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Perspectivas

Trump incita violência policial devastadora contra manifestantes

Publicado originalmente em 1 de junho de 2020

Por todos os Estados Unidos, centenas de milhares de trabalhadores e jovens que em quase 100 cidades saíram para protestar contra o assassinato de George Floyd tornaram-se alvo de agressões violentas por pelotões da polícia massivamente armados, apoiados por homens da Guarda Nacional.

A violência desencadeada por todo o território nacional contra os manifestantes é uma continuação e escalada da violência assassina que tirou a vida de George Floyd. A polícia está agindo impunemente, plenamente consciente de que seus brutais ataques aos manifestantes são apoiados pelo governo Trump.

Não é coincidência que o assassinato de Floyd tenha ocorrido em Minneapolis, onde, em outubro do ano passado, o presidente Donald Trump fez um discurso fascista num comício que contou com a presença de centenas de policiais. Ele denunciou políticos "de extrema esquerda" e "socialistas", incluindo o prefeito da cidade.

Montagem de vídeos da violência policial ao redor dos Estados Unidos, no final de semana do 30 de maio de 2020

Desde que os protestos começaram, na semana passada, Trump tem clamado repetidamente por ataques aos manifestantes. No domingo, ele retuitou uma publicação que pedia o uso de "força esmagadora contra os bandidos", depois de ter afirmado que "quando começam os saques, começam os tiros". Trump exigiu que os governos estaduais empregassem a Guarda Nacional e ameaçou liberar os militares para "tomar o controle".

Sem base factual, o governo Trump afirma que grupos "de extrema esquerda" e anarquistas são responsáveis pela violência. Tanto Trump quanto o Procurador Geral, William Barr, estão ameaçando decretar a Antifa – um grupo anarquista politicamente insignificante que é, muito provavelmente, fortemente infiltrado e manipulado por agentes policiais – uma "organização terrorista doméstica". Essa ameaça constitucionalmente ilegal visa criminalizar toda a oposição da classe trabalhadora, de esquerda e socialista ao governo Trump.

As investidas da polícia nos últimos dias estão entre os ataques mais violentos aos direitos democráticos da história dos Estados Unidos. Desde de domingo, soldados da Guarda Nacional e da Aeronáutica foram acionados para apoiar a repressão de protestos em 26 estados. Estados de emergência foram decretados e toques de recolher foram implementados em cidades e municípios de todo o país, em sua maioria controlados por políticos do Partido Democrata, resultando na suspensão do direito à liberdade de expressão e de reunião.

Durante o fim de semana, a polícia bateu em manifestantes com cassetetes e disparou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar as multidões. Um homem foi baleado e morto em Louisville, Kentucky, no domingo à noite, após a polícia e as tropas da Guarda Nacional abrirem fogo sobre uma multidão. Balas de borracha, balas beanbag, balas de pimenta, armas de choquee outras munições "não letais" foram disparadas contra os manifestantes. Também espirraram spray de pimenta diretamente nos rostos dos manifestantes e jornalistas. A Associated Press noticiou que mais de 4.100 pessoas foram presas desde quinta-feira.

Um vídeo gravado por moradores de Minneapolis no sábado à noite mostra a polícia marchando atrás de um veículo militar Humvee da Guarda Nacional berrando para as pessoas entrarem para dentro e gritando "fogo no pavio", enquanto disparam balas de borracha sobre um grupo de jovens reunidos na frente de casa. Membros do Departamento de Polícia de Nova York aceleraram seus veículos sobre uma multidão de manifestantes no Brooklyn. Um homem branco idoso, caminhando com uma bengala, foi empurrado no chão pela tropa de choque da polícia de Salt Lake City, enquanto ela avançava pelas ruas em veículos blindados dispersando os manifestantes.

Policial se prepara para atirar balas de borracha durante um protesto no sábado em Los Angeles. (AP Photo/Ringo H.W. Chiu)

Em Sacramento, Califórnia, um jovem negro que sangrava muito depois de ter levado um tiro no olho foi carregado para um lugar seguro por um manifestante branco. Um jovem casal tomou choques de taser e foi puxado para fora de seu carro por dezenas de policiais de Atlanta, depois que cortaram seus pneus e quebraram suas janelas.

Uma jovem em Dallas, Texas, que estava indo para casa levando compras do mercado tomou um tiro na cabeça de bala de borracha. Fotos a mostram com sangue escorrendo pelo rosto. Uma criança pequena em Seattle teve spray de pimenta espirrado no rosto, um vídeo postado nas redes sociais mostra ela gritando de dor. As pessoas ao redor jogaram leite em seu rosto para aliviar sua dor. A polícia em Las Vegas incriminou manifestantes, atacando-os aparentemente ao acaso e prendendo dezenas, incluindo dois fotojornalistas.

Jornalistas de todo o país foram claros alvos de agressão e prisão pela polícia, em violação direta da liberdade de imprensa garantida pela Primeira Emenda. O âncora da MSNBC, Ali Velshi, foi atingido na perna por uma bala de borracha enquanto estava ao vivo em Minneapolis. Em Louisville, a polícia mirou e atirou em uma repórter da TV local e seu operador de câmera com balas de pimenta durante os protestos de sexta-feira. Uma fotojornalista freelancer em Minneapolis teve seu olho esquerdo permanentemente cegado após tomar um tiro de bala de borracha da polícia.

