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Onda de greves de professores espalha-se pelo mundo

Publicado originalmente em 7 de Março de 2019

Em todo o mundo, professores de dezenas de países estão participando de um movimento de greve de proporções internacionais sem precedentes.

Tanto em países avançados quanto em subdesenvolvidos, os professores estão lutando pela mesma razão: a defesa da educação pública. Eles pertencem à mesma classe – a classe trabalhadora – e enfrentam os mesmos inimigos: os governos e as empresas que exigem privatizações e cortes no orçamento, bem como os sindicatos que isolam suas lutas e acabam os traindo.

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América do Sul

Argentina

Quase um milhão de professores iniciaram ontem uma greve de 72 horas exigindo aumentos massivos de salários e o fim dos projetos de privatização do governo do presidente Mauricio Macri. Os professores argentinos realizaram uma grande manifestação na Plaza de Mayo na capital, Buenos Aires, no primeiro dia de greve.

Oitenta por cento dos professores ganham menos do que a linha oficial de pobreza, incluindo mais de 100.000 professores no distrito federal da capital, onde a taxa de pobreza infantil é superior a 75%.

O governo Macri ofereceu insignificantes aumentos salariais, prometendo aumentar os salários de novas contratações de 12.000 para 15.000 pesos (de cerca de 1.100 para quase 1.400 reais). Essa aumento está muito abaixo da taxa de inflação, que foi de 47% em 2018. Os sindicatos dos professores sabem que o governo Macri não concordará em atender às exigências dos professores, mas estão limitando a greve a três dias para ajudar o governo a aprovar suas medidas de austeridade.

Brasil

Na semana passada, cerca de 100 professores em São Paulo ocuparam a Diretoria Regional de Educação de São Miguel Paulista, interrompendo uma reunião na qual o sindicato e o governo estavam conspirando para roubar os salários e direitos previdenciários dos professores.

O salário de muitos professores em greve foi cortado pela prefeitura de São Paulo, que está negando o direito à greve aos professores e ameaçando colocar professores substitutos em seus lugares. O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), foi recentemente filmado rindo de grevistas que o rodeavam exigindo seu pagamento. A resposta do prefeito foi chamar a polícia para atacar os professores com gás lacrimogêneo.

Colômbia

Cerca de 300 mil professores do ensino básico e superior entrarão em greve em todo o país nos dias 19 e 20 de Março contra os esforços do governo colombiano de Ivan Duqué em cumprir um Plano Nacional de Desenvolvimento elaborado pelo Fundo Monetário Internacional, que reduzirá o financiamento da educação fundamental, do transporte escolar e do atendimento médico nas escolas.

Desde 2000, o governo cortou o gasto por aluno nas universidades pela metade. Universidades com fins lucrativos e privadas proliferaram como resultado do financiamento do Banco Mundial.

África

Argélia

Em meio a crescentes manifestações em todo o país exigindo a renúncia do presidente Abdelaziz Bouteflika, professores argelinos uniram-se aos protestos em universidades e estão participando de greves espontâneas e protestos sentados.

De acordo com jornal El Watan, professores da Universidade de Mouloud Mammeri, em Tizi Ouzou entraram em ação “por conta própria” na terça-feira. “Os professores iniciaram sua ação com uma reunião em massa no campus antes de iniciar uma marcha com alunos que também estavam observando uma aglomeração de pessoas protestando sentadas em frente à biblioteca central.”

Protestos parecidos também ocorreram em outras universidades. El Watan informou que os professores emitiram uma declaração pública no início da semana “convocando professores universitários para realizarem reuniões de massa na terça-feira em todos os estabelecimentos da universidade. Eles agora se juntarão ao movimento iniciado pelos estudantes várias semanas antes.”

Costa do Marfim

Dezenas de milhares de professores de escolas de ensino infantil e fundamental recusaram-se a obedecer uma ordem para voltar ao trabalho emitida pelo sindicato e continuaram com uma poderosa greve agora em sua sétima semana.

O Koaci News noticiou em 4 de Março que “a ordem para suspender a greve das 12 organizações sindicais responsáveis pela greve de professores de ensino infantil e fundamental não foi obedecida” e “não foi recebida de maneira favorável pelos professores em greve”. Um dia antes, David Bli Blé, porta-voz do sindicato ISEPPCI, exigiu que os professores voltassem a trabalhar “para dar uma chance às negociações com o governo”.

Os professores estão em greve exigindo aumentos massivos de salários e aumentos significativos nos gastos do Estado com a educação em um dos mais desiguais países do mundo.

Quênia

Mais de 180.000 professores quenianos têm realizado repetidas greves nacionais no sétimo maior país da África contra as transferências forçadas de milhares de professores, para acabar com as avaliações de desempenho e para obter um aumento salarial de 60%. O presidente do Sindicato Nacional dos Professores do Quênia (KNUT), Wilson Sossion, cancelou inúmeras greves nos últimos seis meses.

Em Agosto do ano passado, Sossion disse à imprensa: “Os professores deveriam baixar seus instrumentos no começo deste semestre. No entanto, decidimos esperar o início da greve até o final de Setembro, quando nos reuniremos com a Comissão de Serviços de Professores [do governo] para resolver questões controversas.” O KNUT cancelou então uma outra greve programada para Dezembro e ainda outra convocada para Janeiro.

Mali

Dezenas de milhares de professores realizaram manifestações em cidades por todo o país ontem em meio a uma greve exigindo subsídios para moradia de professores, aumentos salariais e financiamento para as escolas. Mali Presse informou que a greve em curso “paralisou o sistema escolar maliano” e ameaça cancelar as aulas deste ano.

