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Perspectivas

A greve dos pais de 1º de outubro: Importante avanço na luta da classe trabalhadora internacional contra a pandemia

Publicado originalmente em 1 de outubro de 2021

O chamado de greve lançado por Lisa Diaz para que os pais no Reino Unido mantenham seus filhos em casa hoje como protesto contra a reabertura irresponsável das escolas, que coloca em risco a vida dos jovens, evocou um profundo apoio da classe trabalhadora.

Mensagens de solidariedade estão chegando dos trabalhadores do Reino Unido e de todo o mundo. Os vídeos postados por Lisa Diaz em sua conta no Twitter foram vistos por centenas de milhares de pessoas.

Não é possível saber o número exato de pais que manterão seus filhos em casa hoje. O chamado não foi noticiado na mídia nacional. Porém, o que pode ser descrito como uma piquete online mundial foi estabelecido e está sendo honrado por uma audiência internacional de classe trabalhadora.

Essa crítica iniciativa para se opor à reabertura insegura das escolas ocorre enquanto a pandemia se espalha desenfreada, particularmente entre as crianças. No Reino Unido, 59 mil crianças foram infectadas pela COVID-19 nas duas primeiras semanas da reabertura das escolas. Nos Estados Unidos, mais de 200 mil novos casos infantis semanais foram registrados durante as últimas cinco semanas, sendo a grande maioria produto direto da reabertura total das escolas.

Com quase cinco milhões de mortos segundo os números oficiais, mais de 500 mil novos casos de COVID-19 são atualmente registrados todos os dias, com mais de 7.500 mortes. No Reino Unido, os novos casos aumentaram de 2 mil por dia em maio para quase 35 mil por dia no mês passado. No Canadá, os casos aumentaram dez vezes, de 400 por dia em julho para mais de 4 mil por dia em setembro. Mais de 1.600 pessoas estão morrendo todos os dias nos Estados Unidos, pois os hospitais, incluindo unidades infantis, estão lotadas de pacientes.

A ação de 1º de outubro acontece conforme as linhas de classe emergem muito claramente. De um lado estão os defensores da infecção em massa, que é promovida de uma forma ou de outra por governos e corporações em todo o mundo. De outro lado estão os trabalhadores, que exigem medidas emergenciais para pôr fim à pandemia e salvar vidas.

Seja o governo britânico de Boris Johnson, que tem promovido a “imunidade de rebanho” desde o início da pandemia, ou a administração Biden, que promove a ficção de que medidas inadequadas de mitigação combinadas com a vacinação podem deter a pandemia, o resultado final é o mesmo: escolas e fábricas devem permanecer abertas mesmo com a pandemia fora de controle. A reabertura universal das escolas é impulsionada pelo imperativo de manter os trabalhadores no trabalho para sustentar os lucros empresariais e o enriquecimento da elite financeira.

Em todo o mundo, as classes dominantes estão exigindo que quaisquer medidas que ainda estejam em vigor sejam removidas. Na Nova Zelândia, um dos poucos países que tem adotado uma política de eliminação do vírus, os casos saltaram drasticamente nos últimos dias, pois o Partido Nacional da Nova Zelândia da oposição está exigindo a mudança para uma “supressão vigorosa” ‒ ou seja, a diminuição das restrições sobre as atividades econômicas.

O Financial Times informou esta semana sobre uma carta aberta de 79 grandes corporações na Austrália criticando os “grandes erros” dos governos federal e estaduais na tentativa de mitigar a propagação do vírus. As empresas, segundo o FT, “disseram que a nação terá que aprender a ‘conviver com o vírus’, como muitos outros países têm feito”.

Greg O’Neill, diretor executivo da empresa de gestão financeira, La Trobe Financial, com sede em Melbourne, disse ao FT: “É hora de as empresas australianas transformarem a sua inquietação e rumores em um rugido. Está na hora da coragem e honestidade”.

A “coragem e honestidade” da classe dominante significa a demanda de que o vírus possa se espalhar, infectando milhões de outras pessoas e matando centenas de milhares.

