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Perspectivas

Com chegada do outono no Hemisfério Norte, reabertura de escolas impulsiona COVID-19 mundialmente

Publicado originalmente em 20 de setembro de 2021

Com o início do outono no Hemisfério Norte e a reabertura completa das escolas em todo o mundo, a pandemia da COVID-19 atingiu um ponto crítico.

Atualmente, a média global de novos casos diários é de aproximadamente 515 mil, enquanto uma média de 8.336 pessoas morrem diariamente por COVID-19 em todo o mundo. Esses números diminuíram ligeiramente nas últimas semanas, mas, dado que a testagem é insuficiente em quase todos os países, os números reais são muito maiores. Uma pesquisa do The Economist sobre o excesso de mortalidade aponta que, apesar do número oficial de óbitos em todo o mundo hoje ser de 4,7 milhões, o verdadeiro número é provavelmente mais de três vezes superior, ou 15,6 milhões de óbitos.

Casos diários confirmados de COVID-19 por milhão de pessoas (fonte: Our World In Data)

Com apenas 31,4% da população mundial totalmente vacinada contra a COVID-19, sendo a grande maioria nos países mais ricos, bilhões de pessoas permanecem sob risco de infecção em todo o mundo. Além disso, a disseminação descontrolada do vírus cria as condições para a evolução de variantes mais infecciosas e resistentes à vacina. Na segunda-feira, houve registros de 19 casos no Reino Unido da variante Delta, mais transmissível, com a mutação E484K, associada a uma resistência maior às vacinas. Houve 99 casos de Delta + E484K sequenciados em todo o mundo, incluindo 25 nos Estados Unidos, 22 na Dinamarca, 21 na Turquia, seis na Itália e três na Alemanha.

A maioria das cerca de 1,5 bilhão de crianças que mudaram para o ensino remoto no início da pandemia retornaram ao aprendizado presencial, conforme os governos capitalistas de todo o mundo adotaram essa política. A grande maioria dessas crianças não foi vacinada e constitui uma porcentagem crescente de novos casos de COVID-19 em todo o mundo. Elas se tornaram o principal vetor de transmissão do vírus para as suas famílias e comunidades, e especialistas alertaram que a reabertura total das escolas irá causar um grande surto da pandemia nos próximos meses.

O objetivo fundamental da reabertura das escolas sempre foi obrigar os pais a retornar aos locais de trabalho inseguros para aumentar os lucros das empresas e sustentar a ascensão perpétua do mercado de ações. Isso só favorece o espalhamento da COVID-19, dado que as grandes fábricas são muitas vezes a segunda maior fonte de surtos depois das escolas e faculdades.

A estratégia dominante em todo o mundo para a pandemia continua sendo a 'imunidade de rebanho', baseada em deixar o vírus infectar a população, independentemente dos níveis de infecções e óbitos. Essa estratégia é claramente expressa na política de reabertura das escolas, que expõe milhões de crianças ao vírus, com conseqüências desconhecidas a longo prazo.

Enquanto vários políticos e autoridades sindicais afirmam que medidas limitadas de mitigação como o uso de máscaras podem tornar as escolas seguras, as verdadeiras condições nas escolas, superlotadas e mal ventiladas, expõem essas afirmações fraudulentas.

A única estratégia viável para a pandemia é aquela que tenha como objetivo a erradicação global da COVID-19, a ser alcançada através de vacinações em massa e da implementação universal de todas as medidas de saúde pública disponíveis, até que os novos casos sejam reduzidos a zero e o vírus seja eliminado em regiões geográficas cada vez mais maiores. Em oposição a essa estratégia, as elites dominantes em todos os lugares estão promovendo a 'imunidade de rebanho', seja abertamente ou com o pretexto das 'mitigações'.

Na América Latina, que representa cerca de 8% da população mundial e um terço das mortes globais por COVID-19, as escolas reabriram em todo o continente. A situação mais grave é no Brasil, onde os casos entre as crianças dispararam à medida que as escolas reabriram completamente em todo o país. O Brasil tem o maior número de mortes de crianças por COVID-19 de qualquer país, com 1.581 jovens de 10 a 19 anos vítimas da COVID-19 na primeira metade de 2021, e outras 1.187 crianças menores de 10 anos perdendo suas vidas desde o início da pandemia.

Em toda a Europa, espera-se que a reabertura das escolas produza um surto catastrófico da pandemia nas próximas semanas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) advertiu recentemente no final de agosto que outras 236 mil pessoas poderiam morrer por COVID-19 na Europa até 1º de dezembro. Na França, na última semana de agosto, foram registrados 20.200 casos entre crianças de 0 a 19 anos, mais de cinco vezes o número de casos há um ano. No Reino Unido, todas as medidas de mitigação foram eliminadas e a COVID-19 está se espalhando nas escolas, com surtos massivos ocorrendo na Escócia e com a previsão de atingir a Inglaterra nas próximas semanas. Os casos também estão aumentando continuamente na Alemanha, onde as escolas reabriram, causando surtos em todo o país.

Na África, os casos e os óbitos oficiais estão em queda, mas os testes são limitados em todo o continente. O Economist estima que o excesso de mortalidade é o maior múltiplo das mortes oficiais, com aproximadamente 1,86 milhão de óbitos em excesso, ou mais de nove vezes o número de mortes oficiais. Atualmente, apenas 50 milhões de africanos, ou 3,6% da população total, foram totalmente vacinados, com o continente enfrentando uma escassez de 500 milhões de doses este ano. Conforme as escolas e os locais de trabalho reabrem completamente em toda a África, a COVID-19 se espalhará silenciosamente por toda a população nas próximas semanas.

