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Perspectivas

A estratégia fascista de Donald Trump

Publicado originalmente em 17 de Julho de 2019

Donald Trump estendeu seus ataques fascistas ontem contra quatro deputadas democratas novatas, tuitando que Rashida Tlaib, Alexandria Ocasio-Cortez, Ilhan Omar e Ayanna Pressley são “horrivelmente anti-israelenses, anti-EUA, pró-terroristas”. Atacando a “Esquerda Radical” e chamando as quatro deputadas de “comunistas”, Trump continuou: “Se vocês odeiam nosso País, ou se não estão felizes aqui, vocês podem ir embora!”.

No domingo, Trump iniciou a provocação tuitando que as quatro deputadas – todas cidadãs dos EUA – devem “voltar” para “os lugares infestados pelo crime de onde elas vieram”. Igualando a oposição social, em geral, e o socialismo, em particular, ao apoio pelo “terrorismo”, ele tuitou: “Nós nunca seremos um País Socialista ou Comunista”.

Em uma declaração do conselho editorial ontem, o New York Times chamou as declarações de Trump de uma “aposta para tentar distrair seus fiascos políticos, suas derrotas na justiça, seus fracassos políticos”. Em uma coletiva de imprensa na segunda-feira à tarde, as quatro deputadas deram declarações parecidas, referindo-se ao ataque de Trump como uma “distração”.

Isso não foi o que as imagens dos “itens principais” das notas de Trump capturadas por fotógrafos durante a coletiva de imprensa na segunda-feira mostraram. “É na verdade PERIGOSO – porque parece que elas odeiam os EUA”, foi possível ler nas notas. “Elas querem que os EUA sejam SOCIALISTAS”.

Extrapolando as notas, Trump se referiu ao “amor que elas têm pela Al Qaeda”, e alegou que as deputadas “odeiam judeus”. Quando um repórter perguntou se não o preocupava que “nacionalistas brancos” estivessem empolgados com seus tuites, Trump respondeu: “Isso não me preocupa porque muitas pessoas concordam comigo”.

Trump está agindo de acordo com uma deliberada estratégia política elaborada pelos cérebros fascistas da Casa Branca, incluindo Stephen Miller, o arquiteto da repressão de Trump contra os imigrantes. Ele está atacando as quatro deputadas de maneira muito consistente, repetindo temas políticos comuns a movimentos políticos fascistas e de extrema direita.

Ele iguala a oposição à sua administração e críticas ao seu governo pessoal ao apoio ao terrorismo, preparando o caminho para a criminalização da liberdade de expressão e do pensamento crítico. Trump afirma que seus opositores são “perigosos” e “odeiam” a nação, sugerindo que “reclamar” das políticas do governo é traição. Ele apresenta o socialismo e o comunismo como ideologias estrangeiras direcionadas contra o povo estadunidense.

Essas são ideias desenvolvidas por teóricos nazistas como o jurista Carl Schmidt, que foi autor da concepção de um “estado de exceção” para justificar o governo totalitário nazista. Escondida por trás da afirmação de Trump de que aqueles que “não estão felizes” e “querem que os EUA sejam socialistas” devem “ir embora” do país existe a sugestão de que, se não o fizerem voluntariamente, o governo será obrigado a detê-los à força.

O caráter calculado e estratégico das declarações de Trump é indicado pelo contexto em que elas estão sendo feitas. Ontem, Trump atacou a “extrema esquerda” por afirmar que o governo está prendendo imigrantes – incluindo crianças – em campos de concentração insalubres. “Eles não são campos de concentração, eles são muito bem administrados”, disse Trump.

Milhões de imigrantes – porções significativas da classe trabalhadora em 10 cidades alvo – estão vivendo com medo de invasões iminentes anunciadas por Trump neste mês. Na semana passada, ele ameaçou violar uma decisão da Suprema Corte dos EUA que o proibia incluir uma pergunta sobre o status de cidadania no censo de 2020. Na segunda-feira, o governo impôs um novo regulamento federal efetivamente impedindo pessoas da América Central de buscar asilo nos EUA – uma clara violação do direito internacional.

Essas ações acontecem depois de Trump ter enviado milhares de soldados da ativa para a fronteira entre os EUA e o México e de ter declarado estado de emergência para passar por cima do Congresso e alocar fundos do Pentágono para construir seu muro na fronteira.

