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Perspectivas

O socialismo assombra a classe dominante dos EUA

Publicado originalmente em 8 de Abril de 2019

Nos dois meses desde que Donald Trump jurou em seu Discurso sobre o Estado da União que “os Estados Unidos nunca serão um país socialista”, o presidente demagogo e o Partido Republicano adotaram o anti-socialismo como o tema de sua campanha nas eleições de 2020.

Discursando no Jantar Anual do Comitê Nacional Republicano na semana passada, Trump declarou que concorrerá em 2020 para combater uma “tomada socialista” dos Estados Unidos. “Eu amo a ideia de adotar ‘Manter os EUA Grande’ como slogan de campanha”, disse Trump, “porque os socialistas destruirão” o país.

A retórica de Trump está sendo cada vez mais utilizada pelo Partido Republicano como um todo. Na semana passada, o deputado pelo estado de Utah, Chris Stewart, anunciou a formação de uma “bancada anti-socialista” na Câmara dos Deputados. Esse “movimento anti-socialista” serviria “como um bastião para deter o avanço das políticas e legislação socialistas”, disse Stewart.

“Se não conseguirmos lembrar daqueles tempos perigosos”, ele acrescentou, o apelo primitivo do socialismo avançará e infectará nossas instituições”. O socialismo quer “destruir a liberdade, a democracia e o estado de direito”, declarou o deputado.

O ideólogo republicano Pat Buchanan foi além, declarando que as eleições de 2020 seriam uma escolha entre Trump e o socialismo, em que “Trump seria a última linha de defesa da nação contra a chegada dos Estados Unidos Socialistas”.

Ambos os partidos da elite dominante estadunidense estão unidos em seu ódio e medo contra o socialismo, embora Trump e os republicanos expressem isso de uma maneira particularmente crua. Na semana passada, o presidente da JPMorgan Chase, Jamie Dimon, que era conhecido como o banqueiro favorito de Barack Obama e foi um importante doador ao Partido Democrata, centrou sua carta anual para acionistas atacando o socialismo.

O JPMorgan Chase recebeu dezenas de bilhões de dólares em resgates governamentais e muitos outros bilhões através das taxas de juros ultra baixas e políticas de impressão de dinheiro conhecidas como “flexibilização quantitativa” da administração Obama. Dimon disse aos acionistas que o “socialismo inevitavelmente produz estagnação, corrupção” e “governo autoritário”, e que seria “um desastre para o nosso país”.

Essas declarações expressam o medo que permeia a classe dominante por conta do crescimento da oposição política na classe trabalhadora contra a desigualdade social, que está impulsionando uma onda de greves internacional. No ano passado, mais de meio milhão de trabalhadores estadunidenses entraram em greve, um número vinte vezes maior do que em 2017.

Na semana passada, Ray Dalio, ex-presidente do fundo de investimentos Bridgewater Associates, publicou um artigo advertindo que os Estados Unidos podem estar à beira de uma revolução social. Ele escreveu: “A disparidade em riqueza, especialmente quando acompanhada pela disparidade em valores, leva ao conflito crescente e, no governo, isso se manifesta através do populismo de esquerda e do populismo da direita e com frequência em revoluções”.

Ele ainda disse que “nós estamos agora em um momento no qual” o crescimento da desigualdade social, a não ser que seja revertida, levaria a um “grande conflito e alguma forma de revolução”.

O Stratfor, um serviço de inteligência privado, avisou que as eleições nos EUA de 2020 representam um “ponto de inflexão global”, marcado pela intersecção da desigualdade social crescente e uma crise no domínio global dos Estados Unidos. “O rótulo ‘socialista’ está sendo utilizado o tempo todo”, ele escreveu, “como uma maneira de questionar a própria sobrevivência e legitimidade moral do capitalismo estadunidense”.

