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Com Brasil a caminho de ser novo epicentro da COVID-19, Bolsonaro amplia campanha pela volta ao trabalho

Publicado originalmente em 13 de maio de 2020

Em meio ao aumento de evidências de que o Brasil está se tornando um novo epicentro do coronavírus, o presidente fascista Jair Bolsonaro deu mais um passo em uma campanha de pressão para forçar as autoridades locais a levantar as limitadas restrições impostas à atividade econômica, a fim de retardar a propagação da pandemia.

De acordo com dados oficiais, o Brasil tem atualmente cerca de 175 mil casos e mais de 12 mil mortes, com o número de infecções crescendo 6,5 por cento ao dia, contra 3 por cento na Itália durante a mesma fase de propagação do vírus. Segundo os mesmos dados, o Brasil está atrás apenas dos Estados Unidos no crescimento diário da pandemia, mesmo com todos os seus 26 estados e a capital autônoma, Brasília, já no segundo mês de quarentenas parciais.

Com apenas 1.600 testes por milhão - contra 28.000 por milhão nos EUA e quantidades semelhantes em outros países duramente atingidos - tais números não têm credibilidade. O número de infectados é provavelmente superior aos 4,2 milhões estimados em 8 de maio pelo Imperial College de Londres, com um número desconhecido de mortes. No Amazonas, o estado mais atingido, onde as vítimas estão sendo jogadas em valas comuns, o Imperial College estima que 10% da população já esteja infectada.

Bolsonaro s'adresse à des partisans droitiers au palais présidentiel de Planalto (source: Marcello Casal-Agência Brasil)

No entanto, ontem, o governo procurou aumentar a sua pressão contra as administrações locais, que fizeram esforços limitados para retardar a propagação da pandemia através de paradas econômicas parciais. Em um apelo demagógico a pequenos empresários em desespero econômico, foi ainda mais ampliada a lista de "atividades essenciais" para incluir barbearias e cabeleireiros. O decreto vem cinco dias depois de uma medida declarando como atividades essenciais a indústria e a construção civil como um todo. O decreto, emitido após uma reunião com um punhado de empresários que Bolsonaro descreveu como representante de "45 por cento do PIB brasileiro", provocou uma ampla rejeição.

A declaração da indústria e da construção como "atividades essenciais" foi acompanhada de uma "marcha" de Bolsonaro junto aos empresários que haviam participado da reunião do Palácio do Planalto para o Supremo Tribunal Federal (STF), em um esforço para pressionar os ministros para permitir que o governo federal se sobrepusesse às quarentenas estaduais e municipais.

A esta manobra política somou-se a criação de um acampamento fascista em frente ao prédio do Tribunal, com o mesmo objetivo. Os líderes do grupo uniformizado que organiza o acampamento com o apoio financeiro de magnatas empresariais pró-Bolsonaro, autodenominado "300 do Brasil", declararam que seu objetivo é "ucrainizar" o Brasil - uma referência ao violento golpe de 2014 liderado por fascistas na antiga República Soviética.

No Brasil e ao redor do mundo, a campanha da elite governante pela volta ao trabalho tem sido justificada com a mentira de que a retomada da atividade econômica em setores intensivos em capital, como a produção de automóveis e petróleo, sem mencionar a indústria alimentícia, que nunca foi paralisada, é segura devido às rígidas regulamentações trabalhistas.

A indústria de frigoríficos tornou-se o ponto focal da pandemia em muitas cidades pequenas, nas quais mais da metade dos casos pode ser rastreados como tendo origem em suas instalações. A indústria também tem sido um dos principais vetores da propagação da pandemia para o empobrecido interior do país. No estado sulista do Rio Grande do Sul, um líder regional na produção de derivados de animais, o governo estima que 16 mil trabalhadores frigoríficos já podem ter contraído o coronavírus.

Na gigante estatal de energia Petrobras, onde as operações continuaram, incluindo a exploração em localizações remotas em alto-mar, pelo menos 800 trabalhadores já foram infectados e outros 1.600 foram sabidamente expostos ao vírus.

No Brasil, como no resto da América Latina e em outros países pobres que estão apenas no início do impacto da pandemia, as infecções entre os trabalhadores estão desmentindo ainda mais as alegações reacionárias de que apenas uma minoria dos infectados - e geralmente apenas os idosos - têm sérias complicações da COVID-19.

Um quarto dos mortos no Brasil não tinha condições prévias associadas e estava abaixo de 60 anos de idade, enquanto a maioria dos que estão em estado grave tem menos de 50 anos. Na semana passada, as mortes no bairro de classe trabalhadora de Brasilândia, no epicentro da COVID-19 do país, São Paulo, foram proporcionalmente 10 vezes maiores do que as mortes em bairros mais ricos. A criminosa falta de testes esconde uma situação muito pior nas densas áreas habitadas pelos trabalhadores no resto do país, onde condições crônicas como diabetes, obesidade e hipertensão atingem um grande número de jovens trabalhadores.