Lucas Jackson, um fotógrafo da Reuters que foi baleado pela polícia com bala de borracha no sábado e já cobriu protestos anteriores em Ferguson e Baltimore, disse à organização jornalística que ficou claro que os jornalistas estavam sendo mirados. "Normalmente se você é atingido por essas coisas é porque você está entre a polícia e os manifestantes – você está correndo o risco por estar no meio. Desta vez eles estão, na verdade, mirando em nós", disse Jackson.

É muito provável que agentes da Casa Branca estejam diretamente envolvidos na instigação de ataques à mídia, que Trump tem denunciado repetidamente como o "inimigo do povo".

A incitação deliberada de Trump à violência policial tem sido um assunto recorrente durante toda a sua administração. Na ausência de um movimento fascista de massas, Trump vê a polícia como uma potencial base de poder para um regime semiditatorial. Suas ações confirmam o alerta feito pelo Comitê Político do Partido Socialista pela Igualdade (SEP), após seu discurso em Minneapolis, em outubro de 2019:

Os discursos de Trump para policiais, militares e agentes de segurança, bem como seus comícios massivos cuidadosamente planejados para atrair elementos politicamente desorientados e atrasados, fazem parte de um esforço calculado para criar um apoio político sobre o qual ele possa construir um regime autoritário, operando fora de todas as fronteiras legais tradicionais da Constituição dos EUA.

O Partido Democrata e a mídia corporativa estão respondendo às mentiras e provocações de Trump com sua típica combinação de covardia e cumplicidade. Eles aceitaram a narrativa de Trump, sem um pingo de evidência, de que os protestos são obra de "agitadores externos", uma afirmação que foi repetida várias vezes durante uma entrevista coletiva com o governador de Minnesota, Tim Walz, e o prefeito de Minneapolis, Jacob Frey, na manhã de sábado.

Susan Rice, a ex-conselheira da Segurança Nacional do presidente Barack Obama, denunciou os protestos como "obra direta dos russos", alegando absurdamente que os governos estrangeiros são responsáveis por fomentar a dissidência interna nos EUA.

Nenhum político do Partido Democrata denunciou as apologias fascistas de Trump. Bernie Sanders, o ex-candidato presidencial que agora apoia entusiasticamente Joe Biden, enviou um e-mail a seus apoiadores no domingo à noite, que não dizia nenhuma palavra sobre o ataque policial contra os manifestantes e sequer mencionava Trump.

Não pode existir erro político maior e mais perigoso do que confiar ao Partido Democrata a luta contra Trump e a violência política e em defesa dos direitos democráticos.

O que aterroriza os democratas, acima de tudo, é que se erga um movimento da classe trabalhadora contra o governo Trump e a oligarquia financeira, representada por ambos os partidos.

As manifestações multirraciais e multiétnicas que estão varrendo o país são um protesto não só contra a violência policial, mas também contra as condições econômicas e sociais intoleráveis. A pandemia da COVID-19 está desacreditando o capitalismo. Cem mil pessoas já morreram nos EUA em decorrência da negligência criminosa do regime Trump e da classe dominante. A campanha homicida de retorno ao trabalho apoiada por republicanos e democratas – ao lado do desemprego, que atinge os níveis da Grande Depressão, e a crise social desesperadora enfrentada por dezenas de milhões de pessoas – estão radicalizando politicamente milhões de trabalhadores nos Estados Unidos e internacionalmente.

O governo Trump reconhece e teme essa radicalização e está empregando a velha propaganda anticomunista que levanta o espantalho da "violência da esquerda" como um pretexto para avançar medidas de Estado policial.

Toda a classe trabalhadora deve agora se erguer em defesa de todos os que protestam contra o assassinato de George Floyd e todas as outras vítimas da violência policial.

Há um crescente clima de luta social entre a classe trabalhadora. Antes do surgimento da pandemia, a atividade grevista estava em aumento constante. Nas últimas semanas, os trabalhadores organizaram greves contra condições inseguras.

O Partido Socialista pela Igualdade convoca os manifestantes, especialmente a juventude, a se dirigirem diretamente às montadoras, fábricas, depósitos, centros de distribuição, canteiros de obras – onde quer que haja grandes concentrações de trabalhadores – e apelar diretamente por seu apoio. Tais apelos não serão ignorados.

Como explicou o Partido Socialista pela Igualdade em sua declaração de outubro de 2019:

A luta contra o governo Trump deve estar ligada à luta contra a desigualdade social, a destruição dos programas e da infraestrutura sociais, o ataque aos empregos e salários, as terríveis condições enfrentadas por uma geração inteira de jovens, a perseguição cruel de trabalhadores imigrantes, a degradação do meio ambiente e as consequências de uma guerra sem fim e cada vez maior, que ameaça toda a humanidade. A oposição dos trabalhadores e da juventude nos Estados Unidos deve estar ligada à erupção das lutas sociais dos trabalhadores de todo o mundo, que compartilham os mesmos interesses e enfrentam os mesmos problemas.

A classe trabalhadora – da qual depende o funcionamento da sociedade – tem o poder de barrar o ataque aos direitos democráticos, criar um movimento político de massas para tirar Trump do poder, pôr em xeque a oligarquia corporativo-financeira e iniciar a reestruturação da vida econômica sobre base socialista.

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[13 de junho de 2017]

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