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Perspectivas

Relator Especial das Nações Unidas: Julian Assange está sendo torturado

Publicado originalmente em 1˚ de Junho de 2019

Nils Melzer, o Relator Especial das Nações Unidas sobre Tortura, emitiu ontem uma declaração exigindo o fim imediato da “perseguição coletiva” a Julian Assange e condenando os EUA e seus aliados por “torturarem psicologicamente” o editor do WikiLeaks.

Assange, afirmou Melzer, “foi deliberadamente exposto, por um período de vários anos, a formas progressivamente severas de tratamento ou punição cruel, desumana ou degradante, cujos efeitos cumulativos só podem ser descritos como tortura psicológica.”

A declaração de Melzer confirma os comentários do pai de Assange, John Shipton, que disse no mês passado que seu filho fora submetido a “tortura sem contato”, e as advertências do WSWS de que a tentativa de extraditar Assange era conduzida como um procedimento “quase-legal”, semelhante às extradições extraordinárias realizadas pelos Estados Unidos.

A declaração de Melzer é uma condenação à campanha de oito anos dos EUA e de seus aliados, Grã-Bretanha e Suécia, e mais recentemente o Equador, para levar Assange a uma prisão americana e encerrar as atividades do WikiLeaks, a publicação que ele fundou em 2006.

Ela demonstra que Assange foi submetido a uma vingança política sem precedentes por seu papel em expor os crimes de guerra dos EUA, operações de vigilância em massa e conspirações diplomáticas globais.

Isso incluiu a “investigação preliminar” sueca sobre alegações falsas de má conduta sexual contra Assange, o término do asilo político do Equador em abril, as acusações britânicas forjadas que levaram Assange a ser condenado por violar os termos de sua fiança, e as tentativas de extraditá-lo aos EUA para enfrentar acusações de espionagem pelas atividades de publicação do WikiLeaks, que são constitucionalmente protegidas.

Significativamente, Melzer reconheceu que fora inicialmente insensível a Assange, sendo “afetado pela mesma campanha de difamação equivocada como todo mundo.” Mas depois de uma investigação de meses, que incluiu uma reunião com Assange na prisão Belmarsh em abril, Melzer publicou uma declaração comovente e humana que expõe as mentiras e calúnias contra o fundador do WikiLeaks.

O relator da ONU disse que o fundador do WikiLeaks “mostrou todos os sintomas típicos de exposição prolongada à tortura psicológica, incluindo estresse extremo, ansiedade crônica e trauma psicológico intenso.”

Sua declaração foi divulgada um dia depois de o WikiLeaks ter avisado que estava “gravemente preocupado” com a saúde de Assange após sua transferência para a ala médica da prisão. O advogado sueco de Assange havia dito anteriormente à imprensa que não conseguiu conversar com o fundador do WikiLeaks, em 24 de maio, por conta de sérios problemas de saúde.

Melzer afirmou que, se Assange for extraditado para os EUA por causa das 17 acusações de espionagem e uma condenação de até 170 anos de prisão, ele poderá sofrer mais “tortura e outros tratamentos ou punições cruéis, desumanos ou degradantes.”

Em palavras que ecoam os sentimentos de milhões de pessoas em todo o mundo, o relator da ONU declarou: “A perseguição coletiva a Julian Assange deve terminar aqui e agora!”

Melzer escreveu que desde 2010 “tem havido uma campanha implacável e desenfreada de assédio moral público, intimidação e difamação contra Assange, não apenas nos Estados Unidos, mas também no Reino Unido, Suécia e, mais recentemente, no Equador.”

Segundo ele, “Em 20 anos de trabalho com vítimas de guerra, violência e perseguição política, eu nunca vi um grupo de estados democráticos se unirem para deliberadamente isolar, demonizar e abusar de um único indivíduo por tanto tempo e com tão pouca consideração pela dignidade humana e pelo estado de direito.”

Melzer escreveu que Assange foi alvo de “ridicularização coletiva deliberada, insultos e humilhação, de aberta instigação de violência e até mesmo repetidos apelos por seu assassinato.”

Tudo isso condena não apenas os governos diretamente envolvidos na perseguição a Assange, mas também as publicações e meios de comunicação, como o New York Times, o Washington Post e o Guardian, que realizaram uma campanha sistemática para demonizar o fundador do WikiLeaks.

Entre uma ladainha de calúnias, o New York Times classificou Assange como um “canalha paranoico”, enquanto o colunista do Guardian, James Ball, sugeriu que Assange era “um narcisista que é um perigo para a sociedade civilizada.”

Os talk shows noturnos dos EUA forneceram os exemplos mais cruéis da “ridicularização coletiva deliberada” citada por Melzer. Seth Meyers, apresentador do programa “Late Night” da rede NBC, por exemplo, respondeu à prisão do fundador do WikiLeaks em 11 de abril dizendo que ele foi “arrastado para fora da embaixada equatoriana parecendo o Papai Noel com um manifesto.”

Todas essas organizações e indivíduos são cúmplices da tortura de um jornalista perseguido.

Embora tenham escrito editoriais condenando formalmente as acusações sob a Lei de Espionagem, tendo anteriormente apoiado a acusação inicial de hacking, o New York Times e outras publicações corporativas minimizaram as insuportáveis condições que Assange enfrentou na prisão. Nem o New York Times, o Wall Street Journal ou o Washington Post apresentaram, na primeira página, a impossibilidade de Assange comparecer à audiência de extradição por problemas de saúde ou o relatório de Melzer.

Eles, ao contrário, mostraram que não se opõem por princípio que Assange apodreça na prisão pelo resto de sua vida. O Washington Post, na semana passada, queixou-se de que “o governo federal poderia prender Assange por anos sem desafiar a Primeira Emenda” com um processo de espionagem.

A declaração de Melzer ressalta o papel vergonhoso de uma série de organizações, incluindo a pseudo-esquerda e os sindicatos, que abandonaram Assange ou se juntaram à campanha contra ele.

A revista Jacobin, principal publicação da pseudo-esquerda estadunidense, depois de permanecer em silêncio por mais de uma semana após o governo Trump apresentar acusações contra Assange, publicou uma declaração pró-forma na sexta-feira opondo-se à acusação feita sob a Lei de Espionagem.

A mesma publicação, entretanto, não deixou de caluniar o jornalista, declarando que defender Assange é como ser “contra torturar um terrorista” ou defender “o direito de um criminoso de votar mesmo se ele cometer um crime horrível”. Com amigos como esses, quem precisa de inimigos?

A única força social que pode libertar Assange é a classe trabalhadora internacional. Assange é corretamente visto por milhões de trabalhadores, estudantes e jovens em todo o mundo como um herói por revelar a verdade sobre crimes de guerra, espionagem e assassinatos em massa.

A defesa de Julian Assange, Chelsea Manning e todos os outros prisioneiros da guerra de classes deve se tornar uma exigência central no ressurgimento das lutas da classe trabalhadora em todo o mundo.

O WSWS, o Comitê Internacional da Quarta Internacional e os Partidos Socialistas pela Igualdade ao redor do mundo estão lutando para mobilizar a mais ampla oposição à extradição de Assange para os EUA e garantir sua total liberdade. Nós pedimos aos nossos leitores que nos contatem para se envolverem nessa luta crucial!

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