Português

O futuro está no socialismo

Publicado originalmente em 13 de maio de 2019

No dia 4 de maio, o Comitê Internacional da Quarta Internacional realizou o Comício Online Internacional de 1º de Maio, o sexto evento anual do Dia Internacional do Trabalhador realizado pelo CIQI, o movimento trotskista mundial. O comício ouviu discursos sobre diferentes aspectos da crise mundial do capitalismo e as lutas da classe trabalhadora internacional de 12 membros líderes do partido mundial e suas seções e organizações simpatizantes em todo o mundo.

A seguir, estamos publicando o discurso de Joseph Kishore, secretário nacional do Partido Socialista pela Igualdade (EUA). No dia 6 de maio, o WSWS publicou o discurso de abertura do comício, realizado por David North, presidente do conselho editorial internacional do WSWS e presidente nacional do Partido Socialista pela Igualdade (EUA).

Este Comício Online de 1˚ de Maio tem sido um evento muito importante e mundial, como aconteceu com os outros comícios do dia internacional do trabalhador realizados pelo Comitê Internacional da Quarta Internacional. Hoje, nós tivemos participantes da Austrália, França, Estados Unidos, Reino Unido, Sri Lanka, Nova Zelândia, Peru, Holanda, Turquia, Polônia, Costa Rica e muitos outros países. Houve até um ouvinte que escreveu para dizer que estava participando a 9 mil metros de altura sobre os Estados Unidos.

Os discursos realizados hoje oferecem uma base poderosa para a construção de um movimento socialista de massas na classe trabalhadora internacional.

O futuro está no socialismo. A própria classe dominante está aterrorizada com as convulsões sociais que estão por vir, com “algum tipo de revolução”, como disse Raymond Dalio, fundador da maior gestora de fundos especulativos do mundo. Os discursos de hoje mostraram a resposta da classe dominante em seu esforço para preservar seu sistema social: a promoção da extrema direita, a ressurreição do fascismo, o retorno às formas autoritárias de governo, o ataque aos direitos democráticos – incluindo a perseguição e a prisão de Julian Assange.

No entanto, os discursos também explicaram que existe uma poderosa força social, que está tomando um caminho diferente – a classe trabalhadora internacional. Eles mostraram algumas das lutas mais significativas – na França, Argélia, China, Alemanha, Bélgica, Polônia, Portugal, Israel, Irã, Egito, Tunísia, África do Sul, Sri Lanka, Índia, Nova Zelândia, Sudão, México e, claro, nos Estados Unidos.

Há um interesse cada vez maior no socialismo. Não há, desde a década de 1930, uma repulsa generalizada tão grande entre as massas contra todo o sistema social e econômico.

Esses dois processos são impulsionados por poderosas forças objetivas. Na época da dissolução da União Soviética, que havia sido antecipada muito antes pelo movimento trotskista, os ideólogos do capitalismo proclamaram o fim da história. Nos círculos acadêmicos de “esquerda” e da pseudo-esquerda, que se orientavam ao stalinismo, a transformação do aparato burocrático da URSS em uma nova oligarquia foi aproveitada para abandonar qualquer compromisso com a transformação das relações sociais e com o marxismo.

A concepção comum era de que o colapso da URSS significava o triunfo do capitalismo. Os grandes problemas que assolaram a humanidade no século XX ficaram supostamente no passado.

Quão falsas essas teorias se revelaram!

Ao invés do renascimento da democracia, temos o ressurgimento do fascismo. Ao invés de uma era de paz, os últimos vinte e cinco anos foram de guerras intermináveis. Ao invés de progresso social e econômico, estamos vivendo uma época de decadência e crise social e econômica.

E, claro, aqui nos Estados Unidos, temos Trump.

A administração Trump não é um “momento aberrante no tempo”, como disse o ex-vice-presidente e recém-anunciado pré-candidato à presidência Joe Biden. Com a administração Trump, parafraseando Trotsky, “a sociedade capitalista está vomitando sua barbárie indigesta”.

Todos os crimes da classe dominante estadunidense foram revelados. Mais de um milhão de pessoas mortas na “guerra ao terror”; tortura, Baía de Guantánamo, extradição forçada, assassinato. Na esfera econômica, a especulação financeira sem fim, o crescimento da desigualdade social a níveis inimagináveis; uma sociedade em que três indivíduos possuem uma riqueza maior do que a metade mais pobre da população, ou 160 milhões de pessoas.

