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Após o assassinato de Suleimani, o Novo Partido Anticapitalista apoia a guerra dos EUA contra o Irã

Publicado originalmente em 9 de Janeiro de 2020

A declaração do partido pequeno burguês francês, Novo Partido Anticapitalista (NPA)sobre o assassinato do general iraniano Qassem Suleimani pelo governo dos EUA é uma manifestação quase aberta de apoio à guerra ao Irã, expondo que o NPA é um inimigo mortal da classe trabalhadora internacional.

O NPA admite que o assassinato à sangue frio de uma figura popular e amplamente respeitada cometido por Washington teve como objetivo provocar uma guerra. Em todo o Irã e Iraque, milhões de pessoas participaram de cortejos fúnebres de Suleimani, ou protestaram contra esse assassinato terrorista ordenado e glorificado abertamente por Donald Trump. "Uma coisa é certa", escreve o NPA, "O Irã responderá, diretamente ou através de um dos grupos armados que apoia, já que o insulto causado pela morte de Suleimani é grande demais, tanto aos olhos do regime como da população, para ser respondido passivamente".

Mesmo assim, o NPA insiste que o Irã não deve ser defendido dos ataques militares ou terroristas de Washington e dos seus aliados imperialistas europeus. Permanecendo em silêncio sobre os perigos de uma guerra, o NPA lança a sua própria propaganda de guerra – promovendo a mentira de que o Irã, um ex-país colonial, é na verdade uma potência imperialista e difama Suleimani de maneira pessoal como um assassino em massa.

O NPA afirmou: "O anti-imperialismo não pode ignorar as contradições da situação internacional e regional e ceder a uma visão simplificada, preto no branco, das dinâmicas sociais e políticas. A agressão dos EUA não pode, nesse sentido, levar-nos a absolver o Irã de sua política reacionária e expansionista, tanto dentro como fora das suas fronteiras, ou de sua aliança com a Rússia imperialista de Putin".

A súbita redefinição feita pelo NPA do Irã e do regime capitalista da Rússia pós-soviética como "imperialistas" é motivada pela política pró-guerra desse partido pseudoesquerdista da classe média abastada. O NPA mal consegue esconder sua indignação pelas manifestações de oposição de trabalhadores iranianos ao assassinato de Suleimani, que liderou unidades do Irã que causaram a derrota na guerra de nove anos conduzida pela CIA na Síria – uma guerra que o NPA apoiou completamente.

Exigindo que Suleimani não seja "alçado como um mártir", o NPA declara: "Foi ele quem, entre outros atos militares vergonhosos, dirigiu a intervenção iraniana ao lado das forças russas com o objetivo de destruir a revolta contra Assad, provocando centenas de milhares de mortos e milhões de refugiados e desabrigados".

Desavergonhadamente, o NPA acrescenta: "Esta análise equilibrada não significa de forma alguma o enfraquecimento da nossa oposição absoluta às políticas imperialistas dos Estados Unidos ou dos seus aliados, pelo contrário".

Na verdade, essa "análise" é uma junção de mentiras para esconder o fato de que o NPA está totalmente ao lado da CIA e suas frações aliadas da elite dominante francesa imperialista.

A responsabilidade pelos milhões de mortos e dezenas de milhões de refugiados produzidos por três décadas de guerra, do Iraque ao Afeganistão, Líbia e Síria, não é do Irã, mas das potências que as impulsionaram: Washington e os seus aliados europeus. Eles exploraram a dissolução do regime stalinista da União Soviética em 1991, o principal contrapeso político e militar ao imperialismo, para pilhar uma região estratégica e rica em petróleo. Por trás da revolta pelo assassinato de Suleimani existe uma profunda oposição dos trabalhadores de todo o mundo – inclusive nos países imperialistas – a essas guerras.

O apoio do NPA à escalada estadunidense de guerra ao Irã é o resultado de um longo processo de evolução das camadas privilegiadas e politicamente corrompidas do movimento estudantil pequeno burguês pós-1968, que deram origem ao NPA. Eles aderiram à burocracia sindical e várias frações acadêmicas subornadas pelos financiamentos empresariais e estreitamente ligadas aos militares e aos serviços de inteligência. Particularmente quando Washington lançou as guerras na Líbia e na Síria, em 2011, eles declararam apoio abertamente às guerras imperialistas de pilhagem.

