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Perspectivas

Por uma ação internacional da classe trabalhadora contra a pandemia de COVID-19!

Publicado originalmente em 23 de junho de 2020

A pandemia do coronavírus está saindo de controle. Seis meses após o primeiro caso de COVID-19, os novos casos estão em níveis recordes. Como consequência direta das ações dos governos de todo o mundo, que combinam indiferença, incompetência e uma política deliberada, a situação já dramática está piorando.

A pandemia de COVID-19 é uma catástrofe global, cujo impacto na história do século XXI não será menor do que o impacto da Primeira Guerra Mundial no século XX.

A experiência dos últimos cinco meses deixou claro que a resposta dos principais governos capitalistas – com os Estados Unidos à frente – foi desastrosa. Os interesses de classe das oligarquias financeiras e corporativas que ditam as políticas imperialistas-capitalistas não permitem uma resposta científica, socialmente progressista, democrática, igualitária e humana à pandemia. A corrida pelo lucro, pela riqueza pessoal e, portanto, a exploração sem limites da classe trabalhadora, tem prioridade absoluta sobre os interesses sociais da esmagadora maioria da população mundial.

Ao entrarmos na última semana de junho, mais de 450 mil pessoas já morreram, de acordo com os números oficiais, o que representa uma subestimação grosseira da realidade. O prematuro e imprudente “retorno ao trabalho” – na verdade, o abandono de qualquer esforço sistemático para conter a propagação do coronavírus – levou rapidamente, como o World Socialist Web Site alertou inúmeras vezes, a um explosivo surto de novas infecções.

Nos Estados Unidos, a pandemia continua se espalhando pelo país, causando um enorme número de mortes. O fato de o país mais rico do mundo – o lar de quase 300 bilionários com uma fortuna combinada de aproximadamente 8 trilhões de dólares – ter registrado o maior número de mortes do que qualquer país do mundo é uma revelação devastadora e incontestável do estado podre da sociedade dos EUA e do fracasso histórico do sistema capitalista.

Desde o início de março, mais de 2,3 milhões de pessoas já foram infectadas nos EUA. O número de mortes já passou de 120 mil. Em 21 de junho, foram registrados 25 mil novos casos, um aumento de 20% em relação a duas semanas atrás. Quase duas dúzias de estados estão registrando um aumento nos casos. Na Califórnia, os novos casos aumentaram 48,3% nas últimas duas semanas; no Texas 114%, Flórida 168%, Arizona 142%, e Geórgia 47%.

Neste ritmo, sem um plano coordenado para deter a propagação do vírus, o número de estadunidenses que terão morrido de COVID-19 até o final do verão poderá chegar a 250 mil. A grande maioria das vítimas serão trabalhadores, sendo que o maior número de vítimas será dos setores mais pobres da classe trabalhadora.

Na Europa Ocidental, que alegou ter detido a propagação da pandemia e que poderia reabrir sua economia com segurança, há perigosos indícios de que a taxa de infecção está novamente crescendo. Mais de 1.300 trabalhadores em um grande abatedouro na Alemanha Ocidental, principalmente trabalhadores imigrantes da Europa Oriental, testaram positivo para a COVID-19 durante o fim de semana. Houve vários surtos em frigoríficos e outras fábricas após o fim das medidas de isolamento social. Particularmente significativa é a continuação da propagação do vírus na Suécia, considerada o modelo da política de “imunidade de rebanho”, onde novos casos aumentaram 22,2% nas últimas duas semanas.

Considerando a enorme pobreza em países com um desenvolvimento capitalista atrasado, historicamente oprimidos pelo imperialismo, a pandemia ameaça sobrecarregar seu limitado sistema de saúde e suas frágeis redes de segurança social.

Novos casos e mortes estão aumentando fortemente no Sul da Ásia. Na Índia, há agora 440.000 casos registrados e 14.000 mortes. Em 21 de junho, houve 11.484 novos casos, segundo o Stat News, 32,8% a mais do que há duas semanas. O número de novas mortes subiu 88,5% no mesmo período. Em Nova Déli, capital do país, os novos casos aumentaram 87,6%. Os hospitais da cidade estão superlotados e as pessoas estão morrendo de outras doenças porque não podem ser tratadas.

No Paquistão, com 3.590 mortes registradas, o número de novos casos aumentou 63,6% nas últimas duas semanas, e o número de mortes aumentou quase 70%. Em Bangladesh, o número de novos casos aumentou 43,6%, e o número de novas mortes 33%. O número total de casos superou 115.000 em Bangladesh, com mais de 1.500 mortes.

Na África, foram 98 dias do primeiro caso registrado até os 100.000 casos, mas foram apenas 18 dias para dobrar de 100.000 para 200.000 casos. Existem agora mais de 100.000 casos só na África do Sul, com o número de novos casos aumentando 86% nas últimas duas semanas. Há mais de 50.000 casos no Egito, com um aumento de 22,2% de novos casos nas últimas duas semanas.

A pandemia está causando um grande impacto na América Latina. No Brasil, onde o presidente fascista do país, Jair Bolsonaro, rejeitou qualquer medida para deter o vírus, houve mais de 1,1 milhão de casos registrados, o segundo maior número do mundo. Foram registrados quase 30 mil novos casos em 21 de junho, 30% a mais do que há duas semanas. Mais de 51 mil pessoas morreram, com mais de 1.000 mortes diárias. No estado mais atingido, São Paulo, mais de 220 mil pessoas foram infectadas, com o número de novos casos aumentando 32,7% em relação a duas semanas atrás.