Proporção da população completamente vacinada contra COVID-19 (fonte: Our World In Data)

Na Ásia, os casos oficiais e os óbitos também estão diminuindo, mas o excesso de mortalidade diário é de 20.300, quase sete vezes o número oficial e de longe o mais alto de qualquer continente em termos absolutos. Significativamente, grandes surtos estão ocorrendo na Malásia, Vietnã e Tailândia, todos os quais haviam previamente eliminado a COVID-19, mas, depois de remover as restrições de viagem e as medidas de saúde pública, tornaram-se centros de transmissão. A China, que manteve a estratégia de eliminação, teve que restringir severamente as viagens internacionais e mobilizar vastos recursos para conter os repetidos surtos da variante Delta trazida para o país.

Na Austrália, que também já havia eliminado a COVID-19, os casos voltam a surgir à medida que as escolas reabrem completamente. Na Nova Zelândia, há temores de que a variante Delta esteja se espalhando pelas escolas no entorno de Auckland, a maior cidade em um bloqueio de 'nível 4'. Importantes especialistas em saúde pública, incluindo o epidemiologista da Universidade de Otago, Michael Baker, advertiram em um blog em 10 de setembro que 'as crianças estão voltando ao ensino presencial com pouca ou nenhuma proteção contra a potencial propagação das infecções por COVID-19 nas escolas'.

Hoje, o centro da pandemia global está na América do Norte, com os Estados Unidos, Canadá e México vivendo grandes surtos de novos casos, impulsionados principalmente pela reabertura das escolas. Na província de Alberta, Canadá, o surto está se aproximando dos picos atingidos no fim do ano passado, com uma média diária de 1.646 novos casos na província.

Estudantes chegam em PS811 em Nova York em 13 de setembro de 2021 (AP Photo/Richard Drew)

Nos EUA, a média está em 134.972 novos casos de COVID-19 e 1.582 mortes por dia. Na semana passada, 844.718 pessoas foram oficialmente infectadas e 10.568 pessoas morreram por COVID-19. O número oficial de óbitos acumulados é de 691.880, e o número real é estimado entre 800 mil e 890 mil, maior que o número total de americanos mortos durante a Guerra Civil e a pandemia da gripe espanhola de 1918.

A situação é catastrófica em todo o país. Cerca de 25% de todos os hospitais informaram que as suas UTIs estão no limite de ocupação ou próximo dele. Como resultado da reabertura das escolas, aproximadamente um milhão de crianças foram oficialmente infectadas pela COVID-19 nas cinco semanas entre 5 de agosto e 9 de setembro. As hospitalizações e óbitos de crianças estão em níveis recordes nos EUA, com uma média de 354 crianças hospitalizadas todos os dias.

Após a administração Biden ter declarado prematuramente a 'independência' diante da pandemia em 4 de julho, a escala do atual surto e os perigos colocados pela reabertura total das escolas continuam a ser minimizados. Todas as discussões sobre medidas de mitigação desapareceram da mídia corporativa.

Um grande ensaio fotográfico publicado na sexta-feira no New York Times é um caso ilustrativo. Intitulado 'Glimpses of How Pandemic America Went Back to School' (Relances de como os EUA voltou às aulas na pandemia), a peça glorifica as reaberturas de escolas nos EUA e expõe a fraude das chamadas mitigações nas unidades. Quase todas as fotografias mostram alunos e educadores sem máscaras.

A jornalista Dana Goldstein escreve que as reaberturas de escolas 'têm sido emocionantes, causa de ansiedade e, às vezes, até divertidas'. Ela afirma falsamente que 'as escolas têm sido geralmente capazes de operar com segurança durante a pandemia tendo somente a transmissão local limitada do vírus'.

Na realidade, apenas na última semana, houve relatos de centenas ou milhares de infecções de estudantes e funcionários em escolas em toda a Virgínia Ocidental, Tennessee, Kentucky, Alabama, Geórgia, Minnesota, Califórnia, Ohio, Pensilvânia, Texas, Flórida e outros estados. De acordo com um rastreador não oficial, cerca de 250 funcionários de escolas morreram por COVID-19 desde a última semana de julho, totalizando cerca de 35 por semana ou cinco por dia durante agosto e setembro.

O estado global da pandemia e o papel que as escolas desempenham como centros de transmissão viral mostram claramente que todas as escolas devem ser fechadas para eliminar e finalmente erradicar a COVID-19. Isso deve ser combinado com o fechamento de todos os locais de trabalho não essenciais, o uso de máscaras universal, a rápida vacinação da população mundial, testes em massa, rastreamento de contatos, isolamento seguro de pacientes infectados e todas as outras medidas de saúde pública necessárias para interromper a cadeia de transmissão. Todos os trabalhadores e pequenos empresários afetados por essas medidas devem receber os recursos necessários durante os lockdowns, que, os cientistas enfatizam, não precisam durar mais do que dois meses.

Essas medidas só serão implementadas através da mobilização massiva da classe trabalhadora. Em todos os países, os sindicatos provaram ser ferramentas úteis das elites dirigentes, sendo os sindicatos de professores os mais fervorosos defensores da reabertura das escolas. Para lutar pela estratégia de eliminação-erradicação, necessária para acabar com a pandemia, os trabalhadores de cada indústria e país devem construir comitês de base independente dos sindicatos e de todos os partidos capitalistas. A Aliança Operária Internacional de Comitês de Base (AOI-CB), estabelecida em 1º de maio de 2021, servirá como o elo central para unir e coordenar esses comitês globalmente.

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