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Perspectivas

As lições políticas da manifestação pela liberdade de Assange de 3 de Março

Publicado originalmente em 5 de Março de 2019

A manifestação de 3 de Março em Sidney organizada pelo Partido Socialista pela Igualdade (Austrália) representou um importante passo no avanço da luta para garantir a liberdade do jornalista perseguido do WikiLeaks Julian Assange.

Centenas de pessoas reuniram-se no Anfiteatro Martin Place para ouvir tanto os discursos de membros do Partido Socialista pela Igualdade (PSI) quanto de importantes defensores de Assange, do Wikileaks e da liberdade de expressão: o jornalista e cineasta John Pilger, o professor e defensor dos direitos civis Stuart Rees e o editor-chefe do Consortium News Joe Lauria.

A campanha realizada para a manifestação ganhou o apoio de outros importantes jornalistas independentes e artistas famosos, como o co-fundador da banda Pink Floyd, Roger Waters, e dos mais resolutos defensores de Assange e do WikiLeaks na Austrália e ao redor do mundo, incluindo a mãe de Julian, Christine Assange. Diante da censura geral realizada pelo establishment político e pela mídia na Austrália, a manifestação foi promovida através da rede social e sites de notícias independentes.

No dia do evento, milhares de pessoas seguiram a manifestação através do Facebook, Twitter e Instagram de várias partes do mundo. Ao longo das últimas 48 horas, reportagens e comentários sobre o evento foram vistos por dezenas de milhares de pessoas. Os discursos, ou trechos deles, foram publicados por várias fontes e estão circulando amplamente.

As próximas manifestações, que acontecerão em 10 de Março na Biblioteca do Estado em Melbourne, na Austrália, e em frente à Embaixada do Equador em Londres, onde Assange está detido arbitrariamente, estão agora sendo promovidas com o mesmo entusiasmo e determinação.

Segundo James Cogan, secretário nacional do PSI, em seu discurso de 3 de Março: “Aqueles presentes hoje aqui e online representam o começo de uma campanha de massa. Nós estamos enviando uma mensagem clara para Julian Assange hoje e ele a ouvirá – você não está sozinho, você não foi abandonado, você não foi esquecido. Você será libertado.”

A manifestação recebeu uma poderosa resposta com base em uma perspectiva política inequívoca e de princípio sobre a qual foi convocada. A manifestação não foi baseada em apelos ao establishment político, mas na ação independente da classe trabalhadora para exigir que o governo australiano use seus poderes diplomáticos e legais para garantir o retorno imediato de Assange para a Austrália, com proteção garantida contra sua extradição para os EUA.

O PSI, a seção australiana do Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI), tem insistido que a luta pela liberdade de Julian Assange é inseparável da luta mais ampla da classe trabalhadora ao redor do mundo contra o sistema de lucro capitalista – a fonte dos ataques contra os direitos democráticos, níveis estarrecedores de desigualdade social, neo-colonialismo e o perigo crescente de uma guerra mundial.

Os direitos democráticos – incluindo os direitos de editores como Assange e a liberdade de expressão – só podem ser defendidos pela mobilização política independente da classe trabalhadora em oposição aos partidos pró-capitalistas e ao estado capitalista.

A classe trabalhadora possui amplos interesses na defesa da existência de um genuíno “quarto poder”, que ofereça análise verdadeira, notícias e denúncias da propaganda, da corrupção e dos abusos do estado. Mas assim como não pode haver socialismo sem democracia, não pode haver democracia sem socialismo.

O aparato de estado dos EUA e suas agências lançaram uma caçada vingativa em 2010 para montar acusações criminais contra Assange, precisamente porque os EUA e outros governos temiam que os documentos vazados pelos denunciantes e publicados pelo WikiLeaks contribuiriam para uma explosão de descontentamento das massas. Esses medos foram confirmados quando telegramas publicados pelo WikiLeaks provocaram um levante de massas de trabalhadores na Tunísia, que, por sua vez, tiveram um papel nos levantes revolucionários no Egito em Fevereiro de 2011 que derrubaram o regime fantoche dos EUA de Hosni Mubarak.

A defesa do WikiLeaks pelo WSWS e o CIQI desde 2010 tem sido baseada em um claro entendimento de que as tentativas de silenciar e prender Assange foram motivadas acima de tudo pela determinação da elite dominante de tentar manter a classe trabalhadora ignorante, desorientada, dividida e suprimida.

