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Perspectivas

Guerra de classes na Volvo e luta por comitês de base

Publicado originalmente em 11 de julho de 2021

No domingo, o sindicato United Auto Workers (UAW) anunciou que ordenou uma nova votação para decidir sobre o acordo que os trabalhadores grevistas da Volvo Trucks em Dublin, no estado da Virgínia, votaram contra por 60%.

A medida extraordinária do UAW veio após uma declaração da Volvo anunciando um 'impasse' nas negociações contratuais e agindo para impor unilateralmente o acordo rejeitado pelos trabalhadores.

Enquanto a empresa declara guerra aos trabalhadores, o UAW está fornecendo cobertura para a sua operação para derrotar a greve. O presidente do UAW regional, Matt Blondino, emitiu uma declaração reconhecendo que a empresa estava tentando pôr fim à greve, mas deixou claro que o UAW não faria nada a não ser lançar uma ação trabalhista, que, segundo o sindicato, 'poderia levar meses ou anos para ser resolvida'.

Ou seja, o UAW está dizendo aos trabalhadores que, qualquer que seja o resultado da 'nova votação' na quarta-feira, eles serão forçados a retornar ao trabalho sob o acordo que eles rejeitaram.

Trabalhadores da Volvo Trucks em greve em Dublin, Virgínia (Foto: UAW local 2069)

De fato, não há 'impasse' entre a empresa e o sindicato, mas sim um impasse entre a Volvo e o UAW, de um lado, e os trabalhadores, do outro. Ao longo da luta na Volvo, o UAW isolou sistematicamente os trabalhadores grevistas para impor as exigências da administração. O sindicato negou aos trabalhadores até mesmo o direito de ver por inteiro os contratos que foram colocados em votação, mantiveram a luta escondida ao se recusar a informar aos seus membros que a greve estava acontecendo, e manteve os trabalhadores com míseros US$ 275 (R$ 1395) por semana do fundo de greve.

O desafiador 'não' dos trabalhadores da Volvo na sexta-feira aconteceu após a rejeição por 90% de duas tentativas de acordos anteriores. Ele é parte de um crescente aumento da rebelião e militância da classe trabalhadora que está colocando os trabalhadores em conflito direto com as organizações que afirmam os representar.

• Quase 600 trabalhadores da fábrica da gigante Frito-Lay em Topeka, no estado do Kansas, estão em greve após rejeitarem um quarto contrato apoiado pelo sindicato de padeiros, confeiteiros, tabacaria e refino de grãos (BCTGM). O BCTGM está isolando a luta e esfomeando os trabalhadores nos piquetes com US$105 (R$ 532) por semana do fundo de greve.

• Em Terre Haute, no estado de Indiana, o sindicato Workers United, afiliado ao SEIU, o sindicato de trabalhadores de serviços, anunciou em 3 de julho que estava impondo unilateralmente um contrato de concessões que 460 trabalhadores de embalagem da Amcor haviam votado contra.

• Cerca de 1.300 trabalhadores da Allegheny Technologies (ATI) no estado da Pensilvânia e quatro outros estados estão em greve há mais de três meses em uma luta que tem sido isolada pelo United Steelworkers (USW). Na semana passada, o USW anunciou que havia chegado a um acordo que cortará centenas de empregos e incluirá aumentos salariais abaixo da taxa de inflação. Os trabalhadores irão votar para decidir sobre o acordo na terça-feira.

• No estado do Alabama, 1.100 mineiros de carvão estão em greve há mais de 100 dias após rejeitarem um contrato de concessões apoiado pelo United Mine Workers of America, que deixou os mineiros isolados nas linhas de piquete e recorreu à violência física para intimidar a oposição.

Esse processo está se desdobrando em escala internacional. Na Bélgica, os trabalhadores da Volvo Cars (de propriedade separada da Volvo Trucks) lançaram uma ação selvagem para interromper a produção a partir de quinta-feira contra um acordo entre a empresa e o sindicato para estender a semana de trabalho. No Canadá, 2.450 mineiros da Vale em Sudbury, na província de Ontário, estão em greve há seis semanas após terem rejeitado um contrato de concessões apoiado pelo sindicato. Milhares de eletricistas na Turquia iniciaram uma série de greves selvagens para protestar contra os contratos entreguistas acordados pelo sindicato Tes-İş.

O desenvolvimento da luta de classes refuta completamente os esforços dos grupos da pseudo-esquerda para retratar os sindicatos como a única forma legítima de organização da classe trabalhadora.

