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Ford encerra operações no Brasil destruindo dezenas de milhares de empregos

Publicado originalmente em 15 de janeiro de 2021

A Ford anunciou em 11 de janeiro que encerrará a produção de automóveis no Brasil, com o fechamento de suas três plantas nas cidades de Camaçari, na Bahia; Taubaté, em São Paulo; e Horizonte, no Ceará. Segundo a Ford, 5.000 trabalhadores serão demitidos no Brasil. Mas dezenas de milhares de outros empregos estão diretamente associados à sua cadeia produtiva, e uma onda de demissões é esperada.

Em um comunicado aos seus clientes brasileiros, a Ford declarou: “Como você sabe, a indústria automotiva global está passando por um processo de transformação impulsionado por novas e emergentes tecnologias em serviços conectados, eletrificação e veículos autônomos, com demandas dos consumidores e itens regulatórios remodelando o mercado”.

Trabalhadores da Ford na frente da fábrica de Taubaté, São Paulo, quinta-feira, 12 de janeiro de 2021, um dia após a Ford Motor Co. anunciar que fechará três plantas no Brasil e encerrará a produção de veículos no país sul-americano onde tem operado desde 1919. (AP Photo/Andre Penner)

Essa reestruturação produtiva é, em outras parlavas, uma massiva destruição de empregos e reduções salariais que está sendo promovida pela Ford e o conjunto da indústria automobilística. A última onda de cortes de empregos e salários foi iniciada há vários anos, sendo escalada em 2018 e 2019 com uma profunda depressão da indústria automobilística já no horizonte.

Em 2018, a Ford anunciou uma reestruturação mundial visando uma redução bilionária de gastos. “O objetivo é dar agilidade à organização. É um processo em cascata. Ele significará uma redução na força de trabalho”, explicou Mark Truby, vice-presidente de comunicações globais da empresa. No ano seguinte, a empresa demitiu 7.000 trabalhadores de colarinho branco e mandou embora 12.000 operários ao fechar cinco plantas europeias.

No Brasil, a Ford fechou uma de suas principais unidades, a fábrica de caminhões em São Bernardo do Campo, em outubro de 2019. Naquela ocasião, 3.000 funcionários diretos e 1.500 terceirizados foram demitidos, sem contar os cerca de 20.000 trabalhadores das empresas de autopeças relacionadas.

O fechamento de postos de trabalho que está sendo promovido pela Ford acompanha outras milhares de demissões realizadas pela indústria automobilística no Brasil no ano passado.

No último mês de dezembro, a Mercedes-Benz anunciou o encerramento da produção de automóveis no Brasil, com a demissão de 370 trabalhadores empregados em sua fábrica de carros de luxo. A Renault-Nissan cortou mais de mil empregos em 2020 e a Volkswagen anunciou que cortaria 35% de sua força de trabalho, tendo aberto um programa de demissão voluntária na última segunda-feira com esse propósito.

O anúncio da Ford de fechamento de suas fábricas foi respondido pelos trabalhadores com protestos. Na terça-feira, trabalhadores diretos e terceirizados do Complexo Industrial Ford Nordeste, em Camaçari, manifestaram-se nos portões da fábrica exigindo a manutenção de seus empregos. Um novo protesto foi realizado no dia seguinte em frente à Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), onde representantes do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari reuniam-se com o presidente da Alba, Nelson Leal.

Em Taubaté, onde são produzidos motores e transmissões, uma manifestação foi realizada na terça-feira. Em assembleia, os trabalhadores definiram uma vigília por tempo indeterminado para bloquear a entrada e saída da fábrica, tanto de pessoas quanto de materiais.

Os sindicatos já estão, por sua vez, preparando abertamente uma traição da resistência dos trabalhadores às demissões e fechamento das fábricas.

O Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari, vinculado à Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB) maoísta, já toma o fechamento da Ford como dado. Segundo o presidente do sindicato e militante do PcdoB, Júlio Bonfim: “[A] saída para que milhares de trabalhadores e trabalhadoras não percam o emprego... [é] a construção de um parque industrial de autopeças... bem como a chegada de outra montadora [que] pode garantir os empregos, os investimentos e, consequentemente, o fluxo intenso na economia da Região Metropolitana”.

