Português

Bolsonaro, o presidente fascistóide do Brasil, testa positivo para coronavírus

Publicado originalmente em 8 de julho de 2020

O presidente brasileiro Jair Bolsonaro anunciou na manhã de terça-feira a um grupo de jornalistas ter testado positivo para o novo coronavírus, após ter apresentado sintomas no domingo.

A pandemia de COVID-19 já atingiu uma dimensão catastrófica no país, com mais de 1.600.000 infectados e 66.000 mortos segundo a contagem oficial. Tal índice é superado internacionalmente apenas pelos Estados Unidos. O impacto do vírus continua a se expandir, com uma média semanal de cerca de 37.000 novos casos por dia.

Em meio a esse cenário, Bolsonaro usou sua entrevista, assistida por milhões de brasileiros e por um público internacional, para reafirmar sua mensagem criminosa em nome de toda a classe dominante brasileira: "A vida continua, o Brasil tem que produzir, tem que botar a economia para rodar".

Bolsonaro fala em reunião com membros da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), sexta-feira, 3 de julho. (Crédito: Marcos Corrêa/Planalto)

Bolsonaro lembrou a todos que, de início, seus rivais políticos o atacaram por sua perspectiva sociopata. "Alguns falavam no passado, me criticando, que a economia se recupera, a vida não", disse em referência direta a uma frase do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel. "Voltaram as baterias para cima de mim, me criticando de forma bastante dura. Sofremos muito com isso, mas você vê que a gente tinha razão".

Os posicionamentos que Bolsonaro afirma terem sido comprovados são, na verdade, um conjunto de alegações sobre a natureza do coronavírus e de políticas em reposta à pandemia que se provaram completamente falsas e com consequências terríveis.

O principal argumento do presidente fascista é que o vírus é como uma "chuva" que vai atingir, inevitavelmente, a todos. Contudo, ele afirmou, a doença, que já matou mais de meio milhão de pessoas mundialmente, não apresentaria riscos sérios à população.

Segundo ele, a COVID-19 foi "superdimensionada" e "a grande maioria da população, uma vez contaminada, não toma conhecimento, ela não sente absolutamente nada". Disse ainda que o vírus teria um comportamento completamente diferente no clima quente brasileiro, tornando suas consequências muito mais brandas.

A explosão de casos antes do inverno e com resultados devastadores nos estados mais quentes, na região norte e nordeste, refutaram absolutamente esses pressupostos, que não possuíam bases objetivas desde o princípio.

Bolsonaro defende, contra todas as evidências científicas, que a hidroxicloroquina é um tratamento efetivo contra a COVID-19 e que "médicos têm dito pelo Brasil todo… que a chance de sucesso da [hidroxicloroquina] chega a 100%".

Bolsonaro com o embaixador americano Todd Chapman, no 4 de Julho.

"Tomei no dia de ontem o primeiro comprimido", ele disse. "Confesso que se tivesse tomado hidroxicloroquina desde o primeiro dia… [de] forma preventiva, eu estaria muito bem, sem esboçar qualquer reação".

Na realidade, não só a Organização Mundial de Saúde (OMS) abandonou os estudos com a droga para tratamento da COVID-19 por sua ineficácia, como dois ministros de saúde brasileiros deixaram o cargo por não aceitarem a prescrição indiscriminada do remédio defendida pelo presidente.

Bolsonaro reafirmou suas críticas às medidas de distanciamento como forma de espalhar pânico entre a população, atacando os governadores que propuseram medidas como restrição do acesso às praias. Defendeu a reabertura de escolas e o chamado "isolamento vertical" – isto é, apenas de idosos e pessoas com comorbidades.

Ele sustentou sua prática de "contato com o povo, que foi bastante intenso nos últimos meses", ou seja, sua participação nas manifestações fascistas em frente ao Palácio da Alvorada, defendendo o fechamento do Congresso e do Judiciário e intervenção militar.

O quanto os resultados devastadores do coronavírus no Brasil podem ser atribuído às ações de Bolsonaro é difícil estimar. Sua combinação de decretos oficiais impedindo as medidas de distanciamento social e forçando a abertura de várias atividades; disseminação de falsas informações; encobrimento de dados; e da mobilização extragovernamental de forças abertamente fascistas para quebrar as quarentenas, e até mesmo invadir hospitais, desempenharam um papel substancial.

Contudo, sua estabilidade no poder e sua defesa aberta de políticas criminosas não seriam possíveis sem a colaboração do sistema político brasileiro de conjunto. Se, do ponto de vista científico, as políticas promovidas por Bolsonaro foram escancaradas como farsa, do ponto de vista dos interesses de lucro da classe dominante, foram totalmente confirmadas.

Todos os partidos, incluindo a autodeclarada oposição do Partido dos Trabalhadores (PT), abraçaram as medidas criminosas de Bolsonaro e são unânimes em avançar a reabertura de as todas atividades no país a despeito de todas as recomendações médicas e científicas.

Mas, como lembrou Bolsonaro em sua entrevista, seu principal apoio vem do fato de os governos burgueses do mundo inteiro estarem defendendo sua política fundamental de contaminação geral da população, justificada em nome de uma "imunidade de rebanho" sem base na ciência. E todos abraçaram o que ele disse há tempos: "não se pode combater o vírus onde o efeito colateral desse combate seja pior que os danos causados pelo próprio vírus".

Poucos dias antes de anunciar que havia contraído a COVID-19, Bolsonaro participou de uma comemoração do 4 de Julho, Dia da Independência dos Estados Unidos, na Embaixada dos EUA, na qual os participantes não usaram máscaras nem respeitaram o distanciamento social. O Embaixador americano Todd Chapman e sua esposa "testaram negativo e permanecerão em quarentena dentro de casa", segundo a conta oficial da embaixada no Twitter, que acrescentou que toda a equipe da embaixada está sendo "avaliada".

O episódio remonta à visita de Bolsonaro ao resort Mar-a-Lago de Donald Trump na Flórida, no início de março, quando 23 membros da comitiva presidencial retornaram ao Brasil testando positivo para o coronavírus. Bolsonaro escondeu anteriormente os resultados de seus exames, realizados sob pseudônimo.

O vírus tem infectado, cada vez mais, o círculo de pessoas próximas a Trump. Oito membros de sua equipe testaram positivo após seu comício em Tulsa, Oklahoma, bem como um assessor sênior do vice-presidente Mike Pence e a namorada de seu filho, Donald Jr.

[6 de julho de 2020]

Loading