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"Eles acham seus lucros mais importantes que a vida humana"

Operários mexicanos dizem que a General Motors está encobrindo surto de COVID-19 na fábrica de Silao

Publicado originalmente em 18 de junho de 2020

Os trabalhadores da General Motors no Complexo de Silao, em Guanajuato, México, relatam um número crescente de casos confirmados e suspeitos de COVID-19, que estão sendo encobertos pela empresa para não interromper a produção das rentáveis caminhonetes Silverado e Sierra na fábrica.

Trabalhadores relataram respostas semelhantes da General Motors a surtos em todos os Estados Unidos, inclusive em Kansas City, Wentzville, Missouri e Arlington, Texas.

Ao receberem relatos de seus colegas de trabalho e familiares sobre dois casos confirmados e pelo menos três suspeitos, os trabalhadores explicaram ao Boletim dos Trabalhadores Automotivos do WSWS: "o fato é que não sabemos quantas pessoas tiveram contato com eles, colocando em risco milhares de nós que trabalhamos na fábrica".

Os trabalhadores ficaram sabendo que em 9 de junho e 11 de junho, respectivamente, um trabalhador na área de montagem geral e outro trabalhador na área de pintura e manutenção haviam testado positivo para a COVID-19. Em uma manobra para ocultar essa informação do público, a General Motors informou ter enviado ambos os trabalhadores para o hospital privado Ángeles, a 50 quilômetros de distância, em León. Trabalhadores acidentados e doentes costumam ser tratados no Instituto Público de Seguridade Social Mexicano (IMSS), o que geralmente torna públicos os casos confirmados.

Trabalhadores da General Motors no México registram a ausência de medidas de distanciamento social

Em 15 de junho, os operários em contato com o Boletim dos Trabalhadores Automotivos tomaram conhecimento de uma suspeita de infecção de um trabalhador no setor de transmissões de 6 velocidades, depois que um membro da família deu positivo no teste. No dia seguinte, os operários relataram que dois trabalhadores da área de pintura foram mandados de volta para casa, "porque estavam em muito mau estado, com tosse e gripe, todos os sintomas da COVID-19".

O trabalhador da área de pintura, que relatou esses casos suspeitos, disse: "Vai haver uma inspeção sanitária [pelo Ministério do Trabalho] mas, como sempre, eles vão tentar encobrir o fato. Depende das pessoas exporem a verdade: que não há distanciamento seguro. Eles têm que ir aos banheiros que são realmente nojentos, subir nos caminhões em ambas as direções para ver o quanto todos estão apertados e se ferrando. A empresa consegue maquiar tudo – "por dinheiro até os cachorros dançam".

Outro trabalhador da área de manutenção explicou: "É simplesmente impossível manter o distanciamento social, porque somos muitos. Acho difícil seguir essas regras já que mais de 200 pessoas vão ao refeitório nos 30 minutos que há para comer. E, na manutenção, todos tocamos o mesmo material".

Israel Cervantes, um trabalhador da GM Silao que foi perseguido no ano passado por se opor ao sindicato controlado pela empresa e apoiar a greve nacional da GM nos Estados Unidos, disse ao Boletim dos Trabalhadores Automotivos: "O que vem primeiro é a saúde dos trabalhadores pelo bem-estar de sua família, mas a empresa aproveita que os salários são precários [e] a maioria dos trabalhadores tem dívidas. Isso é o que os obriga a trabalhar e, além disso, as autoridades não fazem nada para defender os trabalhadores.

"O governo e os empresários acreditam que os lucros e a riqueza são mais relevantes do que a vida humana. Eles nos asseguram que as fábricas e outros locais de trabalho devem permanecer abertos para o benefício da classe trabalhadora pobre, mas são justamente nossas vidas que estão sendo sacrificadas nos seus locais de trabalho."

Ele concluiu: "É de suma importância que nós trabalhadores nos organizemos e comecemos a exigir melhores condições humanas e de trabalho. Ao mesmo tempo, devemos unir todos os trabalhadores de todos os segmentos sociais – de professores a trabalhadores como Uber e outros – para criar laços nacionais e internacionais entre os trabalhadores e até mesmo um partido político."

