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Perspectivas

Opor-se à campanha de direita contra a vacinação!

Publicado originalmente em 29 de julho de 2021

A campanha que está sendo realizada contra a vacinação em massa é totalmente de direita e deve ser combatida pelos trabalhadores em todo o mundo. Diante de uma pandemia global de um vírus letal, que matou mais de quatro milhões de pessoas, segundo os números oficiais (na realidade, muito mais de 10 milhões), a vacinação em massa é um requisito elementar de saúde pública e de autodefesa da classe trabalhadora.

Mesmo colocar a questão em termos de um “certificado de vacina” é totalmente incorreta, já que trata a questão da vacinação como se fosse algum tipo de violação da “liberdade pessoal”. Na verdade, nenhum indivíduo tem o “direito” de infectar outros e colocar em perigo suas vidas.

Enfermeiro prestes a aplicar a vacina da Janssen/Johnson & Johnson contra a COVID-19. (AP Photo/Leo Correa)

A defesa da saúde pública em uma sociedade de massa depende de toda uma série de regulamentos: o uso de cintos de segurança e limites de velocidade, a proibição de dirigir embriagado e fumar em locais públicos, ocupação máxima de edifícios, regras de estacionamento para deficientes físicos e muitas outras medidas. Além disso, há as conquistas obtidas através da dura luta da classe trabalhadora (e em todos os lugares sob ataque), como a jornada de trabalho diária de oito horas e a proibição do trabalho infantil.

São sempre as forças mais direitistas que se opõem à proteção dos direitos sociais, levantando a bandeira dos “direitos individuais”, o mais notório dos quais é o “direito ao lucro”.

Quanto às vacinas, esta é agora uma exigência de rotina para viagens ao exterior, frequentemente para proteger os viajantes contra doenças nos países que visitam, aos quais podem não ter imunidade natural, mas também contra doenças disseminadas como tuberculose e malária. Essas são proteções contra a morte e doenças graves, não violações da “liberdade pessoal”.

É também comum que as crianças sejam obrigadas a tomar vacinas antes de frequentar a escola, inclusive contra sarampo, caxumba, rubéola, pólio e outras doenças, apesar dos esforços criminalmente irresponsáveis de grupos antivacina. Uma vez desenvolvida uma versão da vacina COVID-19 que seja eficaz e segura para as crianças, que esperamos que esteja pronta logo, deve se tornar um requisito obrigatório também para a presença delas na escola.

Não há nada de progressista na campanha contra os “certificados de vacina”. Ela se baseia em apelos à ignorância, ao medo e ao preconceito anticientífico. Aqueles que estão fazendo campanha contra as vacinas, alegando que são uma violação intolerável da liberdade pessoal, estão vendendo anarquismo e libertarianismo, o que não tem nada em comum com os interesses da classe trabalhadora.

Não deve ser surpresa que os sindicatos, que nada fizeram para proteger os trabalhadores contra a pandemia, tenham aderido à campanha. O Service Employees International Union (Sindicato Internacional de Funcionários dos Serviços), que se recusou a lutar contra a onda de infecções e mortes em lares de idosos no ano passado, convocou uma manifestação na semana passada na cidade de Nova York contra a vacinação obrigatória dos profissionais de saúde. Lá, Randi Weingarten, da Federação Americana de Professores, que exigiu a reabertura de todas as escolas para o ensino presencial independentemente da pandemia, pronunciou frases contra a exigência da vacinação devido à necessidade de “que todos se sintam seguros e bem-vindos em seus locais de trabalho”.

Considerando que as consequências de uma pessoa infectada trabalhando em uma escola, hospital ou outro local de trabalho lotado podem ser catastróficas, a exigência de que ela seja vacinada é inteiramente legítima e necessária.

É inevitável que qualquer pessoa que tenha acesso a uma vacina, mas se recuse a tomá-la, não possa trabalhar ao lado de outras pessoas. Nesses casos, o indivíduo deve ser colocado em licença, que pode ser suspensa assim que for vacinado. Isso deve ser combinado com uma campanha sistemática de educação pública, liderada por médicos especialistas e profissionais de saúde, para explicar os benefícios e riscos insignificantes da vacina contra a COVID-19.

Apresentar a questão como um problema de negligência individual, entretanto, é fundamentalmente errado. Não são os trabalhadores os responsáveis pela disseminação catastrófica do novo coronavírus, mas a classe dominante. Uma mudança genuína nas atitudes públicas envolvendo milhões de pessoas só é possível com um movimento de massas e político da classe trabalhadora contra toda a política da oligarquia financeira em resposta à pandemia.

