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Netanyahu recebe Bolsonaro de braços abertos durante visita a Israel

Publicado originalmente em 6 de Abril de 2019

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu recebeu de braços abertos outro líder fascista, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, em Israel.

Sob o governo Netanyahu, Israel tornou-se um polo de atração para ideólogos de direita, ultranacionalistas e neofascistas de todo o mundo. O presidente dos EUA, Donald Trump, incluiu Israel em sua primeira viagem internacional. Outros que fizeram a peregrinação a Israel incluem:

* Matteo Salvini, ministro do interior da Itália, líder do partido anti-imigrantes Liga e partidário do fascista italiano Mussolini, a quem Netanyahu saudou como “grande amigo de Israel”.

* Rodrigo Duterte, homem forte das Filipinas, que elogiou publicamente Hitler e prometeu imitá-lo exterminando três milhões de “criminosos”.

* Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia e líder do partido nacionalista hindu BJP.

* Viktor Orban, primeiro-ministro húngaro, que elogiou o almirante Miklos Horthy, ditador da Hungria que colaborou com os nazistas no extermínio de mais de meio milhão de judeus húngaros, como “um excepcional estadista”.

* Sebastian Kurz, chanceler austríaco, que lidera uma coalizão com o Partido da Liberdade, fundado por dois ex-oficiais da SS nazista.

* Steve Bannon, ex-conselheiro de Trump e ex-diretor executivo do site Breitbart News, que se descreve como um cristão sionista e que participou da inauguração da embaixada dos EUA em Jerusalém em 2018.

Um ávido defensor da política externa de Trump contra a China, a Rússia e Cuba, Bolsonaro ameaçou usar os militares contra a Venezuela. Ex-capitão do exército, ele elogiou a ditadura militar do Brasil que prendeu, torturou e assassinou dezenas de milhares de trabalhadores e estudantes entre 1964 e 1985. Em 1999, Bolsonaro disse em uma entrevista de televisão que o Brasil só poderia ser transformado “quando partirmos para uma guerra civil, e fazendo o trabalho que o regime militar não fez, matando uns 30 mil.”

Esse pretenso carniceiro iniciou sua visita de quatro dias a Israel no domingo, 31 de março, poucos dias antes das eleições israelenses, que ocorrerão em 9 de abril. A viagem de Bolsonaro foi sua retribuição a visita de Netanyahu ao Brasil para sua posse presidencial em 1˚ de janeiro, que foi amplamente evitada por autoridades estrangeiras – com a exceção do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, e do primeiro-ministro da Hungria, Orban.

Os filhos de Bolsonaro, Eduardo e Carlos, visitaram Israel em 2016, quando foram fotografados vestindo camisas do exército israelense e do Mossad. Eduardo é deputado federal e representante latino-americano do consórcio político criado por Bannon, conhecido como o Movimento, que promove internacionalmente partidos políticos de extrema direita.

Netanyahu cumprimentou Bolsonaro efusivamente dizendo: “Meu amigo, estamos fazendo História.” O Brasil anunciou a criação de um escritório comercial em Jerusalém e está buscando uma maior cooperação em segurança e tecnologia, incluindo a compra de avançados drones equipados com tecnologia de reconhecimento facial para uso policial contra opositores políticos.

Netanyahu acompanhou Bolsonaro ao Muro das Lamentações na Cidade Velha de Jerusalém. Como a primeira visita oficial de um chefe de estado ao muro junto com um líder israelense, Bolsonaro reconheceu tacitamente a soberania de Israel sobre o território ilegalmente anexado após a guerra de 1967.

De longe, o aspecto mais repugnante da viagem de Bolsonaro foi sua visita ao centro de memória do Holocausto Yad Vashem, em Israel, após a qual ele declarou, num esforço imundo de caluniar os socialistas como antissemitas, que os nazistas eram de esquerda.

Segundo Bolsonaro, “não há dúvida” de que o nazismo foi um movimento de esquerda, já que o nome completo do Partido Nazista era “Partido Nacional-Socialista da Alemanha”, que inclui a palavra “socialista”.

Essas calúnias e difamações são parte integrante de Bolsonaro e sua missão de livrar o mundo do socialismo e qualquer oposição da classe trabalhadora ao capitalismo – o núcleo político de todos os movimentos fascistas.

Os comentários de Bolsonaro mal foram noticiados, com a mídia reciclando um relato da Reuters de sua entrevista com a declaração pró-forma de que “é amplamente aceito que o nazismo foi um movimento de extrema direita”. O site do Yad Vashem diz que vários fatores, incluindo a derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial, “criaram solo fértil para o crescimento de grupos radicais de direita na Alemanha, produzindo organizações como o Partido Nazista”.

