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Perspectivas

Pais no Reino Unido planejam greve escolar em 1º de outubro

Um importante avanço na luta contra a pandemia

Publicado originalmente em 27 de setembro de 2021

Refletindo a crescente oposição da classe trabalhadora internacional às políticas homicidas das elites dominantes em resposta à pandemia, a mãe britânica, Lisa Diaz, publicou na sexta-feira um vídeo no Twitter chamando por uma greve escolar nacional no Reino Unido em 1º de outubro. Em condições em que mais de 59 mil crianças foram infectadas pela COVID-19 no Reino Unido nas duas primeiras semanas após a reabertura escolar, ela encorajou os pais a tomarem iniciativa independentemente mantendo os seus filhos em casa e a salvo do vírus. O vídeo já foi visto mais de 75 mil vezes, recebeu 2.350 curtidas e voltou a ser visto mais de 1.340 vezes.

Lisa, que é membro do grupo Educação Segura para Todos (SafeEdForAll) e trabalha com o Comitê de Base de Segurança dos Educadores no Reino Unido, ganhou um grande número de seguidores no Twitter em resposta aos seus vídeos denunciando as políticas criminosas de reabertura das escolas da administração Boris Johnson. Colocando em prática a estratégia de “imunidade de rebanho” de deixar o vírus se espalhar pela população, as escolas em todo o Reino Unido não implementaram qualquer medida de mitigação. No vídeo de sexta-feira, Lisa declarou: “Estamos cansados das mentiras. Estamos cansados da manipulação. Estamos cansados de pagarem cientistas para dizer coisas ridículas tais como que as crianças não pegam o vírus nas escolas, que elas pegam no ônibus. Não é aceitável. Não vamos aceitar mais”.

Lisa Diaz e sua filha (Crédito: @Sandyboots2020 no Twitter) [Photo: Liza Diaz (@Sandyboots2020/Twitter)/WSWS]

O chamado por uma greve escolar no Reino Unido é parte de uma onda crescente de resistência da classe trabalhadora, que está entrando em um novo estágio da luta de classes. Ela requer o apoio dos trabalhadores em todos os países e esforços devem ser levados adiante para coordenar similares greves e protestos nos locais de trabalho internacionalmente.

Esse acontecimento surge da profunda crise do capitalismo mundial, que foi intensificada pela pandemia de coronavírus. Desde janeiro de 2020, 4,76 milhões de pessoas morreram oficialmente por COVID-19, enquanto o número real de mortes globais é estimado em mais de 15 milhões. Atualmente, todos os dias, cerca de 466 mil pessoas testam positivo para COVID-19 e quase 8 mil pessoas morrem de COVID-19 nos registros oficiais em todo o mundo.

Com a produção e distribuição de vacinas subordinadas aos lucros das gigantes farmacêuticas e da geopolítica do imperialismo, apenas 32,6% da população mundial está totalmente vacinada, a grande maioria nos dez países mais ricos do mundo.

Ao contrário das reivindicações de setores da classe dominante e dos sindicatos de cada país, a pandemia não pode ser contida apenas com a vacinação, através de medidas limitadas de saúde pública, nem por uma combinação desorganizada de ambas.

Em muitos países, incluindo grande parte dos EUA controlada pelo Partido Democrata, as escolas foram totalmente reabertas com uso obrigatório de máscaras e outras medidas de mitigação, com o vírus ainda se espalhando rapidamente. Onde quer que medidas de mitigação tenham sido implementadas ‒ inclusive na cidade de Nova York, Los Angeles e em outros lugares ‒ elas estão sendo rapidamente abandonadas a fim de maximizar o tempo das crianças na escola. A razão para isso, como nas reaberturas escolares como um todo, é enviar os pais de volta ao trabalho para manter os lucros corporativos e o enriquecimento da elite financeira. Somente nos primeiros 18 meses da pandemia, os bilionários americanos acumularam US$ 1,8 trilhão, um aumento de 62% na sua riqueza coletiva.

Os sindicatos de professores em todos os países facilitaram a reabertura das escolas, permitindo que milhares de crianças, educadores e seus familiares morressem no mundo inteiro durante o ano passado. Em cada país, os sindicatos ou não fizeram nada para se opor à reabertura das escolas ou foram os mais ativos defensores desse processo. Em agosto nos EUA, enquanto um número recorde de crianças ficavam doentes e morriam por COVID-19, Randi Weingarten, a presidente da AFT, a federação americana de professores, completava a turnê “Retorno às escolas para todos” por 20 estados para pressionar pelo ensino totalmente presencial.

O significado central da greve escolar de 1º de outubro no Reino Unido é que ela foi organizada independentemente dos sindicatos e partidos políticos capitalistas e tem evocado uma resposta poderosa entre pais e trabalhadores no mundo inteiro. Ela deixa claro que a luta contra a pandemia está tomando cada vez mais a forma de lutas sociais da classe trabalhadora, que devem ser conscientemente organizadas e unificadas através de comitês de base independentes.

