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OMS adverte que pandemia do coronavírus entra em "fase perigosa"

Publicado originalmente em 20 de junho de 2020

A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que a pandemia da COVID-19 registrou um dia de pico, de mais de 150.000 casos confirmados, na quinta-feira. Segundo a base de dados do New York Times, o número total de novos casos foi de 166.099. Um banco de dados separado mantido pelo Worldometer constatou que o total foi ainda maior na sexta-feira, com 181.000 novos casos confirmados.

Desde 2 de maio, a média de sete dias para o total de casos diários de COVID-19 em todo o mundo vem aumentando constantemente, de aproximadamente 81.000 para 136.956 ontem, um aumento de 70%. A média global de sete dias para casos fatais diários chegou ao seu ponto mais baixo em 26 de maio, com 4.079 mortes, e desde então veio subindo lentamente para 4.649. O número global de mortes em um dia subiu para mais de 5.000 ontem.

Em todo caso, apesar dos massivos lockdowns que impactaram bilhões de pessoas e levaram a economia capitalista global quase ao colapso, a decisão política de abrir os mercados, atirar a cautela ao vento e retomar todo o comércio e atividades sociais, como se a pandemia tivesse sido contida e se tornado um mero ponto de referência histórico, é pura loucura. Enquanto a realidade científica da epidemia não pode ser contornada ou ignorada, as demandas por lucros afastam os mercados e as elites dirigentes de todos os países dos conselhos sábios.

Trabalhadores de uma equipe de recuperação de desastres da Servpro com trajes de proteção e respiradores entram no Life Care Center em Kirkland, Wash., para iniciar a limpeza e desinfecção da instalação [Crédito: AP Photo/Ted S. Warren]

O Diretor Geral da OMS, Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, relatou no briefing de imprensa regular, na sexta-feira: "O mundo está em uma nova e perigosa fase. Muitas pessoas estão, compreensivelmente, fartas de estar em casa. Os países estão compreensivelmente ansiosos para abrir suas sociedades e economias, mas o vírus ainda está se espalhando rapidamente. Ainda é mortal, e a maioria das pessoas é suscetível".

Mais de 81 países, incluindo Índia, Chile, Turquia, México, Paquistão, África do Sul e Bangladesh, viram um aumento nos casos de COVID-19 nas últimas duas semanas, enquanto menos da metade das nações do mundo relataram números decrescentes.

De acordo com o mapeamento da COVID-19 do Worldometer, até o fechamento deste artigo, há mais de 8,75 milhões de casos de COVID-19. Também foram registradas cerca de 462 mil mortes, o que, em todo caso, é uma subestimação da verdadeira magnitude das mortes. O Brasil foi responsável pela maior parte dos novos casos na sexta-feira, com um número terrível de 55.209 infecções confirmadas em apenas um dia, o maior total de um dia até hoje. Ele se juntou aos Estados Unidos, ultrapassando mais de 1 milhão de casos no total. O Brasil registrou 1.221 novas mortes, o índice mais alto de todos países em 19 de junho, elevando seu número oficial de mortes para mais de 49 mil.

O presidente Trump e seu governo têm muito em comum com pessoas como Jair Bolsonaro, o presidente fascista do Brasil, em seu total desrespeito pela segurança da população e pelas consequências da infecção pelo coronavírus.

No entanto, a atitude desdenhosa de Trump, que personifica os ditames da oligarquia financeira, é de um caráter mais sinistro e calculado. Em recente entrevista com Jacqueline Policastro, da Gray Television, Trump foi questionado sobre o preocupante aumento de novos casos em 22 estados, incluindo Oklahoma, onde planeja realizar hoje um grande comício. Ele disse: "Se você olhar, os números são extremamente minúsculos em comparação com o que já foram. Está morrendo. A propósito, nós estamos indo muito bem em vacinas e tratamentos. Acho que vai haver grandes anúncios sobre isso em um futuro não muito distante. Mas não, não estamos preocupados".

O vice-presidente Mike Pence escreveu em um artigo central no Wall Street Journal esta semana: "O que acabou ignorado pela cobertura é o fato de hoje menos de 6% dos americanos testados semanalmente estarem com o vírus... A verdade é que fizemos grandes progressos nos últimos quatro meses, e é uma prova da liderança do presidente Trump".

Os números reais por trás dessas afirmações sem fundamentos mostram um quadro bem diferente. O significado dessas declarações, no entanto, é simples: Não haverá mais lockdowns ou outras medidas em resposta ao ressurgimento do surto.

A Carolina do Sul tem visto novos casos subirem de uma média de menos de 200 casos por dia no final de maio para um pico de 1.083 casos na sexta-feira. Parte desse aumento está sendo atribuído ao turismo recente, especificamente na popular cidade turística de Myrtle Beach. Em meados de maio, o governador Henry McMaster permitiu que os hotéis retomassem as reservas e permitiu a abertura de restaurantes. Em 1º de junho, houve 22 novos casos no município de Horry, onde fica a praia de Myrtle. Em 17 de junho, o número de novos infectados cresceu para 120, ocorrendo em conjunto com o fim de semana do Memorial Day, três semanas antes. Atualmente, há 660 leitos hospitalares ocupados por pacientes infectados com o coronavírus no estado.