Seu revisionismo histórico não provocou oposição da imprensa israelense, incluindo os chamados jornais liberais, ou a imprensa judaica.

Quando Netanyahu veio ao Brasil para a posse de Bolsonaro, o chargista brasileiro Aroeira publicou uma charge de Bolsonaro e Netanyahu em um abraço com seus braços formando uma suástica. A charge foi publicada no jornal O Dia e amplamente compartilhada nas redes sociais. A resposta da Federação Israelita do Rio de Janeiro foi abrir um processo criminal contra o chargista por considerar seu desenho antissemita.

Não há dúvida de que essas forças fascistas estão visitando Israel em busca de seu equipamento militar, tecnologia repressiva de vigilância de segurança e software de inteligência que foram testados e comprovados contra os palestinos. Eles também estão procurando apagar seu passado fascista e antissemita obtendo o selo de aprovação de Israel para o ressurgimento de ditaduras militares e do fascismo. Ao mesmo tempo, esses fundamentalistas cristãos, antissemitas e xenófobos não estão menos ansiosos do que seus antecessores políticos para que seus cidadãos judeus partam para Israel.

Netanyahu está mais do que pronto para fornecer o necessário carimbo de aprovação “kosher” para que isso aconteça. Ele se recusou a aceitar que a extrema direita na Europa é antissemita, liderando um esforço global para redefinir o antissemitismo como antissionista e equipará-lo a qualquer oposição à submissão brutal de Israel aos palestinos. O antissemitismo europeu, declarou ele, é o “novo antissemitismo que vem da extrema esquerda e também dos bolsos islâmicos radicais na Europa”. Ele ainda acrescentou: “A ideia de que Israel não tem o direito de existir é o máximo do antissemitismo hoje.”

A aliança entre Netanyahu e a extrema direita europeia e internacional é, em última instância, entre viajantes políticos companheiros. Netanyahu incorpora o surgimento de uma tendência fascista dentro de Israel. Ele lidera uma coalizão composta de partidos abertamente racistas e fascistas que no ano passado introduziu a chamada “Lei do Estado-nação”, consagrando a supremacia judaica como fundamento legal do Estado, uma medida que imitou a África do Sul do apartheid. Mais recentemente, Netanyahu formou uma aliança eleitoral com o partido terrorista fascista e anti-árabe Poder Judeu para reforçar seu apoio nas próximas eleições.

Seu estado militar baseia-se na brutal opressão de todo um povo, os palestinos. Forças israelenses abateram pelo menos 266 palestinos – incluindo crianças, jornalistas e paramédicos – e feriram cerca de 30 mil durante os protestos da Marcha do Retorno em Gaza, que já duram um ano e tem o objetivo de os palestinos conseguirem seu direito de retornar a suas casas e aldeias. Esses protestos estão acontecendo depois de 11 anos de bloqueio da minúscula Faixa de Gaza e três guerras assassinas em Gaza que mataram cerca de 4.000 palestinos e destruíram grande parte de sua infraestrutura básica e dezenas de milhares de casas.

É com o objetivo de silenciar qualquer crítica a esses crimes que Netanyahu forneceu milhões de dólares para reforçar a campanha de grupos sionistas e figuras políticas pró-israelenses que tentam criminalizar a esquerda.

Esta campanha fez cair sobre Jeremy Corbyn, o líder do Partido Trabalhista britânico, e seus partidários uma chuva de vitupérios e calúnias. Foi levantada a falsa acusação sobre Corbyn de que ele transformou o Partido Trabalhista – que os judeus britânicos tradicionalmente votam e que dois políticos de origem judaica concorreram a liderança em 2010 – em um partido antissemita.

Mais recentemente, Israel voltou suas atenções para a deputada federal democrata estadunidense Ilhan Omar, acusando-a de antissemitismo por seu apoio ao movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) que pede o fim dos laços acadêmicos e comerciais com o Estado de Israel.

O foco no suposto crescimento do “antissemitismo de esquerda” serve para encobrir o atual cultivo e crescimento das forças de extrema direita e neofascistas pelos governos capitalistas, incluindo a administração Trump, o governo Macron na França e o governo de grande coalizão na Alemanha, bem como o caráter de extrema direita do próprio governo Netanyahu. A aliança entre a elite política de Israel e tais forças demonstra que o sionismo é um inimigo não menos amargo dos trabalhadores e jovens judeus, seja na diáspora ou em Israel, do que é dos palestinos.

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