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Perspectivas

Perigosas novas variantes ameaçam surto massivo de COVID-19 no fim do ano

Publicado originalmente em 21 de outubro de 2022

Um mês após o início do outono no Hemisfério Norte, está claro o início da próxima onda global da pandemia de COVID-19.

Devido ao desmonte da testagem e dados de notificação em grande parte do mundo, os números oficiais de infecção são hoje em grande parte inúteis. A estimativa mais precisa do número real de infecções diárias de COVID-19, feita peloinstituto de estatística em saúde da Universidade de Washington, IHME, mostra que 21 milhões de pessoas foram infectadas no mundo inteiro na quarta-feira, um aumento de 23% em relação às 17 milhões de infecções em 27 de setembro.

Em meio a essa crise cada vez mais profunda, as elites dominantes em todo o mundo descobriram a cura perfeita para a pandemia: Simplesmente ignorar e encobrir ela. No máximo, as notícias falam brevemente sobre a pandemia uma vez por mês, enquanto os jornais apenas repetem as mentiras dos políticos capitalistas.

Essa propaganda tem tido um impacto terrível na consciência de massa, e a sociedade global está totalmente despreparada para o atual surto. Após ouvirem que “a pandemia acabou”, como disse o presidente americano, Joe Biden, muitos estão deixando de tomar até mesmo as precauções mais elementares. As ações descuidadas do público enganado relembram a imagem do famoso quadro de Pieter Bruegel “A Parábola dos Cegos”.

Porém, os líderes políticos não são cegos. Intencionalmente, eles ignoraram os repetidos alertas dos epidemiologistas e priorizaram os lucros da elite empresarial-financeira acima da vida. Desde o início da pandemia, figuras de extrema direita semearam profunda confusão dentro da população, enquanto governos ostensivamente liberais em todo o mundo adotaram ao longo do ano passado a estratégia homicida de “imunidade de rebanho”, que teve a extrema direita como pioneira. As conseqüências dessas políticas estão sendo percebidas enquanto o mundo entra em uma situação ainda mais perigosa.

A onda crescente é diferente de tudo o que se viu desde o início da pandemia e muitos cientistas estão profundamente preocupados. Como resultado da propagação desimpedida da COVID-19 durante o ano passado, a variante Ômicron produziu centenas de subvariantes com diferentes perfis de mutação, criando o que os especialistas chamaram de “sopa de variantes”.

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As mais preocupantes são uma coleção de “variantes de escape” altamente mutáveis que possuem mais escape imune e são mais infecciosas do que todas as outras subvariantes da Ômicron. Particularmente preocupantes são a BQ.1.1 e a XBB, que são consideradas passíveis de se tornar dominantes em todo o mundo nas próximas semanas. Em Cingapura, a XBB se tornou dominante há duas semanas e está alimentando uma onda massiva de infecções e reinfecções.

Estudos indicam que tanto essas variantes como outras irão tornar ineficazes os últimos medicamentos de anticorpos monoclonais, Evusheld e Bebtelovimab, ameaçando dezenas de milhões de pessoas imunocomprometidas em todo o mundo e os riscos de doenças graves e de morte.

Uma das maiores preocupações dos especialistas é o aumento da COVID longa, um amplo espectro de sintomas prolongados que podem afetar quase todos os órgãos do corpo. Um estudo ainda não verificado por pares conduzido pelo dr. Ziyad Al-Aly da faculdade de Medicina da Universidade de Washington concluiu que, comparado àqueles com a infecção por COVID-19, aqueles com reinfecção possuíam o dobro do risco de morte por todas as causas, o triplo do risco de hospitalização e quase o dobro do risco de pelo menos um sintoma de COVID longa. O estudo observa: “Os riscos eram evidentes em subgrupos, incluindo aqueles que não estavam vacinados, possuíam uma dose, ou 2 ou mais doses antes da segunda infecção”.

Significativamente, a variante XBB impulsionou reinfecções em Cingapura de apenas 5% em meados de agosto para 17,5% até 14 de outubro, um aumento sem precedentes que ressalta os perigos das novas “variantes de escape”.

Em uma alarmante coletiva de imprensa na quarta-feira, a líder técnica da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a COVID-19, dra. Maria Van Kerkhove, enfatizou que a subvariante XBB “está mostrando uma evasão imunológica significativa”. Ela acrescentou: “Isso é motivo de preocupação para nós, pois precisamos garantir que as vacinas que estão em uso no mundo inteiro continuem a ser eficazes na prevenção de doenças graves e da morte. Quanto mais esse vírus circula, mais oportunidades ele tem de mudar”.