Nos Estados Unidos, mais de um milhão de crianças foram oficialmente infectadas pela COVID-19 nas últimas cinco semanas e uma média de três crianças e pelo menos três educadores estão morrendo a cada dia por COVID-19. Pais e educadores em Chicago, Nova York, Detroit, e dos estados da Califórnia, Texas, Tennessee, Pensilvânia, Washington e outros apoiaram o chamado por uma greve escolar no Reino Unido e estão planejando protestos similares em seus distritos escolares. Comitês de educadores e pais da Califórnia, Washington, Texas e Tennessee se reuniram durante o fim de semana e irão publicar declarações de solidariedade à greve escolar do Reino Unido nesta semana.

Além dos educadores, mais de 2 mil carpinteiros estão em greve em Seattle, no estado de Washington, em uma luta contra o sindicato UBC, que impõe há décadas contratos com concessões. Os trabalhadores automotivos em todos os EUA formaram comitês de base independentemente do sindicato nacional, o UAW, para lutar pela melhoria do padrão de vida e das condições de trabalho, incluindo a paralisação da produção em meio à propagação desenfreada da COVID-19.

Na Alemanha, grandes lutas entre os trabalhadores do transporte público, do setor de saúde, de companhias aéreas e outros setores da classe trabalhadora aconteceram nos últimos meses. Conforme surgem novamente surtos de casos de COVID-19 em meio à reabertura total das escolas, muitos pais e educadores na Alemanha apoiaram o chamado para a greve escolar de 1º de outubro no Reino Unido. Peggy, a mãe de um filho adulto deficiente e de uma criança com asma em idade escolar, disse ao World Socialist Web Site: “É muito importante! Devemos nos unir a isso! Para a proteção de nossas crianças! #ParentsStrike em 01.10.2021!”.

Na semana passada, cerca de 30 mil trabalhadores da saúde no Sri Lanka realizaram um protesto nacional para exigir melhores proteções no local de trabalho contra a COVID-19, desafiando as leis antidemocráticas do governo, que proíbem tais manifestações. Eles se juntaram aos cerca de 250 mil professores em todo o país, que estão em greve há mais de dois meses exigindo melhores salários.

No Canadá, que entrou em sua quarta onda da pandemia em meio à reabertura total das escolas, os pais na província Colúmbia Britânica estão preparando manifestações de solidariedade em conjunto com a greve escolar no Reino Unido para esta sexta-feira. Em Alberta, a região mais atingida do país com 6.964 casos ativos, os hospitais estão com 87% de capacidade e no limiar de serem obrigados a realizar triagens. Médicos e cientistas em Alberta estão chamando por um lockdown “emergencial”, com as hashtags #FirebreakAB e #GeneralStrikeAB em alta no Twitter.

Comentando a resposta internacional ao seu chamado, Lisa Diaz disse ao World Socialist Web Site: “Eu recebi um apoio incrível de pais e trabalhadores de todo o mundo! É maravilhoso saber que não estou sozinha, que há outros pais que enxergam as mentiras do seu governo e da mídia de que a COVID é de alguma forma uma doença benigna em crianças e que não há problema que elas sejam infectadas. Essa é a mentira que está sendo perpetuada no Reino Unido a todo custo”.

Ela acrescentou: “Não existe ‘conviver com a COVID’ porque milhões de pessoas vão acabar mortas. Outras milhões irão viver com os sintomas debilitantes da COVID longa. Não podemos negociar com esse vírus. Temos que destrui-lo. Isso não é um sonho impossível. Pode ser alcançado. Só precisamos da vontade política. Precisamos de uma estratégia de zero COVID. Não há meio-termo”.

De fato, a ciência é clara: a COVID-19 pode ser eliminada em qualquer região geográfica ‒ como aconteceu na China, Nova Zelândia e outros países ‒ e finalmente erradicada em todo o mundo. Entretanto, as medidas necessárias só serão implementadas através da mobilização em massa da classe trabalhadora, organizada por meio de comitês de base, independentes dos sindicatos e partidos políticos capitalistas.

Onde quer que a COVID-19 esteja se espalhando, esses comitês devem lutar pelo fechamento de todas as escolas e locais de trabalho não essenciais, o uso de máscaras, testes, rastreamento de contatos universais, isolamento seguro de pacientes infectados e todas as outras medidas de saúde pública para interromper a cadeia de transmissão viral. Os trabalhadores afetados por lockdowns devem ter garantia de proteção total da sua renda, que deverá ser paga pelos lucros massivos acumulados pelos ricos durante a pandemia.

A Aliança Operária Internacional de Comitês de Base (AOI-CB), estabelecida no 1º de Maio de 2021, irá lutar para unificar as crescentes lutas de todos os trabalhadores em todas as indústrias e atravessando as fronteiras nacionais. O chamado para a greve escolar de 1º de outubro no Reino Unido marca um passo inicial significativo na luta para erradicar a COVID-19, e irá inspirar os trabalhadores. Ações similares devem ser preparadas em cada indústria e em cada país, como parte de uma luta global coordenada da classe trabalhadora internacional para acabar com a pandemia e salvar milhões de vidas.

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