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Perspectivas

EUA aceleram campanha de guerra contra a China

Publicado originalmente em 8 de julho de 2020

A presença de dois grupos de ataque de porta-aviões dos EUA no Mar do Sul da China realizando exercícios de guerra de “alta intensidade” a partir de sábado, com aeronaves decolando 24 horas por dia, é apenas a demonstração mais clara até hoje da avançada preparação da administração Trump para uma guerra contra a China. O fato de as operações com os dois porta-aviões terem sido programadas para coincidir com os exercícios navais chineses nas mesmas águas estratégicas torna a ação dos EUA ainda mais provocadora e perigosa.

A pandemia de COVID-19 exacerbou dramaticamente a crise do capitalismo global, centrada nos Estados Unidos, e todas as suas contradições fundamentais, levando a um aumento ainda mais rápido das tensões geopolíticas. Enfrentando uma profunda crise social e econômica doméstica, com a oposição da classe trabalhadora crescendo contra a imprudente campanha de retorno ao trabalho, Trump está procurando desviar as tensões sociais em direção a um inimigo externo.

Trump, apoiado pelos democratas e pelo establishment da mídia, está procurando criar um clima de guerra através de uma campanha implacável de propaganda contra a China baseada em mentiras e desinformação. Sem qualquer evidência, as altas autoridades do governo frequentemente culpam a China pela pandemia do coronavírus e pelo enorme número de mortos nos EUA, cuja responsabilidade recai apenas sobre a negligência criminosa e a indiferença da Casa Branca.

A fragata de mísseis guiados HMAS Parramatta (FFH 154) da Marinha Real Australiana, à esquerda, navega com o navio de assalto anfíbio USS America (LHA 6) da Marinha dos EUA, o cruzador de mísseis guiados da classe Ticonderoga USS Bunker Hill (CG 52) e o destroier de mísseis guiados da classe Arleigh-Burke USS Barry (DDG 52). (Foto do especialista em comunicação de massa de 3ª classe, Nicholas Huynh)

A campanha contra a China possui várias frentes. Os EUA intensificaram suas denúncias contra Pequim pelos abusos aos “direitos humanos” em Hong Kong e por suas ações contra a minoria muçulmana Uyghur na província chinesa de Xinjiang.

Os EUA já impuseram sanções punitivas contra a China por causa dessas questões. A hipocrisia da administração Trump é reforçada por sua tentativa de enviar os militares e a Guarda Nacional, contra a Constituição dos EUA, para reprimir violentamente os protestos contra os assassinatos policiais nos Estados Unidos. Mais uma vez, como com suas guerras criminosas no Oriente Médio, Washington está procurando explorar os “direitos humanos” para levar adiante sua guerra econômica e aumentar sua escalada militar contra a China.

A pandemia de COVID-19 não é a causa fundamental do impulso de guerra dos EUA, mas está acelerando processos de longa data. O governo Obama anunciou seu “pivô para a Ásia” em 2011 dirigido contra a China, que envolveu uma agressiva ofensiva diplomática para minar a influência chinesa em todo o Indo-Pacífico e no mundo, com o objetivo de isolar a China através da Parceria Transpacífico (TPP) e construir e reestruturar a presença militar dos EUA em toda a região. Obama inflamou de maneira imprudente perigosos pontos de conflito na região, incluindo o Mar do Sul da China e a Península Coreana.

A administração Trump tem intensificado o impulso para a guerra contra a China. Embora tenha abandonado a TPP, Trump iniciou uma guerra econômica em larga escala contra a China, impondo uma série de tarifas punitivas a praticamente todos os produtos chineses, a maioria das quais continuam até hoje. Ele exigiu não apenas maiores exportações e investimentos dos EUA na China, mas a subordinação do país aos EUA em indústrias de alta tecnologia. O nacionalismo econômico de Trump e a insistência de que as cadeias de fornecimento, especialmente as cruciais para os militares, têm que ser sediadas nos EUA são uma preparação econômica para a guerra.

