Português

Variante Delta do coronavírus alavanca aumento de casos na Europa

Enquanto os governos na Europa abandonam as medidas de distanciamento social, os casos de coronavírus estão aumentando em todo o continente, cada vez mais dominados pela variante Delta mais infecciosa do vírus. A variante Delta, detectada pela primeira vez na Índia, é considerada até 60% mais contagiosa do que até mesmo a cepa Alfa, detectada pela primeira vez no Reino Unido, e tem até quatro vezes mais probabilidade de levar a hospitalizações.

O país com a situação mais avançada no continente é o Reino Unido. Isto se deve em grande parte ao fato de a variante Delta ter começado a se espalhar mais cedo na Inglaterra, apesar de ter uma taxa de vacinação mais alta do que a maioria dos países da UE, com quase 60% da população adulta já tendo recebido as duas doses.

Uma tourada em meio à pandemia de coronavírus na arena de Las Ventas em Madri, Espanha, 26 de junho de 2021. (AP Photo/Manu Fernandez)

Na terça-feira, o Reino Unido registrou 20.479 novos casos, o segundo dia consecutivo em que ultrapassou 20.000, levando as novas infecções registradas nos últimos sete dias para 123.566. Durante esse período ocorreram 108 mortes, um número relativamente baixo somente em função do impacto do programa de vacinação.

Apesar desse ressurgimento do vírus alimentado pela variante Delta, e de um total de mais de 152.000 mortes por causa da COVID-19, Sajid Javid, em seu primeiro discurso no Parlamento como Secretário de Saúde do Reino Unido, insistiu que o dia 19 de julho seria "o fim da linha" para as restrições sanitárias.

"Não vemos nenhuma razão para ir além do 19 de julho porque na verdade nenhuma data que escolhermos será acompanhada de risco zero, sabemos que simplesmente não podemos eliminá-lo. Temos que aprender a viver com ele", disse ele. Javid não fez questão de esconder que sua principal preocupação é a proteção das grandes empresas: "Sabemos também que as pessoas e as empresas precisam de certeza. Portanto, queremos que cada passo seja irreversível. Podem ter certeza, a restrição das nossas liberdades deve acabar".

O surto atual se deve em grande medida ao contágio de jovens e crianças em idade escolar. Na terça-feira, o Departamento de Educação divulgou números mostrando que mais de 375.000 alunos faltaram à escola na semana passada na Inglaterra devido à propagação da COVID-19. Foi um aumento de mais de 130.000 alunos em uma semana, ou 66%, e equivale a 5,1% de todas as crianças em idade escolar.

Numa clara confirmação da política de imunidade do rebanho adotada pelo governo, enquanto o uso de máscaras está sendo oficialmente desencorajado nas escolas, 15.000 dos alunos ausentes são casos confirmados de COVID-19 e outros 24.000 casos suspeitos.

A variante Delta também está levando a surtos de casos em outros países, entre eles a Rússia e Portugal. A Rússia registrou mais de 20.600 novos casos ontem. Enquanto o número de casos foi aproximadamente igual ao registrado na Inglaterra, houve aproximadamente 30 vezes mais mortes, com 652 mortes contadas oficialmente. A taxa de vacinação na Rússia está atualmente em 11%.

Em Portugal, houve 1.746 novos casos registrados ontem. O Ministério da Saúde português divulgou um relatório na semana passada declarando que mais da metade de todos os casos são da variante Delta. Na capital Lisboa, mais de 70% dos casos atuais são da linhagem Delta.

Na terça-feira, o governo alemão decretou uma quarentena de duas semanas a passageiros vindos da Rússia e Portugal, citando preocupações com a propagação da variante Delta. O jornal British Times noticiou na segunda-feira que funcionários do governo alemão estavam considerando classificar o Reino Unido como um "país de preocupação" e proibir viagens de residentes do Reino Unido para a UE, independentemente de terem sido vacinados.

