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Estudante de Chicago: “O capitalismo é um veneno”

Educadores e estudantes ao redor do mundo aprofundam luta para impedir propagação da COVID-19

Publicado originalmente em 28 de janeiro de 2022

A onda de oposição de educadores e estudantes às reaberturas escolares continua a se espalhar pelo mundo à medida que os governos capitalistas adotam cada vez mais abertamente políticas para infectar deliberadamente a sociedade com a COVID-19 e recorrem a medidas cada vez mais desesperadas para manter escolas e locais de trabalho abertos.

Estudantes da Escolas Públicas de Chicago (CPS) protestam na sede da CPS [Crédito: WSWS Media]

É essencial que os trabalhadores percebam que suas lutas não estão isoladas e não são únicas. Apesar de falarem idiomas diferentes, professores e alunos descrevem um fracasso universal com a reabertura das escolas este ano, citando condições perigosas, contaminações generalizadas e recordes de ausências de alunos e funcionários.

Israel

Na quinta-feira, o Tribunal do Trabalho de Tel Aviv emitiu uma liminar contra o Sindicato dos Professores de Israel, proibindo forçosamente uma greve nacional que fora chamada na noite de quarta-feira.

Diante do potencial de explosão de uma greve selvagem, o sindicato fez o chamado de última hora em resposta à retirada pelo Primeiro Ministro, Naftali Bennett, das quarentenas de COVID-19 para todos os estudantes expostos, que entrou em vigor na quinta-feira, apesar do pedido do Ministério da Saúde de adiar a mudança.

Sob as novas regras, estudantes que forem expostos à COVID-19 mas testem negativo podem retornar imediatamente à escola, enquanto que os estudantes que tiverem teste positivo só são obrigados a ficar em quarentena por cinco dias, demonstrando as consequências internacionais da redução imprudente da quarentena pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA.

Casos de COVID-19 explodiram por todo Israel, com a média de sete dias agora em 80.575 casos, um aumento de quase 7.000% entre 24 de dezembro e 26 de janeiro. O número de internações se aproxima dos recordes de toda a pandemia, com uma média semanal de 2.102 hospitalizações e 214 ocupações de UTI, de acordo com Our World in Data.

Declarações provocativas de Merom Shiff, presidente do grupo Coordenação Nacional de Pais, que demandam que as escolas permaneçam abertas, revelam o verdadeiro caráter da exigência da classe dominante de que as escolas permaneçam abertas. Em uma carta aberta ao presidente do sindicato dos professores, ele escreveu: “Em Israel, os soldados não fogem da batalha... Em Israel, os professores não abandonam suas crianças”. Ele advertiu os educadores contra “suas guerras, seus jogos de poder, suas ego trips e seu dar de ombros”.

Essas ameaças, comparando salas de aula com territórios ocupados, já foram postas em prática em todos os EUA. Em Oklahoma, policiais sem máscaras e armados foram usados como “substitutos” na semana passada. No Novo México, a Governadora do Partido Democrata, Michelle Lujan Grisham, iniciou um programa para facilitar o preenchimento de vagas de professor substituto por membros da Guarda Nacional.

Itália

Nas últimas semanas, milhares de estudantes em toda a Itália protestaram contra as condições perigosas nas escolas. Um professor italiano descreveu as condições escolares ao World Socialist Web Site, afirmando: “Há surtos em muitas classes. Nada foi feito [para tornar as escolas mais seguras]. Mesmo o distanciamento entre os alunos não é mais obrigatório. As aulas parecem galinheiros.

“Não sabemos quantos casos positivos existem. Só ficamos sabendo dos que estão em nossas salas. Em algumas escolas, há falta de professores, alunos e funcionários, impossibilitando o funcionamento da escola. Uma escola chamou pais desempregados para substituir os professores. A linha do governo é manter as escolas abertas a todo custo.

“As greves de alunos e professores nos EUA e na França me dão esperança. É necessária uma luta comum contra a reabertura das escolas. As iniciativas para construir uma rede de comitês independentes nas escolas em nível nacional e internacional são bem-vindas para não nos sentirmos sozinhos e desorientados”.