Como James Cogan afirmou em 3 de Março, Julian Assange é, no sentido mais profundo, um prisioneiro da guerra de classes.

O discurso de Cogan chamou atenção para os dois processos interconectados que estão transformando a situação, e que são cruciais para conquistar a liberdade de Assange.

Em primeiro lugar, a classe trabalhadora está se movimentando em um poderoso ressurgimento da luta de classes internacional depois de ter sido suprimida por décadas. Seguindo importantes movimentos que aconteceram em 2018, os primeiros meses de 2019 assistiram a continuação dos protestos dos “coletes amarelos” que tem estremecido o governo francês, greves de professores em todo os EUA, uma rebelião de trabalhadores de auto peças no México e uma agitação entre os trabalhadores na China, Índia e Brasil, para dar apenas alguns exemplos.

Em uma frente internacional em rápida expansão, os trabalhadores estão sinalizando que não aceitarão mais tanto as condições que enfrentam quanto o futuro que está sendo oferecido a eles e seus filhos sob o sistema capitalista. A classe trabalhadora irá lutar por uma condição de vida digna, por direitos democráticos e por um fim à ameaça da mudança climática e de uma guerra mundial.

Em segundo lugar, o ressurgimento da classe trabalhadora, e as manifestações iniciais de seu poder, fortaleceram essa seção da intelectualidade e da classe média profissional que se manteve firme na defesa de princípios democráticos e que tem preocupação genuína pelo destino da humanidade. Essa camada foi representada na campanha internacional para a manifestação de 3 de Março por uma gama de pessoas – incluindo jornalistas, artistas, advogados, acadêmicos e educadores, médicos, cientistas e profissionais de TI – que participaram das mais variadas maneiras.

A luta de classes não é uma abstração. É a força motora objetiva da mudança social. Um movimento político e industrial amplo de trabalhadores internacionalmente, guiado por uma perspectiva socialista, em oposição ao militarismo e à desigualdade social, pela defesa dos direitos democráticos e exigindo a liberdade de todos os prisioneiros da guerra de classes, é tanto possível quanto necessário. O impacto que teria a exigência de que os governos estadunidense, britânico e australiano cessem a perseguição de Assange é palpável.

A atração das camadas progressistas da classe média em direção à classe trabalhadora ocorre em grande contraste àquelas organizações que negam a luta de classes e, ao invés disso, promovem panaceias reacionárias da política de identidade, que busca dividir os trabalhadores de acordo com o gênero, raça, preferência sexual, nacionalidade e origem étnica.

Na Austrália e ao redor do mundo, as organizações da pseudo-esquerda se recusaram a dizer uma única palavra na defesa de Assange. Elas representam uma tendência reacionária, que se baseia nas camadas superiores da classe média e é hostil a qualquer desafio à ordem capitalista existente, da qual derivam seu privilégio e riqueza.

As manifestações são os estágios iniciais de uma renovada luta para libertar Julian Assange, que provavelmente será longa e difícil. Quanto maior for o apoio a Assange, maior serão as calúnias e difamações contra ele e seus defensores que serão realizadas pelo aparato estatal e pela mídia corporativa.

O caminho a seguir na luta pela liberdade de Assange exige a expansão da luta para elevar a consciência política dos trabalhadores e da juventude. A classe trabalhadora precisa se tornar ciente, através da explicação paciente das questões em jogo, de que a defesa de Assange e de toda a mídia independente é importante para os seus interesses e suas lutas, acima de tudo para impedir a catástrofe de uma guerra.

Se o WikiLeaks não tivesse publicado registros vazados da guerra do Iraque e do Afeganistão e o conjunto de telegramas diplomáticos americanos em 2010, ou os documentos de 2017 conhecidos como “Vault 7” que acusaram a CIA de hackear equipamentos eletrônicos, eles poderiam nunca ter sido publicados. Se sites de notícias anti-imperialistas, como o WSWS, não estivessem continuamente destacando e advertindo os perigos da guerra, a mídia corporativa teria tido plena liberdade para manter a população completamente desinformada.

A lição decisiva da luta até agora para libertar Assange e contra a censura e a repressão do estado é o papel indispensável de uma liderança marxista e revolucionária politicamente educada e organizada, que é o que o CIQI representa.

Nós pedimos a todos aqueles que estão tirando amplas conclusões sobre o capitalismo e a necessidade do socialismo que entrem em contato com o PSI e o CIQI.

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