A campanha contra os “certificados de vacina” é o último estágio na oposição da classe dominante a todas as medidas necessárias para impedir a propagação da pandemia. É verdadeiramente trágico que muitos dos que foram apanhados por esta campanha, ao não se vacinarem, ponham em sério risco as suas próprias vidas e a de familiares e colegas de trabalho.

Além de não ter tido uma campanha de educação em massa para promover a vacinação, houve uma campanha sistemática de deseducação da classe dominante durante a pandemia, combinada com a promoção duradoura de concepções anticientíficas reacionárias.

Toda a resposta da classe dominante à pandemia foi repleta de fraude e criminalidade: desde a minimização inicial do perigo, passando pelos esforços para forçar os trabalhadores a voltarem ao trabalho, mesmo quando a pandemia ainda estava se espalhando, até a mentirosa alegação de que foi a China a responsável pela morte em massa e não a oligarquia capitalista que se recusou a tomar as medidas necessárias para detê-la.

As políticas do governo Biden, formuladas a partir daquelas do governo Trump, parecem quase deliberadamente calculadas para alimentar o ceticismo público. Trump e seus seguidores fascistas denunciaram todas as medidas de saúde pública desde o início, atacando os lockdowns e prometendo “libertar Michigan” e outros estados com restrições até mesmo limitadas. Os estados governados pelos republicanos agora têm a combinação nociva de baixas taxas de vacinação e um aumento de casos à medida que a variante Delta se espalha. A governadora do Alabama, Kay Ivey, agora culpa os não vacinados pela crescente morte pelo coronavírus, mas foi seu próprio partido que liderou a campanha para não levar a sério a ameaça da pandemia.

O governo Biden definiu como prioridade máxima a reabertura de escolas, independentemente do impacto sobre professores e alunos, para que os pais pudessem ser reenviados para o trabalho em fábricas e escritórios. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) derrubou a recomendação do uso de máscaras para os vacinados após o governo Biden alegar que a pandemia tinha efetivamente terminado. No entanto, o CDC foi obrigado a voltar atrás parcialmente em circunstâncias limitadas porque o crescimento explosivo da variante Delta tornou algumas mudanças inevitáveis.

A vacinação em massa deve ser apenas um componente de um esforço global para erradicar o vírus, que também inclui o uso de máscaras, distanciamento social, testes em massa e interrupção da produção não essencial até que toda a população do mundo esteja segura. Tal esforço, a ser pago pelos trilhões acumulados pelos super-ricos, requer a intervenção política da classe trabalhadora contra as políticas da elite capitalista dominante, que a todo momento prioriza o lucro sobre a vida humana e os interesses de estados-nação rivais sobre as necessidades coletivas da humanidade.

Em escala global, a grande maioria da humanidade ainda não tem acesso a vacinas, já que os países produtores de vacinas no mundo industrializado acumularam praticamente toda a produção. Apenas 1% da população da África foi totalmente vacinada. As taxas no sul e sudeste da Ásia não são muito melhores. E a vasta polarização social em cada país capitalista significa que os ricos e a classe média alta têm fácil acesso à vacinação, ao contrário do que acontece com os pobres.

Isso é verdade também em países ricos. Um grande obstáculo à vacinação nos Estados Unidos é a pobreza, tanto para os que vivem em favelas urbanas quanto para os que vivem em isolamento rural. Um estudo recente descobriu que, de acordo com dados do Censo, mais da metade dos americanos não vacinados vivem em lares com renda inferior a 50.000 dólares anuais. Os autores do estudo observaram que, ao explicar o fracasso em serem vacinados, apesar de vacinas disponíveis, “os horários de trabalho irregulares e o cuidado infantil podem ser fatores mais decisivos do que os políticos”.

A política da classe trabalhadora deve combinar intransigência política e explicação paciente. O desenvolvimento de um movimento operário com consciência de classe, por meio da organização de comitês de base de segurança em todos os locais de trabalho, permitiria aos trabalhadores, particularmente aqueles na área de saúde, se tornarem defensores de uma campanha política para exigir a vacinação e proteger a classe trabalhadora contra o perigo mortal da pandemia.

A luta contra a pandemia não é simplesmente uma questão médica. Ela requer uma luta política da classe trabalhadora contra o sistema capitalista. A resposta à pandemia segundo o interesse da saúde pública requer um plano global e uma coordenação global, o que só é possível através da construção de uma direção revolucionária internacional e da tomada do poder pela classe trabalhadora.

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