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Perspectivas

Relatório Mueller é uma derrota política para o Partido Democrata

Publicado originalmente em 25 de Março de 2019

Na sexta-feira, 22 de março, o Procurador Especial Robert Mueller concluiu sua investigação de quase dois anos sem encontrar evidências de conluio entre a campanha de Trump e o governo russo.

“A investigação não estabeleceu que os membros da Campanha Trump conspiraram ou coordenaram com o governo russo em suas atividades de interferência eleitoral”, diz uma seção do relatório divulgada pelo Departamento de Justiça.

As alegações de que Trump “conspirou” com a Rússia estiveram no centro da oposição dos democratas à administração Trump. Começando com a afirmação de Paul Krugman em 22 de julho de 2016 em um artigo no New York Times de que Trump era um “candidato siberiano”, o Times, Washington Post e outros meios de comunicação escreveram centenas de artigos supostamente provando que Trump venceu a eleição por causa de uma nefasta conspiração com Vladimir Putin.

Mas Mueller, ex-diretor do FBI que realizou uma investigação de mais de 600 dias, e que, de acordo com o Departamento de Justiça, emitiu “2.800 intimações, executou quase 500 mandados de busca, obteve mais de 230 pedidos de registros de comunicação… e ouviu aproximadamente 500 testemunhas”, não conseguiu encontrar nenhuma evidência dessas alegações.

O resultado da investigação é uma derrota para os democratas e os meios de comunicação associados ao partido, deixando o fascista Trump em uma posição política mais forte. “Sem conluio, sem obstrução, completa e total ABSOLVIÇÃO”, Trump tuitou. Agora, enquanto Trump intensifica seu ataque frontal aos direitos sociais e democráticos da classe trabalhadora, ele terá o vento político soprando a seu favor.

Nos mais de dois anos desde a eleição de Trump, o perigo representado por esse governo para a classe trabalhadora tornou-se enormemente claro. Trump usou poderes de emergência para alocar fundos não destinados pelo Congresso para a construção de seu muro entre os EUA e o México, o que representa uma vasta expansão do poder executivo para suprimir toda a oposição política. O governo prendeu dezenas de milhares de crianças imigrantes em campos de concentração, no que autoridades de direitos humanos consideram ser tortura.

Nos últimos meses, Trump declarou guerra ao socialismo, enquanto realizava apelos às forças fascistas nos Estados Unidos e ao redor do mundo. Sua retórica fascista inspirou terroristas neonazistas, como Brenton Tarrant, que massacrou 50 pessoas na Nova Zelândia este mês; Robert Bowers, que matou 11 pessoas em uma sinagoga no ano passado; e James Alex Fields, que dirigiu um carro contra manifestantes antifascistas em Charlottesville em 2017.

Há uma clara e inevitável conclusão da tortuosa experiência dos últimos dois anos: a luta contra o governo Trump não pode ser realizada através do Partido Democrata, o cadáver apodrecido do liberalismo estadunidense.

Desde o início, a oposição dos democratas a Trump centrou-se nas diferenças em relação à política externa e na melhor forma de garantir os interesses predatórios do imperialismo dos EUA. Os inimigos de Trump dentro da classe dominante exigiram que o presidente assumisse uma posição mais conflituosa em relação à Rússia e investisse recursos militares adicionais para desestabilizar e derrubar o governo sírio.

A disputa, em outras palavras, limitou-se a um “confronto intramural” (como Obama colocou após a eleição de Trump) entre as facções de direita da elite dominante. Um dos principais objetivos da histeria anti-russa promovida pelos democratas tem sido desviar o amplo ódio popular e a hostilidade a Trump em uma direção de direita pró-guerra, ao mesmo tempo em que serve para justificar ataques aos direitos democráticos.

A campanha em torno das alegações de “intromissão” russa na eleição de 2016 tem sido usada para legitimar a censura na internet, levando a um declínio maciço no tráfego de busca para sites de esquerda. Também tem sido usado para demonizar o WikiLeaks, criar as condições para a prisão da denunciante Chelsea Manning e para aumentar a perseguição a Julian Assange.

Ao mesmo tempo, os democratas formaram, em muitas questões fundamentais, um governo de unidade nacional com Trump. Eles aprovaram dois enormes aumentos anuais no orçamento militar dos EUA, endossando totalmente o plano de Trump de expandir enormemente o tamanho das forças armadas dos EUA para se preparar para a “competição entre grandes potências” com a Rússia e a China.

Nos últimos meses, os democratas não apenas abraçaram a guerra comercial de Trump contra a China, mas criticaram a Casa Branca por ser insuficientemente agressiva na campanha dos EUA contra empresas de telecomunicações chinesas. E eles, quase sem exceção, apoiaram a exigência de Trump de mudança de regime na Venezuela.

A principal preocupação dos democratas tem sido evitar qualquer mobilização de setores mais amplos da população. Assim, eles sempre se opuseram aos procedimentos de impeachment, insistindo que tudo deve estar subordinado à investigação de Mueller. Os democratas têm muito mais medo do crescimento da luta de classes do que quaisquer diferenças que tenham com o atual ocupante da Casa Branca.

Tudo isso foi determinado pelos interesses de classe das forças sociais representadas pelos democratas, que falam por poderosas seções da oligarquia financeira e do aparato militar e de inteligência, juntamente com camadas da classe média alta.

Trump não é uma aberração. Na verdade, sua administração expressa as características mais essenciais do sistema capitalista. Ela é um sintoma de uma doença muito mais profunda, da qual seus oponentes dentro do establishment político são outro sintoma da mesma doença.

A única força social capaz de liderar uma luta real contra a administração Trump é a classe trabalhadora internacional. Como o World Socialist Web Site escreveu em junho de 2017:

A classe trabalhadora confronta em Trump e sua administração um inimigo cruel, que se dedicam à destruição de seus direitos democráticos e uma redução ainda maior de suas condições de vida ... A classe trabalhadora deve se opor a esse governo e buscar tirá-lo do poder. Mas essa tarefa não deve ser confiada aos oponentes de Trump na classe dominante. A classe trabalhadora não pode permanecer como espectadora na luta entre Trump e os democratas. Ao invés disso, ela deve levar adiante sua luta contra Trump com sua própria bandeira e com seu próprio programa.

Os quase dois anos desde a publicação dessa declaração têm sido marcados pelo crescimento de um movimento grevista internacional em quase todos os países e indústrias. No ano passado, mais de meio milhão de trabalhadores estadunidenses entraram em greve, um aumento de 20 vezes em relação a 2017. Dez anos depois da crise financeira de 2008 e depois de décadas de desigualdade social, a classe trabalhadora emergiu no cenário da política global. As expressões iniciais da luta da classe trabalhadora se desenvolverão e se expandirão ao longo deste ano.

O crescimento da luta de classes em escala mundial deve ser transformado em um movimento consciente, internacional e revolucionário contra o sistema capitalista. Esta é a tarefa política essencial e urgente que está colocada diante da classe trabalhadora.

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