A General Motors havia suspendido suas operações no México em 23 de março temendo que uma onda de greves selvagens nas fábricas da Europa e dos Estados Unidos se espalhasse pelo México. No entanto, a empresa e seus sindicatos subornados concordaram com o pagamento de apenas 55% dos salários durante o fechamento, exercendo imensa pressão sobre os trabalhadores. Enquanto cinicamente "ordenava" o pagamento do salário integral, o estado de emergência decretado pelo governo de Andrés Manuel López Obrador permitia que tais acordos fossem aprovados sumariamente pela burocracia sindical corrupta.

Em 18 de maio, o governo de Andrés Manuel López Obrador cedeu às pressões da Casa Branca e das corporações transnacionais e designou como essenciais instalações relacionadas ao transporte. A General Motors, a maior montadora do México, foi a primeira a anunciar uma retomada parcial no país. A Automotive News informou que a empresa estava "ansiosa para reabastecer seu estoque de pickups", após a greve de 40 dias nos EUA no ano passado e o fechamento pela COVID-19.

Em 21 de maio, a General Motors reiniciou sua produção de transmissões e motores em duas de suas quatro fábricas no México – Ramos Arizpe, no estado de Coahuila, e Silao. Nos dias seguintes, a GM reabriu gradualmente suas outras plantas e áreas de montagem a depender da chegada de suprimentos do exterior.

Trabalhadores de Silao deixando a fábrica.

Ao anunciar a reabertura, o presidente da GM do México, Francisco Garza, disse que "o bem-estar e a segurança dos nossos colaboradores tem sido e será a nossa principal prioridade", e prometeu que um "Comitê de Verificação e Monitoramento Interno" aplicaria medidas para prevenir infecções nas plantas.

No entanto, os trabalhadores estão denunciando que a maior prioridade da General Motors é acelerar rapidamente a produção, independentemente do custo para a saúde dos trabalhadores e suas famílias, enquanto o governo mexicano funciona como um parceiro totalmente subserviente nesta política criminosa.

O encobrimento dos casos da COVID-19 pela GM e centenas de outras fabricantes em todo o México não só é sancionado pelo governo, é uma extensão da subnotificação deliberada de casos por autoridades que estão ansiosas para justificar a reabertura da economia. Além disso, López Obrador se recusou a providenciar qualquer auxílio aos trabalhadores demitidos ou suspensos de seus empregos, empregando a ameaça de fome e privação como chicote para forçar os trabalhadores a retornarem aos locais de trabalho infectados.

O Ministério da Saúde continua relatando uma rápida disseminação da pandemia, chegando a mais de 155.000 casos e 18.000 mortes. O El País descobriu recentemente que quase 80% dos que morrem da COVID-19 no México não estão recebendo tratamento em unidades de terapia intensiva. Essa terrível realidade não impediu López Obrador de afirmar esta semana que "a pandemia foi contida", "nem uma única pessoa ficou sem cuidados" e "estamos preocupados em ajudar os de baixo".

Os trabalhadores só podem confiar em si mesmos para monitorar infecções e se opor a condições inseguras. Na General Motors e em outros locais de trabalho, tais esforços precisam ser organizados por meio da eleição de comitês de base de segurança do trabalho, independentes de todas as instituições pró-capitalistas e nacionalistas, incluindo os sindicatos, seus apoiadores pseudoesquerdistas, o governo López Obrador e o restante do establishment político.

Essas organizações verdadeiramente independentes estabeleceriam contato, através das redes sociais e outros meios, com trabalhadores dos hospitalares privados e públicos e especialistas em epidemiologia para quebrar a rede oficial de mentiras e complacência em relação à pandemia mortal. Esses comitês também organizariam as ações necessárias, em coordenação com seus irmãos e irmãs nos Estados Unidos e internacionalmente, para impor condições seguras nas fábricas e o fechamento de fábricas infectadas e não essenciais com pagamento integral dos salários.

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