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Enquanto lutas sociais crescem diante da pandemia de coronavírus

Bernie Sanders encerra campanha e chama apoiadores para apoiar Biden

Publicado originalmente em 9 de abril de 2020

O senador do estado de Vermont, Bernie Sanders, encerrou sua campanha à presidência dos EUA nas primárias do Partido Democrata na quarta-feira e chamou seus apoiadores para apoiar o ex-vice-presidente, Joe Biden.

“Hoje, eu parabenizo Joe Biden, um homem muito decente, com quem eu vou trabalhar para levar nossas ideias progressistas adiante”, disse Sanders em um vídeo de quinze minutos postado no Twitter. Quando Biden for escolhido como candidato na convenção do Partido Democrata, “então, juntos, permanecendo unidos, vamos ir em frente para derrotar Donald Trump”, acrescentou Sanders.

O senador de Vermont, Bernie Sanders, e o ex-vice-presidente, Joe Biden, durante debate das primárias do Partido Democrata na Carolina do Sul (AP Photo/Patrick Semansky)

Explicando sua decisão de abandonar a disputa, Sanders disse que não conseguiu imaginar uma maneira de vencer nas primárias. A motivação de Sanders, entretanto, não é que sua campanha se tornou impossível do ponto de vista eleitoral. Ao invés disso, ele está reagindo à situação social e política explosiva nos Estados Unidos.

Sanders está abandonando as primárias do partido e defendendo a “união” com Biden em condições nas quais a crise política do Partido Democrata e de todo o sistema político alcançaram um ponto de ruptura.

A pandemia do coronavírus está expondo o conflito irreconciliável entre os interesses da classe trabalhadora e os da classe dominante. Enquanto a quantidade de mortos cresce, os hospitais estão sobrecarregados e dezenas de milhões perderam o emprego, a classe dominante está utilizando a situação de crise para implementar um resgate trilionário para a elite empresarial e financeira, apoiada por unanimidade pelos democratas e republicanos. Além disso, o establishment político e a mídia estão realizando uma campanha cada vez maior para uma volta rápida ao trabalho, que enfrentará uma oposição em massa.

A demanda da classe dominante já provocou uma onda de greves nacionais, incluindo de trabalhadores da saúde e da construção civil, assim como de funcionários da Whole Foods, Amazon e Instacart.

A decisão de Sanders de abandonar a disputa nessas condições está de acordo com o que sempre foi o propósito central de sua campanha: garantir que a revolta social e política não fuja dos limites do Partido Democrata.

Significativamente, o anúncio de Sanders aconteceu no mesmo dia em que o colunista do New York Times, Thomas Friedman, um dos maiores defensores da rápida volta ao trabalho na mídia, defendeu uma candidatura de Biden e a escolha de “um tipo totalmente diferente de gabinete – um gabinete de união nacional – dos democratas de esquerda de Bernie Sanders até os republicanos de direita de Mitt Romney”. Um governo como esse teria como objetivo unir as frações dominantes do establishment político sendo uma barricada contra a oposição social crescente da classe trabalhadora.

Também há notícias de que Sanders falou em várias ocasiões com o ex-presidente Barack Obama ao longo da semana passada. Com Sanders oficialmente fora da corrida, Obama poderá intervir mais diretamente nas eleições em uma tentativa de apoiar o enfraquecido e semissenil Biden.

Ao mesmo tempo, Sanders deve saber que existem grandes dúvidas dentro da classe dominante acerca da viabilidade de uma campanha de Biden para a presidência. Uma consequência de Sanders estar abandonando as primárias agora é que isso abre o caminho para o Partido Democrata apoiar outro candidato de direita, talvez o governador de Nova York, Andrew Cuomo, que tem sido promovido extensamente na mídia.

Ao longo das últimas semanas e meses, Sanders já havia reagido à crise cada vez mais profunda do aparato de estado deslocando-se para a direita. Enquanto o Partido Democrata agia agressivamente para bloquear a nomeação de Sanders em fevereiro e março, Sanders dava várias declarações afirmando sua prontidão para iniciar uma guerra contra o Irã, Coreia do Norte, Rússia e China.

