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O apoio fraudulento da Força Sindical à greve da John Deere nos EUA

A onda de greves ocorrendo nos Estados Unidos é um marco decisivo do levante mundial da classe trabalhadora em resposta às condições intoleráveis impostas pelo sistema capitalista global. A greve deflagrada em 13 de outubro por mais de 10 mil trabalhadores da fabricante de equipamentos agrícolas John Deere, que rejeitaram um contrato podre defendido pelo sindicato United Auto Workers (UAW), é uma trincheira central da luta da classe operária internacional.

Essa greve, assim como outras nos EUA, Brasil e ao redor do mundo, tomou a forma de uma rebelião dos trabalhadores de base contra os sindicatos corporativistas. Ao longo das últimas três décadas, organizações sindicais ao redor do mundo integraram-se totalmente à administração das empresas capitalistas e legitimaram a destruição em massa de empregos, salários e conquistas das gerações anteriores da classe operária.

Sindicatos, corporações e Estados burgueses ao redor do mundo estão assistindo apavorados a esses eventos, e estão mobilizando uma contraofensiva para tentar extinguir o incêndio que se espalha por cada vez mais setores da classe trabalhadora ao redor do mundo.

Trecho do vídeo da Força Sindical

Nesse contexto, o UAW divulgou recentemente um vídeo de sindicalistas do Sindicato dos Metalúrgicos de Catalão, filiado à Força Sindical, supostamente em apoio à greve da John Deere nos EUA. Catalão é onde está localizada uma das principais plantas da Deere no Brasil. O único apoio que os trabalhadores americanos podem esperar da Força Sindical à sua greve é do tipo que a corda dá ao pescoço do enforcado.

O vídeo dos burocratas do SMC é essencialmente uma repetição das mentiras descaradas do próprio do UAW. Eles alegam que a greve na John Deere dos EUA começou porque o UAW “não aceita de maneira nenhuma” a proposta da empresa e exige um aumento substancial dos salários. Na realidade o acordo rejeitado massivamente pelos trabalhadores americanos fora apresentado pelo próprio UAW, que o defendeu como contendo “ganhos econômicos significativos”.

Os burocratas sindicais brasileiros também declararam que os trabalhadores nos Estados Unidos estão exigindo um “apoio da empresa num momento de dificuldade com [a pandemia de] COVID”. Segundo eles, após “abrirem mão de ficar em casa e irem à empresa trabalhar sofrendo riscos de vida”, os trabalhadores esperavam que “a empresa ia reconhecer o trabalho que eles tiveram”.

Mas não foram os trabalhadores que aceitaram ser enviados para as fábricas arriscando suas vidas. O UAW que, após a onda de greves selvagens na indústria automotiva da América do Norte em março de 2020, negociou a reabertura das empresas facilitando a contaminação em massa dos trabalhadores americanos.

A Força Sindical, ao lado da CUT controlada pelo PT e outras centrais sindicais, cumpriu esse mesmo papel nefasto no Brasil. Ao mesmo tempo que cancelaram todos os movimentos de greve da sua agenda oficial a partir de março de 2020, essas centrais sindicais se reuniram com representantes do Estado brasileiro para editar uma medida de redução das jornadas e salários da classe trabalhadora para proteger os lucros capitalistas.

Em abril de 2020, o presidente da Força Sindical, Miguel Torres – que é citado no vídeo do SMC como “mandando apoio aos [trabalhadores nos] Estados Unidos” – assinou o artigo “Pandemia, indústria e soberania” que exigia a “retomada industrial” imediata no Brasil. Destilando chauvinismo, o artigo comparava a pandemia a uma guerra, na qual os interesses econômicos nacionais deveriam ser postos em primeiro lugar. Com base nesses interesses corporativos, os sindicatos apoiaram o funcionamento inseguro das empresas e tentaram convencer os trabalhadores de que estavam fora de risco.

O descontentamento com a política de contaminações e mortes em massa em meio à pandemia de COVID-19 e com o terrível rebaixamento das condições de vida está emergindo no Brasil, assim como nos Estados Unidos. Uma série de greves em defesa dos padrões de vida da classe trabalhadora está se erguendo no Brasil, entre elas uma greve recente na General Motors em São Caetano do Sul, descrita por trabalhadores como a mais combativa na fábrica em muitos anos.

Na última quinta-feira, 14 de outubro, uma maioria esmagadora de operários da GM recusou a proposta de acordo defendida pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano, também controlado pela Força Sindical. Na assembleia realizada na porta da empresa, os trabalhadores vaiaram o presidente do sindicato, Aparecido da Silva, quando ele defendeu a proposta de “retorno ao trabalho”. Numa traição criminosa, o sindicato ignorou a decisão da maioria de continuar a greve e passou imediatamente a orientar individualmente os trabalhadores a voltar ao trabalho.

Notavelmente, a assembleia que enterrou a greve da GM em São Caetano contou com a participação do porta-voz do UAW no Brasil, Rafael Messias Guerra. Ele afirmou que o UAW estava acompanhando de perto a greve dos trabalhadores da GM no Brasil e espalhou mentiras sobre supostas conquistas do UAW na greve traída da GM nos EUA em 2019.

A parceria entre o UAW e a Força Sindical é uma colaboração criminosa visando a traição dos trabalhadores em seus próprios países e o bloqueio à unificação das suas lutas através das fronteiras nacionais. A unificação internacional das lutas da classe trabalhadora, imposta pela própria estrutura globalizada da produção capitalista, é a única forma efetiva de enfrentar empresas capitalistas transnacionais como a John Deere e a General Motors.

A presença ostensiva do UAW no Brasil – que também apareceu ao lado de sindicalistas da Força Sindical em outras greves recentes, como há um ano na Renault no Paraná – está ligada à intervenção do imperialismo americano no Brasil, dando continuidade ao infame Instituto Americano para o Desenvolvimento do Trabalho Livre (AIFLD). O AIFLD treinou e financiou lideranças sindicais de direita que deram sustentação aos golpes militares apoiados pelos EUA no Brasil em 1964, no Chile em 1973 e em outros países da região.

Os trabalhadores nos EUA, no Brasil e ao redor do mundo devem rejeitar a aliança reacionária entre os sindicatos pró-capitalistas. É necessário uma união genuína dos trabalhadores de base ao redor do mundo para enfrentar as empresas transnacionais e seus agentes sindicais. Essa organização é a Aliança Operária Internacional de Comitês de Base (AOI-CB).

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