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Uma resposta aos morenistas sobre o apoio à militarização das eleições brasileiras

Publicado originalmente em 30 de outubro de 2020

O World Socialist Web Site recebeu a seguinte carta de um líder do MRT (Movimento Revolucionário de Trabalhadores), o afiliado brasileiro "Fração Trotskista" morenista, que inclui o PTS (Partido dos Trabalhadores Socialistas) da Argentina e a tendência Révolution Permanente do NPA francês. A carta critica um artigo do WSWS de 27 de outubro intitulado "Morenistas brasileiros apoiam partidos pró-militares em eleições municipais(https://www.wsws.org/pt/articles/2020/10/30/braz-o30.html)", que revelou a cumplicidade do MRT na campanha eleitoral pró-militares conduzida pela maior das formações da pseudoesquerda brasileira, o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). O autor da carta é André Barbieri, editor do site do MRT, o Esquerda Diário. Ela é seguida por uma resposta do Grupo Socialista pela Igualdade (Brasil).

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"Alguém sequer ouve o que esses lunáticos do WSWS dizem? Para mim foi uma experiência arqueológica. Depois de décadas de degeneração pura, de separação total da classe trabalhadora e de uma clara oposição à luta antirracista - que tornou o WSWS irrelevante na luta de classe nos EUA - eles tentam sua sorte com calúnias contra a Fração Trotskista. É risível. Os healistas dizem que o MRT 'coopera' com a militarização da política no Brasil. Como eles não têm nenhum trabalho no Brasil - ou em qualquer lugar fora do escritório de David North, de modo geral - o WSWS precisa esconder que o MRT é a única organização de esquerda em solo brasileiro que trava uma luta de princípios contra a polícia (inclusive nos EUA, com o Left Voice) e a militarização da política, com a qual o PT e o PSOL realmente colaboram. O WSWS é, obviamente, obrigado a reconhecer que o MRT retirou seus candidatos no Rio de Janeiro, repudiando a participação de um militar na candidatura do PSOL à prefeitura. Como disse Trotsky à luz da estupidez dos stalinistas, até mesmo as calúnias devem ter algum grau de lógica. Que desempenho patético dessa tendência política cadavérica o WSWS representa, tentando ressuscitar com lutas episódicas pela vida através de difamações de tipo stalinista. Que a terra seja leve para essa gente".

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O fúria caluniosa de Barbieri é uma medida precisa da prática política do MRT. Como diz o ditado, "o estilo é o homem", e o estilo de Barbieri é um estilo de vociferações vazias e insultos que revelam muito sobre sua própria organização.

Ele pergunta no início "Alguém sequer ouve o que estes lunáticos do WSWS dizem? Sua própria ofensa rabiscada apressadamente é ampla evidência de que de fato o fazem, e que o MRT é extremamente sensível ao que o WSWS está dizendo sobre ele. Desde o relançamento do WSWS em 2 de outubro, ele já teve mais de 2,5 milhões de leitores em todo o mundo, incluindo uma audiência crescente no Brasil.

Quanto às afirmações de que o WSWS caluniou e difamou o MRT, a mensagem de Barbieri serve apenas para confirmar a substância de nosso artigo original no qual declaramos que os morenistas brasileiros estão "estão alinhados às campanhas pró-militares encabeçadas pela autodeclarada oposição ao presidente fascistoide Jair Bolsonaro, incluindo a maior organização da pseudoesquerda no Brasil, o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL)", por cuja legenda eleitoral o MRT está apresentando candidatos nas eleições municipais de novembro no Brasil.

Barbieri afirma que isto é uma calúnia porque o MRT retirou seus candidatos nas eleições municipais do Rio de Janeiro, onde o PSOL realizou seu giro mais escandalosos para as forças militares e policiais, escolhendo o Coronel da Polícia Militar Íbis Souza, ex-Comandante Geral da Polícia Militar do Rio, que mata cerca de 1.800 pessoas por ano, para vice-prefeito.

Os morenistas calcularam cinicamente que a participação na campanha do Rio prejudicaria sua missão política central, que é a de fornecer uma cobertura de esquerda para o PSOL.

Mas a campanha do Rio não é um mero erro ou aberração. O PSOL está concorrendo com nada menos que 26 candidatos militares ou policiais em todo o país. Em São Paulo, onde o MRT está fazendo sua principal campanha municipal, o candidato a prefeito do PSOL, o charlatão anti-marxista Guilherme Boulos, reuniu-se com o sindicato da Guarda Civil de São Paulo na semana passada e prometeu que, se eleito, contrataria mais 2.000 agentes. O MRT respondeu a este apoio a um fortalecimento das forças policiais por seu companheiro de chapa Boulos dizendo que queria "abrir um debate sobre o equívoco dessa perspectiva".

Enquanto o MRT fornece ao PSOL uma cobertura de esquerda, o próprio PSOL é apenas a ala esquerda de um giro pró-militar do Partido dos Trabalhadores, que lançou 126 candidatos policiais e militares, e de todos os outros partidos do establishment político burguês do Brasil.

