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Perspectivas

Os 79 anos do assassinato de Leon Trotsky

Publicado originalmente em 21 de Agosto de 2019

No dia de hoje, completam-se 79 anos que Leon Trotsky, co-líder da Revolução Russa com Vladimir Lenin, comandante do Exército Vermelho e fundador da Quarta Internacional, morreu em decorrência dos graves ferimentos causados por um assassino stalinista no dia anterior.

Esse crime do século foi o produto de uma massiva operação internacional organizada pela GPU, a polícia secreta da burocracia stalinista soviética. Ela envolveu uma conspiração para infiltrar agentes no movimento trotskista e na casa de Trotsky no bairro de Coyoacán, na Cidade do México, para facilitar o trabalho sujo do assassino da GPU, Ramon Mercader.

O assassinato representou o auge da reação stalinista e fascista, acontecendo um ano após Stalin assinar o pacto de não-agressão com Hitler, que deu plena liberdade ao regime nazista alemão para lançar a Segunda Guerra Mundial.

Trotsky foi expulso da União Soviética em 1929, vivendo desde então no exílio. Enfrentando o que ele chamou de um “planeta sem visto”, o México foi o único país a oferecê-lo asilo. Os assassinos da GPU já haviam matado muitos de seus colaboradores mais próximos, incluindo o filho de Trotsky, Leon Sedov, seu secretário político, Erwin Wolf, e o secretário da Quarta Internacional, Rudolf Klement.

Na própria União Soviética, a burocracia stalinista havia realizado os Processos de Moscou, entre 1936 e 1938, para exterminar toda a oposição política. Os alvos principais eram os apoiadores de Trotsky, levando ao genocídio político de centenas de milhares de socialistas, que foram o produto de um imenso desenvolvimento da cultura revolucionária na Rússia e internacionalmente. Como Trotsky escreveu em 1937, depois disso o stalinismo e o marxismo genuíno estavam separados por um “rio de sangue”.

No entanto, Stalin temia, com razão, que, com o início da guerra e uma crise resultante na URSS e internacionalmente, Trotsky poderia ser elevado em um novo levante da classe trabalhadora, provocando um desafio revolucionário à burocracia governante.

Como Victor Serge escreveu em 1937: “Não há outra explicação para as fórmulas insanas que estão destruindo a estrutura do regime exceto o ódio e o medo ... A equipe substituta foi fuzilada por precaução. Resta apenas o Velho Homem ... Enquanto o Velho Homem viver, não haverá segurança para a burocracia triunfante”.

Mesmo que o assassino stalinista tenha conseguido tirar a vida do grande revolucionário cravando um picador de gelo em seu crânio, se o objetivo de Stalin era exterminar as ideias de Trotsky e o movimento que havia sido construído baseado nessas ideias, então a operação mostrou-se um completo fracasso.

A Quarta Internacional, fundada por Trotsky em 1938, resistiu mais do que Stalin, seu assassino e a burocracia stalinista como um todo, que liquidou a si mesma e a União Soviética meio século depois do assassinato de Trotsky.

Trotsky havia alertado que, sem uma revolução política da classe trabalhadora para derrubar o regime stalinista, a burocracia soviética destruiria a URSS e restauraria o capitalismo. Enquanto os analistas burgueses viam a burocracia stalinista como um componente permanente da política mundial, ao mesmo tempo que pseudo-esquerdistas e revisionistas exaltavam Gorbachev e Yeltsin como os pioneiros de uma “revolução política”, a análise de Trotsky mostrou-se correta, e a Quarta Internacional foi o único movimento que previu e estava politicamente preparado para esse acontecimento.

Já os Partidos Comunistas stalinistas, que haviam dominado e traído a classe trabalhadora em muitos países, se desintegraram, confirmando o prognóstico de Trotsky de 1938: “Os grandes eventos que caem sobre a humanidade não deixarão dessas organizações ultrapassadas pedra sobre pedra”.

Em sua incansável luta contra o stalinismo, Trotsky construiu as bases para o desenvolvimento da estratégia revolucionária no século XXI e os fundamentos programáticos e políticos da luta pelo socialismo. Nenhuma outra figura na história do movimento marxista é tão relevante para a situação mundial atual e para as tarefas da classe trabalhadora internacional e sua vanguarda revolucionária quanto Leon Trotsky.

A luta levada adiante por Trotsky contra a degeneração stalinista da União Soviética e da Terceira Internacional era baseada em uma visão e entendimento globais amplos da revolução socialista como um processo internacional.

Todos os horríveis crimes pelos quais Stalin será lembrado e desprezado pelas próximas gerações foram cometidos em defesa do repúdio pela burocracia stalinista da perspectiva socialista internacional e sua adoção do “socialismo em um só país”. Essa concepção autárquica do desenvolvimento da URSS como um estado nacional refletia a identificação que a burocracia fazia entre seus próprios privilégios e o seu controle sobre o poder do estado nacional.