Um professor em greve disse ao Mali Presse: “Esta é uma luta que vem de três anos atrás. Desta vez, não voltaremos a trabalhar com migalhas. Estamos determinados.”

África do Sul

Professores em toda a África do Sul foram impedidos de entrar em greve este mês, quando vários sindicatos se recusaram a aceitar a decisão dos professores de entrar em greve. Segundo o Independent Online News, o Sindicato Democrático dos Professores da África do Sul (SADTU, na sigla em inglês) disse aos professores que a greve “seria ilegal”. Já o Sindicato Nacional dos Professores chamou a greve de “ilegítima”. Os professores querem iniciar uma greve para exigir condições de trabalho mais seguras em áreas pobres onde os professores são assassinados nas próprias escolas.

América do Norte

México

Um movimento nacional de greve de professores está se desenvolvendo contra cortes maciços na educação que estão sendo realizados pelo governo de Andrés Manuel López Obrador (AMLO). Na semana passada, professores em Oaxaca fecharam 13.400 escolas para impedir que AMLO implementasse partes do plano de privatização de seu antecessor, Enrique Peña Nieto.

Cerca de 30.000 professores estão em greve nas Faculdades de Estudos Científicos e Tecnológicos e mais 60.000 iniciarão uma greve de dois dias esta semana nas Faculdades de Bacharelado em 25 estados. Os professores estão entrando em greve contra a proposta de AMLO de cortar 500 milhões de pesos (cerca de 100 milhões de reais) do programa no orçamento federal.

Os professores também estão protestando contra a proposta de AMLO de cortar o financiamento de um programa de creche para mães pobres em 46%. Os professores também realizam uma greve que já dura semanas na Universidade Autônoma Metropolitana (UAM) e na Universidade Autônoma de Chapingo (UAC).

No mês passado, professores entraram em greve em Michoacán e bloquearam as linhas de trem que ligam o cinturão de rodovias do México a um importante porto na costa do Pacífico.

Estados Unidos

Nas últimas semanas, os sindicatos de professores procuraram isolar os trabalhadores, intercalando as greves que foram realizadas contra questões comuns a todos eles e forçando os professores a aceitarem cortes no orçamento e aumentos salariais abaixo da inflação. No entanto, professores de todo o país estão discutindo entrar em greve, como em Sacramento, Fremont, e San Ramon, na Califórnia, em Filadélfia, na Pensilvânia, e nos estados de Indiana, Oklahoma, Arizona, Alasca, Carolina do Sul e Kentucky. Os professores estão também exigindo aumentos salariais em Mississippi, Louisiana, Maine, Nevada, Dakota do Norte, Arkansas, Delaware, Geórgia e Novo México.

Professores em greve em Oakland, na Califórnia

Europa

Polônia

De acordo com o Gazeta Wyborcza, professores de todos os níveis de ensino iniciarão uma greve de duração ilimitada a partir de 8 de Abril. A mídia francesa observa que “a greve começará logo antes dos exames universitários e exames finais do ensino fundamental”.

Reino Unido

Na segunda-feira, professores da Escócia rejeitaram uma oferta do governo de um aumento salarial de 9%, o que torna provável que entrem em greve em Abril. O sindicato implorou aos professores que aceitassem o acordo e emitiram uma declaração dizendo que queriam “ter a oportunidade de evitar a greve”. Os professores terão assembleias para decidir se entrarão em greve na próxima segunda-feira.

Ásia

Irã

Dezenas ou centenas de milhares de professores em mais de mil escolas primárias e secundárias em 100 cidades diferentes concluíram ontem seu terceiro dia em greve. Dados do Ministério da Educação do Irã mostram que os salários dos professores estão entre 66% e 75% da taxa oficial de pobreza. A inflação no Irã foi de 40% no final de novembro de 2018, em grande parte causada pelas sanções dos EUA. Os professores estão exigindo grandes aumentos salariais e a soltura de professores que foram presos por realizarem greves. Os professores também estão exigindo aumentos significativos do orçamento para as escolas.

Professores iranianos tem enfrentado violentos ataques do governo, que prendeu um professor e o condenou a receber chicotadas. Outro professor foi sequestrado e levado para um hospital psiquiátrico.

Professoras no Irã protestaram contra baixos salários em 4 de Março

Índia

A greve de professores universitários da Universidade de Déli continuou esta semana, com os grevistas realizando uma passeata pela cidade. Na cidade de Bhubaneswar, no estado de Odisha, no leste da Índia, os professores também estão em greve.

Professores desempregados estão protestando na cidade de Patiala, no estado de Punjab, perto da fronteira com o Paquistão. Uma reportagem local dizia: “Exigindo empregos no governo, cinco jovens desempregados qualificados subiram no tanque de água na segunda-feira. Depois de nenhuma garantia de uma reunião com o ministro-chefe, os manifestantes decidiram ficar no topo e alertaram que iriam intensificar seu protesto”.

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Greves de professores e protestos também ocorreram durante os últimos três meses na Tunísia, França, Zimbábue, Costa Rica, Guiné-Bissau, Portugal, Alemanha, Bélgica, Israel e Venezuela.

Com a globalização, as greves de professores e outros trabalhadores em cada país estão cada vez mais assumindo a forma de partes conectadas de uma luta mundial. A tarefa mais importante é conscientizar os trabalhadores sobre esse processo e construir comitês de base que liguem suas lutas e realizem um ataque comum ao sistema capitalista.

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