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Perspectivas

Um chamado para a classe trabalhadora! Deter o golpe de estado de Trump!

Publicado originalmente em 4 de junho de 2020

A Casa Branca é agora o centro nervoso político de uma conspiração para estabelecer uma ditadura militar, destruir a Constituição, eliminar os direitos democráticos e reprimir violentamente os protestos contra a brutalidade policial que varreram os Estados Unidos.

A crise política desencadeada na noite de segunda-feira – quando Donald Trump ordenou à polícia militar que atacasse manifestantes pacíficos e ameaçou invocar a Lei de Insurreição de 1807 e enviar tropas federais aos estados para impor a lei marcial – está aumentando rapidamente.

A democracia nos Estados Unidos está à beira do colapso. A tentativa de Trump de realizar um golpe militar está se desenvolvendo em tempo real.

Não há outra forma de interpretar a sequência de eventos que ocorreram nas últimas 24 horas. Em uma série de extraordinárias declarações públicas, autoridades políticas e militares do alto escalão não deixaram dúvidas de que Trump está buscando estabelecer uma ditadura militar.

O secretário de Defesa, Mark Esper, declarou em entrevista coletiva que se opôs à ameaça de Trump de invocar a Lei de Insurreição e enviar os militares para todo o país. O uso de militares da ativa para patrulhar cidades dos EUA, disse Esper, deveria ser o “último recurso e apenas nas situações mais urgentes e terríveis. Não estamos em uma dessas situações agora.”

Segundo uma autoridade do governo que falou ao New York Times, Trump “ficou furioso com os comentários do Sr. Esper e o criticou mais tarde na Casa Branca...”. A assessora de imprensa da Casa Branca, Kayleigh McEnany, indicou que Esper poderá em breve ser demitido do gabinete do presidente.

Em resposta às ameaças de Trump, Esper voltou atrás e ordenou que 750 soldados da 82ª Divisão da Força Aérea atualmente em Washington DC não fossem enviados de volta para Fort Bragg, como havia sido anunciado anteriormente.

Os comentários de Esper foram seguidos por uma extraordinária denúncia contra Trump realizada pelo ex-general do Corpo de Fuzileiros Navais, James Mattis, o primeiro secretário de Defesa do atual presidente. Citamos os comentários de Mattis com algum detalhe não porque damos qualquer apoio político ao “Cachorro Louco”, como Mattis foi apelidado depois de liderar a invasão do Iraque em 2003, mas porque ele faz uma avaliação direta de alguém que está intimamente familiarizado com o que está acontecendo dentro das forças armadas.

Mattis acusou Trump de tentar rasgar a Constituição. “Quando entrei para o exército, há cerca de 50 anos”, escreveu ele, “fiz um juramento de apoiar e defender a Constituição. Nunca sonhei que as tropas que fizessem esse mesmo juramento fossem ordenadas, sob qualquer circunstância, a violar os direitos constitucionais de seus concidadãos – muito menos para tornar possível uma estranha foto ao comandante em chefe eleito, com a liderança militar ao lado.”

Mattis continuou:

Devemos rejeitar qualquer consideração de nossas cidades como um “espaço de batalha” que nossos militares uniformizados são chamados a “dominar”. Em casa, devemos usar nossos militares somente quando solicitados, em ocasiões muito raras, por governadores de estado. Militarizar nossa resposta, como testemunhamos em Washington, D.C., cria um conflito – um falso conflito – entre a sociedade civil e militar. Ele corrói o terreno moral que garante um vínculo de confiança entre homens e mulheres de uniforme e a sociedade que eles juraram proteger, e da qual eles mesmos fazem parte. A manutenção da ordem pública é de responsabilidade dos líderes civis estaduais e municipais, que melhor compreendem suas comunidades e respondem por elas.

Mattis concluiu sua declaração comparando implicitamente o conceito de Trump dos militares com o do regime nazista.

O Almirante Sandy Winnefeld, vice chefe aposentado do Estado-Maior Conjunto, escreveu em um e-mail publicado no New York Times: “Estamos no momento mais perigoso para as relações civil-militares que já vi na minha vida. É especialmente importante reservar o uso das forças federais apenas para as circunstâncias mais terríveis que realmente ameaçam a sobrevivência da nação. Nossos líderes militares mais graduados precisam garantir que sua cadeia política de comando entenda essas coisas.”

Nenhuma dessas autoridades militares é adepta devota da democracia. Suas declarações são motivadas pelo medo de que as ações de Trump sejam enfrentadas por uma oposição popular em massa, com consequências políticas desastrosas.

“Os funcionários do alto escalão do Pentágono”, informa o Times, “estão agora tão preocupados com a perda do apoio público – e dos oficiais da ativa e da reserva, 40% dos quais são negros – que o General Mark A. Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto, divulgou na quarta-feira uma mensagem aos altos comandantes militares afirmando que cada membro das forças armadas faz o juramento de defender a Constituição, que, disse, ‘dá aos estadunidenses o direito à liberdade de expressão e de reunião pacífica’.”

