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Um pós-escrito sobre a conferência “Trotsky” em Cuba

Publicado originalmente em 12 de Julho de 2019

Em sua análise do “Evento Acadêmico Internacional Leon Trotsky”, que foi realizado em Havana, Cuba, em maio, o World Socialist Web Site ressaltou a importância de oferecer aos trabalhadores e jovens cubanos um claro entendimento do papel de Trotsky e do trotskismo na manutenção da continuidade histórica do internacionalismo socialista, incorporado no programa e na prática da Quarta Internacional.

Declaramos categoricamente que esse não era o objetivo da conferência em Havana, cujo caráter foi determinado por “quem foi convidado a participar e quem foi impedido de comparecer”.

Foram convidados uma série de revisionistas pablistas que se apresentaram como acadêmicos ou “pesquisadores independentes”. Suas apresentações tiveram como objetivo suprimir o papel revolucionário de Trotsky e do trotskismo e não ofender as sensibilidades da elite dominante de Cuba.

Já o Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI), que liderou a luta contra o revisionismo pablista, foi impedido de participar da conferência.

Frank García Hernández, o organizador da conferência, mentiu sobre as razões para rejeitar a participação do CIQI antes do evento. Em uma troca de e-mail com o WSWS, ele alegou que o motivo para rejeitar o pedido do CIQI era apenas pela falta de espaço disponível. García Hernández escreveu que a presença de representantes do CIQI diminuiria “a capacidade de participação do público cubano”.

Além do fato de que o “público cubano” esteve virtualmente excluído da conferência, ficou evidente que os motivos para barrar o CIQI eram políticos. O governo cubano estava bem ciente de que, se o Comitê Internacional tivesse participado da conferência, seus representantes teriam levantado as lições da longa luta contra o revisionismo dentro da Quarta Internacional e, em particular, as profundas diferenças sobre a natureza da Revolução Cubana.

Essa avaliação foi confirmada por uma entrevista que García Hernández deu no mês passado ao site Socialist Action, a publicação de um grupo pablista dos EUA, que enviou um representante a Havana.

Questionado sobre os “obstáculos” para a realização da conferência, García Hernández afirmou que uma das principais questões era a “predisposição negativa de certas autoridades [cubanas] em relação a Trotsky”.

Ele descreveu tal atitude como “normal”, atribuindo-a ao fato de que “alguns grupos trotskistas têm sido extremamente críticos da Revolução”, acrescentando que “algumas pessoas temem que alguns desses grupos que mencionei pudessem vir e tentar criar organizações políticas trotskistas em Cuba. Algo que não é possível porque ninguém em Cuba está interessado em fazer isso”.

Se “ninguém” em Cuba está interessado no trotskismo, por que García Hernández organizou a conferência?

Cabe notar que o entrevistador do Socialist Action, Rob Lyon, descrito como o “coordenador internacional de solidariedade” da organização, não discordou dessa avaliação.

García Hernández enfatizou que esses “obstáculos” foram superados devido à “natureza estritamente acadêmica” da conferência e porque “aqueles que vieram demonstraram grande respeito pelo país onde estavam”.

Sem dúvida, os convidados foram filtrados pelo governo cubano. Eles participaram da conferência de maneira que não dissessem nada sobre a relação de Trotsky ou do trotskismo com a história da Revolução Cubana, muito menos com as atuais condições de crise e o aprofundamento da desigualdade social em Cuba.

A afirmação de García Hernández de que “ninguém em Cuba está interessado” em construir o movimento trotskista no país é uma expressão crua do desejo ilusório do próprio governo cubano, que teme a mobilização política independente da classe trabalhadora baseada em um programa socialista e internacionalista.

Aqueles que apresentaram-se na conferência – na grande maioria, anti-trotskistas politicamente desmoralizados (Ernie Tate, Suzie Weissman, Alex Steiner e outros) – não provocariam a ira do Estado cubano.

Os desenvolvimentos objetivos têm confirmado a luta travada pelo CIQI contra o revisionismo pablista e sua tentativa de retratar a Revolução Cubana e os movimentos guerrilheiros pequeno-burgueses como um novo caminho para o socialismo, além do governo liderado por Fidel Castro como um Estado operário.

Os esforços do Estado cubano e de seus cúmplices pablistas não podem separar os trabalhadores cubanos do crescente desenvolvimento da luta de classes internacional. O WSWS, apesar dos esforços do regime para bloquear seu acesso, é lido por um número crescente de cubanos que buscam uma alternativa socialista ao fracassado programa nacionalista pequeno-burguês do castrismo. A perspectiva do trotskismo, realizada na luta travada pelo CIQI pela independência política e a unificação internacional da classe trabalhadora em uma luta comum para pôr fim ao capitalismo e ao imperialismo, encontrará na ilha um público disposto a tomá-la em suas mãos.

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