Os defensores do aparelho burocrático (incluindo organizações pseudo-esquerdistas como os Socialistas Democráticos dos EUA, DSA, e sua revista afiliada Jacobin) se referem ao Partido Socialista pela Igualdade (SEP) como 'sectários', sendo a sua principal evidência o nosso chamado pela formação de comitês de base. Por 'sectarismo', eles não se referem a uma suposta ausência de trabalho entre os trabalhadores nos sindicatos. De fato, não há nenhuma organização fora do SEP que auxilie os trabalhadores nos sindicatos a desenvolver a sua iniciativa independente.

Ao contrário, os oponentes das organizações de base estão horrorizados com o crescimento de um movimento de insurreição contra a burocracia. Eles estão alinhados com poderosos setores da classe dominante, incluindo a administração Biden, que vêem corretamente os sindicatos como instrumentos essenciais para a supressão da luta de classes. Representando setores privilegiados da classe média alta, seu objetivo é perpetuar um 'movimento trabalhista' integrado ao Estado e à administração empresarial. De que outra forma se pode explicar o fato de eles não terem escrito nada sobre a greve na Volvo, que é sem dúvida uma das lutas mais significativas da classe trabalhadora em décadas?

Uma contra-ofensiva da classe trabalhadora requer a formação de organizações de luta independentes, uma rede de comitês de base que sejam controlados pelos trabalhadores e que respondam a eles.

Em abril, o Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI) lançou a iniciativa pela Aliança Operária Internacional dos Comitês Base. O CIQI escreveu: “A AOI-CB irá trabalhar para desenvolver a estrutura para novas formas de organizações de base independentes, democráticas e militantes de trabalhadores em fábricas, escolas e locais de trabalho em escala internacional. A classe trabalhadora está pronta para lutar. Mas está acorrentada por organizações burocráticas reacionárias que reprimem toda a expressão de resistência'.

Os últimos dois meses e meio confirmaram que essa iniciativa era correta. No caso dos trabalhadores da Volvo, sua capacidade de resistir aos ditames da empresa e aos esforços do UAW para impor uma derrota tem sido vinculada ao desenvolvimento, na fábrica New River Valley, do Comitê de Base dos Trabalhadores da Volvo, que coordenou a oposição. Os trabalhadores também foram enormemente fortalecidos pelas declarações de apoio dos trabalhadores internacionalmente e pela ação selvagem da Volvo Cars, que irrompeu na véspera da votação do último contrato.

A luta na Volvo tem grandes implicações. A supressão da luta de classes pelos sindicatos pró-corporativos, que durou décadas, está chegando ao fim. A pandemia e a resposta da classe dominante a ela, que levou à morte em larga escala acompanhada por uma transferência de riqueza sem precedentes para os ricos, desacreditou profundamente todo o sistema capitalista e criou as condições para um ressurgimento revolucionário dos trabalhadores em todo o mundo.

Muitos dos que estão envolvidos no comitê de base ainda não se consideram socialistas. Eles querem ser vitoriosos em sua greve, que pode e deve ser ganha. Eles fazem parte de uma classe trabalhadora cada vez mais militante que não está mais disposta a aceitar o ataque constante aos seus empregos e condições de vida.

A responsabilidade dos socialistas não é de serem espectadores, mas de auxiliar os trabalhadores no desenvolvimento da sua organização e iniciativa independente, ao mesmo tempo em que procuram desenvolver uma compreensão mais profunda das implicações sociais e políticas das lutas em que eles estão engajados.

O Partido Socialista pela Igualdade e o World Socialist Web Site chamam pela mobilização mais ampla possível da classe trabalhadora com os trabalhadores grevistas da Volvo. Eles tomaram uma posição corajosa, desafiando a direção da Volvo e do UAW.

Porém, eles não podem travar essa batalha sozinhos. Os trabalhadores devem responder à ameaça de reabrir a fábrica em Dublin, no estado da Virgínia, e de pôr fim à greve fechando as operações da Volvo nos EUA e internacionalmente. A luta deve ser desenvolvida em toda a indústria automobilística e além dela. Se as condições de escravidão industrial podem ser impostas em Dublin, elas podem ser impostas em Detroit e Chicago, Ghent e Sudbury.

Toda a classe trabalhadora deve responder à guerra de classes na Volvo com a construção da Aliança Operária Internacional de Comitês de Base.

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