Ela concluiu: “Precisamos ser capazes de rastrear esse vírus. Há milhões de casos sendo relatados a cada semana, mas nossa vigilância diminuiu, os testes diminuíram, o sequenciamento diminuiu e isso, por sua vez, limitou nossa capacidade como organização, com nossas redes de especialistas ao redor do mundo, de avaliar essas [subvariantes]”.

Os comentários de Kerkhove são um indiciamento devastador das políticas implementadas em todo o mundo em resposta à pandemia. Mesmo que a atual “sopa de variantes” não torne as vacinas existentes incapazes de evitar doenças graves e a morte, a constante propagação do vírus fornece a elas bilhões de hospedeiros nos quais irá continuar a sofrer mutações e potencialmente evoluir para uma cepa mais letal, ao mesmo tempo em que a capacidade da OMS de monitorar essas mutações foi substancialmente reduzida.

É um grande eufemismo dizer que a sociedade americana e mundial está voando às cegas na direção de uma tempestade que se aproxima. Uma descrição mais precisa seria a de que o piloto do avião deliberadamente jogou fora o combustível do motor, sabotou o trem de pouso e disse aos controladores de tráfego aéreo para irem para casa.

Seguindo os ditames da administração Biden, na quinta-feira o centros de controle e prevenção de doenças americano, CDC, transitou da notificação diária para semanal dos casos e mortes por COVID-19. Na sexta-feira, a agência terminou silenciosamente seu programa limitado de distribuição gratuita de máscaras. Na semana passada, o epidemiologista dr. Eric Feigl-Ding revelou que o CDC reteve dados mostrando que as subvariantes BQ.1 e BQ.1.1 estão se tornando dominantes rapidamente em todo os EUA e são hoje responsáveis por 11,4% de todas as variantes. Em Nova York, onde essas novas subvariantes atingiram suas maiores proporções, as hospitalizações por COVID-19 aumentaram em 9% somente na última semana.

Os mesmos processos estão em andamento em toda a Europa, onde as infecções, reinfecções, internações e mortes por COVID-19 estão aumentando de forma constante. Na Alemanha, a Oktoberfest e outros grandes eventos encorajados pelos políticos estão hoje alimentando uma segunda onda de infecções pela BA.5, o que tem pressionado os hospitais ao limite. Desde segunda-feira, houve 680 mortes por COVID-19 em todo o país, 60% maior do que duas semanas atrás, e os especialistas advertem que as novas variantes só irão agravar uma situação já grave. Na França, onde BQ.1 e BQ.1.1 são hoje responsáveis pela maioria de todas as infecções, as mortes por COVID-19 estão aumentando constantemente.

O público mal informado não deve ser responsabilizado pela profunda falta de compreensão científica. A misantropia e o pessimismo debilitante não farão nada para provocar uma mudança na pandemia. Ao contrário, todos os esforços devem ser feitos para combater a propaganda do governo e educar os trabalhadores e a juventude sobre a ciência da estratégia de eliminação da COVID zero, que permanece viável e necessária até hoje.

Há quase exatamente um ano, em 24 de outubro de 2021, o World Socialist Web Site e a Aliança Operária Internacional de Comitês de Base (AOI-CB) organizaram um poderoso webinário, em que a reunião de cientistas líderes delineou uma estratégia de eliminação global para deter a pandemia. A terrível experiência do ano passado, que teve um número estimado de 6,2 milhões de mortes em excesso, entrega um significado ainda maior a esse evento. O webinário refutou de forma abrangente a mentira de que nada pode ser feito para deter a pandemia e provou que milhões de vidas ainda podem ser salvas.

No ano passado, a imprudência das políticas em resposta à pandemia foi estendida à arena da guerra por procuração dos EUA-NATO contra a Rússia na Ucrânia, que o próprio Biden reconheceu que ameaça provocar o “Armagedom” nuclear. Hospitais, escolas e indústrias em todos os EUA e internacionalmente colapsando após ondas intermináveis da COVID-19 causarem uma enorme escassez de pessoal. O próximo inverno será catastrófico, a menos que a classe trabalhadora tome medidas imediatas.

O capitalismo é um sistema social obsoleto e anárquico que não oferece futuro para a humanidade e deve ser substituído por uma economia socialista mundial planejada. A tarefa primordial que a classe trabalhadora internacional enfrenta é desenvolver um movimento global de massa para deter a pandemia, acabar com a guerra e reconstruir a sociedade sobre bases socialistas.

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