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Boris Johnson, o assassinato social e a luta contra o Partido Trabalhista e a burocracia sindical

O discurso seguinte foi feito por Chris Marsden durante o Ato Online Internacional de Primeiro Maio de 2021, realizado pelo World Socialist Web Site e pelo Comitê Internacional da Quarta Internacional. Marsden é o secretário nacional do Socialist Equality Party (Partido Socialista pela Igualdade) da Inglaterra.

A convocação do Comitê Internacional da Quarta Internacional para a formação de uma Aliança Operária Internacional de Comitês de Base será ouvida em todo o mundo. O que está dito em nossa declaração, reflete com precisão as experiências de vida da classe trabalhadora internacional.

Primeiro, trata do preço mortal da pandemia, da indiferença assassina da elite dominante e de como a classe capitalista está explorando a crise para nos roubar, para intensificar a exploração e destruir vidas e meios de subsistência.

Em segundo lugar, trata do fato de que a social-democracia e os sindicatos encaram os trabalhadores como uma força hostil, uma vez que são agentes da oligarquia financeira e das corporações. É preciso romper com eles.

O odiado primeiro-ministro britânico Boris Johnson enfrenta uma crise depois que violentas disputas dentro de seu governo levaram à revelação de que, no final de outubro do ano passado, durante um debate sobre a introdução de um segundo lockdown parcial de quatro semanas ele esbravejou: "Acabaram-se os malditos lockdowns - deixem os mortos empilharem-se aos milhares"!

Estas palavras são o equivalente moderno das palavras frequentemente atribuídas a Maria Antonieta, diante de agricultores famintos: "Que comam brioches!" Johnson, por outro lado, disse de fato essas palavras, e muito mais.

Já em setembro, ele insistiu que preferia deixar o coronavírus "espalhar-se livremente" do que impor um segundo bloqueio. Ele lamentou ter concordado com o primeiro lockdown, e se comparou com aquele que foi – em sua opinião – o verdadeiro herói em "Tubarão": o prefeito de Amity, que deixou as praias abertas, embora mais e mais pessoas se tornassem vítimas do tubarão como resultado.

É bastante claro que milhões de trabalhadores estão enojados, mas poucos estão chocados. A política preferida do governo dos Conservadores sempre foi a "imunidade de rebanho". Agora que ele foi dissuadido de aplicá-la pela oposição maciça, eles implementam a política do "espalhamento livre" de forma ainda mais obstinada, tendo como resultado que os mortos se amontoarão aos milhares.

A luta contra a pandemia é uma luta política contra os arquitetos deste assassinato social em massa. Eles são responsáveis por um número crescente de mortes, que está em 150.000 vítimas. É também uma luta contra as corporações que eles servem.

Mas esta luta só pode ser travada com uma oposição não apenas à administração Johnson, mas também a aqueles que querem evitar esta ofensiva: o Partido Trabalhista e os sindicatos.

Por mais de um ano o líder trabalhista Keir Starmer, em nome da Unidade Nacional, atuou na prática em coalizão com Johnson e o criticou exclusivamente de um ponto de vista "construtivo". Entretanto, Starmer só lidera o partido graças a seu antecessor Jeremy Corbyn, que se recusou a honrar o mandato de milhões de trabalhadores e jovens para liquidar a ala direita do partido.

Corbyn e Starmer, bem como o próprio Johnson, contam, por sua vez, com a burocracia sindical, que busca suprimir a luta de classes.

A confederação sindical TUC e seus membros encarnam um aparelho formidável comprometido com este objetivo, composto por uma casta privilegiada que supervisionou por quatro décadas uma cadeia ininterrupta de liquidações e derrotas.

No ano que se encerrou em março de 2020 os sindicatos britânicos tinham ativos de cerca de 2,3 bilhões de libras esterlinas. O salário médio dos 29 líderes sindicais mais bem pagos era de 153.935 libras. A Secretária Geral da TUC, Frances O'Grady, recebia mais de 166.000 libras, O Secretário Geral da GMB, Tim Roache, recebe cerca de 160.000 libras, Mick Cash, do sindicato dos transportes, com apenas 81.000 membros, recebe mais de 159.000 libras. Todos eles estão entre os 3% mais ricos em termos de renda.

Ao mesmo tempo, as greves no Reino Unido estão no nível mais baixo de todos os tempos. Como regra, há menos de 100 greves por ano, envolvendo menos de 40.000 trabalhadores. No ano passado, a burocracia sindical interrompeu praticamente toda a atividade grevista na pandemia.

Porque os sindicatos não empreendem nenhuma defesa da classe trabalhadora, a grande maioria dos trabalhadores no Reino Unido – o local de nascimento dos sindicatos – não são sindicalizados.

Por exemplo, o maior sindicato britânico, o Unite, tem 1,4 milhões de membros. No ano passado, ele realizou 245 votações sobre greves, mas apenas 25 resultaram em alguma ação ou em uma greve.

E o que acontece quando os trabalhadores realmente começam a lutar? Este ano, greves foram realizadas por trabalhadores contra a resistência dos sindicatos. Os trabalhadores enfrentam cortes salariais e exploração crescente, através de táticas de "demissão e recontratação". Muitas das greves já foram liquidadas.

Em janeiro, os trabalhadores britânicos afiliados ao sindicato do gás da GMB entraram em greve por 43 dias contra seu novo contrato. Sua resistência determinada foi traída. A maioria foi forçada a aceitar o novo contrato, incluindo um corte de 15 % no salário, e 150 deles foram demitidos porque se recusaram a assinar.

A única lealdade dos grupos pseudoesquerdistas é para com a burocracia sindical. Mesmo quando a GMB recomendou a assinatura do novo contrato, o Partido Socialista alegou que isto era para o bem dos trabalhadores: "Para evitar que fossem demitidos!" O Socialist Workers Party (SWP) insistiu que os trabalhadores devem continuar a votar nos Trabalhistas porque o partido é "ainda mantém alguma conexão com organizações da classe trabalhadora através de sua ligação com os líderes sindicais".

A camisa de força dos sindicato cobra um preço cruel. Para dar apenas um exemplo: As 100 pessoas mais ricas do Reino Unido têm tanto dinheiro quanto os 18 milhões mais pobres. O Reino Unido tem o quinto maior número de bilionários de qualquer país do mundo. Mas, ao mesmo tempo, 3 milhões de crianças são agora afetadas pela pobreza. Este número aumentou em meio milhão nos últimos 6 anos. Em 649 distritos/bairros em todo o país, estima-se que pelo menos metade das crianças vivam abaixo da linha de pobreza.

Isso não pode e não irá continuar. "Nada é tão poderoso quanto uma idéia cuja hora chegou". Victor Hugo disse que tal ideia poderia derrotar todos os exércitos do mundo.

O CIQI se baseia nesse entendimento, mas também entendemos que se deve lutar por uma idéia e que elas devem receber expressão consciente e organizada. A classe trabalhadora enfrenta uma classe dominante que detém o poder estatal. Ao mesmo tempo, ela é bloqueada a cada passo por um aparato burocrático.

Por isso, os trabalhadores devem formar uma rede global de comitês de base, e os melhores, os mais esclarecidos e os mais corajosos devem se dedicar à construção do partido mundial da revolução socialista, o Comitê Internacional da Quarta Internacional.

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