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Perspectivas

A campanha vingativa contra Chelsea Manning, prisioneira política dos EUA

Publicado originalmente em 18 de Julho de 2019

A denunciante e prisioneira política Chelsea Manning está há mais de quatro meses confinada em um centro de detenção federal em Alexandria, na Virgínia, sendo submetida a multas punitivas que podem arruiná-la financeiramente.

Manning não está sendo punida por nenhum crime, nem foi acusada de um crime. Ao invés disso, ela está sendo mantida presa por desacatar o tribunal ao se recusar – por princípio e corajosamente – a prestar depoimento diante de um grande júri secreto formado para levar o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, a uma prisão dos Estados Unidos, ou coisa pior.

As multas diárias aplicadas a Manning pelo juiz do Distrito Federal, Anthony Trenga, por se recusar a prestar depoimento dobraram de US$ 500 para US$ 1.000 na terça-feira, totalizando agora US$ 18.000. As penalidades financeiras sem precedentes contra Manning podem levá-la à falência pessoal e já fizeram com que ela perdesse seu apartamento, em junho.

Os advogados de Manning alertaram que ela será multada em mais de US$ 440 mil se o júri estiver reunido até seu mandato expirar, em outubro de 2020, uma quantia que eles dizem que viola a proibição da Oitava Emenda da Constituição dos EUA sobre multas excessivas.

Assange está sendo perseguido pela administração Trump por publicar arquivos de guerra, telegramas diplomáticos e o vídeo “Assassinato Colateral”, que Manning vazou em 2010. Ele está atualmente detido na prisão de segurança máxima Belmarsh, em Londres, na Inglaterra, por violar as condições de sua fiança. Ao mesmo tempo, ele pode ser extraditado para os Estados Unidos sob acusações que podem condená-lo a até 175 anos de prisão.

O fato de Manning ainda estar presa significa que ela pode enfrentar outras acusações, incluindo aquelas que podem condená-la à pena de morte. As acusações só serão reveladas quando Assange estiver seguramente nas garras da administração Trump.

Apesar da campanha vingativa do governo contra ela, Manning tem sido firme ao se recusar por princípio a prestar depoimento contra Assange ou diante de qualquer outro júri. Ela disse ao juíz Trenga em maio, quando ele a enviou para a prisão pela segunda vez após um intervalo de uma semana, que ela “preferiria morrer de fome do que mudar minha opinião a esse respeito”, acrescentando: “E quando digo isso, quero dizer isso literalmente”.

Mesmo tendo cumprido sete anos de uma sentença de 35 anos em uma prisão militar por vazar evidências de crimes de guerra no Iraque e Afeganistão, durante os quais ela foi submetida a condições equivalentes à tortura, segundo uma agência da ONU, Manning nunca foi perdoada pelo establishment político dos EUA ou por seus bajuladores na mídia corporativa.

Enquanto ela está atrás das grades, Eddie Gallagher, que cometeu crimes de guerra no Iraque, e policiais assassinos como Daniel Pantaleo, que sufocou Eric Garner até a morte em 2014, andam livres, tendo recebido apoio dos mais altos escalões do Estado. Elementos fascistas nas forças federais de imigração realizam crimes brutais contra os imigrantes impunemente, arrancando pais de seus filhos e colocando homens e mulheres em campos de concentração.

Os autores dos crimes de guerra que Manning e Assange expuseram, com as mãos sujas com o sangue de milhões de pessoas, continuam suas carreiras sem medo de serem processados.

A escandalosa perseguição a Manning não foi praticamente mencionada, muito menos contestada, por todo o establishment político estadunidense. Nenhuma grande figura política deu declarações contra essa perseguição, ao mesmo tempo que ela não tem sido objeto de análise de comentaristas e colunistas da mídia. Se condições semelhantes fossem impostas àqueles que denunciassem países alvos do imperialismo estadunidense, como a Rússia ou a China, esses mesmos comentaristas e colunistas não poupariam tinta sobre a violação de direitos democráticos e do devido processo legal.

A grande mídia e o Partido Democrata apoiam a perseguição a Manning. Eles não podem aceitar que Manning se recuse a entregar Assange, que é difamado pelos democratas como um “agente russo” que ajudou a eleger Donald Trump ao publicar informações verdadeiras sobre a corrupta subserviência de Hillary Clinton a Wall Street.

O silêncio sobre Manning por parte dos grupos da pseudo-esquerda que orbitam o Partido Democrata, como os Socialistas Democráticos dos EUA (DSA, na sigla em inglês), é particularmente condenatório, expondo a fraude de suas pretensões “humanitárias” e “socialistas”. O apoio tácito deles ao abuso do governo contra Manning os mancham como inimigos da classe trabalhadora.

Manning é uma figura heroica que merece o apoio incondicional de todos os que estão preocupados com a defesa dos direitos democráticos nos Estados Unidos e em todo o mundo. Exigir a liberdade de Manning significa também exigir a liberdade de Assange: os dois estão inextricavelmente ligados.

A greve de cinco dias desta semana de trabalhadores, camponeses e estudantes no Equador contra as políticas direitistas do governo de Lenin Moreno apontou o caminho ao também se opor à entrega de Assange aos Estados Unidos como uma das exigências oficiais. Violando o direito internacional, Moreno entregou Assange a um esquadrão da polícia britânica em abril, quando abriu as portas da embaixada do Equador em Londres, onde o jornalista vivia há sete anos depois de ter recebido asilo.

A luta pela liberdade de Manning e Assange deve ser levantada pelos trabalhadores em todo o mundo. Para ser eficaz, essa luta deve estar conectada à luta pelos direitos sociais e políticos da classe trabalhadora como um todo e à luta contra a guerra e o capitalismo.

É com esse objetivo que o World Socialist Web Site e os Partidos Socialistas pela Igualdade, filiados ao Comitê Internacional da Quarta Internacional, chamaram a formação de um Comitê Global de Defesa para organizar e coordenar a mobilização da classe trabalhadora em escala internacional para impedir a extradição de Assange aos EUA e libertar incondicionalmente Manning.

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