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Perspectivas

Vidas à frente dos lucros! Fim à pandemia!

Publicado originalmente em 4 de dezembro de 2021

Na sexta-feira, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que a variante Ômicron da COVID-19 já foi localizada em 38 países em todos os continentes habitados. Nos Estados Unidos, a variante já foi localizada em 12 estados, inclusive entre indivíduos sem histórico de viagens recentes conhecido, demonstrando que ela já se espalha amplamente pelo país.

Trabalhadores da área de saúde exigem melhores condições de trabalho e mais vacinas para COVID-19 em protesto em frente ao Hospital das Clínicas de San Lorenzo, Paraguai, na quarta-feira, 19 de maio de 2021 [Crédito: AP Photo/Jorge Saenz].

Na África do Sul, o primeiro país em que a nova variante se tornou dominante, ela está crescendo em um ritmo não visto em qualquer outro país durante toda a pandemia. O número de casos de COVID-19 aumentou quase 40 vezes em um mês, de menos de 300 para 11.000 na sexta-feira. Entre quinta-feira e sexta-feira, o número de novos casos aumentou 35% em apenas um dia.

Talvez o mais preocupante, a África do Sul está enfrentando um forte aumento de casos de crianças menores de cinco anos, que está sobrecarregando os hospitais pediátricos de algumas cidades.

Com a variante Delta já provocando níveis recordes de novos casos em vários estados dos EUA, os perigos sem precedentes colocados pela nova variante deixaram toda a política da classe dominante em frangalhos, e eles sabem disso. Como escreveu o New York Times, “após quase um ano promovendo a vacinação como saída para a pandemia”, há um “reconhecimento tácito da Casa Branca de que a vacinação não é suficiente para acabar com a pior crise de saúde pública em um século”.

Em outras palavras, a narrativa que o governo Biden tentou legitimar quando reabriu prematuramente escolas e empresas – de que só a vacinação poderia pôr um fim à pandemia – está se desintegrando por completo diante das evidências crescentes de que a Ômicron não só é mais transmissível do que outras variantes da COVID-19, mas cada vez mais resistente à vacinação.

“Não há cenário possível, me parece, em que [a eficácia das vacinas existentes] se mantém a mesma”, disse Stéphane Bancel, CEO da Moderna, ao Financial Times no início desta semana. “Acho que será uma queda substancial. (...) Mas todos os cientistas com quem falei (...) estão, tipo, ‘isso não vai ser bom’”.

A Regeneron, fabricante de um tratamento com anticorpos monoclonais para a COVID-19, advertiu em uma declaração que seus tratamentos podem ser menos eficazes contra a nova variante. “As mutações individuais presentes na variante Ômicron indicam que pode haver redução da atividade de neutralização tanto da imunidade transmitida por anticorpos induzidos por vacinas quanto por anticorpos monoclonais”.

Um estudo pré-impresso publicado na quinta-feira por epidemiologistas da África do Sul descobriu que a variante Ômicron pode ser 2,4 vezes mais eficaz na reinfecção de pessoas que haviam sido previamente infectadas pela COVID-19. A variante “demonstra provas substanciais a nível populacional de evasão da imunidade de infecção anterior”, advertiram os autores.

Em resposta ao inegável surto de casos na África do Sul, inúmeras reportagens da mídia afirmaram que muitos dos casos da variante Ômicron são leves, implicando que a nova variante não é motivo de preocupação.

Mas essa última versão da fábula de Trump de que a COVID-19 simplesmente “desaparecerá” é a mais perigosa. O fato de que as taxas de hospitalização na África do Sul estão aumentando com a disseminação da Ômicron já expõe as falsas alegações de ser uma “variante leve”. Além disso, ao longo de toda a pandemia, a maioria das pessoas que foram infectadas se recuperaram. O nível massivo de mortes é devido à infecção de centenas de milhões de pessoas.

O fato de que a variante Ômicron é muito mais infecciosa do que a Delta significa que, mesmo que ela seja um pouco menos mortal – uma alegação que ainda não tem fundamentação factual – o maior número de casos significará mais hospitalizações e, se os hospitais ficarem sobrecarregados, um aumento massivo de mortes.

Apesar da crescente ameaça da nova variante, o governo Biden reiterou sua rejeição ao fechamento de escolas e empresas não essenciais, uma política que está sendo seguida em seu essencial em todos os países da Europa e das Américas.

O plano da Casa Branca, refirmou o presidente na quinta-feira, “não inclui fechamentos ou lockdowns, mas sim vacinações e doses de reforço generalizadas”. Biden declarou friamente: “Enquanto mais de 99% de nossas escolas estão abertas agora, precisamos nos certificar de que isso será mantido durante todo o inverno”.