O que assombra a classe dominante não são figuras com retórica de esquerda dentro do Partido Democrata, como Alexandria Ocasio-Cortez, mas o impulso objetivo em direção à luta em massa da classe trabalhadora e a hostilidade contra o capitalismo. Apesar de ainda estar apenas nos seus estágios iniciais, o crescimento da luta de classes inevitavelmente levará ao desenvolvimento de um explícito sentimento anticapitalista e socialista.

As elites dominantes ao redor do mundo, enfrentando uma crise internacional econômica, social e política para a qual não possuem respostas, estão promovendo movimentos de extrema direita. Todos esses movimentos ganharam notoriedade, como Trump, promovendo a xenofobia e o nacionalismo econômico, mas estão cada vez mais expressando seu caráter social essencial, como todas as organizações fascistas, através de seu extremo ódio ao socialismo.

Na França, o presidente Emmanuel Macron acenou ao partido de extrema direita Reunião Nacional e elogiou o Marechal Philippe Petain, o ditador colaborador dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. No Reino Unido, o Brexit foi utilizado para mobilizar extremistas de direita, que assassinaram a parlamentar do Partido Trabalhista, Jo Cox, planejaram matar outro parlamentar Trabalhista, agrediram violentamente o líder do partido, Jeremy Corbyn, e vandalizaram repetidas vezes o túmulo de Karl Marx.

Mas esse processo assumiu sua forma mais perigosa na Alemanha, cuja classe dominante deu ao mundo Adolf Hitler, onde a mídia, o establishment político e grandes seções da academia tem promovido e defendido sistematicamente importantes figuras de extrema direita. Quando o grupo Juventude e Estudantes Internacionais pela Igualdade Social (IYSSE, na sigla em inglês) chamou a atenção para as posições de extrema direita do professor da Universidade de Humboldt, Jörg Baberowski, que declarou que “Hitler não era cruel”, o IYSSE foi atacado não apenas pela mídia, mas também pela administração da universidade, que defendeu prontamente o herói da extrema direita.

Como o Partido Socialista pela Igualdade (PSI) escreveu no início deste ano:

O fascismo ainda não é, como foi nos anos 1930, um movimento de massa. Mas ignorar o perigo crescente desse movimento seria politicamente irresponsável. Com o apoio de setores da classe dominante e do estado, movimentos de direita foram capazes de explorar demagogicamente a frustração e raiva sentidas pela ampla massa da população. Nessa situação, a luta contra o ressurgimento de movimentos de extrema direita e fascistas é uma tarefa política urgente.

Os esforços da classe dominante estadunidense em promover um movimento fascista contra o crescimento da oposição socialista dentro da classe trabalhadora indicam a importância decisiva dos encontros organizados em todos os Estados Unidos pelo Partido Socialista pela Igualdade e o IYSSE, que terão início esta semana, com o título “A Ameaça do Fascismo e Como Combatê-lo”.

Os encontros contarão com a presença de Christoph Vandreier, vice-secretário nacional do Sozialistische Gleichheitspartei (Partido Socialista pela Igualdade) da Alemanha e autor do livro recém-publicado Por que eles estão de volta? Falsificação Histórica, Conspiração Política e o Retorno do Fascismo na Alemanha, que levará ao público estadunidense as lições da luta contra o fascismo na Alemanha nos anos 1930 e hoje. Muitos encontros também contarão com a presença de David North, o presidente do conselho editorial internacional do WSWS e presidente nacional do PSI nos Estados Unidos.

Nós pedimos a todos os nossos leitores que assistam as palestras de Vanderier e participem de uma discussão sobre a estratégia socialista para mobilizar a classe trabalhadora contra a ameaça do fascismo. Como disse recentemente David North na Alemanha, onde explicava sobre a importância desses encontros para o desenvolvimento de um movimento internacional de trabalhadores e jovens contra o perigo fascista: “Quase da noite para o dia, uma vez que as pessoas se tornam conscientes neste país da ameaça que enfrentam, nós prevemos um enorme crescimento da oposição social e política. Mas o que será necessário é um nível maior de consciência histórica e política”.

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