A greve escolar de 1º de outubro no Reino Unido é significativa em vários aspectos.

Primeiro, ela articula as lutas da classe trabalhadora por uma política baseada em salvar vidas, e não no lucro. Ela se baseia na demanda pela implementação das medidas que os principais cientistas e epidemiologistas insistem serem necessárias para eliminar e erradicar o vírus: o fechamento de escolas e da produção não essencial, combinado com a vacinação em massa, testagem e rastreamento de contatos universais, e o fornecimento de renda integral a todos os trabalhadores e verdadeira assistência às pequenas empresas que sejam afetadas.

Em segundo lugar, a ação tem sido organizada independentemente dos sindicatos, que têm trabalhado a cada passo para implementar as políticas homicidas da classe dominante. No Reino Unido, a federação sindical TUC se opôs à vacinação obrigatória, aceitando a reabertura das escolas sem mesmo as medidas inadequadas da mitigação.

Nos EUA, os sindicatos de professores têm feito uma agressiva campanha pela reabertura de escolas, ameaçando as vidas de professores, crianças e da comunidade em geral.

Em 30 de setembro, um dia antes da greve de 1º de outubro, o sindicato AFT (Federação Americana de Professores) realizou um encontro com o grupo de pais de extrema-direita, Open Schools USA (Escolas Abertas dos EUA). O painel incluiu Jay Bhattacharya, um dos autores da Declaração Great Barrington, o documento redigido consultando a administração de Trump, com o objetivo de promover a infecção em massa para alcançar a “imunidade de rebanho”.

Em terceiro lugar, a iniciativa está se desenvolvendo como um movimento internacional. Embora o chamado à greve dos pais tenha começado no Reino Unido, ela tem atraído o apoio de trabalhadores em todo o mundo. Além das declarações individuais de solidariedade, a ação tem sido apoiada por grupos de professores e comitês de base em muitos países.

Em uma postagem no Twitter publicada na tarde de quinta-feira, Lisa Diaz classificou a resposta como esmagadora, apontando que o seu chamado inicial havia sido retuitado no Canadá, EUA, Alemanha, França, Espanha, Austrália e Japão. “Realmente mostrou que podemos ser de diferentes partes do mundo, mas a nossa luta é a mesma. Só queremos que nossos filhos estejam seguros na escola”.

Lisa chamou pais e trabalhadores de todo o mundo para postar seus vídeos e mensagens de apoio nas redes sociais utilizando os hashtags #SchoolStrike2021, #SittingDucks, e #October1st. O World Socialist Web Site apoia essa greve e encoraja seus leitores a aderirem ao piquete online postando mensagens de apoio no Twitter e em outras plataformas de rede social.

A greve de 1º de outubro confirma certos elementos críticos da perspectiva do Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI): o papel revolucionário da classe trabalhadora, o caráter internacional da luta de classes e o conflito irreconciliável entre os interesses dos trabalhadores e aqueles dos sindicatos.

Em maio deste ano, o CIQI estabeleceu a Aliança Operária Internacional dos Comitês de Base (AOI-CB), baseado na perspectiva de que a luta contra a pandemia exige uma verdadeira rebelião de baixo, organizada em escala internacional.

A iniciativa da greve de 1º de outubro deve ser levada adiante através da construção de comitês independentes em cada seção da classe trabalhadora, unindo a luta contra a pandemia com as crescentes lutas dos trabalhadores em todo o mundo contra a desigualdade e a exploração capitalista.

Ao encorajar e promover esse acontecimento, o CIQI e as suas seções nacionais levantam junto aos trabalhadores envolvidos nessa luta a necessidade de tirar as conclusões políticas mais fundamentais. A luta contra a pandemia e contra a guerra, a desigualdade, a exploração e a ditadura é uma luta contra toda a ordem social e econômica capitalista. Ela levanta a necessidade de que os trabalhadores de todos os países tomem o poder, expropriem as elites dominantes e estabeleçam uma sociedade socialista baseada no controle racional, científico e democrático da produção.

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