E o que dizer do Partido Democrata? Eles são outra manifestação da mesma doença. Eles escolheram se opor a Trump da maneira mais direitista possível. A narrativa reacionária associada a Joseph McCarthy e ao período do anticomunismo estadunidense foi ressuscitada através da campanha anti-Rússia do Partido Democrata e da CIA. “Nossa eleição foi corrompida, nossa democracia foi agredida, nossa soberania e segurança foram violadas” pela Rússia. Assim declarou Hillary Clinton.

A eleição não foi corrompida, de acordo com a Sra. Clinton, pelo dinheiro de grandes empresas. A democracia não foi atacada pela CIA, pelo FBI, pela NSA. Ela não está preocupada com a existência de fascistas nas forças armadas. Não, são todos os russos malvados! Uma narrativa muito conveniente, para dizer o mínimo.

O caráter direitista da oposição deste partido de Wall Street e da CIA é resumido em sua atitude em relação a Julian Assange.

Os democratas e seus aliados na mídia não apenas toleraram a perseguição a esse corajoso jornalista, mas lideraram a ofensiva contra o WikiLeaks, que é acusado de vazar e-mails do Partido Democrata que expuseram as relações corruptas de Clinton com os bancos de Wall Street.

A captura de Assange na embaixada equatoriana foi a ocasião para a mídia, não para condenar essa ação, mas para ridicularizá-lo. Alguém pode imaginar que, nos “talk shows” das TVs estadunidenses, a situação de Julian Assange, que foi alvo de um tratamento tão escandaloso nas mãos do estado, seja motivo de piadas? Não é necessário imaginar; tal é a realidade dos EUA hoje.

Todos os que participam dessa infâmia colocam sobre si uma marca negra que nunca poderá ser lavada.

Enquanto isso, a situação de Chelsea Manning, que definha na prisão por cometer o imperdoável pecado de se recusar a testemunhar contra Assange, é simplesmente ignorada.

Existe um imenso medo por trás de tudo isso, um medo da oposição social, um medo da classe trabalhadora, um medo de que o sistema sobre o qual se baseiam suas riquezas e privilégios esteja com os dias contados. Isso explica as teorias absurdas dos democratas e seus defensores na CIA de que as divisões nos Estados Unidos são um produto dos russos, que estão “semeando a discórdia”, a inevitável frase.

Como se fosse necessário semear a discórdia em uma sociedade mais desigual do que qualquer outra na história moderna! As condições objetivas para um levante social não apenas foram semeadas pelo capitalismo, mas produziram frutos que amadureceram e começaram a ficar podres.

Em um 1º de Maio anterior, nós nos referimos à classe trabalhadora estadunidense como o gigante adormecido da política mundial. Bem, esse gigante está começando a despertar, assim como os trabalhadores de todo o mundo. O número de trabalhadores que participaram de greves nos EUA em 2018 foi o maior em 32 anos, impulsionado em grande parte pelas greves de professores de escolas públicas, que continuaram em 2019.

Os trabalhadores estão começando a se libertar do domínio dos sindicatos, que trabalham há décadas para suprimir a luta de classes e para impor a retirada de direitos. Nas imortais palavras de um advogado sindicalista perante a Suprema Corte no ano passado, “a segurança sindical é a compensação por não haver greves” – não a segurança dos trabalhadores, mas a segurança financeira dos dirigentes sindicais que controlam essas organizações e cujos rendimentos os colocam entre os 5%, ou até mesmo entre o 1%, mais ricos da população.

O escândalo de corrupção que envolveu o Sindicato dos Trabalhadores Automotivos (UAW, na sigla em inglês) apenas confirmou para os trabalhadores da indústria automotiva e para todos os setores da classe trabalhadora que os dirigentes sindicais estão na folha de pagamento da administração das empresas, encarregados de fornecer a elas um suprimento contínuo de mão de obra barata, ao mesmo tempo que servem como uma força policial da administração.

Nas lutas sociais mais significativas durante o ano passado – incluindo de professores nos EUA, os protestos dos “coletes amarelos” na França, a greve de Matamoros no México, as lutas dos trabalhadores das plantações de chá no Sri Lanka – uma característica definidora foi que surgiram e se desenvolveram em oposição aos sindicatos pró-capitalistas e nacionalistas. Aqui nos Estados Unidos, cada vez mais trabalhadores têm apoiado a luta do Partido Socialista pela Igualdade pela formação de uma coalizão de comitês de base.

