quase nada sabe-se sobre Trotsky. Não há sinais que indicam que ele viveu ali, nem sequer uma placa que indique a casa.

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