Utilizando o pretexto de proteger a propriedade intelectual dos Estados Unidos e impedir a espionagem da China, Washington tem como alvo a gigante chinesa de telecomunicações Huawei. Os EUA pressionaram aliados como o Reino Unido a não utilizar os equipamentos da Huawei e ameaçou com sanções as empresas que forneciam componentes-chave à Huawei. Enquanto os EUA alegam sem provas que a China realiza espionagem e hacking, suas próprias agências de inteligência como a NSA, como revelado pelo denunciante Edward Snowden, espionam a população mundial maciçamente, incluindo seus próprios cidadãos.

A administração Trump também tem como alvo estudantes e pesquisadores chineses nos EUA, impondo duras restrições de entrada. Agora ameaça deportar milhares de estudantes se eles estiverem matriculados apenas em cursos universitários on-line devido às medidas contra a COVID-19. A Casa Branca está ampliando suas restrições à mídia chinesa operando nos EUA, com mais quatro organizações consideradas no mês passado “missões estrangeiras”.

Os preparativos militares para a guerra também estão avançando a passos largos. Obama estabeleceu a meta até 2020 de enviar 60% dos navios e aviões de guerra dos EUA para o Indo-Pacífico. Sob Trump, o Pentágono anunciou em 2018 que a competição entre grandes potências, não a “guerra ao terror”, era sua prioridade máxima, com a Rússia e a China identificadas como seus principais rivais. O fato de a China ser o foco do alvo das ações dos EUA é uma expressão da posição dos círculos estratégicos estadunidenses de que a extraordinária expansão econômica da China representa a principal ameaça à continuidade do domínio global do imperialismo dos EUA.

Preparando-se para um conflito militar, os EUA têm fortalecido alianças militares e parcerias estratégicas em todo o Indo-Pacífico, em particular a chamada “Quad”, que incluí o Japão, a Austrália e a Índia.

O caráter imprudente da campanha dos EUA contra a China pode ser visto de maneira mais claro no recente confronto militar por causa de disputas fronteiriças entre a China e a Índia. Neste perigoso impasse entre potências com armas nucleares, o chefe de gabinete de Trump, Mark Meadows, se posicionou inequivocamente ao lado da Índia declarando na segunda-feira: “Não vamos ficar parados e deixar a China ou qualquer outro país se tornar a força mais poderosa e dominante, seja naquela região ou aqui”.

Todos os preparativos para uma guerra dos EUA contra a China, que se transformaria rapidamente em uma catastrófica guerra mundial, estão muito avançados. Qualquer potencial ponto de conflito, seja no Mar do Sul da China ou nas fronteiras da Índia com a China, poderia levar a um incidente, seja acidental ou deliberado, que proporcionaria uma justificativa de guerra para um presidente dos EUA sitiado em casa.

A única força social capaz de deter o salto precipitado rumo à guerra mundial é a classe trabalhadora internacional. Em 2016, o Comitê Internacional da Quarta Internacional publicou a declaração “Socialismo e a luta contra a guerra”, que chamou os trabalhadores e a juventude de todo o mundo a construir um movimento unificado contra a guerra. Os perigos identificados nessa declaração se tornaram mais agudos nos últimos quatro anos e, portanto, é urgente construir tal movimento.

A declaração destacou os princípios fundamentais que devem formar a base política para unir a classe trabalhadora contra a guerra:

• A luta contra a guerra deve basear-se na classe trabalhadora, a grande força revolucionária da sociedade, unindo por trás dela todos os elementos progressistas da população.

• O novo movimento antiguerra deve ser anticapitalista e socialista, pois não pode haver luta séria contra a guerra a não ser na luta para acabar com a ditadura do capital financeiro e acabar com o sistema econômico que é a causa fundamental do militarismo e da guerra.

• O novo movimento antiguerra deve, portanto, por necessidade, ser completa e inequivocamente independente e hostil a todos os partidos e organizações políticas da classe capitalista.

• O novo movimento antiguerra deve, acima de tudo, ser internacional, mobilizando o vasto poder da classe trabalhadora em uma luta global unificada contra o imperialismo.

Essa é a tarefa à qual os trabalhadores e os jovens de hoje devem se voltar para garantir o futuro da humanidade.

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