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Perspectivas

Inverno da morte no hemisfério norte: governos eliminam restrições à COVID-19 com casos em ascensão

Publicado originalmente em 8 de novembro de 2021

Durante a última semana, o mundo atingiu dois marcos terríveis. O número oficial de mortes por COVID-19 ultrapassou cinco milhões e o número total de casos passou de um 250 milhões. É bem sabido que estes números são muito inferiores à realidade. De acordo com uma estimativa de “excesso de mortes” da Economist, mais de 17 milhões morreram devido ao coronavírus.

“Não creio que o mundo tenha sequer começado o luto por essas muitas mortes”, disse a líder técnica da Organização Mundial da Saúde (OMS) Maria Van Kerkove. “E sabemos que o número é muito, muito mais alto”.

Um paciente respira através de máscara de oxigênio no setor de COVID-19 do hospital do Centro Clínico Universitário em Banja Luka, Bósnia, quinta-feira, 4 de novembro de 2021 (AP Photo)

“Neste momento, estamos vendo aumentos de casos onde não deveríamos estar”, acrescentou ela. “Houve um aumento de mais de 55% nos casos nas últimas quatro semanas na Europa, onde há uma ampla oferta de vacinas, onde há uma ampla oferta de ferramentas”.

Esta semana, as taxas de casos de COVID-19 atingiram os maiores índices de todos os tempos na Rússia e na Alemanha. E os casos estão aumentando astronomicamente nos países da Europa Oriental, Eslovênia, Estônia, Geórgia e Letônia, que agora lideram o mundo em casos per capita.

Na semana passada, a OMS advertiu que mais meio milhão de pessoas podem morrer até fevereiro com a atual onda de COVID-19 na Europa, com o chefe europeu da OMS tendo expressado “grande preocupação”.

Globalmente, os casos vêm aumentando nas últimas três semanas, antecipando o que, segundo especialistas, será um grande surto no início do inverno no hemisfério norte. Nos Estados Unidos, cujo histórico é de seguir a trajetória da Europa com várias semanas de atraso, o declínio de casos em resposta ao aumento das vacinações acabou.

“Quantas mais pessoas precisam morrer?”, perguntou Van Kerkove. “Quantos mais países precisam ser colocados em situações graves novamente, antes de tomarmos medidas?”. Os Estados Unidos já responderam claramente a essa pergunta: “Muitas e muitas mais”.

Hoje, os EUA estão pondo fim às restrições de voos internacionais e viagens terrestres, em vigor há 20 meses, antes de um esperado aumento massivo das viagens para o país. A Delta Airlines espera um aumento de 50% nos voos de chegada, relatando que está vendo uma “alta demanda”. O CEO da companhia aérea disse: “Será um pouco bagunçado”.

Ao redor dos Estados Unidos, todas as restrições à propagação da pandemia estão sendo eliminadas. O distrito escolar de Miami-Dade, o maior da Flórida, anunciou recentemente que está eliminando a obrigatoriedade de máscara nas escolas de ensino fundamental e médio, sendo o último distrito da Flórida a fazê-lo. Na Geórgia, vários distritos, incluindo o condado de Fulton, que inclui Atlanta, acabaram com a obrigatoriedade de máscaras, enquanto os distritos escolares de Michigan anunciaram planos para fazer o mesmo.

A ABC News reportou que, “de acordo com Burbio, uma empresa que monitora as políticas de COVID-19 nas escolas, mais de uma dúzia dos 200 maiores distritos escolares dos EUA abandonaram a obrigatoriedade de máscara nas últimas semanas”.

Para os Estados Unidos, este será um inverno de mortes em massa. De acordo com a contagem oficial, 775.000 americanos morreram, com uma média de mais de 1.200 mortos por dia desde que a pandemia começou. Apesar de todas as medidas para deter a doença estarem sendo abandonadas, mais de 1.000 pessoas estão morrendo diariamente.

As mortes em massa estão sendo normalizadas, transformadas em mero ruído de fundo.

O assombroso número de mortes nos Estados Unidos, longe de ser tomado como exemplo a ser a todo custo evitado, está sendo replicado em todo o mundo. No mês passado, a Nova Zelândia abandonou sua política de “Zero Covid”, enviando centenas de milhares de pessoas de volta ao trabalho e reabrindo parcialmente as escolas em Auckland. Os resultados são previsíveis. No mês passado, novos casos diários de COVID-19 na Nova Zelândia quintuplicaram.

Países na Ásia, incluindo Cingapura e Vietnã, que abandonaram seus esforços para eliminar a COVID-19, sofreram um aumento de casos. Sem se deixar levar por este precedente desastroso, o Japão está afrouxando ainda mais as restrições, cortando o período de quarentena obrigatória para viajantes a negócios de 10 dias para três.

Com a aproximação do inverno no hemisfério norte, que abriga 87% da população humana, o mundo está mais uma vez em um ponto de inflexão na pandemia. O capitalismo pretende permitir a morte de inúmeros seres humanos – mães, pais, filhos e idosos – em uma pandemia totalmente evitável.

Este massacre horrível e diário precisa acabar! Como os principais cientistas explicaram no webinário de 24 de outubro, promovido pelo World Socialist Web Site e pela Aliança Operária Internacional de Comitês de Base (AOI-CB), a humanidade possui os meios para acabar com a pandemia em questão de meses adotando uma estratégia de eliminação global, a base para a erradicação final do vírus. Isto requer o fechamento de escolas e atividades econômicas não essenciais, juntamente com um investimento maciço em testes, quarentenas e rastreamento de contatos, e auxílio econômico integral aos funcionários de atividades fechadas por questões sanitárias.

A luta por essas medidas, no entanto, exige um ataque frontal à riqueza e poder da oligarquia financeira.

A pandemia, com todos os seus horrores, tem sido uma bonança para os bilionários do mundo, que se enriqueceram massivamente com a intervenção maciça do governo para sustentar os mercados de ações, enquanto os trabalhadores foram obrigados a voltar aos locais de trabalho inseguros que são os principais centros de transmissão da COVID-19.

No início de 2020, os bilionários americanos tinham um patrimônio líquido de 3,4 trilhões de dólares, que desde então subiu para 5,3 trilhões de dólares. Desde o início da pandemia, Elon Musk, o homem mais rico do mundo, ficou 300 bilhões de dólares mais rico. Jeff Bezos se tornou 75 bilhões de dólares mais rico. E um dos fundadores do Google, Larry Page, recebeu mais de 64 bilhões de dólares.

Bezos lucrou enquanto inúmeros de seus funcionários eram infectados e morriam por doenças contraídas nos depósitos da sua empresa, Amazon. Musk, desafiando as autoridades da Califórnia, retomou ilegalmente a produção em sua fábrica da Tesla na Califórnia, crime pelo qual ele nunca foi responsabilizado.

A classe dominante está, de fato, praticando uma política de eliminação – não da pandemia, mas dos seres humanos. Sob o status quo político atual, a pandemia continuará perpetuamente, ceifando sua safra de mortes sombria mês após mês.

Mas a força social que pode, e irá, pôr um fim a estas políticas homicidas já está surgindo em cena. Nos Estados Unidos, milhares de trabalhadores estão agora em greve, como parte de um movimento de greves mundial. O World Socialist Web Site está lutando para armar este movimento da classe trabalhadora com a perspectiva socialista e o conhecimento científico necessário para pôr fim à pandemia.

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