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Perspectivas

O acobertamento da subvariante XBB.1.5 da Ômicron pelo CDC e o surto de COVID no inverno

Publicado originalmente em 4 de janeiro de 2023

Na semana passada, foi revelado que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) americano ocultou ao longo do mês passado o fato de que uma perigosa nova variante do coronavírus, conhecida como subvariante XBB.1.5 da Ômicron, tornou-se rapidamente predominante em todos os Estados Unidos.

Em 29 de dezembro, o epidemiologista, Eric Feigl-Ding, divulgou dados do CDC mostrando que a XBB.1.5 já era predominante nos Estados Unidos. Um dia após o seu fio no Twitter viralizar, o CDC atualizou sua seção sobre variantes da COVID-19 com os exatos mesmos dados que Feigl-Ding havia vazado. Esse mesmo processo ocorreu entre 13 e 14 de outubro de 2022, quando Feigl-Ding vazou dados do CDC mostrando que as subvariantes BQ.1 e BQ.1.1 da Ômicron estavam se tornando dominantes, o que foi então confirmado pelo CDC no dia seguinte sob crescente pressão pública.

Após ambos os vazamentos, o CDC não emitiu nenhuma declaração pública e a mídia corporativa omitiu o próprio fato de que um encobrimento estava acontecendo, sendo o World Socialist Web Site a única publicação a esclarecer essa situação.

A nova variante XBB.1.5, que agora responde por 40,5% de todas as infecções por COVID-19 sequenciadas nos EUA, tornou-se dominante mais rapidamente do que qualquer outra variante desde que a Ômicron se espalhou globalmente pela primeira vez em novembro de 2021. A hipótese é que a variante XBB.1.5 tenha evoluído em Nova York em outubro e está impulsionando uma onda de infecções e hospitalizações em toda a região nordeste dos EUA, com taxas de hospitalização entre pessoas com 70 anos de idade ou mais, aproximando-se dos auges da pandemia em alguns estados. Essa faixa etária já é responsável por mais de 90% de todas as mortes por COVID-19 nos EUA.

Devido ao desmonte dos testes de PCR e à promoção de autotestes rápidos, que não são contabilizados pelo governo, os números oficiais sobre infecções nos EUA são hoje totalmente imprecisos. Entretanto, os dados de águas de esgoto mostram que os EUA estão atualmente em meio ao segundo maior surto de infecções de toda a pandemia, que está sendo impulsionada pela XBB.1.5 na região nordeste.

Vários cientistas alertaram sobre a XBB.1.5 durante todo o mês de dezembro e antes, apelidando a variante de “Kraken”. Uma postagem recente no blog do cientista Eric Topol descreve as características biológicas do XBB.1.5 e as pesquisas que os cientistas fizeram até o momento.

Em resumo, é possível que a XBB.1.5 seja a variante com mais escape imunológico até o momento, o que significa que as vacinas e a infecção prévia não oferecem praticamente nenhuma proteção contra a infecção ou reinfecção. Também foi demonstrado que a XBB.1.5 se liga mais estreitamente ao receptor hACE2, o que os cientistas acreditam que a torna mais infecciosa do que qualquer variante anterior.

Expressando sua preocupação com o XBB.1.5, Akiko Iwasaki, uma das maiores imunologistas do mundo, tendo liderado pesquisas pioneiras sobre a COVID longa, tuitou na segunda-feira: “Por favor, protejam-se e protejam os outros utilizando máscaras N95. Estou realmente preocupada com a onda de #longCOVID após essas infecções'.

Em um tuite posterior, Iwasaki explicou que as características da XBB.1.5 “irão aumentar o tropismo e possivelmente a persistência em tipos de células que são de longa vida”, o que significa que a probabilidade de desenvolver COVID longa após a infecção com XBB.1.5 poderia ser maior do que com as variantes anteriores.

Um cientista, que produziu modelos corretos da propagação da XBB.1.5 durante todo o mês de dezembro, criou a visualização abaixo para mostrar a provável linha do tempo da onda que se aproxima. Eles estimam que até o final de janeiro, a XBB.1.5 será responsável por mais de 75% de todas as infecções nos EUA, momento em que o surto nacional estará avançando com toda força.

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Além disso, a variante XBB.1.5 cultivada nos EUA está sendo exportada globalmente, conforme mostrado na visualização abaixo. Ela foi detectada em toda a Europa, assim como na Índia, Austrália, Colômbia, China e outros países, com os cientistas prevendo que pode se tornar predominante globalmente.

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Dado o que os cientistas aprenderam sobre os perigos das reinfecções por COVID-19, bem como infecções de pessoas vacinadas, esse potencial surto global teria imensas repercussões sociais. Quantidades massivas de pessoas poderiam ser infectadas ou reinfectadas com a COVID-19, causando picos nas hospitalizações e mortes, agravando os danos para a saúde geral da população.

