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A greve dos trabalhadores automotivos de Matamoros e a censura na internet

Publicado originalmente em 24 de Janeiro de 2019

A greve de mais de 70.000 trabalhadores que está acontecendo na cidade de Matamoros, no México, não tem sido noticiada pelos principais jornais e emissoras de televisão. A greve é uma rebelião contra os odiados sindicatos que suprimiram a oposição dos trabalhadores aos salários de pobreza e condições de trabalho escravas, e foi organizada e continua a ser conduzida através das redes sociais.

Por mais de uma semana, o New York Times, The Washington Post, CNN, PBS, ABC, CBS e NBC, junto com os outros meios de comunicação de língua inglesa, não noticiaram um dos mais importantes e notáveis acontecimentos deste ano.

O World Socialist Web Site tem sido a única publicação em língua inglesa a cobrir sistematicamente a greve, publicando extensas reportagens e entrevistas sobre a luta dos trabalhadores mexicanos todos os dias desde 15 de Janeiro.

Uma busca por “Matamoros” no Google News, por exemplo, gera uma lista cujos seis primeiros artigos são do WSWS, com nenhuma outra cobertura da greve em inglês.

As primeiras seis notícias no resultado de busca por “Matamoros” no Google News são do WSWS

A cobertura do World Socialist Web Site tem sido amplamente acompanhada – em inglês e espanhol – em todo o México, nos Estados Unidos e ao redor do mundo. No total, os artigos foram vistos 20.000 vezes, e tem estado consistentemente entre as reportagens mais lidas do WSWS.

O grande número de leitores que está acompanhando a cobertura do WSWS deixa claro que as reportagens sobre a greve não apenas são importantes, mas são também populares. Assim, o silêncio da mídia americana em noticiar a greve desafia qualquer explicação razoável. Pode-se somente concluir que, pelo menos entre os principais jornais e emissoras de televisão, uma decisão simultânea foi tomada em não cobrir a greve de Matamoros.

No mesmo período da greve, a mídia americana foi dominada por dias por uma história sensacionalista postada pelo Buzzfeed, posteriormente contestada, sobre os negócios de Donald Trump com a Rússia. Outras histórias relacionadas com a campanha anti-russa e a investigação de Trump pelo procurador especial se proliferaram, junto ao assunto mais amplamente noticiado nos telejornais noturnos: o clima.

A única explicação plausível para o silêncio da mídia sobre a greve é o medo de que informar o público americano sobre as lutas dos trabalhadores mexicanos provocará simpatia e solidariedade, atrapalhando os esforços de ambas as facções do establishment político americano em promover divisões nacionais, étnicas e raciais.

A cobertura única do World Socialist Web Site sobre a greve revela os objetivos reais da censura à internet, que tem como principal alvo o WSWS.

Em Abril de 2017, o Google anunciou mudanças em seu algoritmo de buscas com o objetivo de promover fontes de notícias “confiáveis”, enquanto rebaixava o alcance de “pontos de vista alternativos” nos resultados de busca. Em declarações posteriores, a empresa deixou claro que os dispositivos de notícias “confiáveis” com os quais ela havia feito uma “parceria” incluíam o New York Times e o Washington Post.

Desde essa alteração no algoritmo de busca, o resultado de buscas do Google para o World Socialist Web Site diminuiu 75%. Por outro lado, o resultado de buscas para o New York Times aumentou 10%, enquanto o do Washington Post cresceu estarrecedores 80%.

O Google realizou mudanças em seus algoritmos de busca sob o fraudulento pretexto de combater o que chamou de “fake news”.

Esse termo é uma construção da mídia: uma tentativa crua de igualar notícias e opiniões críticas ao governo e aos maiores meios de comunicação, por um lado, e declarações falsas, mentiras e farsas, do outro.

Centenas de artigos no Post, no Times e outros meios de comunicação construíram uma narrativa de que os “russos” usaram a internet para promover declarações falsas e provocar oposição e divisões políticas dentro dos Estados Unidos, com o objetivo de “minar nossa democracia”.

Mas quando a mídia e os comentaristas políticos que denunciavam tudo isso davam exemplos de “fake news”, eles citavam com frequência informações precisas e verdadeiras. Um caso ilustrativo é o que aconteceu na campanha eleitoral dos EUA em 2016, quando a candidata do Partido Democrata, Hillary Clinton, tentou explicar sua derrota dizendo que o WikiLeaks “ajudou a acelerar o fenômeno que eventualmente passou a ser conhecido como fake news”.

Mas, apesar de uma grande quantidade de ataques contra o WikiLeaks e seu ex-editor que está sendo perseguido, Julian Assange, ninguém jamais conseguiu apresentar uma acusação crível de que a organização publicou documentos falsos. O WikiLeaks ajudou a expor os laços corruptos da própria Clinton com os bancos de Wall Street, a tentativa do Partido Democrata em minar o concorrente de Clinton nas primárias, Bernie Sanders, e numerosas ações criminosas do governo americano.

O que é chamado de “fake news”, em outras palavras, são notícias verdadeiras que as forças poderosas dentro da elite dominante não querem que a população veja.

A campanha para legitimar a censura teve como alvo principal sites de notícias de oposição precisamente porque eles permitem que as massas furem o regime de censura perpetuado pelos grandes jornais e emissoras de televisão.

Ao exigir a censura, figuras dentro da elite dominante tem feito com que se retorne o clima na mídia que existia durante a Guerra Fria, quando um punhado de jornais e emissoras de TV determinavam o que a população poderia ver.

Conforme Samantha Power, a ex-embaixadora dos EUA na ONU, publicou em uma coluna para o New York Times: “Durante a Guerra Fria, a maioria dos americanos recebia suas notícias e informação através de plataformas mediadas. Repórteres e editores, que funcionavam como porteiros profissionais, tinham controle quase total sobre o que aparecia na mídia. Um adversário estrangeiro buscando alcançar a audiência americana não tinha boas opções para furar esses árbitros, e a desinformação russa raramente penetrava”.

É exatamente para reestabelecer tal clima político “mediado” que poderosas seções do aparelho de inteligência do estado, junto com os monopólios dos meios de comunicação, estão trabalhando para censurar a internet.

A internet, e em particular as redes sociais, tem sido uma ferramenta de organização poderosa para os trabalhadores de Matamoros, que tem organizado greves, manifestações e reuniões através do Facebook.

É precisamente por conta do vasto poder da internet para mobilizar a oposição popular a empresas e governos que ela tem sido censurada pelo odiado establishment político, que teme o crescimento da oposição da classe trabalhadora. A rede social, como um colunista escreveu no New York Times, “pode ser um dos instrumentos de radicalização mais poderosos do século XXI”.

À medida que os trabalhadores entrarem em luta nos Estados Unidos e em todo o mundo, eles precisarão assumir também a luta contra a censura na internet como uma luta sua.

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