Português

Instigada pelos EUA, reunião da OTAN ameaça a China

Publicado originalmente em 15 de junho de 2021

Os representantes dos 30 países que fazem parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) concluíram sua reunião de cúpula na segunda-feira com um comunicado dirigido contra a China, declarando que representa “desafios sistêmicos” para a aliança militar.

A redação do documento marcou uma nova etapa significativa nos esforços dos Estados Unidos para, nas palavras do presidente americano Biden, “organizar o mundo para enfrentar a China”, como parte de uma escalada maciça de tensões de Washington contra Pequim.

Tanques americanos são desembarcados em Antuérpia, na Bélgica, para participar dos exercícios militares Atlantic Resolve. (AP Photo/Francisco Seco)

O comunicado de 79 parágrafos da OTAN menciona a China uma dúzia de vezes, num contraste marcante com as declarações anteriores. O atual documento de estratégia da OTAN, publicado pela primeira vez em 2010, não faz referência à China, e o comunicado de 2019 menciona o país apenas uma vez.

“A força da declaração mostra até que ponto as relações entre o Ocidente e Pequim pioraram nos 18 meses desde a última reunião dos países da OTAN”, observou o Financial Times. “Agora, apenas um ano e meio depois, a China se tornou um rival sistêmico”, comentou o alemão Der Speigel.

“A crescente influência da China e as políticas internacionais podem apresentar desafios que precisamos enfrentar juntos como uma aliança”, afirmou o documento da OTAN. “Trabalharemos com a China com o objetivo de defender os interesses de segurança da aliança.”

O comunicado diz que a China apresenta “desafios sistêmicos à ordem internacional baseada em regras”, afirmando que está expandindo suas forças militares e procurando cooperar com a Rússia.

Os esforços de Biden para recrutar os aliados de Washington contra a China é o aspecto diplomático dos esforços dos EUA para estrangular o desenvolvimento econômico da China, demonizá-la aos olhos da população mundial e preparar-se para um conflito militar.

Na quarta-feira, o Secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin emitiu uma diretriz declarando a China como o foco “número um” das forças armadas americanas. A Foreign Policy comentou que a avaliação buscava “incorporar o Pentágono, e de fato todo o governo dos EUA, ao objetivo global de se preparar para uma competição estratégica de longo prazo com a China”.

Como a Foreign Policy observou: “Esse tem sido um refrão constante de Biden, mesmo antes de tomar posse, enquadrando a ascensão da China como o desafio central do século dos Estados Unidos. A menos que os Estados Unidos recuperem sua vantagem competitiva e tecnológica, Biden advertiu: “A China vai ‘comer nosso almoço’”.

Na semana passada, o Senado americano aprovou um projeto de lei para estimular a competitividade contra a China, que prevê 250 bilhões de dólares de subsídios corporativos e sanções que o New York Times chamou de “a intervenção mais significativa do governo na política industrial em décadas”.

A cúpula da OTAN aconteceu após a reunião do G7 no fim de semana, que, nas palavras do FT, “criticou a China sobre os direitos humanos, o comércio e a falta de transparência sobre as origens da pandemia do coronavírus”.

Após a cúpula da OTAN, Biden deverá voar para Genebra para se encontrar na quarta-feira com o presidente russo Vladimir Putin. Antes da cúpula, Biden declarou: “O que vou transmitir ao Presidente Putin é que não estou à procura de conflito com a Rússia”. Biden descreveu o presidente russo como “brilhante”, “duro” e um “adversário digno”.

Antes da cúpula, Biden recusou-se a apoiar a admissão da Ucrânia na OTAN, declarando que “A questão não está resolvida, ainda está para ser analisada. ... Eles têm mais a fazer.”

Apesar da insistência dos EUA em ameaçar a China, o comunicado da OTAN permaneceu agressivamente inclinado contra a Rússia, mencionando-a 60 vezes.

Enquanto os aliados da OTAN dos EUA concordaram com suas exigências de uma linguagem mais beligerante contra a China em seu comunicado, permanecem diferenças significativas sobre a ofensiva diplomática de Washington contra a China.

“Acho que ninguém ao redor da mesa hoje quer entrar em uma nova Guerra Fria com a China”, disse o primeiro-ministro britânico Boris Johnson.

A chanceler alemã Angela Merkel acrescentou que “não se deve sobrestimar” a ameaça colocada pela China, declarando ainda que “precisamos encontrar o equilíbrio certo”.

E o Secretário-Geral da OTAN, Jens Stoltenberg, insistiu que Pequim não era “um adversário”, mas disse que a aliança precisava “trabalhar com a China para defender nossos interesses de segurança”.

Como comentou o Der Spiegel: “Para alguns membros da OTAN, cuja economia está intimamente interligada com a da China, porém, isso é extremamente perigoso - especialmente para a Alemanha e sua economia de exportação. Eles queriam, portanto, evitar uma retórica marcial exagerada contra Pequim.”

Como a Reuters assinalou:

Os aliados estão cientes de seus laços econômicos com a China. O comércio alemão total com a China em 2020 foi superior a US$ 257 bilhões, de acordo com dados do governo alemão. O total de participações chinesas no Tesouro dos EUA em março de 2021 era de US$ 1,1 trilhão, de acordo com dados dos EUA, e o comércio total dos EUA com a China em 2020 foi de US$ 559 bilhões.

Mas, por tudo isso, declarou o Der Spiegel: “Na China – isto ficou claro desde a estreia de Biden na cúpula – os EUA e a OTAN veem o adversário mais perigoso a longo prazo”.

Apesar de suas diferenças e contradições, os Estados Unidos e seus aliados da OTAN estão se lançando de cabeça em uma grande escalada contra a China, com consequências potencialmente catastróficas.

Apesar de uma pandemia devastadora, todos os membros da OTAN estão expandindo maciçamente suas forças armadas. No início deste ano, o Reino Unido anunciou uma ampliação de 40% de seu arsenal nuclear, enquanto o governo Biden solicitou o maior orçamento do Pentágono na história da humanidade.

A enorme escalada militar atualmente em curso, combinada com as ameaças dos EUA contra a China, representa um perigo imenso para toda a humanidade.

Com uma franqueza totalmente ausente na imprensa americana, o embaixador da Rússia na China, Andrey Denisov, falou com o jornal chinês Global Times sobre as consequências de uma guerra dos EUA com a China.

Denisov foi perguntado pelo Global Times: “A competição e o confronto entre a China e os EUA estão se intensificando. Se um dia acontecer um conflito armado entre a China e os EUA, que posição tomaria a Rússia?”

Denisov respondeu que “não haverá resposta a isto”, porque “tal conflito exterminaria toda a humanidade, e então não haveria sentido tomar partido”.

Loading