Um esquadrão do Batalhão de Operações Policiais Especiais do Rio de Janeiro depois de uma operação que deixou 13 mortos

O próprio Barbieri reconhece que o PSOL "realmente colabora" com a "polícia e a militarização da política", mas alega que o MRT está travando "uma luta de princípios" ao retirar uma única candidatura no Rio de Janeiro, enquanto continua a apoiar o partido em todas as outras partes do país. De fato, a avaliação franca de Barbieri do PSOL como uma organização sem princípios e pró-militar em sua carta ao WSWS é uma formulação que o MRT esconde do público enquanto promove incessantemente o PSOL e minimiza suas políticas de direita mais flagrantes como "erros".

O fato de o MRT não estar totalmente integrado ao PSOL não se dá por falta de tentativa. De 2013 a 2017, o MRT dirigiu todos os seus esforços para entrar no PSOL, cuja direção decidiu que isso não valia a pena, uma vez que os morenistas estavam fornecendo-lhes uma cobertura de esquerda de qualquer maneira.

Em 2017, ao final desta tentativa fracassada de liquidar o grupo no PSOL, a líder da MRT Diana Assunção escreveu um artigo pateticamente intitulado: "Por que a direção do PSOL nega a entrada do MRT?” Nele ela reconheceu que os dirigentes do MRT "não somente não colocamos nenhum tipo de condição organizativa, como informamos a todos os dirigentes do PSOL com quem nos reunimos que não exigiríamos inclusive a participação em organismos de direção do partido num primeiro momento, caso lhes parecesse que isso poderia alterar a correlação de forças interna construída pelas correntes". Em outras palavras, em negociações de bastidores com a direção do PSOL, os morenistas prometeram se subordinar à política de direita e oportunista do PSOL em troca de possíveis vagas em sua campanha eleitoral.

Neste sentido, o MRT estava apenas seguindo os passos históricos do fundador de sua tendência revisionista, Nahuel Moreno, da Argentina, e seus seguidores brasileiros da Convergência Socialista, que adotaram uma política de entrismo no Partido dos Trabalhadores (PT). Desde as origens mesmas do PT, eles trabalharam - até o momento de sua expulsão sumária - para construir um partido que se tornou o instrumento de governo preferido da burguesia brasileira, enquanto traía e atacava os interesses da classe trabalhadora brasileira.

Hoje, o MRT desempenha essencialmente o mesmo papel em relação ao PSOL - uma cisão parlamentar do PT - chamando os trabalhadores e a juventude a "apostar tudo" para empurrar este partido podre para a esquerda.

Este mesmo papel é desempenhado por todos os grupos filiados à "Fração Trotskista" morenista. Seu compromisso político com a subordinação da classe trabalhadora aos partidos burgueses e ao Estado capitalista encontrou sua expressão mais nua na recente celebração da vitória do MAS na Bolívia, no Izquierda Diario.

O site saudou as perspectivas eleitorais do democrata Joe Biden, o político imperialista veterano, declarando: "Esta derrota da direita continental poderia se ampliar se como tudo indica, Trump perder as eleições em 3 de novembro". Há uma lógica política interna definida nesta avaliação, dado que o grupo dos morenistas nos EUA, Left Voice, está orientado a empurrar para a esquerda os Socialistas Democráticos da América (DSA), que por sua vez é uma fração do Partido Democrata que apoia Biden.

O que enfurece o MRT no artigo do WSWS não é que ele tenha mentido sobre suas políticas - ele não o fez - mas que ele tenha ousado submeter suas negociatas eleitorais nacionalistas pequeno-burguesas no Brasil a uma crítica objetiva baseada na perspectiva de um partido revolucionário genuinamente internacional da classe trabalhadora.

A acusação de Barbieri de que o WSWS é "irrelevante" tem uma lógica clara do ponto de vista da política da tendência que ele representa. É uma organização da pseudo-esquerda pequeno-burguesa, que se orienta para os interesses dos 10% mais ricos que constituem a base principal do PSOL, composta por setores da classe média alta de profissionais liberais cada vez mais abastados, estudantes de pós-graduação, acadêmicos, burocratas sindicais e assessores e consultores políticos "esquerdistas". Ela apela a eles com base nas políticas do nacionalismo, raça e gênero. A luta para construir um partido revolucionário baseado na classe trabalhadora e em uma perspectiva de internacionalismo socialista, de fato não só não tem "relevância" para os morenistas, como é um anátema.

Esta é a perspectiva que orienta o trabalho revolucionário que está sendo realizado pelo CIQI e seus apoiadores no Brasil. A afirmação de Barbieri de que "não temos nenhum trabalho no Brasil" é apenas mais uma de suas mentiras. O Grupo Socialista pela Igualdade (SEG) brasileiro ainda é jovem, mas existe e luta. Baseando-se no programa revolucionário defendido pelo CIQI na prolongada batalha contra toda forma de oportunismo político, incluindo as duras traições dos pablistas e morenistas na América Latina, o trabalho do SEG está interagindo com um poderoso ascenso objetivo nas lutas da classe trabalhadora que dará origem a um partido revolucionário no Brasil, uma seção do Comitê Internacional da Quarta Internacional.

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