Para cada uma dessas medidas, Trump utilizou a xenofobia anti-imigrante como a ponta de lança para violar normas constitucionais fundamentais e estabelecer um governo por decreto.

Trump e seus assessores estão tentando construir um movimento extra-constitucional conectando elementos fascistas dentro do estado – incluindo dezenas de milhares de agentes do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE, na sigla em inglês) e da Alfândega e Proteção das Fronteiras (CBP, na sigla em inglês) – à minoria dos eleitores que apoiam suas políticas reacionárias.

A resposta do Partido Democrata combina sua típica covardia com um apelo baseado na raça, que impulsiona a estratégia de Trump. A liderança democrata anunciou ontem que se opõe aos apelos dentro da bancada para censurar formalmente Trump por suas declarações, optando, ao invés disso, por repreender Trump com uma resolução branda e não-vinculante, que utiliza Ronald Reagan como um ícone da democracia estadunidense.

O Partido Democrata não organizou qualquer oposição séria aos movimentos ditatoriais de Trump, e votou no mês passado para dar a ele mais US$4,6 bilhões para financiar sua guerra contra os imigrantes.

A imprensa alinhada ao Partido Democrata respondeu aos ataques de Trump denunciando os “brancos” em geral e brancos da classe trabalhadora em particular. Em um artigo intitulado “A política de identidade branca impulsiona Trump, e o Partido Republicano por baixo dele”, o Washington Post culpou as “queixas brancas” pelas declarações recentes de Trump.

O Post afirmou que “uma maioria de estadunidenses brancos expressam algum ressentimento racial em pesquisas de ano eleitoral”, citando um professor da Universidade de Duke para defender que “o sentimento de identidade branca é muito mais forte entre brancos sem ensino superior do que aqueles que foram para a faculdade”.

Em uma coluna no New York Times intitulada “Os EUA de Trump são um ‘País do Homem Branco’”, Jamelle Bouie exigiu que os democratas punissem eleitores brancos racistas distanciando-se inteiramente de qualquer apelo a trabalhadores brancos.

“O que é mais notável do que o racismo de ‘sangue e solo’ do presidente”, ele escreveu, “é como as elites do Partido Democrata – ou pelo menos um grupo delas – estão brincando com suposições semelhantes. Não, eles não mantiveram o proprietário trabalhador branco como o único cidadão de valor, mas eles são obcecados em conquistar esse eleitor para o seu lado”.

Tais comentários, saturados de ódio pela classe trabalhadora, oferecem solo fértil para os fascistas defenderem que a política racial do Partido Democrata requer uma resposta racial pela extrema direita. Como Stephen Bannon disse em 2017, “Quanto mais [os democratas] falam sobre política de identidade, tanto mais eu tenho eles”.

O governo Trump é um governo de crise perpétua, odiado e desprezado pela grande maioria da população. Ele teme acima de tudo um crescimento da oposição da classe trabalhadora dos EUA, que se expressou inicialmente na onda de greves de professores e outras lutas.

Porém, isso não o torna menos perigoso. O principal ativo que o governo Trump possui é sua oposição nominal – o Partido Democrata. Os democratas estão tão aterrorizados quanto Trump com o potencial de protestos sociais em massa e têm dedicado todos seus esforços para conter e diluir a oposição a Trump e a suas políticas pró-empresariais e pró-guerra.

O Partido Socialista pela Igualdade luta por uma resposta de classe à ameaça do fascismo. Bilhões de pessoas em todo o mundo estão chocadas pelos últimos acontecimentos nos EUA. Não há apoio em massa ao aprisionamento de crianças em jaulas e a uma administração que governa por decreto. A maioria dos próprios eleitores de Trump não procuraram eleger um fascista.

A tarefa principal é aproveitar o poder social dos trabalhadores de todas as raças e nacionalidades em uma luta comum e internacional pela igualdade social. Unir a classe trabalhadora exige uma luta implacável contra o veneno da política racial e de identidade, a ideologia reacionária da classe média alta.

As críticas fascistas do presidente não tem origem na mente do indivíduo Trump. Ela é a perspectiva de uma fração significativa da classe capitalista, que está procurando proteger sua riqueza através da ditadura. A luta contra o fascismo exige uma luta contra sua raiz: o sistema capitalista.

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