Illinois

Após uma paralisação de milhares de estudantes há duas semanas, os alunos de Chicago encenaram protagonizaram outra greve na quinta-feira. Lideranças estudantis estão agora encorajando os colegas a ficar em casa para protestar em vez de realizar grandes manifestações presenciais.

Um estudante de Chicago que ajudou a organizar a greve de quinta-feira disse ao WSWS: “Eu fiz as páginas da greve porque me preocupo com toda a comunidade escolar. Eu me importo porque acho a situação muito grave. Toda a situação que envolve a pandemia e a continuação do aprendizado presencial me preocupa. O vírus bateu recordes aqui, e as escolas públicas de Chicago ainda têm a audácia de manter as crianças na escola... Os alunos estão exigindo que a CPS estabeleça opções de aprendizado remoto”.

Comentando sobre a traição negociada pelo Sindicato dos Professores de Chicago (CTU), o estudante disse: “Depois do anúncio, fiquei honestamente chocado. O CTU se deu todo esse trabalho só para ceder à CPS. Se parar para pensar, a CPS manipulou a votação porque os professores estavam bloqueados das suas contas no Google, portanto não tinham como se comunicar com os alunos e não estavam sendo pagos”. A prefeita democrata, Lori Lightfoot, “desempenhou o papel de mestre manipulador” no encerramento da greve.

Questionado sobre o crescimento da desigualdade social e o fato de um punhado de bilionários ter duplicado sua riqueza enquanto milhões de pessoas morriam e eram jogadas na pobreza, o estudante concluiu: “Acho que diz muito sobre como o capitalismo é realmente um fator que explica por que o mundo agora está tão frustrantemente dividido. O capitalismo é um veneno”.

Na quarta-feira, membros da Federação de Professores de Champaign (CFT) em Champaign, Illinois, votaram 91% a favor do início de uma greve e pela rejeição da proposta de contrato da administração escolar. Os professores votaram fortemente contra o contrato em parte por causa de uma proposta de prolongar em 50 minutos o dia escolar.

Em uma declaração reveladora, o presidente do CFT, Mike Sitch, disse ao The News-Gazette que a direção sindical estava “ansiosa e pronta” e que “estaria disponível a qualquer momento” para realizar discussões com a diretoria e o distrito escolar. Indicando que o sindicato não tem intenção de realmente convocar uma greve, ele disse: “Vamos estar em aula amanhã, vamos estar em aula na sexta-feira, vamos estar em aula na próxima semana, vamos estar em aula no futuro próximo”. Os professores de Champaign estão trabalhando sob um contrato que expirou em meados do ano passado.

Embora não citando explicitamente a propagação da COVID-19, a pandemia certamente influenciou a esmagadora votação pela greve de quarta-feira. Educadores de todos os Estados Unidos relataram o trabalho exaustivo e a supressão das horas de planejamento e intervalos para almoço para compensar a escassez de pessoal. Em meio ao surto da Ômicron, os casos atingiram recordes em Champaign-Urbana, com 1.253 casos ativos de acordo com o site da Saúde Pública Distrital.

Juntando-se à onda de oposição estudantil em Chicago e internacionalmente, trabalhadores estudantes de pós-graduação da Universidade de Illinois Champaign-Urbana fizeram circular uma petição para exigir a possibilidade de trabalhar remotamente, além do aumento das medidas de mitigação. A petição recebeu mais de 1.200 assinaturas de estudantes de pós-graduação e graduação, professores e funcionários.

Birmingham, Alabama

No domingo, enfrentando uma escassez recorde de pessoal causada pelas infecções e quarentenas de COVID-19, e ameaçada por um movimento de faltas em protesto de professores, a Escolas da Cidade de Birmingham, no Alabama, mudaram a forma de ensino para aprendizado remoto na segunda e terça-feira. Pelo menos 200 professores do distrito, reconhecendo que dois dias não interrompem significativamente a transmissão, continuaram faltando na quarta-feira, quando as aulas foram retomadas pessoalmente. Além disso, 144 professores estavam literalmente doentes naquele dia, o que significa que 13% de todo o pessoal estava ausente.