Nessas condições, a retenção deliberada de dados sobre XBB.1.5 do público está entre os acobertamentos mais importantes na história do CDC ou de qualquer outra agência de saúde pública em todo o mundo. Não existe explicação inocente para os acobertamentos do CDC em dezembro ou outubro, que foram claramente deliberados e feitos para evitar qualquer alarme público que pudesse atrapalhar a temporada de compras e viagens nos feriados de fim de ano.

Três anos desde o início da pior pandemia em um século, o CDC está totalmente desacreditado como uma agência de saúde pública. Durante toda a pandemia da COVID-19, a agência tem sido cada vez mais politizada, adaptando a ciência a todas as mentiras das administrações Trump e Biden para atender às necessidades de Wall Street e das corporações americanas.

Ao longo de 2022, o CDC aprofundou suas políticas anticientíficas, publicando diretrizes que desencorajavam o isolamento seguro dos pacientes infectados, uso de máscaras e outras medidas críticas de mitigação, ao mesmo tempo em que manipulava os dados para corresponder à mentira de Biden de que “a pandemia acabou”.

Durante todo o mês de dezembro, a diretora do CDC, Rochelle Walensky, e o coordenador da resposta à COVID da Casa Branca, Ashish Jha, permaneceram em silêncio sobre os claros perigos da variante XBB.1.5 e da pandemia de forma mais geral.

Em 30 de dezembro, Walensky rompeu seu silêncio tuitando: “Não podemos parar a propagação da #COVID19”. Ela elogiou a nova política do CDC exigindo que todos os viajantes da China testem negativo para a COVID-19 dois dias antes de viajarem para os EUA. A mesma política estipula que a agência irá conduzir mais sequenciamento genômico da China e de outros países, ostensivamente para “diminuir a chance de entrada de uma nova variante de preocupação”.

O tuite de Walensky, publicado um dia após o vazamento dos dados do CDC da XBB.1.5 por Feigl-Ding, foi totalmente denunciado por sua hipocrisia e xenofobia implícita contra a China. Alguns especularam que a nova política do CDC em si, divulgada um dia antes do vazamento dos dados sobre XBB.1.5, poderia ter sido em preparação para uma tentativa grosseira de culpar a China pelo surgimento da XBB.1.5.

A afirmação de Walensky de que “Não conseguimos parar a propagação da COVID-19” também provocou uma torrente de comentários hostis, indicando a contínua oposição à política de “imunidade de rebanho” hoje em vigor internacionalmente.

Para manter a situação atual e impedir o crescimento de um movimento organizado de trabalhadores e cientistas para deter a pandemia, aqueles no poder dependem de uma camada de abastados cientistas oficiais no governo e na mídia para promover a desinformação e cultivar um senso de apatia na população para implementar suas políticas criminosas em resposta à pandemia. Nos EUA, Walensky, Jha, Anthony Fauci e outros lideram esse esforço. Na Alemanha, o virologista Christian Drosten declarou em dezembro que a pandemia “acabou”, levando os políticos de vários partidos a chamar pelo fim de todas as medidas de mitigação no ano novo. As mesmas mentiras e enganação coordenadas têm sido promovidas internacionalmente.

A campanha de propaganda infindável no Ocidente teve um impacto dentro da China, onde setores da classe média e da burocracia do Partido Comunista Chinês (PCC) se convenceram cada vez mais de que a Ômicron era “leve” e que a COVID Zero precisava ser abandonada. O cerco da China com uma política global de “COVID para sempre”, combinado com implacáveis pressões econômicas e geopolíticas, levou o PCC a remover a COVID Zero, desencadeando uma onda gigantesca de infecções e mortes em todo o país.

Na declaração de ano novo do World Socialist Web Site, Joseph Kishore e David North advertiram:

O abandono da COVID Zero na China e a adoção de uma política de “COVID para sempre” marca uma etapa nova e potencialmente ainda mais perigosa na pandemia. Os cientistas advertiram que a infecção em massa aumenta a probabilidade de que novas variantes evoluam. As elites capitalistas do mundo estão jogando roleta russa com a sociedade, aumentando o perigo de que uma variante mais infecciosa, imune e mortal possa desencadear uma onda global de infecções ainda mais letal.

Neste momento, a variante XBB.1.5 não parece ser mais letal do que as variantes anteriores, mas somente o tempo dirá. Os alertas de que ela pode causar COVID longa mais facilmente são ameaçadoras, pois já existem centenas de milhões de pessoas em todo o mundo que sofrem com esse mal.

O perigoso processo de evolução viral do coronavírus deve ser interrompido através da construção de um movimento massivo da classe trabalhadora internacional lutando para pôr um fim à pandemia. Isso deve estar conectado à luta consciente contra a guerra por procuração dos EUA-OTAN contra a Rússia na Ucrânia, à ameaça da guerra nuclear, à crise climática crescente e a todos os imensos problemas sociais criados pelo capitalismo mundial.

O ano de 2022 testemunhou um crescimento significativo da luta de classes em nível mundial, que irá continuar no próximo ano. A tarefa mais crítica é a construção de uma liderança revolucionária na classe trabalhadora, lutando pela estratégia da revolução socialista mundial.

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