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Perspectivas

Greve de Matamoros ameaça parar indústria automotiva norte-americana

Publicado originalmente em 21 de Janeiro de 2019

A greve de 70.000 trabalhadores do setor de auto peças na cidade de Matamoros, no México, está começando a afetar a produção nas fábricas de automóveis americanas, o que pode parar a produção automotiva em toda a América do Norte.

Trabalhadores americanos disseram ao World Socialist Web Site que a administração das empresas está desacelerando a produção em fábricas da General Motors e da Ford por causa da greve no México. A produção na fábrica da Ford em Flat Rock, no estado americano de Michigan, parará nesta semana devido à falta de peças causada pela greve.

A corajosa greve dos trabalhadores de 50 fábricas de auto peças em Matamoros, ao sul da cidade de Brownsville, no Texas (EUA), pode levar um importante setor da economia mundial a ficar de joelhos.

A greve demonstra a união objetiva e os interesses de classe comuns entre os trabalhadores americanos, canadenses e mexicanos. É a resposta da classe trabalhadora à ameaça racista de Trump de construir um muro entre os Estados Unidos e o México e ao veneno nacionalista espalhado pelos sindicatos. Os sindicatos United Auto Workers e Unifor buscam convencer os trabalhadores automotivos americanos e canadenses que seus inimigos são suas irmãs e irmãos mexicanos, e não os patrões automotivos e o sistema capitalista que busca o lucro.

Os trabalhadores de Matamoros estão começando a reconhecer sua força social. Ontem, milhares de trabalhadores marcharam de suas fábricas para a praça central da cidade gritando “Burguesia, fora!”. Os grevistas publicaram um apelo na rede social para que “todos os trabalhadores mexicanos” se juntassem a eles em uma greve geral nacional, que eles estão chamando de “Um Dia sem Trabalhadores”.

Um grupo de manifestantes no protesto realizado ontem segurava uma faixa dizendo: “Sindicato e empresa matam a classe trabalhadora”. Trabalhadores em greve relataram que “todos têm lido” a cobertura do World Socialist Web Site.

“Sindicato e empresa matam a classe trabalhadora”

Existem sinais de que a greve pode se espalhar. Na sexta-feira, a empresa de auto peças Aptiv demitiu centenas de trabalhadores na cidade Reynosa, na fronteira com os EUA, pela greves parciais que realizaram exigindo um aumento salarial de 100%. As demissões revoltaram os trabalhadores.

Os olhos de um milhão de trabalhadores de empresas maquiladoras próximas à fronteira entre os EUA e o México – responsáveis por quase dois terços das exportações mexicanas – estão sobre a luta em Matamoros.

A greve mostra que a interconectividade internacional da indústria automotiva é uma fonte de enorme força para os trabalhadores em todos os lugares. Enquanto as empresas têm usado a globalização para aumentar a hiper-exploração dos trabalhadores em todo o mundo, a greve de Matamoros mostra que os trabalhadores em cada centro de produção têm o poder de parar a máquina global da produção que busca o lucro.

Dezenas de milhares de trabalhadores ao redor do mundo estão seguindo a cobertura do World Socialist Web Site da greve, e um número cada vez maior está enviando mensagens de apoio:

  • Um trabalhador da GM em Oshawa, Canadá disse: “As empresas estão tentando explorar todos esses trabalhadores por toda a fronteira. Pra mim já chega! O Canadá, os EUA e o México não merecem isso. Nós devemos seguir exatamente o que os trabalhadores mexicanos estão fazendo. Nosso sindicato não está fazendo muito por nós. Vocês precisam levar essa luta adiante, vocês precisam ganhá-la. Mantenham suas cabeças erguidas”.
  • Um trabalhador na Romênia da Autoliv – uma das empresas em greve no México – disse ao WSWS: “As condições no México são um escândalo. Na Romênia também não são boas. Nós trabalhamos 12 horas por 20 euros ao dia. Os sindicatos na Romênia são como no México. Eles são pequenos patrões. No México e na Romênia nós precisamos conseguir condições [de trabalho] melhores e mais dignas”.
  • Um trabalhador da GM em Silao, no estado mexicano de Guanajuato, concordou: “Nós temos que fazer algo parecido aqui em Silao. Esse sindicato não vale nada”.
  • Um trabalhador de auto peças em Detroit, Michigan (EUA) disse: “Eu me comovo com o fato de vocês estarem cruzando as imaginárias fronteiras nacionais, voltando-se aos seus irmãos e irmãs ao norte e dizendo ‘um prejuízo a um é um prejuízo a todos’. Nós precisamos lutar juntos como uma força unida global. Não vamos deixar empresas sediadas nos EUA ferirem trabalhadores mexicanos em nome do capitalismo. Vocês são nossos companheiros de trabalho, mas vivem em um país diferente”.

