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Perspectivas

Opor-se à guerra criminosa de Trump contra o Irã!

Publicado originalmente em 6 de janeiro de 2020

O World Socialist Web Site condena categoricamente o assassinato de 3 de janeiro do general Qassem Suleimani no aeroporto internacional de Bagdá.

O míssil lançado de um drone que matou Suleimani e outras nove pessoas é um flagrante assassinato, cujos responsáveis poderiam ser processados – se os estatutos criminais fossem cumpridos – de acordo com a lei internacional e dos EUA.

O assassinato de Suleimani, chefe da Força de Quds da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã, amplamente considerado como a segunda figura mais importante do governo iraniano, foi recebido com enormes manifestações no Iraque e no Irã e é amplamente visto no Oriente Médio como uma declaração de guerra dos EUA contra toda a região.

O governo iraniano prometeu retaliação. O aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, disse que o país se “vingaria vigorosamente”. Diante da enorme raiva popular, fazer menos poderia significar perder o controle dentro do próprio Irã.

No Irã, estima-se que milhões se reuniram para homenagear Suleimani e os outros mortos no ataque – ao todo, cinco iranianos e cinco iraquianos foram assassinados – à medida que o cortejo fúnebre passava de Ahvas para Mashhad e, finalmente, Teerã.

Em Bagdá, mais de 100 mil pessoas protestaram contra o assassinato cantando “Morte aos EUA!”. Foi a maior manifestação pública no Iraque desde a derrubada da monarquia em 1958.

Sob o peso dessa imensa manifestação de hostilidade popular, o Parlamento iraquiano aprovou esmagadoramente no domingo uma resolução exigindo a expulsão das forças militares dos EUA do Iraque. Enquanto o Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, indicou que Washington ignoraria qualquer ordem iraquiana de se retirar, as 5.000 tropas estadunidenses atualmente destacadas abandonaram sua missão ostensiva de treinar as forças de segurança iraquianas. Elas temem que os soldados iraquianos apontem suas armas para seus instrutores, e estão preparando-se para atacar.

O presidente Donald Trump respondeu às declarações de Khamenei com uma série de ameaças cada vez mais frenéticas via Twitter. Ele primeiro afirmou ter selecionado 52 alvos no Irã, “representando os 52 reféns estadunidenses capturados pelo Irã há muitos anos”. Segundo ele, entre esses alvos estariam lugares importantes para a “cultura iraniana”. Tal ataque seria acrescentado à lista de atos ilegais do governo dos EUA.

Em tuites subsequentes, o presidente dos EUA prometeu atingir o Irã “com uma força que eles nunca viram antes”, e declarou que seus pronunciamentos no Twitter serviam como “notificação ao Congresso dos Estados Unidos que, se o Irã atacar qualquer pessoa ou alvo dos EUA, os Estados Unidos reagirão rápido e intensamente, talvez de maneira desproporcional. Esse aviso legal não é necessário, mas é concedido mesmo assim!”

As ameaças selvagens de Trump são calculadas para inflamar a situação e deixar o governo iraniano, que está sob imensa pressão popular, sem opção a não ser tomar medidas violentas de retaliação. Isso pode parecer pura loucura dadas as consequências de uma guerra com o Irã. Mas seria o auge da ingenuidade política acreditar que o ataque a Suleimani foi ordenado por Trump em um ataque pessoal de raiva.

A ordem foi dada por Trump com a intenção deliberada de provocar uma guerra. Existe um método para essa loucura. É uma tentativa de encontrar uma saída para a crise cada vez mais desesperada do capitalismo dos EUA – internacional e doméstica – através de atos espetaculares de violência.

O assassinato de Suleimani não é um evento isolado, mas o começo de uma nova guerra. Ele marca uma linha divisória entre um “antes” e um “depois” não apenas no Oriente Médio, mas internacionalmente. Futuros historiadores tratarão esse crime de estado com a mesma importância que o assassinato do arquiduque Franz Ferdinand em Sarajevo em 1914.

Ninguém deve cometer o erro de subestimar as consequências da guerra com o Irã. O desenvolvimento do conflito adquirirá rapidamente dimensões globais. Será apenas uma questão de tempo até que a lógica do conflito – que afeta os interesses vitais de inúmeros estados na vasta massa terrestre da Eurásia – arraste inúmeros países ao turbilhão da guerra. Nem o governo russo nem o chinês poderão aceitar o controle dos EUA sobre o Irã. O governo indiano não poderá esperar enquanto o Paquistão estiver totalmente desestabilizado pelo conflito EUA-Irã.

Além disso, os militares dos EUA – apesar de todos os trilhões de dólares que foram gastos em armamentos – não estão preparados para a resistência em massa que encontrarão. Tendo sido incapazes de impor sua vontade sobre o Iraque e o Afeganistão, mesmo após décadas de guerra, os Estados Unidos descobrirão que a guerra com o Irã leva a uma catástrofe militar e política.

Por que, então, o governo Trump tomou esse caminho desastroso?