Essa visão corporativista é a mesma defendida pelo governador da Bahia, Rui Costa, do Partido dos Trabalhadores (PT), com quem Bonfim está integrando um “grupo de trabalho”, que segundo o próprio sindicato, “busca empresas interessadas em investir no parque industrial onde até então funcionava a sede da Ford Camaçari, considerada a maior planta automotiva na América do Sul.”

O Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté e Região (Sindmetau), ligado à Central Única dos Trabalhadores (CUT) e ao PT, está trabalhando intensamente para desviar a luta dos trabalhadores através de exigências vazias ao Estado. Para cumprir esses propósitos traidores, os principais dirigentes da CUT, incluindo seu presidente, Sérgio Nobre, foram mobilizados para uma assembleia no Sindmetau na quarta-feira.

A principal medida aprovada pela assembleia foi “a realização de uma audiência pública na Assembleia Legislativa”, defendida pelo deputado estadual Teonilio Barba, do PT, que afirmou que “a intenção é buscar um envolvimento maior do governo do estado”. O presidente da CUT também declarou: “Toda pressão é necessária neste momento. O país está se desindustrializando porque o governo está incentivando a desindustrialização”.

Os sindicatos e partidos como o PT e PCdoB, ao tentar desviar a oposição dos trabalhadores a canais do Estado, buscam estabelecer uma oposição ao governo do fascistoide Jair Bolsonaro baseada nos interesses reacionários do capitalismo nacional brasileiro.

Falando a seus apoiadores na porta do Palácio do Planalto, na terça-feira, Bolsonaro disse“[lamentar] os cinco mil empregos perdidos”, mas “faltou a Ford dizer a verdade”. Segundo ele, “querem subsídios”. “Vocês querem que continuem dando R$ 20 bilhões para eles, como fizeram nos últimos anos?”, disse em referência aos incentivos pagos pelo governo brasileiro à Ford desde 1999.

Em resposta a Bolsonaro, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes, declarou que esse incentivos seriam “uma forma de corrigir as distorções do sistema de impostos brasileiro”, reportou O Globo. “Estamos há anos mostrando medidas que precisam ser feitas para melhorar a competitividade no Brasil”, disse Moraes, apontando com centralidade à reforma tributária pró-capitalista.

Os argumentos da Anfavea não são em nada diferentes daqueles dos sindicatos e partidos nacionalistas burgueses como o PT e PCdoB. A CUT e outras centrais sindicais há anos têm como seu programa máximo a criação de programas de incentivo fiscal às empresas, especialmente às automobilísticas. Eles criticam os governos que sucederam o PT no poder por não possuírem um “programa automotivo”, que estimule a competitividade para a produção no Brasil.

Defendendo a mesma perspectiva que a Anfavea, de redução dos impostos à classe capitalista, o governador petista Rui Costa declarou em nota sobre o fechamento da Ford: “Infelizmente, são centenas de indústrias que vão fechando, semana após semana, já que temos um país que não cuida da sua economia, não garante segurança institucional a seus investidores e não faz as reformas necessárias — inclusive a tributária de que tanto precisamos.”

Enquanto brigam pela competitividade do capitalismo brasileiro, os sindicatos estão empregando contra os trabalhadores da Ford os mesmos métodos que utilizaram para afogar a resistência ao fechamento da fábrica de São Bernardo do Campo em 2019.

Naquela ocasião, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, também ligado à CUT, fez de tudo para desgastar a greve de 42 dias, isolando os trabalhadores localmente e impedindo ações independentes. Terminou celebrando um acordo traidor que aceitava o fechamento da fábrica. O sindicato atuou depois praticamente como um representante do grupo Caoa, interessado em comprar a fábrica. Negociou empréstimos bancários para o grupo e ofereceu salários rebaixados para atrair seus investimentos. Apesar disso, as negociações fracassaram.

Os trabalhadores da Ford precisam urgentemente tomar as rédeas deste combate e apontar a outro caminho. É necessário romper com os sindicatos corporativistas, formando comitês de base independentes para unificar a luta entre todas as fábricas e com o conjunto da classe trabalhadora.

É também fundamental superar a perspectiva capitalista e nacionalista defendida pelos sindicatos. Contra os planos malignos de reestruturação global promovido pelas empresas automobilísticas transnacionais, os trabalhadores devem avançar a sua própria estratégia de luta internacionalmente unificada, que é defendida pelo World Socialist Web Site e o Comitê Internacional da Quarta Internacional.

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