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Perspectivas

Não aos campos de concentração nos EUA!

Publicado originalmente em 26 de Junho de 2019

Ao longo da fronteira entre os EUA e o México e em campos de concentração de imigrantes nos Estados Unidos, a administração Trump está cometendo crimes tão depravados e sádicos que eles mancharam todos os ramos do governo, os partidos Democrata e Republicano e todo o establishment político com a marca da infâmia. Centenas de milhões de pessoas em todo o mundo estão como nojo da podridão do capitalismo dos EUA.

Reportagens recentes descrevendo as condições nos centros de detenção que abrigam milhares de crianças imigrantes expuseram a desumanização sistemática e a violência contra crianças que foram arrancadas dos braços de seus país e parentes.

A Dra. Dolly Lucio Sevier, uma pediatra que visitou campos de concentração no Texas na semana passada, disse ao programa ABC News que as prisões são semelhantes às “instalações de tortura” e que as crianças são forçadas a suportar “temperaturas extremas, luzes acesas 24 horas por dia, não há cuidados médicos adequados, saneamento básico, água ou alimentação adequadas.”

Um grupo de advogados que visitam centros de detenção no Texas na semana passada testemunhou salas cheias de crianças sem escovas de dentes, fraldas, colchonetes de dormir ou comida ou água adequadas. Muitas crianças estão gripadas e não são tratadas.

Os guardas obrigaram as crianças mais velhas a cuidar dos bebês e negaram às crianças o direito de lavar as mãos ou lavar mamadeiras. As crianças defecam perto de onde comem e não têm acesso a sabão. A Dra. Servier disse que as condições são “equivalentes a intencionalmente causar a propagação de doenças”.

Um advogado viu os guardas ficarem furiosos com as crianças e tirar seus colchonetes de dormir porque elas perderam um pente de piolhos. Uma ação judicial recente revelou que os guardas se referem aos imigrantes como “tonks” por causa do som que uma lanterna de metal pesada faz quando os guardas batem na cabeça dos imigrantes. Agentes no sul do Texas estão rejeitando doações de fraldas, sabonetes e brinquedos feitas por moradores locais. Seis crianças morreram sob custódia nos últimos meses.

As últimas vítimas da guerra do governo contra os imigrantes são Óscar Alberto Martínez Ramírez, um pai de 25 anos, e sua filha, Valeria, que tinha 23 meses quando os dois se afogaram no Rio Grande, enquanto a mãe da menina, Tania Vanessa, assistia impotente ao horror da margem do rio.

A família de El Salvador decidiu atravessar o rio depois que as autoridades dos EUA a impediu de solicitar asilo no porto de entrada entre Brownsville, no Texas, e Matamoros, em Tamaulipas, no México.

A imagem dos corpos sem vida de Óscar e Valeria relembra uma passagem do romance de 1852 de Harriet Beecher Stowe, A Cabana do Pai Tomás, quando Eliza, uma escrava fugitiva seguida por caçadores de escravos, agarra seu filho ao corpo e salta entre pedaços de gelo flutuantes para atravessar o rio Ohio em direção à liberdade:

Com gritos selvagens e energia desesperada ela saltou para outro e ainda outro pedaço; tropeçando – pulando – escorregando – saltando para cima de novo! Seus sapatos se foram – suas meias arrancadas de seus pés – enquanto o sangue marcava cada passo ...

A Cabana do Pai Tomás vendeu mais cópias do que qualquer romance do século XIX, e o país foi transformado pelo que aprendeu com os horrores da escravidão. A oposição aos crimes cometidos para defender aquela “instituição peculiar” gerou o poder social que alimentou a derrubada revolucionária da escravidão através da conquista militar da escravocracia na Guerra Civil. Nas palavras de Abraham Lincoln, “O sangue extraído com a chicotada será pago por outro desenhado com a espada”.

Os relatos de mortes na fronteira e a brutalização de crianças imigrantes detidas chocaram os estadunidenses da mesma forma, ao mesmo tempo que eles estão aprendendo o que realmente está acontecendo em seu país. Ontem, o comissário em exercício da Alfândega e Proteção das Fronteiras (CBP, na sigla em inlgês), John Sanders, foi inesperadamente forçado a renunciar devido à indignação popular sobre os relatos da situação das crianças imigrantes. No entanto, também ontem, a CBP descaradamente enviou centenas de crianças de volta para sua instalação mais notória em Clint, no Texas.

Os próprios eventos estão revelando a cumplicidade de todo o establishment político e a mídia em abrir o caminho para tais crimes e expor a teia bipartidária de mentiras utilizadas para justificar o ataque aos imigrantes. Chuck Todd, da rede NBC, juntou forças com ultrarreacionários, como a deputada republicana Liz Cheney, ao afirmar que não há “campos de concentração para crianças” nos EUA, apenas “centros de reassentamento” para “menores ilegais desacompanhados”.