Essa retrógrada teoria justificava a subordinação da revolução mundial aos interesses do aparato burocrático conservador. Trotsky previu as consequências dessa política para a classe trabalhadora internacional, que sofreu uma série de derrotas catastróficas, culminando na chegada ao poder de Hitler na Alemanha.

Desde a criação da Oposição de Esquerda em 1923, o movimento liderado por Trotsky baseou-se na teoria da revolução permanente que havia guiado a Revolução de Outubro de 1917.

Essa teoria tomava como ponto de partida não as condições econômicas atrasadas e a relação das forças de classe existentes da Rússia, mas um entendimento da Revolução Russa no seu contexto histórico-mundial. Diante do desenvolvimento de uma economia mundial e de uma classe trabalhadora internacional, Trotsky concluiu que, nos países com um desenvolvimento capitalista atrasado como a Rússia, as tarefas democráticas associadas às anteriores revoluções burguesas só poderiam ser completadas pela classe trabalhadora. A classe trabalhadora russa seria compelida a tomar o poder e adotar medidas de caráter socialista, mas essa revolução só poderia encontrar uma saída aos limites impostos pelo atraso da Rússia com a revolução socialista mundial.

A luta levada adiante por Trotsky contra o stalinismo se desenvolveu com base nessa estratégia da revolução socialista mundial, que encontrou sua expressão política na fundação da Quarta Internacional em setembro de 1938.

Ele havia explicado essa concepção estratégica uma década antes em sua Crítica ao Projeto de Programa da Internacional Comunista:

“Em nossa época, que é a época do imperialismo, i.e., da economia mundial e da política mundial sob a hegemonia do capital financeiro, nenhum partido comunista consegue estabelecer seu programa a partir, unicamente ou principalmente, das condições e tendências de desenvolvimento de seu próprio país. Isso também vale para o partido que detém o poder de estado dentro das fronteiras da URSS. Em 4 de agosto de 1914, foi decretado o fim dos programas nacionais para sempre ... Na presente época, em muito maior extensão do que no passado, a orientação nacional do proletariado deve e só pode partir de uma orientação mundial e não o contrário. Aqui encontra-se a diferença básica e primária entre o internacionalismo comunista e o socialismo nacional.”

A insistência de Trotsky de que uma estratégia revolucionária só poderia ser desenvolvida a partir de uma análise da economia mundial e da política mundial o torna uma figura política completamente contemporânea diante do conflito cada vez maior entre a integração global sem precedentes da produção e o sistema de estados-nação capitalistas. Nesse cenário, a classe trabalhadora só pode ser bem-sucedida a partir de uma estratégia e organização internacional.

Trotsky não teria dificuldade de entender o mundo em que vivemos hoje, que está envolvido em todas as contradições econômicas, sociais e políticas que existiram durante a sua vida, e enfrenta o ressurgimento global da luta de classes. As elites dominantes ao redor do mundo estão se virando para a direita, auxiliando e protegendo o surgimento de forças fascistas e de extrema direita, enquanto as massas de trabalhadores se viram para a esquerda. Ao mesmo tempo, como nos anos que antecederam o assassinato de Trotsky, as grandes potências, com os EUA à frente, estão expandindo suas forças armadas para se prepararem para uma guerra global.

A perspectiva essencial de Leon Trotsky ao fundar a Quarta Internacional, segundo a qual vivemos na época da agonia mortal do capitalismo e a questão primordial é a construção de uma direção revolucionária, mantém toda a sua força e urgência.

Essa perspectiva e a continuidade da luta levada adiante por Trotsky durante os tumultuosos acontecimentos da primeira metade do século XX estão hoje incorporadas no trabalho do Comitê Internacional da Quarta Internacional, no World Socialist Web Site e na luta dos Partidos Socialistas pela Igualdade ao redor do mundo.

Contra a promoção do nacionalismo e a divisão racial e étnica que impulsionam todo o espectro da política burguesa, desde os fascistas e ultradireitistas até os liberais e pseudo-esquerdistas, o CIQI defende a estratégia de classe da revolução socialista mundial.

Setenta e nove anos depois do assassinato de Leon Trotsky, a luta do CIQI para defender e desenvolver o programa do socialismo mundial ao qual ele dedicou sua vida está se cruzando com o crescimento da luta de classes internacionalmente. Hoje, nós homenageamos não somente a imensamente poderosa luta levada adiante por Trotsky sob as mais difíceis condições. Nós honramos a sua memória através da intervenção de nosso partido nas lutas da classe trabalhadora internacionalmente para construir o Partido Mundial da Revolução Socialista que Trotsky concebeu.

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