Essas mensagens de solidariedade de classe expõem a mentira defendida pelos sindicatos de que os trabalhadores dos três países da América do Norte possuem interesses diferentes. Os sindicatos em cada país dizem aos seus trabalhadores que precisam competir com seus companheiros trabalhadores dos outros países ao invés de se unirem para lutar contra seus inimigos empresariais em comum. Os sindicatos dizem que os trabalhadores nos países mais ricos precisam aceitar cortes de salários e benefícios para “salvar os empregos” domésticos.

Essa estratégia tem sido um desastre para os trabalhadores automotivos. Amplas seções do Meio Oeste americano e canadense foram devastadas por causa do fechamento de fábricas e da retirada de direitos pelos sindicatos, enquanto os salários dos burocratas do Unifor e do UAW aumentaram para centenas de milhares de dólares. Agora, a GM está planejando cortar mais 15.000 empregos, incluindo o fechamento de fábricas nos EUA e Canadá que estão sendo impactadas pela greve dos trabalhadores mexicanos de auto peças.

A greve de Matamoros é um evento mundial. O que está acontecendo é uma aberta guerra de classes. As empresas estão demitindo centenas de trabalhadores e ameaçando levar suas famílias à miséria. Elas estão prendendo trabalhadores dentro das fábricas, impedindo-os de entrar em greve. A Marinha mexicana e a polícia estadual estão patrulhando as manifestações de trabalhadores com os dedos nos gatilhos de seus rifles de assalto. Em uma semana, a greve dos trabalhadores fez as empresas deixarem de lucrar 100 milhões de dólares.

Até hoje, não houve uma única reportagem na mídia americana sobre a greve. A mídia nacional mexicana ignorou a greve quase com a mesma obstinação.

Enquanto os jornais americanos, como o New York Times, desperdiçam um enorme espaço de suas colunas com questões de identidade sexual e racial, eles censuram as questões de vida ou morte que a classe trabalhadora enfrenta, encobrindo suas lutas.

A classe dominante – incluindo os sindicatos – são incapazes de dizer uma única palavra sobre a greve em Matamoros porque está aterrorizada pela possibilidade dos trabalhadores em outros lugares se inspirarem pelo seu exemplo.

Aqui está o exemplo que os trabalhadores de Matamoros estão dando:

Os trabalhadores estão se organizando independentemente dos sindicatos e elegendo seus próprios comitês de greve, com dois representantes por fábrica, que foram eleitos com a tarefa de coordenar a greve, compartilhar informações entre as fábricas e fazer apelos mais amplos para a classe trabalhadora como um todo. Cada vez mais, a necessidade de se formar esses comitês está emergindo como o tema central da luta de classes em 2019.

Esses são primeiros passos cruciais. Mas os trabalhadores de Matamoros precisam ser avisados de que as empresas e os sindicatos estão empregando a estratégia do “pau e da cenoura” para enfraquecer sua luta. Além das ameaças de demissões e violência, as empresas e o principal sindicato estão apelando para advogados trabalhistas carreiristas que fingem apoiar os trabalhadores, enquanto aparecem com odiados burocratas sindicais e pedem que os trabalhadores “reformem” o sindicato ao invés de levarem adiante uma “ação independente”.

Apelos similares para o presidente recém-eleito, Andrés Manuel López Obrador, que jurou publicamente dar seu apoio aos bancos e empresas, serão ignorados.

Se os trabalhadores seguirem esse conselho, eles entregarão sua luta. A força real dos trabalhadores está precisamente em sua independência dos sindicatos e dos partidos políticos capitalistas. O caminho real a seguir consiste no apelo aos seus companheiros de trabalho das empresas maquiladoras e seus irmãos e irmãs de classe nos EUA e no Canadá.

Os grevistas de Matamoros estão provando que, independentemente da cor de pele ou nacionalidade, todos os trabalhadores são explorados pelas mesmas empresas e falam a mesma língua da luta de classes. A união internacional da classe trabalhadora é a base para a construção de uma sociedade socialista livre da guerra, dos antagonismos nacionais e da desigualdade social.

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