Biden chegou até mesmo a exigir o fim da quarentena de crianças expostas à COVID-19, declarando que os alunos deveriam “ser mantidos em sala de aula e ser testados regularmente uma vez que surgisse um caso positivo naquela sala de aula”, em vez de serem mandados para casa.

Ecoando esses pontos, a governadora de Nova York, Kathy Hochul, declarou: “Não estou preparada para fechar escolas ou a economia. Isso não é uma resposta necessária”.

Apenas dois meses atrás, a mídia americana estava repleta de comentários estúpidos sobre o fim da pandemia. “Covid-19 está novamente em retirada”, escreveu David Leonhardt do New York Times em 4 de outubro, afirmando que uma leve queda nos casos indica que o pior da pandemia provavelmente já passou: “(...) as vacinas podem transformar a Covid em uma doença controlável, não tão diferente de uma gripe ou resfriado comum. (...) O que quer que o outono traga, é praticamente certo que o pior da pandemia já passou”.

“E se as coisas estiverem prestes a melhorar”, questionou Paul Krugman, do Times, em 7 de outubro. A disponibilidade da vacina significa que a população “pode se sentir razoavelmente segura ao voltar para o escritório, sair para comer e – o que é mais importante – enviar seus filhos à escola”.

Em sua declaração de 20 de agosto, “A erradicação da COVID-19 é a única forma de acabar com a pandemia”, o WSWS, opondo-se àqueles que defendiam uma estratégia de “mitigação” ou “somente vacina”, explicou: “Enquanto o vírus se espalhar, ele continuará se transformando em novas variantes mais infecciosas, letais e resistentes a vacinas que põem em ameaça toda a humanidade. A menos que seja erradicada em escala mundial, as brasas da COVID-19 continuarão a arder e criarão as condições para que o vírus se reacenda de novo”.

Uma política de eliminação e erradicação vem sendo rejeitada pelos governos capitalistas e pela classe dominante porque as medidas necessárias para salvar vidas interferem no lucro privado e na riqueza da oligarquia.

Essa política levou à morte de mais de 5,2 milhões de pessoas em todo o mundo, incluindo mais de 800.000 só nos Estados Unidos, de acordo com números oficiais. Se uma mudança de política não for urgentemente realizada, o número de mortes massivo até agora não terá passado de um adiantamento do número de pessoas mortas pela variante Ômicron e quaisquer novas variantes mortais que venham a surgir.

Essa loucura deve acabar! Existe apenas uma política viável: a pandemia deve ser barrada! Vidas não devem ser sacrificadas para a obtenção lucro!

A COVID-19 pode ser eliminada, ou mesmo erradicada, através da implementação de medidas urgentes de saúde pública. Isso significa a criação de um programa massivo, de trilhões de dólares para permitir o fechamento de escolas e empresas não essenciais, investimento em testes, rastreamento de contatos e instalações seguras de quarentena, um programa global para vacinar rapidamente o mundo inteiro e o fornecimento de máscaras de alta qualidade, N95 ou melhores, e outros meios de proteção da disseminação pelo ar em todos os locais de trabalho essenciais.

A China, onde apenas duas pessoas morreram de COVID-19 este ano, mostrou que esse programa pode ser alcançado em nível nacional. Mas a eliminação global e a erradicação definitiva da COVID-19 exigem uma ofensiva globalmente coordenada contra a doença.

Isso exige o desenvolvimento de um movimento de massas da classe trabalhadora, que tenha como premissa o repúdio total à política de “equilíbrio” entre os interesses de lucro e a proteção da vida. Os trabalhadores devem começar a se preparar agora, inclusive com a formação de comitês de segurança em todos os locais de trabalho, escolas e bairros, para exigir e lutar pelas medidas necessárias para salvar vidas.

O ascenso mundial da variante Ômicron ainda está em seus primeiros passos. Ao tomar medidas imediatas para acabar totalmente com a transmissão da COVID-19, o custo da erradicação da doença seria muito menor do que se esta variante for permitida a se espalhar e ultrapassar, ou mesmo concorrer com a variante Delta atualmente dominante.

O surgimento da variante Ômicron e sua rápida disseminação pelo mundo prova a urgência da Investigação Mundial dos Trabalhadores à Pandemia de COVID-19 iniciada pelo World Socialist Web Site. Apelamos aos trabalhadores e estudantes para que apoiem o trabalho da Investigação. Também apelamos aos cientistas e a todos aqueles que atuam na esfera da saúde pública para que forneçam informações e assistência profissional no avanço do trabalho da Investigação.

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