Bolsonaro e seus oponentes nominais na elite governante estão todos se preparando para a oposição massiva da classe trabalhadora através da formação de grupos de extrema-direita como os "300 do Brasil", já retratados por um dos principais jornais do país, o Estado de S. Paulo, como os "camisas-pardas de Bolsonaro". Apesar de suas diferenças táticas - expostas na superfície pela ameaça de um impeachment de Bolsonaro baseado em acusações feitas por seu ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro - a classe dominante está unida em sua determinação para forçar os trabalhadores a voltar às fábricas.

Nenhum dos governadores do país, de ex-aliados de Bolsonaro como João Doria até membros do Partido dos Trabalhadores (PT) e de outros partidos da oposição no Nordeste, impôs restrições às operações da indústria ou da construção civil, apesar de suas denúncias diárias de Bolsonaro como um lunático "incapaz de governar".

No Congresso, o Partido dos Trabalhadores, suposto líder da oposição política de Bolsonaro, pulou no barco da volta ao trabalho com um projeto de lei de "reabertura" apresentado pelo seu ex-ministro da saúde, o infectologista Alexandre Padilha. Padilha afirma que o projeto de lei vai garantir "as melhores práticas" dos países que reabriram suas economias, ocultando o fato de que nesses países - Alemanha e Coréia do Sul, por exemplo - tais protocolos levaram a um novo surto de casos. Há um mês, o PT aderiu à aprovação do gigantesco pacote do governo de injeção de divisas no mercado financeiro, no valor de 15 por cento do PIB brasileiro, enquanto menos de 5 por cento desse valor foi direcionado para compensar a renda dos 25 por cento mais pobres da população.

Com a mobilização de forças de extrema-direita que sendo incapaz de atrair qualquer apoio de massa, a classe dominante conta com os sindicatos para, por um lado, mentir aos trabalhadores sobre a segurança de voltar ao trabalho e, por outro, envenenar a opinião pública com chauvinismo e apelos anti-chineses, retratando a reabertura de fábricas como necessária para combater a concorrência estrangeira e minimizar a perda de empregos.

Enquanto a indústria automotiva abre caminho com a reabertura de suas fábricas - que em abril produziram apenas 1.800 veículos, de sua capacidade mensal de 400.000 - os sindicatos enviaram representantes aos portões das fábricas para convencer os trabalhadores a confiar nas medidas de segurança e até promover a "oportunidade" representada pela pandemia de reduzir as importações da China. O presidente da maior federação sindical brasileira, a CUT, controlada pelo Partido dos Trabalhadores, escreveu que sob "um cenário econômico análogo ao de guerra" imposto pela pandemia, "primeiro grande problema é a posição do Brasil nas cadeias globais de valor", que "aprofunda as vulnerabilidades da economia brasileira".

Na Embraer, líder mundial na produção de aviões de médio porte, que recentemente teve seus planos de fusão com a Boeing frustrados pela insolvência desta última, os líderes sindicais saudaram o fato de que "os empregos seriam cortados nos Estados Unidos", mas não no Brasil.

Em um artigo dedicado ao Dia Internacional dos Trabalhadores no principal jornal brasileiro, a Folha de S.Paulo, Ricardo Patah, presidente da segunda maior federação sindical do país, a UGT, descreveu a pandemia assassina do coronavírus como uma "grande oportunidade para o Brasil" lançar uma "reconversão industrial" para produzir equipamentos médicos.

Ele defendeu políticas "para competir com a China" e "não sermos humilhados" pelos chineses na venda de equipamentos médicos. Ele culpou a China - e não o imperialismo americano e sua guerra comercial - pela desordem global no fornecimento de suprimentos médicos. Em meio às acusações de Washington à China para distrair a opinião pública de sua própria incompetência criminosa ao lidar com a pandemia, e à crescente campanha para uma da guerra, Patah está oferecendo uma cobertura "nacionalista" para o realinhamento do Brasil com o imperialismo norte-americano - tal como os "nacionalistas" pró-nazistas promovidos por Bolsonaro e seus partidários de direita entre o grande capital.

Os trabalhadores brasileiros, engajados em uma crescente onda de greves contra cortes salariais e a tentativa de forçá-los a escolher entre morrer de COVID-19 ou passar fome, só podem levar adiante sua luta por meio de uma ruptura consciente da camisa de força imposta pelos sindicatos, cada vez mais direitistas, e seus aliados políticos - acima de todos o PT e seus satélites pseudo-esquerdistas.

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