O distrito documentou um recorde de 468 casos entre os alunos na semana passada, acompanhando o recorde de 26.260 casos em escolas de todo o Alabama.

Um professor veterano do Alabama comentou sobre os interesses econômicos e políticos por trás da campanha para forçar a abertura de escolas, declarando ao WSWS: “Eles não se importam com o estado da educação nos EUA. Nós professores não passamos de babás valorizadas. No Alabama, basta ter 18 anos de idade para ser contratado. Eles querem corpos no prédio para cuidar das crianças, para que os pais possam ir trabalhar para ganhar dinheiro para as empresas”.

Os professores continuarão as faltas em protesto até hoje, embora nenhuma confiança possa ser depositada na Federação de Professores de Birmingham (BFT) para levar adiante uma luta genuína para garantir o aprendizado remoto. Como a Federação Nacional Americana de Professores à qual está afiliada, e sua contraparte em Chicago, a BFT está disposta a comprometer a demanda essencial do ensino à distância universal, sem fazer nada para unir os professores em todos os distritos e nacionalmente.

Condado de Jefferson, Mississippi

No estado vizinho, Mississippi, os motoristas de ônibus do distrito rural de Jefferson County decretaram uma greve de um dia na última sexta-feira. Diante de uma escassez de motoristas exacerbada pela pandemia, a administração escolar votou pela contratação de ônibus, motoristas aposentados e professores com carteiras de motorista por US$ 25 por hora, o dobro do salário dos motoristas regulares.

Na sexta-feira à tarde, a diretoria realizou uma reunião de emergência e votou para aumentar o salário dos motoristas para US$ 20 por hora, um aumento de 66% para os motoristas com salários mais baixos.

Richmond, Califórnia

Depois de uma série de greves selvagens por estudantes e professores em Oakland, Califórnia, mais de 1.500 professores e funcionários no Distrito Escolar Unificado de West Contra Costa, com sede na vizinha de Richmond, foram autorizados a entrar em greve por questões de segurança da COVID-19. O sindicato local, United Teachers of Richmond (UTR), uma afiliada da Associação Nacional de Educação, autorizou uma greve após uma pesquisa realizada no fim de semana, na qual 72% dos professores votaram a favor de uma greve.

Como seus pares nos EUA e internacionalmente, os educadores citaram condições perigosas nas escolas e registraram ausências de funcionários e alunos. Os números de presença do distrito mostram que mais de um terço dos alunos faltou às aulas desde que as escolas reabriram em janeiro.

Os alunos expressaram suas preocupações com a segurança e exigiram instrução à distância em uma reunião do conselho escolar em 13 de janeiro. Um deles disse: “Esta semana inteira, sinto que estou escolhendo entre minha saúde, a saúde de minha família versus minha educação. Eu não deveria ter que tomar esta decisão”.

Em declarações ao East Bay Times que soam quase idênticas às da presidente da Federação de Professores de Champaign, a presidente da UTR Marissa Glidden revelou que o sindicato fará tudo o que estiver ao seu alcance para evitar uma greve e está confiando no distrito para ceder a algumas medidas de mitigação para evitar uma rebelião total, como foi realizado no início desta semana em Oakland. Referindo-se aos funcionários do distrito, Glidden disse: “Acreditamos que eles nos ouvem... Estamos dispostos a nos sentar e negociar pelo tempo que for necessário - tantas horas quantas forem necessárias - para chegarmos a um plano”.

Os professores devem aprender as lições dos últimos dois anos a fim de evitar um terceiro ano de catástrofe e morte em massa. Isto exige uma ruptura decisiva com os sindicatos, que intervêm quando a oposição atinge um ponto de ebulição apenas para “negociar” imediatamente um retorno forçado à sala de aula.

Contra o paroquialismo dos sindicatos, a luta contra a pandemia requer uma perspectiva internacional consciente e uma estrutura organizacional para unir a classe trabalhadora em cada país. Pedimos aos educadores, pais e estudantes que se juntem e construam a rede de comitês de segurança que lutam por esta perspectiva hoje.

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