Seu último ato político como candidato foi votar a favor da Lei de Auxílio, Alívio e Segurança Econômica pelo Coronavírus (CARES), que oferece centenas de bilhões para as corporações e apoia os programas multitrilionários do Federal Reserve para a compra de ativos de bancos e empresas.

Em suas propostas por uma maior ação do Congresso em resposta à pandemia do coronavírus, Sanders abandonou qualquer referência ao aumento de impostos para os ricos. Ele propôs mais resgates multibilionários para as corporações, sem desafiar de nenhuma maneira propriedade privada delas baseada no lucro.

Nada que Sanders fez é minimamente surpreendente. Todos os seus mandatos como um político burguês deixou claro o papel que ele cumpriria. Além disso, sua campanha é parte de um fenômeno internacional. Seja Jeremy Corbyn no Reino Unido, o Syriza na Grécia, o partido A Esquerda na Alemanha ou o Partido dos Trabalhadores no Brasil – todos cumpriram a mesma função.

A verdadeira traição veio de organizações como os Socialistas Democráticos dos EUA (DSA), a Alternativa Socialista e outras que tem trabalhado para apresentar um político burguês oportunista como algum tipo de veículo para alcançar o socialismo.

Em um evento completamente desmoralizado na noite passada organizado pela Jacobin, Bashkar Sunkara, o editor da revista, e outros líderes dos DSA não criticaram Sanders, mas a “esquerda sectária”, nome que eles usam para se referir ao Partido Socialista pela Igualdade (SEP) e ao World Socialist Web Site. Para essas camadas, “sectário” é um termo para descrever qualquer um que tenha princípios, isto é, aqueles que não se prostram diante do Partido Democrata.

Sunkara declarou que o abandono de Sanders significava que “a nossa campanha para nem mesmo um socialismo completo, mas uma meia social democracia, meio que se esgotou hoje”. O que “se esgotou” – de fato, o que foi totalmente exposto – é o tipo de pseudosocialismo dos DSA que declaram que qualquer coisa pode ser conquistada dentro da estrutura do Partido Democrata.

Em oposição a essas organizações da classe média alta, o WSWS e o SEP previram a trajetória da campanha de Sanders. Em fevereiro de 2016, inicialmente em sua primeira corrida à presidência, o WSWS explicou que “Sanders não é o representante de um movimento da classe trabalhadora. Ao invés disso, ele é o beneficiário temporário de uma onda crescente de oposição popular que está passando apenas pelas suas etapas iniciais de diferenciação social e de classe”.

Quando ele anunciou sua campanha à presidência de 2020 em fevereiro do ano passado, o WSWS escreveu: “A fraude fundamental promovida por Sanders, juntamente com políticos como Alexandria Ocasio-Cortez, é que o Partido Democrata pode ser empurrado para a esquerda e se torne uma força de mudança progressista”.

Novamente, uma análise política baseada no marxismo e nas experiências históricas do movimento trotskista, e não em esperanças e manobras pragmáticas, provou-se correta.

Não há dúvida de que muitos trabalhadores e jovens ficarão com nojo com o que Sanders fez. Eles precisam tirar as conclusões necessárias.

A única campanha que está buscando desenvolver um verdadeiro movimento socialista é a campanha do Partido Socialista pela Igualdade. O SEP lançou sua campanha eleitoral para lutar pelo socialismo genuíno, para desenvolver dentro da classe trabalhadora e entre os jovens uma liderança socialista, e para lutar contra a guerra, a desigualdade e o autoritarismo, em oposição aos partidos Democrata e Republicano, os partidos da classe dominante.

Nós chamamos todos os trabalhadores para que se juntem a essa campanha e apoiem esta luta.

Para apoiar e participar na campanha eleitoral do SEP, acesse: socialism2020.org.

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