Também foram divulgadas declarações de todos os ex-presidentes vivos – Obama, Clinton, Bush e Carter. Essas declarações foram muito mais cautelosas e não fizeram nenhum alerta explícito de golpe. Os ex-presidentes não pediram nenhuma ação específica contra Trump. Tratou-se muito mais de um esforço cauteloso para dissuadir os líderes militares de apoiar Trump do que um apelo ao povo.

Do lado da fração fascista ao redor de Trump, o Times publicou um artigo do senador Tom Cotton intitulado “Envie as Tropas”. Esse conspirador político declarou: “Uma coisa acima de tudo restaurará a ordem em nossas ruas: uma esmagadora demonstração de força para dispersar, deter e, finalmente, parar os infratores da lei”. Como “políticos delirantes” se recusam a fazer o que é necessário, escreve Cotton, é necessário que Trump invoque “a Lei de Insurreição [que] autoriza o presidente a utilizar os militares ‘ou qualquer outro meio’ em ‘casos de insurreição, ou obstrução às leis’.”

A situação política está no fio da navalha. Nunca na história dos Estados Unidos os militares estiveram tão próximos de tomar o poder. Na noite de quarta-feira, o Times escreveu: “Apesar dos apelos de calma de funcionários do alto escalão do Pentágono, as tropas em Washington, na noite de quarta-feira, pareciam estar se preparando para uma demonstração mais militarizada de força. As unidades da Guarda Nacional avançaram firmemente à frente da polícia perto da Casa Branca, quase se tornando a face pública da segurança presente. Elas também bloquearam as ruas com caminhões de transporte do Exército e ampliaram o raio contra os manifestantes.”

Diante dessa conspiração política em desenvolvimento, o Partido Democrata está agindo com sua habitual mistura de covardia e cumplicidade. Nem um único importante político do Partido Democrata denunciou abertamente as ações ditatoriais da administração Trump. Eles estão fazendo de tudo para manter o violento conflito dentro do Estado fora da opinião pública. A linha dos principais democratas é que a “retórica” do Trump é “inútil” e está servindo para “incendiar a situação”. Entre as respostas mais patéticas à crise está a do senador Bernie Sanders, que se limitou a retuitar a declaração de Mattis com o comentário: “Leitura interessante”.

Durante o longo julgamento de impeachment que foi realizado em janeiro, os democratas insistiram que era necessário tirar imediatamente Trump do poder porque ele supostamente havia negado a ajuda militar à Ucrânia em seu conflito com a Rússia. Eles defenderam que Trump fosse destituído porque era considerado insuficientemente agressivo em suas relações com a Rússia.

Mas agora, quando Trump está tentando realizar um golpe militar e rasgar a Constituição nos Estados Unidos, os democratas não oferecem nenhuma oposição séria a Trump, muito menos exigem que ele seja destituído do cargo. Quando se trata de defender os interesses globais do imperialismo dos EUA, os líderes democratas estão cheios de fogo e enxofre. Mas quando enfrentam a ameaça direta de ditadura, são mansos como ratos de igreja.

Por trás dessa covardia estão os interesses básicos de classe. Quaisquer que sejam suas diferenças táticas com Trump, os democratas representam os mesmos interesses de classe. O que mais temem é que a oposição a Trump possa assumir dimensões revolucionárias que ameacem os interesses da oligarquia capitalista financeiro-corporativa.

O alvo da conspiração na Casa Branca é a classe trabalhadora. A oligarquia corporativo-financeira teme que a erupção de manifestações de massas contra a violência policial se cruze com a imensa raiva social dos trabalhadores contra a desigualdade social, que tem se intensificado enormemente como resultado da resposta da classe dominante à pandemia do coronavírus e da campanha homicida de volta ao trabalho.

Nada poderia ser mais perigoso do que pensar que a crise já passou. Ela, ao contrário, está apenas começando. A classe trabalhadora deve intervir nesta crise sem precedentes como uma força social e política independente, opondo-se à conspiração na Casa Branca através dos métodos da luta de classes e da revolução socialista.

As manifestações ocorridas nos últimos dias estão entre os acontecimentos mais significativos da história dos Estados Unidos. Em cada região e estado, dezenas e centenas de milhares de trabalhadores e jovens, numa extraordinária manifestação de unidade e solidariedade multirracial e multiétnica, saíram às ruas para se opor ao racismo institucionalizado e à brutalidade da polícia. O Sul – antigo bastião da Confederação, das leis Jim Crow e dos linchamentos – tem sido o cenário de algumas das maiores manifestações. Os manifestantes estão dando voz a sentimentos democráticos e igualitários profundamente enraizados que são a nobre herança da grande Revolução Americana do século XVIII e da Guerra Civil do século XIX.

A única resposta viável para a conspiração criminosa que está sendo criada na Casa Branca é levantar a exigência para que Trump, Pence e seus conspiradores sejam tirados do poder.

Isso só pode ser realizado através da intervenção da classe trabalhadora, que deve se juntar aos protestos de massas e iniciar uma greve política nacional.

Não à ditadura!

Trump e Pence devem ser tirados do poder!

O Partido Socialista pela Igualdade e a Juventude e Estudantes Internacionais pela Igualdade Social chamam a todos os leitores do World Socialist Web Site a participarem ativamente dessa luta.

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