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Perspectivas

Não ao racismo e à xenofobia contra asiáticos!

Publicado originalmente em 20 de março de 2021

Os tiroteios em massa em Atlanta, na Geórgia, esta semana, cujas vítimas eram predominantemente de origem asiática, trouxeram à tona a onda de violência contra os asiáticos nos Estados Unidos em meio à implacável demonização da China pelo governo dos EUA.

Homenagem às vítimas do tiroteio em Acworth, na Geórgia, na sexta-feira, 19 de março de 2021. (Crédito: AP Photo/Candice Choi)

Os motivos do atirador permanecem pouco claros, mas, na sequência dos ataques, a classe dominante dos Estados Unidos intensificou seus esforços para fomentar o sentimento anti-China, incluindo apelos abertos por setores do establishment político ao preconceito e à violência contra os asiáticos.

Na quinta-feira, a Comissão Judiciária da Câmara realizou uma audiência sobre “Discriminação e violência contra asiáticos-americanos”, que tinha sido agendada com semanas de antecedência. A declaração de abertura feita pelo mais importante republicano na comissão, o deputado do Texas Chip Roy, foi uma tirada racista e um incitamento aberto à violência. Referindo-se aos chineses como “Chi-Coms”, uma difamação racista, Roy declarou: “Acho que eles são os malvados”.

Ainda segundo ele, “Essa é a realidade do que eu costumo chamar de Chi-Coms. E não vou ter vergonha de dizer que me oponho aos Chi-Coms.”

Ele invocou favoravelmente o legado da lei do linchamento nos Estados Unidos, declarando: “Há velhos ditados no Texas sobre encontrar toda a corda no Texas e conseguir uma árvore de carvalho alta”. Ele exigiu que o governo “reúna os malvados” e “acabe com os malvados”.

Roy disse que a violência contra os asiáticos-americanos estava sendo desproporcional e alegou que aqueles que fazem oposição ao discurso racista estão se engajando em censura.

Ao invés de denunciar o racismo contra os asiáticos, Roy exigiu que o Congresso condenasse a China por “se envolver na escravidão dos tempos modernos”. Ele denunciou a China por “o que eles estão fazendo para fortalecer seus exércitos ... em todo o Pacífico” e acusou o regime chinês de procurar “esconder a realidade deste vírus”, sugerindo que a COVID-19 foi criada como uma arma biológica.

A violenta tirada de Roy enfrentou apenas um protesto moderado dos democratas na comissão. O Presidente Steve Cohen (democrata do Tennessee) respondeu que “os incidentes que mencionei em minha declaração inicial estavam sendo cuspidos, esbofeteados no rosto, incendiados, cortados com um estilete e jogados violentamente no chão. ... Isso não é discurso.”

Segurando as lágrimas, a deputada Grace Meng acusou Roy de “colocar um alvo nas costas dos asiáticos-americanos em todo este país, em nossos avós, em nossos filhos”.

Fora isso, os membros da comissão ficaram em silêncio sobre o incitamento racista de Roy à violência.

Em comentários na sexta-feira após uma reunião com representantes asiáticos-americanos em Atlanta, o Presidente Joe Biden condenou hipocritamente o fato de os asiáticos-americanos estarem sendo os “bodes expiatórios” em conexão com a pandemia de COVID-19. Apesar de suas banalidades sobre “unidade”, Biden continuou e intensificou a demonização da China realizada por seu antecessor.

Placa do Gold Spa, em Atlanta, no dia seguinte à morte de várias pessoas em três spas na região metropolitana de Atlanta. (Crédito: AP Photo/Ben Gray)

Embora tenha renunciado à demagogia grosseiramente racista de Trump, incluindo a designação do novo coronavírus como o “vírus chinês” e da COVID-19 com a “Kung Flu” (“Gripe Kung”), Biden continuou em todos os fundamentos a política beligerante e militarista de Trump em relação à China.

A Casa Branca de Biden expandiu a exclusão de empresas chinesas das bolsas de valores dos EUA, deixou em vigor as tarifas contra a China de Trump e continuou impondo as restrições de Trump aos estudantes chineses.

Ao mesmo tempo, o governo Biden continua promovendo a falsa acusação de Trump de que a China está envolvida em “genocídio” contra sua população muçulmana, bem como a afirmação sem fundamento de que o novo coronavírus pode ter sido criado em um laboratório chinês.