Em primeiro lugar, a decisão de iniciar uma guerra contra o Irã está ligada ao lançamento de uma nova doutrina estratégica em 2018, que se baseou na mudança da “guerra ao terrorismo” para a preparação de guerras que surgirem da “competição entre grandes potências”. A imposição de um regime fantoche do tipo colonial em Teerã e o controle sobre as reservas de energia do Golfo Pérsico são vistos por Washington como uma preparação essencial para uma guerra com a Rússia e a China. Significativamente, no orçamento militar de um trilhão de dólares recentemente aprovado, um orçamento para a guerra mundial, os democratas e republicanos eliminaram os obstáculos que exigiriam que o presidente dos EUA precisasse autorização do Congresso antes de iniciar um ataque militar ao Irã.

Em segundo lugar, e não menos importante, a decisão imprudente pela guerra reflete o desespero da classe dominante estadunidense diante do crescimento do conflito de classes nos Estados Unidos. Sua ansiedade em relação à intensificação da raiva social e à ascensão do sentimento anticapitalista é agravada pelo fato de que toda a economia dos EUA é dependente de impressão ilimitada de dinheiro, conhecida como “flexibilização quantitativa”, realizada para evitar um colapso geral dos mercados financeiros.

A classe dominante dos EUA está bem ciente das implicações revolucionárias da crise, e é esse sentimento de perigo final que está por trás do caráter imprudente de suas ações. Diante de crises econômicas, sociais e políticas que se interagem, são incontroláveis e se acumulam, o governo Trump está apostando na guerra, não apenas para desviar e distrair o público, mas também para legitimar a intensificação da repressão estatal e ataques aos direitos democráticos fundamentais.

Não é por acaso que poucas horas após o assassinato de Suleimani, contingentes fortemente armados da polícia militarizada patrulhavam as ruas das principais cidades dos EUA.

A situação que agora predomina nos Estados Unidos – e, nesse caso, em todos os principais países capitalistas da Europa Ocidental – se assemelha àquela da Alemanha nazista às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Em 1938, o regime de Hitler, tendo acumulado dívidas maciças e insustentáveis para movimentar a economia e financiar a escalada militar, via a guerra como a única saída para o desastre iminente. Um historiador descreveu a situação diante de Hitler da seguinte maneira:

A única “solução” aberta para esse regime de tensões e crises estruturais produzidas pela ditadura e pelo rearmamento era mais ditadura e mais rearmamento, depois expansão, depois guerra e terror, depois pilhagem e escravização. A alternativa clara e sempre presente foi o colapso e caos, e, portanto, todas as soluções foram temporárias, agitadas, imediatas, improvisações cada vez mais bárbaras em torno de um tema brutal. [Nazismo, fascismo e a classe trabalhadora, de Tim Mason (Cambridge, 1995), p. 51]

A imprudência estadunidense dividiu e preocupou a Europa. Chefes de Estado e ministros das Relações Exteriores falam em “diminuir a tensão”, mesmo quando seus próprios governos estão expandindo freneticamente suas forças armadas. O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, condenou os europeus por não terem “sido tão úteis quanto eu gostaria que eles fossem”, acrescentando: “Os britânicos, franceses e alemães precisam entender o que fizemos, o que os estadunidenses fizeram salvou vidas na Europa também”. Todos, é claro, sabem que isso é uma mentira e que o ataque só pode produzir um novo banho de sangue. No entanto, apesar de suas dúvidas, os governos europeus, atolados em crise, estão se alinhando atrás do governo Trump.

A mídia dos EUA está, como sempre, trabalhando para criar uma psicologia de guerra entre o público estadunidense. Mesmo aqueles que sentem nojo das implicações da ação de Trump invariavelmente exprimem suas tímidas críticas denunciando Suleimani como um “ator ruim” e até “terrorista”, supostamente responsável por matar centenas de tropas estadunidenses.

Isso é tudo um monte de mentiras. Suleimani comandou forças que derrotaram tanto grupos ligados à Al Qaeda apoiados pelos EUA na Síria quanto o Estado Islâmico – o monstro Frankenstein de Washington – no Iraque. Ele não está envolvido nos crimes que resultaram da guerra de agressão dos EUA no Iraque, que matou mais de um milhão de pessoas e produziu horrores como o massacre em Fallujah e as câmaras de tortura de Abu Ghraib. Quanto aos soldados estadunidenses que morreram no Iraque, o sangue deles está nas mãos do governo Bush e dos democratas que apoiaram envia-los para uma “guerra de escolha” baseada em mentiras.

Na declaração de Ano Novo, o World Socialist Web Site escreveu:

O movimento em direção a uma Terceira Guerra Mundial, que ameaçaria extinguir a humanidade, não pode ser interrompido por apelos humanitários. A guerra surge da anarquia do capitalismo e da obsolescência do sistema de estado-nação. Portanto, isso só pode ser interrompido através da luta global da classe trabalhadora pelo socialismo.

Não se completou ainda nem uma semana da nova década, mas esse alerta já foi confirmado.

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