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América Latina é arrastada para conflito no Oriente Médio sob alertas da “Terceira Guerra Mundial”

Publicado originalmente em 19 de abril de 2024

O conflito militar com o Irã, provocado por Israel, está arrastando a América Latina ainda mais para a espiral de uma emergente guerra mundial.

No dia 13, o Irã lançou mais de 300 drones e mísseis contra Israel em resposta ao bombardeio de sua embaixada em Damasco, que matou sete oficiais militares iranianos de alto escalão. As forças dos EUA, do Reino Unido, da França, do Líbano e da Arábia Saudita repeliram a maior parte do ataque iraniano, mas as autoridades israelenses decidiram ampliar ainda mais o conflito. Israel atacou no dia 19 o próprio Irã, atingindo uma base militar com drones.

Presidente argentino Javier Milei lidera comitê de crise com participação de embaixador israelense, Eyal Sela, na Casa Rosada, Buenos Aires, 14 de abril [Photo: Oficina del Presidente]

A resposta mais marcante na América Latina veio do presidente fascista da Argentina, Javier Milei, que criou um comitê de crise composto por membros do gabinete e pelo embaixador israelense em Buenos Aires, Eyal Sela.

Milei interrompeu uma viagem à Dinamarca, onde seu governo comprou caças F-16, e retornou a Buenos Aires, “para tomar conta da situação e coordenar as ações com os presidentes do mundo ocidental”, segundo seu porta-voz.

Recentemente, o governo de Milei se comprometeu com uma “aliança estratégica” com o Pentágono e solicitou formalmente no dia 18 que se tornasse um “parceiro global” da OTAN, um status mantido apenas pela Colômbia na região. Após Milei visitar Israel para apoiar seu genocídio em Gaza, o diretor da CIA, William Burns, e a então chefe do Comando Sul dos EUA, Laura Richardson, visitaram a Argentina.

Hoje, Milei está usando a agressão israelense contra o Irã para consolidar o papel de seu regime como plataforma das conspirações imperialistas dos EUA na região, aspirando claramente ao papel desempenhado no Oriente Médio por Israel.

Dando uma indicação do que estava sendo produzido pelo “comitê de crise”, a ministra da Segurança da Argentina, Patricia Bullrich, foi à televisão nacional para afirmar, sem um pingo de evidência, que existem 700 membros das Forças Quds do Irã na Bolívia, sugerindo que eles estão recebendo passaportes bolivianos.

A Argentina e o Equador foram os dois únicos países latino-americanos a assinar uma declaração liderada pelos EUA, emitida no dia 17, denunciando “inequivocamente” o ataque do Irã a Israel. Tais condenações são um sinal de total subordinação ao imperialismo americano e sua hipocrisia, já que Washington afirma há muito tempo seu direito de massacrar quem quer que considere um obstáculo a seus interesses.

O presidente do Equador, Daniel Noboa, declarou separadamente: “O total apoio do Equador ao povo de Israel nesses tempos difíceis”. Sua vice-presidente, Verónica Abad, está atualmente em Israel como parte de uma chamada “Missão de Paz”.

O presidente pseudoesquerdista do Chile, Gabriel Boric, que também apoia a guerra dos EUA e da OTAN contra a Rússia na Ucrânia, emitiu uma declaração separada, mas igualmente subserviente, “condenando os ataques de mísseis e drones do Irã contra Israel”.

Na Venezuela, vários meios de comunicação de direita fizeram alegações infundadas de que o governo de Nicolás Maduro foi cúmplice direto do ataque iraniano. Enquanto isso, a oposição apoiada pelos EUA usou o ataque iraniano para promover a mudança de regime.

A líder da oposição fascista, María Corina Machado, declarou: “Essa ação sem precedentes e inaceitável mais uma vez levanta nossa denúncia do risco representado pela aliança do Irã com o regime venezuelano... O retorno da Venezuela à democracia e sua reinserção no mundo livre irão contribuir para mitigar esse risco”.

Maduro atribuiu o conflito Irã-Israel ao primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e ao “apoio dos EUA”, e advertiu: “Uma escalada do conflito, produto da loucura nazista de Netanyahu, poderia nos levar a uma terceira guerra mundial, e a Venezuela defende a paz, a racionalidade, a diplomacia e a verdade”.