Quando a OTAN começou a bombardear a Líbia, Bertil Videt, um líder da Aliança Vermelha e Verde dinamarquesa, ligada ao NPA, denunciou as "palavras de ordem pré-fabricadas sempre contrárias à agressão imperialista". Ele admitiu "que a França, o Reino Unido e os EUA não são movidos por um surto repentino de bondade – mas pelo interesse estratégico na região rica em petróleo" e expressou dúvidas de que eles estivessem "genuinamente comovidos com a situação dos direitos humanos na Líbia". Apesar disso, Videt concluiu: "nenhum desses pontos é, por si só, argumento para se opor à zona de exclusão aérea sobre a Líbia".

Os bombardeios da OTAN e as milícias islamistas apoiadas pela CIA conseguiram, em seis meses, conquistar a Líbia, que mergulhou numa guerra civil de nove anos. As promessas fraudulentas do NPA de revolução democrática na Líbia deram lugar à realidade de um reinado de terror de milícias rivais ligadas à CIA, enquanto a União Europeia ergueu campos de concentração onde milhares de refugiados são escravizados, estuprados e assassinados. O NPA, no entanto, estava engajado em promover a próxima guerra da CIA – dessa vez na Síria.

Olivier Besancenot, ex-candidato à presidência pelo NPA, que havia exigido energicamente que a França armasse as milícias líbias, foi ainda mais agressivo para defendero armamento das milícias apoiadas pela CIA na Síria, ignorando seus laços publicamente reconhecidos com a Al Qaeda. Washington, as monarquias do Golfo Pérsico e as potências europeias gastaram bilhões para armar suas milícias por procuração. Os apelos de Besancenot tornaram-se ainda mais insistentes quando Teerã, temendo que a devastação da Síria pudesse derrubar Assad, interveio militarmente contra as forças apoiadas pela CIA.

Besancenot declarou em 2014 que Paris "devia oferecer gratuitamente armas aos revolucionários sírios". Ignorando o fato de que as armas estavam indo para as milícias islâmicas, que menos de um ano depois realizaram ataques terroristas na própria França, ele afirmou: "Àqueles que dizem 'não devemos fornecer armas porque elas vão acabar nas mãos dos jihadistas', bem, esse já é o caso. ... É meu princípio como internacionalista ter confiança nos povos para que decidam sobre seu próprio destino".

Entretanto, os grupos islamistas apoiados pela CIA na Síria acabaram derrotados por sua falta de qualquer base popular, apesar da tentativa cínica do NPA de fazê-los se passarem por "revolucionários" democráticos. Com forças iranianas e russas contrariando o apoio estadunidense e turco às milícias "rebeldes" apoiadas pela CIA, elas colapsaram, com exceção de algumas regiões próximas à fronteira com a Turquia.

O ódio mortal do NPA por Suleimani reflete a frustração dos elementos de classe média bem relacionados que compõem esse partido, que estão enfurecidos com a derrota na Síria. Essa frustração é baseada nos seus interesses materiais enquanto classe, opostos aos da classe trabalhadora. Eles estão contrariados pois, agora, seus sindicatos e universidades vão receber subsídios e doações menores do governo francês e das empresas petrolíferas do que ganhariam caso Washington, seus aliados e seus representantes islamistas tivessem sido capazes de conquistar a Síria e o Oriente Médio.

A tentativa do NPA de apresentar sua declaração atual como uma crítica "anti-imperialista" à política de Trump no Irã é uma farsa. Criticando a declaração de "solidariedade" a Washington feita pelo presidente francês Emmanuel Macron através de um telefonema a Trump, escrevem: "Essa é a posição de um lacaio do imperialismo estadunidense que, após um ato de agressão explícito, denuncia o Estado que é vítima e apoia o Estado agressor".

O NPA, entretanto, é que está denunciando o Irã e minimizando os perigos colocados pela escalada militar dos EUA no Oriente Médio, pois o NPA é ele próprio um lacaio do imperialismo.

Uma radicalização internacional da classe trabalhadora e um ressurgimento da luta de classes estão em andamento. Poucos dias antes do assassinato de Suleimani, protestos massivos estouravam por todo o Iraque contra o regime neocolonial imposto pela ocupação estadunidense de 2003-2011 e apoiados pelo Irã, ao mesmo tempo que greves massivas contra as políticas de austeridade de Macron aconteciam na França. A resposta do NPA tem sido completamente reacionária. Quando tudo depende da unificação internacional dos trabalhadores na luta contra o imperialismo e contra o perigo da guerra, eles buscam sua divisão, fazendo propaganda de guerra contra o Irã.

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