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Após sindicato permanecer em silêncio por semanas, Mercedes-Benz começa demissões em massa

Publicado originalmente em 29 de setembro de 2022

Relatos de trabalhadores da Mercedes-Benz na planta de São Bernardo do Campo na região industrial do ABC estão mostrando o resultado do que foram semanas de reuniões do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC) com a companhia automotiva. Centenas de trabalhadores por contrato chegaram na fábrica na segunda-feira para descobrir que estão sendo sumariamente demitidos como parte do anúncio da empresa no início do mês de que demitiria 3.600 funcionários.

Trabalhadores da Mercedes-Benz em assembleia em São Bernardo do Campo, 8 de setembro de 2022 (Adonis Guerra/SMABC/FotosPublicas).

Além dos trabalhadores que já começaram a ser demitidos, que somam 2.200 efetivos e 1.400 por contrato, a Mercedes havia anunciado no dia 6 que irá terceirizar vários setores dentro da planta, incluindo a logística, manutenção, ferramentaria, laboratório, fabricação e montagem de eixo dianteiro e transmissão média.

Os burocratas do sindicato estão respondendo trabalhando para dividir os diferentes setores dentro da planta e impedir uma greve dos seus aproximadamente 9 mil trabalhadores. Em condições de enorme revolta entre os trabalhadores e faltando apenas alguns dias para a eleição presidencial no dia 2, a burocracia do SMABC, filiado à Central Única dos Trabalhadores (CUT) controlada pelo Partido dos Trabalhadores (PT), está auxiliando a empresa nas demissões enquanto tenta desviar a revolta para os canais reacionários do nacionalismo econômico.

Na tarde de segunda-feira, após as demissões súbitas, o sindicato chamou para uma reunião apenas os trabalhadores por contrato com vencimento no dia 3, constituindo uma fração dos milhares que serão demitidos.

Na terça-feira, na sede do SMABC, os burocratas sindicais tentavam desviar a revolta dos trabalhadores culpando os trabalhadores chineses pelos cortes de empregos. Enquanto declaravam que os cortes estavam ocorrendo porque o atual presidente, Jair Bolsonaro, queria importar ônibus da China, eles declararam absurdamente que a única forma de impedir esses cortes seria eleger o candidato do PT, Luis Inácio Lula da Silva.

Criticamente, os burocratas se sentiram obrigados a citar o artigo do World Socialist Web Site denunciando a sabotagem pelo sindicato da luta dos trabalhadores na fábrica. Ao mesmo tempo em que os burocratas debocharam do artigo, eles se limitaram a declará-lo “fake news. Ele se sentiram obrigados a desacreditar o WSWS porque é a única publicação falando a verdade para os trabalhadores da Mercedes, e os trabalhadores se identificaram claramente com o artigo.

Na terça-feira, na mesma manhã em que os burocratas do SMABC reuniam os 361 trabalhadores imediatamente desligados na sede do sindicato, o seu diretor executivo, Aroaldo da Silva, estava trabalhando para conter uma explosão de revolta na fábrica da Mercedes.

Após os trabalhadores da logística verem que a empresa já estava trazendo fornecedores para a fábrica para planejar a terceirização do seu setor, mostrando que não existe na verdade nenhuma “negociação” acontecendo com o sindicato, os próprios trabalhadores decidiram por uma paralisação na manhã de terça-feira. Temendo que a revolta se espalhasse, Silva reuniu os trabalhadores no pátio para conter a ação ao setor de logística e somente no turno da manhã. Ele declarou que eles fariam paralisações dos turnos de trabalho isoladamente em dias separados “para não parar a fábrica”.

Silva declarou para os trabalhadores da logística que qualquer quantidade de cortes que seja exigida pela Mercedes deve ser aceita pelos trabalhadores para não prejudicar os lucros da empresa. Ele disse: “É preciso fazer todo o mapeamento possível para tentar diminuir o impacto no setor”.

Os acontecimentos de terça-feira mostram que o sindicato trabalha para manter os trabalhadores automotivos divididos até mesmo dentro de uma mesma fábrica. Nenhuma confiança pode ser colocada nos burocratas no sindicato pra defender sequer os seus direitos mais imediatos por um emprego e condições de trabalho dignas. O fato de que os burocratas sindicais não estão reagindo às demissões em massa denunciando, mas acobertando elas expõe a sua manobra suja em estreita colaboração com a empresa.

Nas últimas três semanas desde que a Mercedes anunciou os cortes, os líderes do SMABC fizeram todos os esforços para manter os trabalhadores divididos, deixando de fazer qualquer apelo para que os 1.400 funcionários por contrato fossem contratados como efetivos. O sindicato chamou uma paralisação de três dias na planta para mantê-la isolada, sem chamar por qualquer greve com outros trabalhadores da indústria automotiva. Nas três semanas que se passaram desde o anúncio da empresa, os burocratas tem realizado um esforço sistemático de acobertamento das informações entre os trabalhadores.

Um trabalhador por contrato que entrou em contato com o World Socialist Web Site após o anúncio das demissões denunciou as manobras do sindicato um dia antes das demissões começarem na segunda-feira.

Ele disse: “O sindicato não possui nenhuma informação [sobre as demissões], só fala que está difícil e que a empresa não quer voltar atrás. Quando o sindicato fala dos trabalhadores por contrato, ele diz que ‘eles [a empresa] não sabem, que não falaram nada, não tocam no assunto’. Ou seja, o próprio sindicato não toca no assunto nas reuniões, que eles dizem estar acontecendo desde o dia 6. Só que eles não dizem nada sobre as reuniões, e apenas falam que ‘está em negociação’, e que ‘a empresa não quer voltar atrás’”.