O ministro do Interior alemão, Horst Seehofer, criticou na terça-feira a admissão de grande número de torcedores nos estádios britânicos durante o Campeonato Europeu de futebol. Ele disse ao jornal local Augsburger Allgemeine que era "irresponsável reunir dezenas de milhares de pessoas em espaços confinados em países classificados como em risco por causa da variante Delta altamente contagiosa". A partida entre Inglaterra e Alemanha ontem à noite contou com a presença de cerca de 45.000 pessoas, metade da capacidade do estádio.

Mas na própria Alemanha a variante Delta já está se espalhando e é provável que já seja a linhagem do vírus dominante. Na terça-feira, Lothar Wieler, presidente do Instituto Robert Koch, disse às autoridades que, com base em uma análise nacional de sequenciamento genético, o peso relativo da variante Delta nos casos de coronavírus atingiu 36% na semana de 14 a 20 de junho, mais que o dobro dos 15% da semana anterior. Com base nesta tendência, Wieler estimou que a variante Delta já representa hoje mais da metade do número total de casos.

No entanto, a Alemanha prossegue com o levantamento das suas limitadas medidas de distanciamento social. Como em todo o continente, sua preocupação é com o retorno da atividade econômica e a geração de lucros para as empresas alemãs. Aproximadamente 54% da população na Alemanha recebeu uma primeira dose da vacina, e 35% está totalmente vacinado.

Na Itália e na Bélgica, a variante Delta já constitui pelo menos 20% e 16% dos casos de coronavírus, respectivamente.

Na terça-feira, o Ministro da Saúde francês Olivier Veran declarou que o Delta representa "cerca de 20% dos novos casos na França", e "está se tornando progressivamente dominante". Na região das Landes, no sudoeste da França, que faz fronteira com a Espanha, a variante Delta já responde por 70% das infecções.

Em 24 de junho, Andrea Ammon, chefe do Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças, disse ser "muito provável" que a variante Delta tenha "ampla" circulação por todo o continente durante o verão. "Isso pode aos indivíduos mais vulneráveis o risco de serem infectados e desenvolverem sintomas graves e morte se não forem totalmente vacinados", disse ela.

"Ainda há muitos indivíduos em risco de infecção grave pela COVID-19 que precisamos proteger o mais rápido possível", disse Ammon. Ela criticou implicitamente o abandono das medidas de distanciamento social, afirmando: "Até que a maioria dos indivíduos vulneráveis esteja protegida, precisamos manter a circulação do Delta [variante] baixa, aderindo estritamente às medidas de saúde pública, que funcionaram para controlar o impacto de outras variantes".

A política oficial dos governos europeus, no entanto, é a de confiar nas vacinas para diminuir a propagação do vírus, mas rejeitar medidas de distanciamento social que teriam um impacto sobre as operações empresariais. Apenas cerca de um terço da população adulta do continente está hoje totalmente vacinada.

Os cientistas alertaram que a política de permissão da disseminação do vírus entre uma grande população parcialmente vacinada cria condições para o desenvolvimento de novas variantes ainda mais mortíferas, que poderiam ser ainda mais resistentes à ação das vacinas existentes.

O próprio fato de novas linhagens do vírus terem se desenvolvido e se tornado tão dominantes não era um resultado inevitável, ou um fenômeno puramente biológico. Foi o resultado das políticas seguidas pelos governos capitalistas em toda a União Européia, nos EUA e pelo mundo. Desde o encerramento das medidas restritivas mais rigorosas no ano passado, esses governos têm perseguido, apesar de não o admitirem, uma política de "imunidade do rebanho", permitindo que o vírus se espalhasse a fim de proteger os interesses financeiros da elite corporativa.

O resultado foi mais de 1,1 milhão de mortes por COVID-19 na Europa. No mesmo ano, a riqueza dos bilionários europeus aumentou em 1 trilhão de dólares, para aproximadamente 3 trilhões de dólares, distribuídos entre apenas 628 pessoas.

Publicado originalmente em 29 de junho de 2021

Loading