Em toda a imprensa e o establishment político dos EUA, existe um acordo de fato para não discutir a relação entre a ascensão do racismo contra os asiáticos e a corrida de Washington ao “conflito entre grandes potências” contra a China.

Um exemplo disso é o New York Times, que esta semana publicou uma coluna do “observador editorial” declarando que a China representa uma “ameaça” e afirmando que os EUA devem manter uma “vantagem militar e tecnológica”.

No mesmo dia, a edição on-line do Times trazia um editorial intitulado “Asian-Americans Are Scared for a Reason” (“Asiáticos-americanos Estão com Medo por uma Razão”), que condenava “a intolerância e a discriminação”. Mas o editorial não levantou a questão óbvia: A declaração da China como uma “ameaça” e as tentativas de culpá-la pela morte de mais de meio milhão de americanos não constituem um incitamento racista? Fazer a pergunta é respondê-la, afirmativamente.

Toda a história sórdida do racismo contra os asiáticos nos Estados Unidos está intimamente ligada aos objetivos predatórios do imperialismo americano. A Lei de Exclusão Chinesa de 1882 veio em meio ao desmembramento da China pelas potências imperialistas, acompanhada pelo fomento da xenofobia dirigida contra o “perigo amarelo”.

Em 1942, o governo americano ordenou a prisão em campos de concentração de 120.000 japoneses-americanos, alegando que eram uma ameaça à segurança nacional por causa de sua etnia.

Agora, também, o crescimento da violência racista contra os asiáticos-americanos coincide com uma grande escalada do conflito dos EUA contra a China.

Em uma reunião com autoridades chinesas em Anchorage, no Alasca, na sexta-feira, o Secretário de Estado americano Antony Blinken fez uma denúncia furiosa da China que, em essência, ecoou as palavras do deputado republicano Roy, acusando a China de realizar “ciberataques” contra os Estados Unidos e “coerção econômica”.

Em um discurso no mês passado, Blinken identificou a China como o adversário central dos Estados Unidos, declarando a China como o único país com o “poder econômico, diplomático, militar e tecnológico” que pode “desafiar” os Estados Unidos.

Os esforços dos governos Trump e Biden para demonizar a China têm tido um efeito nefasto na consciência pública. Nove em cada dez americanos veem agora a China como um concorrente ou um inimigo em vez de um parceiro, de acordo com uma pesquisa da Pew Research realizada no mês passado. Dois terços dos entrevistados têm “sentimentos frios” em relação a Pequim, contra 46% há apenas dois anos.

Diante do “fato de que tanto os governos republicanos quanto os democratas enquadraram a relação como competição estratégica e destacaram numerosas ameaças que a China tem colocado, não é surpreendente que cada vez mais americanos ... tenham uma visão desfavorável da China”, observou Bonnie Glaser, especialista em China do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.

O objetivo central da promoção do nacionalismo e do chauvinismo é desviar os antagonismos sociais internos para o exterior, tentando fazer de bode expiatório um inimigo externo.

A classe trabalhadora americana deve sair em defesa dos asiáticos-americanos que estão sendo difamados como parte do esforço da classe dominante para dividir a classe trabalhadora enquanto leva adiante sua política homicida de “imunidade de rebanho” em resposta à pandemia.

Mesmo enquanto o mundo permanece sob o domínio da pandemia de COVID-19, os EUA e seus aliados estão concentrando seus esforços não na erradicação do vírus, mas na preparação de uma guerra. O Pentágono solicitou recentemente que se dobre o orçamento para seu comando do Indo-Pacífico, enquanto o governo britânico de Boris Johnson planeja aumentar o número de ogivas nucleares no Reino Unido em 40%.

A luta para erradicar a COVID-19 é inseparável da oposição à guerra, ao racismo e à xenofobia. Os inimigos dos trabalhadores americanos não são seus irmãos e irmãs chineses, mas os oligarcas que lucram com a morte de milhões de pessoas em todo o mundo. Todos os esforços para culpar a China e os asiáticos-americanos pela pandemia, cujo horrível desastre é devido à ganância, ignorância e criminalidade da oligarquia capitalista, devem ser descartados com desprezo.

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