Isso ocorreu após a decisão das autoridades da Casa Branca de reimpor sanções totais às exportações de petróleo venezuelanas, após não terem conseguido forçar o regime de Maduro a permitir que a candidata preferida de Washington, Corina Machado, concorresse às eleições presidenciais planejadas para julho. Ao mesmo tempo, os EUA continuaram a conceder licenças separadas a empresas petrolíferas sediadas nos EUA “caso a caso”, estabelecendo um controle efetivo sobre a mais importante fonte de renda da Venezuela.

Porém, depois de denunciar Washington por apoiar o fascismo e provocar uma Terceira Guerra Mundial, Maduro também disse na segunda-feira que “nunca fechará a porta para o diálogo”.

“Eu disse aos negociadores que dessem ao presidente Biden a seguinte mensagem: ‘Se você quiser, eu quero. Se você não quiser, eu não quero’”, disse Maduro com um inglês ruim.

Em uma coletiva de imprensa, o presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador disse que o ataque do Irã foi feito em resposta ao bombardeio da embaixada iraniana e pediu que Israel não retaliasse. Ele disse: “Isso irá escalar o conflito para uma situação muito arriscada”.

O seu governo se recusou a condenar qualquer lado – inclusive Israel pelo genocídio de Gaza e sua agressão provocativa contra o Irã – e propôs “mais atividades da ONU” para a “paz” e a “fraternidade universal”.

No Brasil, o presidente Lula da Silva, que foi declarado “persona non grata” por Israel depois de comparar o massacre em Gaza ao Holocausto, apenas pediu que todos os lados evitassem uma escalada. Segundo o Globo, o governo Lula está usando os canais diplomáticos para se defender de uma represália israelense.

Lula também pediu um cessar-fogo em Gaza, mas, assim como López Obrador, defendeu o suposto “direito de autodefesa” de Israel e promoveu a moribunda “solução de dois Estados”, que historicamente tem servido como uma cobertura fraudulenta para a expansão contínua dos assentamentos israelenses e a limpeza étnica dos palestinos.

O governo boliviano do presidente Luis Arce, que rompeu relações diplomáticas com Israel por causa de seu genocídio em Gaza, respondeu ao ataque iraniano pedindo a intervenção da ONU e alertando que “a escalada da violência global coloca a humanidade em risco de extinção”.

O presidente pseudoesquerdista da Colômbia, Gustavo Petro, fez um alerta semelhante: “Era previsível; estamos agora à beira da Terceira Guerra Mundial... O apoio na prática dos EUA ao genocídio incendiou o mundo”. Apesar disso, Petro prometeu “consolidar” o status de seu governo como “parceiro global da OTAN” e não possuía proposta melhor do que pedir à ONU que “aposte imediatamente na paz”.

A crise do Oriente Médio expôs mais uma vez a ONU como uma “cozinha de ladrões” a serviço do imperialismo e uma “mentira do começo ao fim”, conforme Lenin descreveu sua organização antecessora, a Liga das Nações. Ela não apenas não conseguiu impedir nenhuma das guerras de agressão lideradas pelos EUA em todo o mundo desde sua criação, como também forneceu ativamente uma cobertura pseudolegal para muitas delas.

Enquanto os regimes de extrema direita da América Latina atuam como provocadores em coordenação direta com a CIA, as supostas políticas “anti-imperialistas” e “pacifistas” dos governos da “maré rosa” estão totalmente falidas, reduzidas a uma tentativa fútil de pressionar as potências imperialistas a serem menos predatórias.

Lula, AMLO, Maduro e companhia representam os interesses de setores da burguesia que estão tentando alavancar laços comerciais e diplomáticos com a China, a Rússia e, em menor escala, com o Irã. O seu alarme em relação a uma possível guerra mundial nuclear é ainda mais significativo, dada a defesa incondicional do capitalismo e a subordinação final ao imperialismo.

A globalização econômica e a hegemonia enfraquecida do imperialismo americano tornaram a América Latina um campo de batalha fundamental na nova redivisão do planeta. Para Washington, os recursos naturais estratégicos da região e as cadeias de suprimentos para as principais indústrias dos EUA, incluindo os fabricantes de armas, devem ser protegidos dos rivais chineses e até mesmo europeus. Além disso, Washington considera necessário atrair ativamente para seu campo de batalha os maiores exércitos (Brasil, México, Argentina, Colômbia e Chile), cujas forças e influência são cultivadas há muito tempo.

Recentemente, ao anunciar a mobilização da 4ª Frota dos EUA com o porta-aviões USS George Washington em exercícios e operações conjuntas em toda a América do Sul, o Pentágono se vangloriou de que seus marinheiros “estão prontos para controlar o mar, realizar ataques e manobrar em todo o espectro eletromagnético e no ciberespaço”.

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