Óscar Alberto Martínez Ramirez e sua filha, Valeria, mortos no Rio Grande (Crédito: Julia Le Duc)

O New York Times e o Washington Post publicaram editoriais atacando os democratas por não darem dinheiro ao Serviço de Imigração e Alfândega (ICE, na sigla em inglês) e à CBP com a rapidez necessária. Na segunda-feira, o Post denunciou especificamente alguns democratas da Câmara por “usarem as hashtags #NotOneDollar e #CloseTheCamps” e por acharem que o projeto de lei “ajudará a promover as políticas de imigração e detenção do governo. Esse raciocínio é irresponsável.”

O Partido Democrata está colaborando com a administração Trump para financiar a Gestapo estadunidense e facilitar a repressão aos imigrantes. Mais do que qualquer outra coisa, os democratas têm pavor de que a crescente oposição popular à brutalização fascista dos imigrantes exploda sob a forma de protestos em massa, greves e paralisações de escolas.

É esse medo de oposição popular que levou a líder democrata da Câmara, Nancy Pelosi, a implorar a Trump no final de semana passado para que ele adiasse os planos para incursões em massa em dez cidades com o objetivo de deter milhares de imigrantes. No sábado, poucas horas depois da planejada varredura, Trump adiou as incursões por duas semanas e exigiu que os democratas aprovassem uma lei que limitasse o direito de asilo e o financiamento da máquina anti-imigração.

Democratas “progressistas”, como Alexandria Ocasio-Cortez, rapidamente descartaram qualquer oposição real ao financiamento adicional para o ICE e a CBP. A revista Hill informou que depois de uma reunião de três horas com Pelosi, “Ocasio-Cortez deixou o escritório de Pelosi descrevendo as discussões como ‘apenas uma situação realmente delicada ... Entre a espada e a parede’.”

A revista Hill explicou: “Ocasio-Cortez entrou na reunião dizendo que se opunha ao pacote de ajuda às fronteiras que havia sido apresentado pela Comissão de Apropriações da Câmara na sexta-feira. Mas depois de deixar o encontro com os líderes democratas, ela disse que talvez apoie [o pacote] dependendo das mudanças.”

No final, ela e suas colegas “progressistas” – Ilhan Omar, Ayanna Pressley e Rashida Tlaib – votaram para levar a odiosa medida ao plenário da Câmara, garantindo sua aprovação, antes de votar “não” de maneira cínica e simbólica.

Pelosi e outros democratas alegam que o financiamento é necessário por razões “humanitárias”, como se alguém acreditasse que Trump e a Gestapo estadunidense têm algo a ver com o humanitarismo ou que seus maus tratos aos imigrantes se devem à falta de financiamento. Ao votar para entregar a Trump os US$ 4,5 bilhões que ele solicitou, os democratas forneceram à administração Trump os recursos para prender mais milhares de pessoas.

A luta urgente para defender a vida dos trabalhadores imigrantes e de seus filhos não pode ser deixada para forças patéticas e duvidosas como Ocasio-Cortez e o seu grupo político, os Socialistas Democráticos dos EUA (DSA, na sigla em inglês). Em 26 de maio, os DSA elogiaram o presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador (AMLO), apoiando o que eles chamam de sua “agenda progressista”.

Na realidade, AMLO juntou-se a Trump no ataque aos imigrantes da América Central, enviando 15.000 guardas nacionais para a fronteira norte do México e outros 6.000 para a fronteira sul, que apontaram suas armas contra imigrantes para impedi-los de entrar nos EUA. No final de semana, a Guarda Nacional de AMLO executou uma imigrante salvadorenha de 19 anos, atirando na cabeça dela em Veracruz. Os guardas também foram fotografados arrancando uma mãe de sua filha perto da fronteira dos EUA em Ciudad Juarez.

O caráter cada vez mais violento do ataque da classe dominante aos imigrantes é um alerta para todos os trabalhadores. Trump está apelando para elementos fascistas, especialmente dentro do ICE e da CBP, que são capazes de maiores atos de violência, inclusive em larga escala. Com o consentimento do Partido Democrata, Trump espera distrair os trabalhadores das políticas pró-corporativas desastrosas de sua administração, utilizando trabalhadores imigrantes como um bode expiatório contra níveis crescentes de desigualdade social e miséria.

A ameaça urgente à segurança dos imigrantes requer a mobilização da classe trabalhadora. O Partido Socialista pela Igualdade (SEP, na sigla em inglês) chama os trabalhadores e estudantes a organizarem protestos, greves e manifestações em defesa dos imigrantes e contra a ameaça de ditadura.

O SEP chama também a formação de comitês de defesa nos bairros da classe trabalhadora, nas escolas e nos locais de trabalho para proteger os imigrantes e mobilizar a classe trabalhadora contra o ataque dos partidos Democrata e Republicano contra os direitos democráticos. Os piores crimes do século XX não podem ser cometidos novamente. A história julgará aqueles que não agirem.

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