No México, já são mais de 180 mil casos registrados, com 21.825 mortes. Os novos casos subiram mais de 100% em relação a duas semanas atrás, com as mortes crescendo 155% no mesmo período. No Chile, os novos casos subiram 66,7%, enquanto no Equador os novos casos aumentaram 20% em relação a duas semanas atrás.

A catástrofe global que está se desenvolvendo é o resultado direto das políticas adotadas pela classe dominante. Quando foi proposto pela primeira vez, o programa de “imunidade de rebanho” foi amplamente considerado desumano e imprudente. Foi condenado universalmente por cientistas e epidemiologistas. Mas agora tem sido adotado por governos de todo o mundo. Como reconheceu um analista, a política para a pandemia de COVID-19 é agora “deixá-la destruir”.

Desde o início, a resposta da administração Trump e de outros governos mundiais foi ditada não pela saúde e segurança públicas, mas pelos interesses da oligarquia corporativa e financeira. Depois de trilhões de dólares terem sido injetados em Wall Street a partir do final de março, uma campanha foi imediatamente iniciada para acabar com todas as restrições à propagação do coronavírus.

O objetivo da classe dominante é explorar a situação para cortar salários, aumentar a exploração, impor medidas drásticas de austeridade para pagar o resgate dos ricos e realizar uma reestruturação fundamental das relações de classe em escala mundial. O abismo entre os interesses da oligarquia financeira e a grande maioria da população encontra expressão grotesca na contínua ascensão dos mercados de ações e de capitais durante a pandemia – o equivalente contemporâneo da lucratividade da guerra.

A implementação de medidas necessárias para deter o coronavírus depende da intervenção da classe trabalhadora internacional. Todas as ações necessárias para deter o vírus - o fechamento da produção não essencial, a quarentena, os testes em massa e o rastreamento de contatos – são contra os interesses de lucro da classe dominante. Garantir apoio a todos aqueles afetados por essas medidas requer um imenso redirecionamento de recursos sociais.

Além disso, um combate eficaz contra a pandemia exige a coordenação sistemática de recursos econômicos, científicos, industriais e de informação. Essa colaboração internacional essencial é impossível sob o capitalismo, que está enraizado no sistema de estado-nação. A classe dominante de cada país está preocupada, acima de tudo, com seus próprios interesses nacionais.

As empresas farmacêuticas competem entre si, protegendo seus “segredos industriais” ao invés de compartilhar informações que podem, por meio do esforço coletivo, facilitar o desenvolvimento de técnicas de tratamento eficazes e, eventualmente, de uma vacina contra a COVID-19.

A saída da administração Trump da Organização Mundial da Saúde é um exemplo gritante do caráter destrutivo da política imperialista nacional. Mas ainda mais perigoso é o esforço cínico, em busca de vantagem geopolítica, de culpar a China pela pandemia e assim legitimar os preparativos dos Estados Unidos para a guerra contra seu principal rival.

O que deve ser feito para deter a pandemia e salvar milhões de vidas?

O controle da resposta à pandemia deve ser tirado das mãos da classe capitalista. Uma ação em massa da classe trabalhadora, coordenada em escala internacional, é necessária para colocar a pandemia sob controle e salvar milhões de vidas que agora estão em risco. A luta contra a pandemia não é apenas, ou mesmo principalmente, uma questão médica. É, acima de tudo, uma questão de luta social e política.

O potencial para o desenvolvimento de tal movimento surge da lógica da própria crise.

A oposição está se acumulando na classe trabalhadora em todo o mundo. Cresce a raiva diante da ausência de qualquer plano sistemático para controlar a pandemia, do estado desastrosamente inadequado dos serviços de saúde, das condições inseguras de trabalho que colocam em risco inúmeras vidas, da recusa dos governos capitalistas em oferecer a necessária assistência social aos milhões que perderam seus empregos, da crescente desigualdade social, do crescimento implacável do militarismo e da escalada dos ataques aos direitos democráticos fundamentais.

A classe dominante está consciente que a classe trabalhadora está se radicalizando politicamente. Os ataques de Trump contra os “extremistas de esquerda” e sua tentativa de mobilizar os militares contra os manifestantes devem ser tomados como um aviso.

A crescente raiva social, que encontrou expressão inicial na erupção de protestos contra o assassinato de George Floyd em Minnesota e outros casos de brutalidade policial, deve se desenvolver em um movimento global da classe trabalhadora contra o capitalismo e pelo socialismo.

Quando os defensores da classe dominante insistem dizendo que “A cura não pode ser pior que a doença”, os trabalhadores devem responder que a doença social subjacente é o capitalismo, a pandemia é o sintoma dessa doença e a cura é o socialismo.

A enorme riqueza acumulada pelos ricos deve ser confiscada e redirecionada para financiar medidas de emergência para deter a pandemia e proporcionar plena renda aos atingidos. Os gigantescos bancos e corporações devem ser colocados sob o controle democrático da classe trabalhadora e geridos a partir de um plano racional e científico. Os enormes recursos desperdiçados em guerras e na destruição devem ser direcionados para financiar a saúde, a educação e outras necessidades sociais.

O Comitê Internacional da Quarta Internacional está convencido que um poderoso movimento revolucionário da classe trabalhadora está em desenvolvimento. A tarefa do CIQI é auxiliar esse movimento, fornecendo a direção tática, estratégica e programática essencial. Mas esta é uma tarefa imensa que requer a construção de seções da Quarta Internacional em todos os países. Fazemos um chamado à classe trabalhadora, aos estudantes e a todos aqueles que reconhecem a necessidade da reorganização socialista do mundo com o objetivo de garantir um futuro à humanidade para que se juntem a nós nesta luta.

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