O impulso objetivo das lutas dos trabalhadores nos Estados Unidos e em todo o mundo é em direção a uma greve geral política, exigindo a formação de novas organizações, os comitês de fábrica e de ação de base, reunindo todas as seções da classe trabalhadora em uma luta pelo poder político e contra o sistema capitalista.

O desenvolvimento da luta de classes está apenas em suas etapas iniciais. A tarefa mais crítica, nos Estados Unidos e em todo o mundo, é a construção de uma liderança revolucionária. Como David North enfatizou ao abrir este evento, as contradições do capitalismo estão criando as condições para a renovação de um movimento de massas da classe trabalhadora. A prática política de nosso próprio movimento está, cada vez mais, cruzando-se com o movimento objetivo da luta de classes. A tarefa da Quarta Internacional não é apenas entender o mundo, mas, com base nesse entendimento, transformá-lo.

Isso significa uma luta implacável dentro da classe trabalhadora por políticas socialistas genuínas. Diante de crescente agitação social, a classe dominante apresenta válvulas de segurança, mecanismos políticos para canalizar a oposição, e contê-la dentro de parâmetros aceitáveis. Assim, tem-se Bernie Sanders, cujo papel é encobrir um partido belicista com um fino verniz de reformas sociais que os democratas não têm a intenção de implementar. Figuras como Alexandria Ocasio-Corteze, nos EUA, e, no mundo, Jeremy Corbyn, além dos partidos da pseudo-esquerda, como o Syriza na Grécia, o Podemos na Espanha e A Esquerda na Alemanha, desempenham todos o mesmo papel.

O camarada Chris Marsden se referiu ao silêncio covarde de Corbyn no Reino Unido sobre a situação de Assange. Isso se repete aqui nos Estados Unidos com Sanders, que, há alguns dias, tuitou, por ocasião do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa – em um exercício monumental de hipocrisia – que “os jornalistas nunca devem temer por suas vidas enquanto fazem seu trabalho”. Ele não disse nada sobre Assange.

Quando eles realmente falam sobre o socialismo, afirmam que pode ser alcançado sem desafiar as instituições políticas existentes do estado capitalista, sem reorganizar fundamentalmente a vida econômica, sem desafiar o imperialismo.

O Partido Socialista pela Igualdade insiste que o socialismo genuíno é baseado no princípio da igualdade social, que as vastas riquezas monopolizadas pelos ricos através da exploração e do empobrecimento da classe trabalhadora devem ser expropriadas e direcionadas para a satisfação das necessidades sociais.

O socialismo é internacional, baseado no princípio de que os trabalhadores de todos os países têm os mesmos interesses sociais e os mesmos inimigos de classe. Rejeitamos o nacionalismo venenoso promovido pela classe dominante para dividir os trabalhadores uns contra os outros e justificar a monstruosa perseguição aos imigrantes e refugiados.

O socialismo é inseparável da luta contra a guerra imperialista, que ameaça levar o mundo a uma catástrofe nuclear. O movimento socialista intensificará sua campanha para defender e libertar Julian Assange, Chelsea Manning e todos aqueles que foram perseguidos por se oporem à guerra imperialista e às políticas da elite capitalista.

O socialismo genuíno é baseado nos interesses da classe trabalhadora, a vasta maioria da população mundial. O crescimento da luta de classes destruiu todas as teorias reacionárias dos representantes privilegiados da classe média alta, que promovem as políticas de identidade e as teorias do pós-modernismo. Segundo eles, a classe trabalhadora está morta e não é mais uma força revolucionária, além de as divisões centrais na sociedade moderna não serem divisões de classe, mas divisões de raça ou gênero.

Além disso, o socialismo genuíno é revolucionário. Não propomos reformas moderadas, que a classe dominante não tolerará, mas a revolução – a derrubada das relações de propriedade capitalistas através do estabelecimento do controle democrático sobre os gigantescos bancos e corporações.

Desde a sua fundação há mais de oitenta anos por Leon Trotsky, que liderou com Lenin a Revolução Russa, a Quarta Internacional tem lutado pelo internacionalismo revolucionário socialista contra o stalinismo, a socialdemocracia e todas as perversões do marxismo. O trotskismo é o socialismo de hoje, incorporado no Comitê Internacional da Quarta Internacional, composto pelos Partidos Socialistas pela Igualdade em todo o mundo.

Chamamos todos aqueles que estão participando hoje deste comício a se juntarem e construirem o CIQI.

Loading