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Site Révolution permanente do NPA francês saúda golpe pró-imperialista no Mali

Publicado originalmente em 25 de agosto de 2020

A crescente oposição popular no Mali contra a ocupação francesa do país está expondo o charlatanismo pequeno-burguês do Novo Partido Anticapitalista (NPA). Em 18 de agosto, em meio a protestos crescentes, uma junta de militares do exército do Mali derrubou o presidente Ibrahim Boubacar Keïta e declarou sua lealdade à força de ocupação francesa. O site Révolution permanente do NPA, ligado ao Partido dos Trabalhadores Socialistas (PTS) da Argentina, reagiu saudando este golpe de estado pró-imperialista.

Em seu artigo, Philippe Alcoy escreveu: “O golpe foi recebido com enorme alegria nas ruas de Bamako. Por enquanto, em todo caso. De fato, este grupo de oficiais diz que quer uma ‘transição política civil que conduza a eleições gerais confiáveis’ com um ‘atraso razoável’. Os golpistas declaram que tomaram a decisão de agir porque o ‘Mali está afundando dia a dia no caos, na anarquia e na insegurança por culpa dos homens responsáveis por seu destino’.”

Embora Alcoy repudie brevemente as “medidas repressivas da junta, como a instalação de um toque de recolher e o fechamento das fronteiras”, ele ainda assim apresenta o golpe como o início de uma revolução. Ele afirma que o golpe é “liderado sem dúvida por frações das classes dominantes e do exército que agiram sem o consentimento do governo francês”. Ele até se refere à conhecida reação do socialdemocrata Marceau Pivert à greve geral francesa de 1936: “Tudo é possível!”

Segundo ele, “Mas uma coisa é certa: a França e seus aliados temem que o golpe em Mali possa abrir o caminho para situações semelhantes em países da região que estão dilacerados pelos mesmos problemas políticos, sociais e econômicos. ... Para o analista da Costa do Marfim Franck Hermann Ekra, cujos comentários foram reproduzidos pelo jornal Libération, é ‘como se um modelo maliense tivesse acabado de nascer. E assim, inclusive nos países vizinhos, todos sentem agora que podem pensar que ‘tudo é possível’ e comparar o que aconteceu no Mali com uma oposição semelhante aos governos estabelecidos em seus países.’”

Isso é um absurdo político. O imperialismo francês não teme o golpe de estado no Mali, de cuja preparação foi, sem dúvida, bem informado. Além disso, uma onda de tais golpes por toda a África não constituiria uma revolução, mas uma contrarrevolução neocolonial.

Uma onda histórica de greves e protestos está sem dúvida se espalhando por toda a África. Greves de professores e trabalhadores ferroviários no Mali; protestos de massas em 2019 contra o regime militar argelino; protestos na Costa do Marfim contra o presidente Alassane Ouattara, que chegou ao poder através de uma intervenção militar francesa em 2011; e protestos contra Keïta refletem uma crescente explosão de raiva entre os trabalhadores e as massas oprimidas na África contra o imperialismo.

No Mali, aconteceram protestos durante meses contra a ocupação francesa, iniciada em 2013, e os massacres étnicos entre milícias rivais que Paris tolera e usa para dividir e governar o país.

Paris apoia o golpe no Mali, no entanto, porque ele é contra os protestos antiguerra da juventude e dos trabalhadores no país. Como o golpe de 2012 que abriu caminho para a invasão francesa de 2013, o golpe de 2020 começou na base militar de Kita; e o General Ibrahim Dahirou Dembélé, que foi condecorado por seus serviços à segurança nacional francesa, foi novamente um de seus líderes. Quando tomaram o poder, os líderes do golpe de estado fizeram uma clara declaração.

Eles fizeram um chamado para o exército maliense continuar trabalhando com as tropas francesas (Operação Barkhane), seus aliados europeus (Takuba), seus auxiliares da ONU (Minusma) e dos países do Sahel (G5 Sahel). Eles declararam: “A Minusma, a força Barkhane, o G5 Sahel, a força Takuba ainda são nossos parceiros para a estabilidade e a restauração da segurança”. Nós pedimos a vocês, nossos irmãos de armas, que continuem cumprindo suas missões operacionais e de lei e ordem”.

Por sua vez, o presidente Emmanuel Macron criticou brevemente o golpe de estado antes de indicar que o exército francês estava feliz em trabalhar com a nova junta: “Não precisamos nos substituir à soberania maliense. ... Nada deve nos desviar da luta contra os jihadistas.”