O trabalhador apontou que, poucos dias atrás, o sindicato deu declarações extraoficiais para setores dentro da fábrica, dizendo que “não tem nada certo ainda”.

Não existe qualquer motivo para acreditar que os burocratas no sindicato não possuíam conhecimento dos planos da Mercedes de antecipar as demissões dos trabalhadores por contrato. Eles tem se reunido com a empresa desde o dia 6 de setembro enquanto os trabalhadores por contrato se aproximavam do fim dos seus contratos.

Conforme admitido no dia 8 pelo próprio presidente do SMABC, Aroaldo da Silva, durante um longo período de tempo, os burocratas sabiam dos planos da empresa para implementar diversas medidas de “reestruturação”, incluindo cortes de empregos. Silva havia declarado para a multidão na assembleia três semanas atrás: “Temos dialogado sobre essas questões. A direção da Mercedes começou a apresentar um cenário em que a empresa não tem dado o lucro esperado. ... Segundo eles, era preciso começar a discutir a planta de São Bernardo para não acontecer o pior”.

O trabalhador apontou para o papel geral do sindicato de supressão das lutas dos trabalhadores. Ele declarou: “Já trabalhei na Volkswagen, na GM, e o sindicato tem toda a mesma manobra: dizem que estão fazendo alguma coisa. Mas, no final, atendem, como vocês disseram, a burguesia, os empresários, e nós ficamos com as migalhas”.

Após anos agindo como auxiliar das companhias automotivas no corte de salários e empregos e culpando os trabalhadores de outros países pela saída das fábricas, o sindicato ligado ao PT quer que os trabalhadores apoiem a campanha pela eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem feito sua campanha baseado no mesmo programa nacionalista defendido pelo sindicato e pelo próprio Bolsonaro.

Esse programa é um componente crítico na tentativa de suprimir a oposição da classe trabalhadora no Brasil em nome do “desenvolvimento nacional”. A burocracia do SMABC está defendendo esse programa nacionalista como componente da campanha do PT através do “Plano Indústria 10+”.

O plano, promovido em uma reunião de Aroaldo da Silva e as centrais sindicais com o candidato de vice de Lula, Geraldo Alckmin, chama pela construção de organizações “multipartite”, que subordinariam na prática a classe trabalhadora aos ditados das corporações transnacionais conforme elas exigem cada vez mais cortes de custos de trabalho. Isso significaria mais cortes de salários e empregos e a intensificação da exploração dos trabalhadores para extrair o máximo de lucros e atrair investimentos.

É preciso que os trabalhadores automotivos sejam informados da enorme traição que está sendo preparada pelas suas costas. As demissões dos trabalhadores por contrato que já começaram são apenas o prelúdio de um massacre de empregos na Mercedes. Ao invés das “negociações” do sindicato com a empresa, é necessário um Comitê de Base da Mercedes-Benz deve ser organizado pelos próprios trabalhadores para discutir pontos críticos, como a reversão de todos os demitidos, a garantia de que não irá acontecer mais nenhuma demissão, a garantia de um contrato como efetivo para todos os trabalhadores, um aumento imediato para compensar as perdas nos salários reais sendo causadas pela inflação.

Todas essas demandas devem ser discutidas entre os trabalhadores da Mercedes, e uma resolução escrita pelos próprios trabalhadores deve ser adotada. Essas demandas e quaisquer outras que sejam levantadas pelos trabalhadores só podem ser discutidas francamente e democraticamente se os trabalhadores criarem as suas próprias organizações de luta independentes do sindicato e da empresa.

Essas demandas são mais do que capazes de serem pagadas pelos enormes lucros sendo registrados pela Mercedes, que, apenas no trimestre passado, lucrou mais de €3 bilhões (R$16,4 bilhões).

Acima de tudo, é preciso que os trabalhadores chamem pelo auxílio de toda a classe trabalhadora não somente no ABC e no Brasil, mas internacionalmente, e construam um comitê de base na fábrica da Mercedes como parte da Aliança Operária Internacional de Comitês de Base (AOI-CB). Os trabalhadores em todo o mundo confrontam preços crescentes, exploração cada vez maior e foram forçados a trabalhar durante a pandemia e devem ser unificados em uma luta comum em defesa dos seus empregos, salários dignos, condições de trabalho seguras e direitos democráticos.

Com a inflação corroendo os salários reais dos trabalhadores de toda a indústria e no país inteiro e internacionalmente, uma greve na Mercedes que fizesse um apelo aos trabalhadores automotivos em outras plantas no Brasil e internacionalmente se tornaria rapidamente um centro da ofensiva da classe trabalhadora internacional.

Os enfermeiros tem entrado em massivas greves no país contra a anulação do piso salarial obrigatório pelo Superior Tribunal Federal (STF). Os trabalhadores automotivos da Espanha foram traídos recentemente pelo sindicato da UGT e pelas “comissões operárias” (CCOO) ligadas ao Podemos.

Enquanto isso, nos EUA, Will Lehman, trabalhador automotivo da Mack Trucks, está levando adiante uma poderosa campanha na eleição para presidente do UAW, o sindicato americano. Ele está realizando uma campanha sobre a plataforma de expulsar toda a burocracia sindical e tomar os vastos recursos acumulados com o trabalho dos próprios trabalhadores das mãos das autoridades parasitas e utilizá-los para organizar uma luta genuína.

O Grupo Socialista pela Igualdade, que trabalha em solidariedade com o Comitê Internacional da Quarta Internacional no Brasil, irá auxiliar os trabalhadores que desejam construir um comitê no seu local de trabalho. Nós chamamos aqueles que desejam lutar para que entrem em contato.

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