A Flórida bateu seu recorde de dois dias consecutivos, com 3.822 novos casos na sexta-feira, de acordo com o mapeamento do Johns Hopkins. O governador daquele estado, Ron DeSantis, tentou desviar as críticas, sugerindo que mais testes haviam sido feitos e que as infecções estavam ocorrendo entre pessoas mais jovens e saudáveis. Ele então apontou para aglomerações de trabalhadores diurnos "esmagadoramente latinos" como o principal fator para os números crescentes.

"Alguns desses caras vão para o trabalho em um ônibus escolar, e todos eles estão espremidos lá como sardinhas, atravessando o condado de Palm Beach ou alguns desses outros lugares, e há todas essas oportunidades de ter transmissão", disse ele. No entanto, a Comissária de Agricultura da Flórida, Nikki Fried, contestou as afirmações do governador, ressaltando que a maioria dos trabalhadores agrícolas já tinham ido embora há várias semanas após o término das colheitas.

O Texas relatou 3.516 novos casos na quinta-feira, um aumento de mais de 10% em relação ao dia anterior, seguido por outras 4.497 infecções na sexta-feira. Apesar da alegação de que estes aumentos se devem exclusivamente a mais testes, especialistas em saúde pública observaram que a porcentagem de testes que voltam positivos também está aumentando, indicando um surto crescente que está fora de controle.

A maior área de Houston registrou cerca de 26 mil casos, com uma carga de atendimentos médicos 1,2 vezes maior do que na semana anterior. A juíza do condado de Harris, Lina Hidalgo, emitiu uma ordem que entrará em vigor em 22 de junho, exigindo que todas as empresas obriguem o uso de máscaras. "A ideia dessa política é: 'sem camisa, sem sapatos, sem máscara, sem atendimento", disse Hidalgo à mídia local.

Na sexta-feira, o Arizona testemunhou um grande salto nos casos, ultrapassando o recorde de 2.519 casos num dia, com 3.246 novos casos na quinta-feira, um aumento de mais de 25%. Apesar da pressão das comunidades médicas que estão vendo a diminuição dos recursos na forma de leitos de UTI, o governador republicano Doug Ducey retirou a obrigatoriedade do uso de máscara em todo o estado, delegando a aplicação de tais políticas às cidades e municípios, o que equivale a uma forma criminosa de negligência.

Desde quinta-feira, o estado no sudoeste dos EUA atingiu 85% de ocupação dos leitos de internação. O número de leitos hospitalares utilizados por pacientes da COVID-19 passou de 1.667 na quarta-feira para 1.832 em 24 horas.

Em entrevista na quarta-feira ao Wall Street Journal, o presidente Trump declarou: "Pessoalmente acho que os testes são superestimados, mesmo tendo criado a maior máquina de testes da história", acrescentando em seguida, ao falar do aumento dos casos confirmados que, "em muitos aspectos, isso nos dá uma má aparência".

Tamanho sentimento de desdém é contrariado pelo do Dr. Ashish Jha do Harvard Global Health Institute, que recentemente disse à CNN: "Podemos ter encerrado nossas assuntos com a pandemia, mas a pandemia não encerrou seus assuntos conosco".

Não só o governo Trump atrasou a tomada de medidas imediatas para combater a pandemia, custando enormes contingentes de mortes desnecessárias, mas por todos os lados do país a reabertura prematura exigida por Trump levará a uma aceleração dessas mortes e à nova inundação do sistema de saúde exaurido.

Para dar uma dimensão quantitativa da magnitude dessa negligência maligna, um estudo recente que comparou a resposta dos Estados Unidos à pandemia com a de outros países como Coreia do Sul, Austrália, Alemanha e Cingapura, concluiu que 70% a 99% dos americanos que morreram devido ao vírus poderiam ter sido salvos.

Em um artigo de opinião no Stat News, os pesquisadores Isaac e James Sebenius observaram: "Devido à propagação exponencial do vírus, nosso atraso em agir foi devastador. Em decorrência da reação dos EUA, 117.858 norte-americanos morreram nos quatro meses seguintes aos primeiros 15 casos confirmados. Após um período equivalente... ao aumentar a população alemã de 83,7 milhões para 331 milhões de norte-americanos, uma Alemanha do tamanho dos EUA teria sofrido 35.049 mortes na COVID-19".

O estudo observa que a resposta dos EUA nos primeiros 14 dias a partir da data do décimo quinto caso confirmado ficou "milhas" atrás dos países mencionados. Estima-se que 99% das 120.000 mortes de COVID-19 poderiam ter sido evitadas se os EUA tivessem lidado com o surto com a mesma eficiência desses outros países.

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