De maneira significativa, o Révolution permanente está em silêncio sobre o papel de Oumar Moriko, líder do partido Solidariedade Africana para a Democracia e a Independência (SADI), com o qual o NPA há muito tempo colabora, chamando-o de “partido historicamente inspirado no marxismo-leninismo”.

Por volta do meio-dia do dia do golpe, Moriko lançou um apelo aos jovens da capital, Bamako, para apoiar os golpistas, que estavam na defensiva contra as tropas leais a Keïta. Estes apelos foram repetidos por todo o Movimento 5 de Junho – União das Forças Patrióticas (M5-RFP) liderado pelo imã Mahmoud Dicko, do qual o SADI faz parte. Agora, com seu apoio, a junta maliense está sem dúvida discutindo como estrangular a oposição cada vez maior contra a ocupação francesa.

À medida que camadas cada vez mais amplas de trabalhadores e jovens na África entram em luta, o Révolution permanente está fazendo tudo o que pode para empurrá-los por trás do imperialismo e da contrarrevolução. Isso é um alerta para os trabalhadores na África, na França e no mundo inteiro. Combater a opressão imperialista dos antigos países coloniais e a austeridade policial-estatal na Europa, exige a construção de um movimento internacionalista marxista, ou seja, trotskista na classe trabalhadora para combater as mentiras e ilusões populistas promovidas por partidos pequeno-burgueses abastados como o NPA.

Os líderes estudantis de classe média da geração de 1968 criaram o NPA em 2009 para quebrar qualquer vínculo simbólico residual que esses antigos “Trotsko-Guevaristas” possuíam com a imagem de Trotsky, o co-líder da Revolução de Outubro e fundador da Quarta Internacional. Integrados nas operações do Partido Socialista (PS), representante de grandes empresas e que por décadas realizou golpes e guerras na África, eles são apoiadores incondicionais do imperialismo contra a classe trabalhadora.

Nas guerras da OTAN na Líbia e na Síria lançadas em 2011, o candidato do NPA Olivier Besancenot exigiu repetidamente que o exército francês armasse “rebeldes” islâmicos contra os regimes existentes. Assim, o NPA está envolvido em guerras que já custaram centenas de milhares de vidas e transformaram mais de 10 milhões de pessoas em refugiados. Agora o Révolution permanente – que às vezes tentou se dar um verniz de “esquerda” ao criticar desonestamente o que chamou de “a guerra imperialista na devastada Líbia”, sem se referir ao papel desempenhado pelo NPA – está novamente apoiando as operações francesas no Mali.

Depois que a França invadiu Mali, o WSWS explicou os interesses materiais de classe que sustentam o apoio tanto do SADI quanto do NPA para a guerra, que o NPA criticou moderadamente no início. Não há muito a acrescentar a esta análise do papel do NPA:

“As guerras da França são de fato atos imundos de pilhagem imperialista, pelos quais os trabalhadores na França também pagam através do aumento dos impostos e de novos cortes sociais. Elas têm como objetivo impulsionar a posição estratégica de Paris e os lucros de suas corporações petrolíferas e bancos. Mas esta é também a fonte do fluxo de caixa que a burguesia dirige – através de seu financiamento da burocracia sindical, de programas nos meios de comunicação e de bolsas para acadêmicos ‘de esquerda’ – para forças pseudoesquerdistas como o NPA.”

Isso também explica os interesses de classe por trás da promoção do Révolution permanente dos golpistas malienses em Bamako. O golpe de estado e a intervenção do SADI estão preparando a repressão e a violência contra a oposição à guerra francesa entre trabalhadores e jovens. Alcoy acrescenta, portanto, algumas frases vazias tentando se distanciar da junta que ele promoveu ao longo de seu artigo:

“E assim para os trabalhadores e as classes mais pobres do Mali, seria um erro fatal colocar suas esperanças de emancipação e de uma vida digna nesta junta militar. Seria igualmente catastrófico depositar confiança na coalizão M5-RFP, que está cheia de figuras reacionárias, ou nas organizações islâmicas. E é evidente que seu pior inimigo continua sendo o imperialismo, notadamente em sua forma mais abertamente militarista. Todas estas forças são inimigas dos explorados e oprimidos no Mali e em todo o continente africano.”

Há apenas algumas forças a acrescentar a essa lista vergonhosa: é preciso dizer que dentro da coalizão M5-RFP o elemento mais cínico é o partido SADI e seu aliado francês, o NPA, dentro do qual os charlatães mais desavergonhados são os partidários do Révolution permanente. Para construir um movimento internacional contra o imperialismo, os trabalhadores do Mali e da África, como os da França e da Europa, precisam construir partidos trotskistas, seções do Comitê Internacional da Quarta Internacional, em luta contra a pseudoesquerda pequeno-burguesa.

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